terça-feira, 27 de maio de 2008

Agenda Junho 2008 – O que vem por aí.


Olá pessoal.

Todos esses trabalhos que vou fazer são com Silvério Pessoa.

31/05 = Natal – RN > Festival MPBeco

06/06 = Aquiraz – CE > Festival Navegart

11/06 = Brussels – Bélgica

13/06 = Bobigny – França > MC 93

16/06 = Aracaju – SE > Forrocaju

19/06 = Carpina – PE

20/06 = Pátio de São Pedro – Recife

21/06 = Praça Antenor Navarro – João Pessoa

22/06 = Sítio da Trindade – Recife

23/06 = Praça do Arsenal – Recife

24/06 = Paudalho - PE

Um abraço a todos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Show de André Rio em Lajedo – A união faz a força.

Olá pessoal.

Fui mais uma vez convidado para fazer o monitor de um show de André Rio. Normando, amigo meu, que sempre fez o monitor, ficaria responsável agora pelo P.A.. Mais uma vez o show aconteceu numa cidade do interior de Pernambuco. A notícia boa era que a cidade ficava mais perto do que a do show anterior que foi em Serra Talhada. A notícia ruim foi constatar que a viagem seria feita de van! Acredito que o tempo de viagem foi em torno de três horas, mas pelo desconforto parecia que tínhamos viajado umas cinco horas ou mais! Tudo se tornou longe demais.

Ao chegar à cidade, fomos direto para o palco montar o equipamento e fazer o sound check. Chegando ao local vi de longe que o P.A. “era em forma de line array”. Sabia que seria muitíssimo difícil, muitíssimo mesmo, que esse line array fosse realmente um line pra valer! E acertei (acertamos, pois Normando falou a mesma coisa). Cada caixa de um line array original (principalmente os importados) custa uma fortuna e até os nacionais não é nada barato. Por isso sabíamos que era improvável que uma empresa de sonorização do interior de Pernambuco pudesse ter tal equipamento. Não posso nem dizer que era um clone de algum line, pois os clones copiam até o design das caixas, o que não era o caso.

Quatro destas caixas estavam sendo usadas no side fill (caixas de retorno posicionadas nas laterais do palco), e não achei nada agradável o som delas. Fiquei com pena de Normando. Passei uns cinco minutos tentando deixar o som delas mais agradável, e como ainda tínhamos que ligar os fones e teoricamente eu não iria usar o side fill, pois só uso-o em caso de emergência, passei para tarefa seguinte.

Detalhe de Normando (camisa azul com mangas escuras) me ajudando na ligação dos equipamentos.
Ele operou o P.A. do show.



O equipamento era muito fraco e a equipe da empresa, mesmo sendo prestativa, era fraca também. Normando tinha me falado que alguns dos nossos amplificadores dos fones estavam com problemas e teríamos de usar alguns dos amplificadores da empresa de som. O problema começou quando descobrimos que os equipamentos da empresa estavam com problemas também. Quando o equipamento funcionava, os cabos das conexões falhavam.




Sistema para comunicação entre o P.A. e o palco (ao lado).
Funcionou (com uns barulhos estranhos)... mas...
Abaixo, detalhe da fiação dos equipamentos de vídeo da banda que tocaria no final do evento.






Enquanto Normando tentava arrumar estas conexões dos fones, eu ligava o equipamento próprio de voz e retorno de André Rio.Este equipamento é formado por um microfone sem fio, um pré-amplificador, um processador de efeitos e um sistema de in-ear sem fio. Fiz as ligações e coloquei a voz já com o efeito de ambiência nos fones de André. Depois disso voltei para a batalha com Normando para ligar os fones da banda. E foi realmente uma batalha! Perdemos muito tempo com isso. Trocamos equipamentos e cabos até chegar a um resultado satisfatório.
Aqui está a razão do título deste texto. Se Normando não tivesse ficado no palco me ajudando, iria demorar muito mais tempo para chegar ao resultado que chegamos e dependendo do tempo que me dessem, nem chegaria a este resultado. Já soube de casos de operadores de um mesmo artista que nem se falam! Ainda bem que nunca passei por isso. Sempre trabalhei com amigos na outra ponta, mas não me lembro de ter dado uma ajuda tão grande como a que Normando me deu. Minha forma de trabalhar mudou depois deste show. Valeu (ex)Gordo!






