terça-feira, 29 de julho de 2008

Segunda parte da Turnê 2008 na Europa. Shows com Silvério Pessoa e Renata Rosa.

Olá pessoal.

Vou fazer quase a mesma coisa que fiz no São João. Farei um resumo desta minha segunda ida para a Europa, mas ao contrário do que fiz com o resumo do São João que postei de uma vez só, vou fazer este texto por partes. Será um único texto que irei editando e colocando o complemento, pois tenho que fazer outras coisas por aqui, como por exemplo, comer camarão ao alho e óleo com meu filho!

Viajei dia 15 de julho e cheguei à França no dia 16. Voltei neste domingo, dia 27 de julho. Foram 09 shows em 11 dias. Silvério Pessoa fez 7 shows e eu ainda operei o som de 2 shows de Renata Rosa. Isso foi possível porque esses dois shows de Renata seriam no mesmo festival e no mesmo palco aonde Silvério se apresentaria.

Dois dos músicos de Silvério (Renatinho e Augusto) ficaram na Europa desde a nossa primeira ida em junho. Eles fazem parte da Spok Frevo Orquestra e seguiram em turnê com Spok. Assim que chegamos à Paris, combinamos uma farrinha no quarto dos dois para colocar os assuntos em dia. Mesmo com o corpo muito cansado por causa do fuso horário, a reunião foi muito boa.

Antes do primeiro show de Silvério, foi marcado um ensaio para se passar o show e tirar as dúvidas do percussionista Dimas que faria esta turnê no lugar de Wilson. Foi bom também para refrescar a cabeça de Augusto e Renatinho.

Acabei tendo que ligar o in-ear de Silvério e o fone do baterista Augusto, pois só com as duas caixinhas amplificadas não dava pra ouvir o click da base programada do MD e ouvir o resto dos instrumentos e vozes. Ficou tudo muito confuso. E ainda uma das caixas estava com o transdutor responsável pelo médio e agudo parado. Depois de fazer algumas modificações na ligação da mesa, o ensaio transcorreu normalmente, enquanto eu e Roberto Riegert (iluminador) degustávamos uma garrafinha de vinho (ehehe).

Modificando as ligações do estúdio de ensaio, para poder ligar o in-ear de Silvério e o fone de Augusto.

Vou ter que abrir um capítulo à parte aqui para falar do nosso ônibus! Passamos grande parte do tempo desta turnê dentro dele. Na parte de baixo ficavam 4 mesas com quatro poltronas cada. Em cada uma destas mesas tinham duas tomadas de energia e um mini-abajur. Ainda tinha: banheiro, uma pia para escovar os dentes, outra pia para lavar copos, microondas, frigobar, cafeteira, dois monitores de TV e sistema de som e DVD player. Podíamos ainda ligar nossos mp3 ou laptops neste sistema de som.

No primeiro andar do ônibus ficavam 16 camas com travesseiros, cobertores grossos e em cada cabine tinha um postezinho de luz para quem quisesse ler à noite.

Na parte da frente deste andar ainda tinha uma salinha com mesas, poltronas, um monitor de vídeo e sistema de som. A vista era espetacular, pois a parte frontal era um janelão de vidro! Nos divertimos muito dentro deste ônibus. Era tão confortável, que o tempo passava mais rápido. Uma das quatro mesas que ficavam na parte de baixo do ônibus. Meu laptop ao lado do laptop de Roberto Riegert (iluminador). Parte de cima, aonde ficavam as 16 camas, tipo cabine. Parte da frente do primeiro andar. Vista privilegiada. Dia 18, show em Monléon-Magnoac – França. Não tive nenhum problema neste festival. Seria show de Silvério Pessoa, Renata Rosa e ainda iria ter algumas atrações neste palco, mas a nossa bateria não seria desarmada, pois nem Renata e nem as outras atrações usavam bateria. A mesa da frente era uma digital. A velha M7CL