Detalhe dos equipamentos próprios de André Rio.







Depois de todos os fones ligados e funcionando, Normando foi para frente e começamos a passar o som. Peguei o microfone de André Rio e fui coordenando o sound check junto com Normando que ia passando o som dos instrumentos e vozes no P.A.. O cantor (que nunca participa) e mais dois músicos não participaram do sound check. Cada um dos roadies ficou com o fone dos músicos e eu fiquei com o in-ear do cantor. Quando os músicos falaram que estava tudo ok, pedi para tocarem duas músicas para eu mixar o in-ear de André Rio. Tudo certo, ou quase tudo... Pois o receptor sem fio do in-ear do cantor desligou sozinho logo após o término do sound check. Desencaixei a gaveta das pilhas, encaixei de novo, balancei, fiz promessas, e ele acabou ligando. Fomos ao hotel para tomar banho e jantar. Voltamos na hora marcada e esperamos um bom tempo para começar o show, pois teve os famosos falatórios dos políticos, pois o show era em comemoração a inauguração da Praça de Eventos da cidade.




André Rio e Banda.




Chegada a nossa hora, entreguei ao produtor o in-ear do cantor e o show começou. Em menos de 10 segundos, me avisam que não tem nada no in-ear do cantor! Tinha medo que acontecesse isso, pois se parou no final do sound check, poderia acontecer no show, mas eu não tinha equipamento reserva de in-ear. Enquanto a banda repetia a introdução do show, eu averiguava o receptor do in-ear. Fiz exatamente o que tinha feito na primeira vez que parou, e ele voltou novamente a funcionar. Não tinha mais nada o que fazer, a não ser torcer, pois não colocamos nenhum monitor de chão no show. E foi isso que fiz durante quase todo show. Mas relaxei na torcida e o mesmo parou quando faltavam apenas duas músicas para o final. Fui tentar fazer mais uma respiração boca-boca no receptor, mas o cantor falou que estava no final e faria sem in-ear mesmo. Voltei para a mesa e fiz uso do side para o cantor poder escutar sua voz e alguns instrumentos até o final do show.



Até achei estranho alguém pedir para tirar uma foto minha!








O resultado técnico final foi muito positivo. Tive até convite para novos shows no período junino, mas minha agenda de junho está preenchida pelos shows de Silvério Pessoa. Passei para a produção de André Rio minhas datas vagas até 30 de maio e depois do dia 24 de junho. Mais uma porta foi aberta. Nem lembrava mais que iríamos voltar naquela mesma noite para Recife na desconfortável van!!!

Um abraço a todos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Show de Roberta Sá - Teatro da UFPE.

Olá pessoal.

Não trabalhei neste show, mas fui para a passada de som (sound check) à tarde e fui para o show à noite.

Não consegui ver o sound check, pois já estava perto das 19h e ainda não tinha começado.

Gostaria só de comentar algumas curiosidades deste show que pude observar.

Minha primeira curiosidade foi notar que não trouxeram iluminador. Tinha operador de P.A., de monitor e 1 um roadie. A iluminação foi feita pelo funcionário da empresa de som (que hoje em dia tem que ter luz também!).

Conversando com um amigo da produção local sobre não trazer iluminador, ele argumentou que era uma artista nova que estava começando. Mesmo começando, trouxe Martau para fazer o P.A., renomado operador do sul do país que já trabalhou com grandes nomes da nossa música, como por exemplo, Lulu Santos. O som, como não poderia ser de outro jeito, foi muito bom. Para meu gosto pessoal, teria colocado um pouco mais alto o geral e aumentaria um pouco também a voz da cantora. Mas isso é uma opinião minha!

Fez falta um iluminador que soubesse como era o show. Espero que alguém tenha falado isso pra ela ou para a produção dela, pois tem certas economias que saem caro no final.
A outra curiosidade, que deixei para o final por ser curioso até pra mim, pois não tinha visto ainda tal formação de banda.

Eram 4 componentes: bateria, percussão, violão e mais um músico que era responsável por guitarra, cavaco, teclados, loops, samplers e efeitos em geral. A banda não tinha baixista!! Todos os baixos estavam pré-gravados e eram controlados por este último músico, que soltava as programações que continham o baixo. Para isso ser possível, o baterista estava escutando no seu fone um click (metrônomo) para poder guiar o resto da banda sem sair do tempo, pois a parte eletrônica das programações não varia de andamento.

Só para este músico responsável pelas programações foram disponibilizados 11 canais para ligar seus instrumentos e ele ainda fazia vocal junto com a menina que tocava violão.

A cantora Roberta Sá usou in-ear sem fio, mas a maioria da banda usou monitores de chão. Por causa deste in-ear que a cantora estava usando, foram ligados dois microfones para captar o som da platéia. Este som é enviado em alguns momentos para a artista escutar como o público está reagindo com o show, pois ela fica sem escutar nada do público por causa dos minúsculos fones que vedam seus ouvidos. Existem in-ears que possuem 3 níveis de regulagem de vazamento do som externo: completamente fechado, um pouco aberto e totalmente aberto. Não sei qual o in-ear ela usou.

Meu amigo responsável pelo monitor da empresa de som falou-me que o sem fio que ela estava usando era o mesmo usado pelo vocalista da banda Helloween no Abril Pro Rock, só que na cor preto. Achava que só existia prateado, vou até pesquisar isso.

Se era realmente o mesmo microfone, ele (não acredito que tenha um microfone sem fio mais caro para voz) custava quando fui pesquisar um dia, simplesmente 32 mil reais aqui no Brasil! Microfone espetacular pra quem está começando, não é?

Até a próxima.

Um abraço a todos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Show em Serra Talhada – Finalmente perdi a virgindade!

Olá pessoal.

Calma. Não é nada disso que estão pensando. Apenas aconteceu uma coisa neste show que nunca tinha feito, mas desejava um dia fazer. Somente isso!

Fui convidado por meu amigo Normando para substituí-lo no monitor de um artista daqui de Recife chamado André Rio num show em Serra Talhada, que fica no sertão de Pernambuco. Às vezes brinco com os amigos quando me perguntam aonde vai ser o show que eu vou fazer e eu respondo que vai ser na Europa. Qual a cidade? Petrolina, eu respondo. Petrolina? E eu falo que o tempo da viagem de ônibus é até maior do que o tempo da viagem de avião para a Europa. De Recife para Lisboa, que é por onde entramos em todas as turnês, são 7 horas de viagem. Ao chegarmos lá, pegamos outra aeronave e levamos umas 2 horas para chegar a Paris, que é o nosso QG, pois o produtor europeu mora lá.

Esse show no sertão Pernambucano seria numa área de vaquejada, e seriam 3 atrações no palco. Netinho (o da Bahia) abriria a noite, depois seria André Rio e por final uma banda de forró estilizado chamada Cheiro de Menina, que eu não me lembro de onde era. Chegamos ao hotel perto das 11 horas da manhã, e fomos para os quartos deixar as coisas e esperar para saber o horário do nosso sound check. Foi quando o nosso produtor chegou no meu quarto triplo (monitor, PA e roadie e/ou iluminador – gostamos de ficar sempre juntos) e nos informou que a técnica de Netinho chegaria às 15h no palco para fazer o sound check e que não seria possível desmontar nada deles para o nosso sound check, pois ele seria a primeira atração. Como sou só um simples operador de áudio, quem sou eu pra dizer que estava errado, mesmo estando!!!

O certo, e o que normalmente se faz num evento “organizado”, são as bandas fazerem o sound check inversamente ao horário de apresentação, ou seja, o primeiro a se apresentar na noite é o último a fazer o sound check, pois deixa tudo montado esperando só pela hora da apresentação. Por essa lógica, quem deveria passar primeiro era a banda de forró, depois nosso artista e por final Netinho. Mas não teve acordo. A solução encontrada foi chegarmos de 13h para montar os equipamentos e fazer um sound check “rapidinho”. Venhamos e convenhamos... Uma rapidinha é melhor do que nada, não acham? E foi isso que decidimos.

Saímos para almoçar perto do meio-dia e depois corremos para o palco. Mais uma vez não fomos felizes, pois por falta de comunicação entre a produção do evento e os técnicos da empresa de som, estes só chegaram ao palco depois das 13h. Já havíamos até começado a passar os nossos cabos dos fones, pois toda a banda usaria fone e André usaria um in-ear sem fio. Foi quando um dos técnicos da empresa de som nos alertou que iria mudar de lugar os praticáveis (tablados usados para elevar alguns músicos), pois o desenho de palco de Netinho era completamente diferente do que estava montado. Eles mudaram tudo de lugar seguindo o mapa de palco de Netinho (documento enviado antecipadamente, aonde consta o desenho com as posições dos músicos e equipamentos no palco) e foi aí que notei que nós não teríamos tempo para fazer o nosso sound check.

Foi nessa hora que comecei a perder a virgindade!

Detalhe da mesa de monitor. O lugar era meio apertadinho.

Eu já sabia que a mesa neste evento seria uma digital, e por isso criei no meu laptop uma sessão (aprendi um dia com Fabrício, que já foi o operador de P.A. de Skank durante anos, que era muito melhor salvar uma sessão do que uma cena) do meu show antecipadamente em casa seguindo o input list do meu artista. Possuo um programa que pegamos de graça no site do fabricante desta mesa. Era só abrir esta sessão e sincronizar com a mesa na minha hora do sound check e fazer os ajustes. Até aí, tudo bem, pois já fiz isso várias vezes. Mas nesse caso não faríamos o sound check!

Para ganhar tempo na hora do nosso show, achei melhor fazer os ajustes partindo da cena de Netinho que o operador dele trouxe num pendrive e passou pra mesa, aproveitando ao máximo os ajustes já feitos por ele em alguns canais e evitando que houvesse muita troca na ligação dos instrumentos e vozes na hora de nosso show. Esperei o pessoal de Netinho ligar tudo e começar o sound check. E quando nosso ônibus chegou para nos levar para jantar (isso já era quase 6 da noite), salvei a cena dele no meu laptop como uma sessão e levei-o comigo. Jantamos e fomos para hotel. Enquanto o meu operador de P.A. e o roadie davam um cochilo, liguei meu brinquedinho e comecei a fazer os ajustes para o meu show. Montei o meu input de acordo com o input dele. Coloquei os instrumentos em comum nos mesmos canais. Por exemplo: coloquei o meu bumbo, caixa, esteira, hihat, tom1, tom3, over L e R (pratos da bateria), baixo, teclados e vocais nos mesmos canais dele. Isso faria com que não houvesse trocas de ligações nestes canais. Se eu seguisse meu input list, só iriam coincidir 5 canais nos mesmos lugares.


Tela do meu laptop com algumas das janelas do programa que utilizo para controlar as mesas digitais da Yamaha.



No canal da guitarra dele, coloquei um dos meus violões, pois não usaríamos guitarra. E o restante dos meus canais fui distribuindo nos canais mais parecidos, como meus instrumentos de percussão nos canais de percussão dele, mesmo não sendo instrumentos iguais, mas ficariam na mesma posição no palco, e seria mais fácil ligar as coisas pois os cabos já estariam no local. Estas mudanças foram anotadas num papel que entreguei ao técnico da empresa de som. Então ele sabia que o surdão e o timbale de Netinho seriam agora minha zabumba e meu pandeiro respectivamente. Essa distribuição dos instrumentos em canais semelhantes fez surgir vários espaços “em branco” entre alguns canais na minha mesa e na mesa do meu amigo que faria o som do P.A.. Mas isso também iria ajudá-lo, pois ele já pegaria vários canais já com um som legal pra começar o show, pois eram os mesmos instrumentos. Com os canais todos distribuídos, passei para a fase da equalização, corrigindo algumas coisas. Sei que não preciso, por exemplo, do grave do surdão na minha zabumba, então fiz os ajustes. E fui fazendo isso em todos os canais que via (todos os ajustes eram feitos visualmente) que os timbres eram totalmente diferentes. Modifiquei também as vias de monitor e estas mudanças eu passei para meu roadie. Falei que a primeira coisa que ele faria na nossa hora era ligar e distribuir as vias para nossos músicos. E foi isso que ele fez.

Já tínhamos deixado o microfone sem fio do meu artista ligado num canal da mesa que não seria usado por Netinho. E fiz todos os ajustes neste canal, inclusive colocando um efeito de ambiência (reverb) que o cantor gosta. Repito que todos esses ajustes foram “no olho”, eu não ouvia nada, mas com o tempo já sabemos o que acontece quando mudamos certos parâmetros e na hora a gente faz os ajustes finos. Depois de tudo organizado, salvei minha sessão, fechei meu laptop, tomei meu banho, e deu pra dar um cochilo de uns 15 minutos.

Fomos para o show.






Sound check de Netinho.







Tinha combinado com meu roadie Urêia, que enquanto ele ligava as vias, eu sincronizaria meu laptop com a mesa e escutaria se a voz do meu cantor já estava no in-ear dele com o efeito como eu havia ajustado no hotel. Não chegou no primeiro minuto e até passou pela minha cabeça um certo pensamento de desespero, pois se nem chegou a primeira coisa que eu achava que chegaria sem problemas, imaginei como seria com o resto dos canais. Respirei profundamente, pedi calma pra mim mesmo, e fui atrás do erro. Achei-o!

Sempre salvo a sessão com todos os canais fechados, pois aprendi na prática que salvando eles abertos é um grande erro. Quando sincronizo meu laptop com a mesa é exatamente na hora em que os técnicos da empresa de som estão refazendo as ligações dos cabos (desplugando e plugando em outro local), e se os canais estiverem abertos é “pipoco” pra todo lado!

Por isso nas minhas sessões eles estão todos off (desligados) na página principal da mesa, mas abertos no envio para todas as vias. Meu erro foi aí. Estava na página da mandada do sinal para as vias e todos os canais estavam abertos, mas como estavam fechados na página principal, o som não chegava ao in-ear. Foi só eu mudar a página (em mesas digitais se fala muito esta palavra) e ligar o canal da voz que ela surgiu no meu fone, linda, maravilhosa e com o efeito! Tudo como eu havia planejado.

Agora sim. Perdi finalmente minha virgindade! Nunca tinha feito um monitor só de olho.

Todos os canais chegaram aonde eram pra chegar e com uma sonoridade já legal. Precisei apenas ajustar o ganho de alguns e modificar um pouco a equalização de uns 3 canais.

Não sei em quanto tempo fizemos isso, pois não pensava em outra coisa a não ser no monitor. Mas lembro-me que não chegou ninguém ao meu lado pra falar que não dava mais para esperar e tinha que começar de todo jeito.

O show começou normalmente, como se nada tivesse acontecido. E tudo correu bem durante todo o tempo. Nem o cantor solicitou nada no seu in-ear. Não sabe ele que fui fazendo ajustes finos enquanto ele cantava, aumentando ou baixando instrumentos enquanto eu escutava o que ele estava escutando!

Ah! Esqueci de falar que o meu roadie ficou do outro lado do palco com um microfone para se comunicar comigo. Na realidade, este microfone seria usado por um dos músicos para se comunicar internamente com os outros músicos, mas achamos mais vantajoso deixá-lo com o roadie. Quando ele levantava a mão, eu colocava o som do seu microfone no meu fone e ele fazia os pedidos de ajustes que os músicos solicitavam durante o show pra ele, sem precisar se deslocar até a minha mesa.

Ganhamos muita rapidez com essa comunicação. Não é invenção minha. Ela é usada em muitos shows por aí já faz um tempinho.

Um monitor de um show hoje em dia não é feito só usando os ouvidos. A visão também é muito importante e este caso do laptop no hotel é uma prova disso. Com o tempo, aprendemos até a entender o que os músicos estão querendo durante o show pela leitura labial!

Até a próxima.

Um abraço a todos.

PS: Na noite anterior deu tão pouca gente, que as pessoas trouxeram as mesas que ficavam lá no fundo depois da mesa de som e colocaram na frente do palco. Viram os shows sentados e tomando uns drinks. Deve ter sido meio constrangedor para os artistas que se apresentaram, mas não deixa de ser uma imagem curiosa e que eu nunca tinha visto.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

APR 2008 – Shows de Gamma Ray e Helloween.

Olá pessoal.

Acabei indo para o último dia do festival Abril Pro Rock no dia 27, mesmo não sendo contratado. Fui para me divertir e ver se aprendia algo novo, pois neste ramo (e em quase todos!) tem sempre o que se aprender todo dia. Como sou amigo do pessoal do som, levei todo meu material de trabalho para o caso de precisarem de ajuda, mas foi tudo tranqüilo no palco. Como não estava de serviço, acrescentei na maleta minha garrafinha metálica de 750 ml de vodka!

Só não foi mais tranqüilo por causa dos técnicos das bandas, que eram os mesmos para as duas. Os operadores de P.A. e monitor eram gringos e o iluminador era brasileiro. Achei os alemães muito lentos, muito mesmo! Tinha tudo para ser um sound check tranqüilo, com tempo de sobra, mas acabou ficando agoniado no final. O roadie, que era gringo também e parecia um personagem exótico do filme de Harry Potter, levou uns 40 minutos só para armar uma bateria. E antes de começar a armar a outra, parou para se alimentar, pois ninguém é de ferro, não é? Nessa parada para o lanchinho, pararam todos!

Lembram que falei em algum texto que nos adaptamos ao tempo que temos para fazer o sound check? Mas neste caso, eles abusaram! A segunda banda passou o som com as cortinas fechadas do palco e com o público entrando no local.

Ah... O público... Pensem numa galera animada! Eles vibravam até com os clipes que passavam no telão! Cantavam junto como se já fosse um show. Mas todos os clipes seguiam o contexto da noite, logicamente! Ainda bem que não colocaram um comercial de uma cerveja que foi veiculado nos dois primeiros dias do festival, que tinha como trilha musical um axé, pois com certeza teria sido vaiado com fervor.

Neste dia era muito fácil me encontrar no salão, pois só vi uma camisa com a mesma cor da minha que era vermelha! Quase todo o resto do pessoal vestia preto!! Lembrei da menininha de vestidinho vermelho do filme A Lista de Schindler. Ela era a única coisa que aparecia colorida no filme que era em preto em branco, lembram?

Vamos voltar aos shows...

Os dois operadores, como muitos hoje em dia, solicitaram mesas digitais. Cada um deles trouxe a cena do último show que foi feito em Fortaleza salva no pendrive. Esta cena é passada para a mesa, fazendo com que se ganhe muito tempo com isso. Talvez isso tenha influenciado no relaxamento da equipe na hora do sound check.

Fiquei grande parte do tempo no palco observando a passada de som e pude notar algumas curiosidades, principalmente na banda Helloween. Eles não usam amplificador de guitarra microfonado, o que para muitos guitarristas puristas é uma coisa absurda! Deixo esta discussão para os guitarristas, porque para mim, se o produto final ficar legal, pouco me importa se tem amplificador microfonado ou não na jogada. O guitarrista usava várias guitarras com um único transmissor sem fio e estes sinais passavam só por um cabeçote de amplificação Marshall e por pedais simuladores de amplificadores, sendo enviados por linha (estéreo) para o som. Inclusive anotei a referência deste transmissor sem fio para usar no violão do artista com quem trabalho, pois o meu amigo Normando, que é um dos sócios da empresa de som que faz o festival, e que trabalha comigo no monitor deste artista, já tinha me alertado sobre a existência de tal equipamento.

O baixista usava caixas amplificadas no palco, mas ficavam escondidas abaixo do praticável da bateria, e isso fez com que o palco ficasse visualmente limpo. Outra coisa que pude observar foi o microfone da voz principal. Era um microfone sem fio que eu já tinha ouvido falar e que tentei uma vez fazer com que o artista com quem trabalho comprasse, pois qualidade sempre foi uma prioridade para este artista. O grande problema que encontramos foi que o preço dele aqui no Brasil era somente 32 mil reais!!!! Não tive argumentos (e nem tentei!) para convencê-lo a comprar!!

Como sabia que o som seria pesado, levei e usei meus protetores auriculares para proteger meus ouvidos, pois são minhas ferramentas de trabalho e não posso danificá-los. Fui para o local onde fica a mesa de P.A. que chamamos de F.O.H. (Front Of House), e fiquei lá ao lado do operador alemão até o final dos shows! Escutei a primeira metade do show de Gamma Ray sem os protetores para ouvir o som sem barreiras e coloquei-os na outra metade para descansar os ouvidos até o início do show de Helloween. Foi um show de competência do operador alemão! O som estava muito bom, mas muitíssimo alto! Não sou roqueiro, mas adoro um som bem feito, independente do estilo e não sei também se aquele estilo de música poderia ser apreciado em outro volume. Achei também a voz muito dentro da base musical, fazendo com que eu não entendesse direito as palavras (em inglês) que o cantor pronunciava, mas isso já é um gosto pessoal, pois sempre trabalhei com jingles publicitários em que o entendimento da palavra é a prioridade. Faço sempre isso nos shows em que opero o som do P.A., ou seja, primeiro eu tenho que entender as palavras que o cantor está pronunciando, e depois eu vou complementando com os instrumentos. Lembro-me uma vez que fui a um show de Fernanda Abreu e este show foi gravado. Escutei a gravação depois e fiquei impressionado com o resultado final. Estava tudo muito nítido e equilibrado, parecia um CD gravado em estúdio, só que no show eu não entendi nada da letra que ela estava cantando em várias músicas, pois eu não conhecia as letras! Tudo é uma questão de concepção.

No final do show de Helloween, depois de tomar toda a garrafa de vodka com um amigo meu, dei os parabéns ao alemão pelo som, e não me contendo de curiosidade, pois já fiz shows na Alemanha, perguntei com meu inglês fraquíssimo: Você usa este volume de som na Alemanha? Ele respondeu satisfeito e sorrindo: never!

Fui acabar a noitada com meu amigo Normando no mercado de Casa Amarela, tomando “as saideiras” com galinha cabidela e me perguntando se Recife mereceria tais shows! Acho às vezes o público daqui muito ingrato.

Fui dormir muito feliz por ter presenciado um grande espetáculo, e repito, mesmo sem ser roqueiro!

Um abraço a todos.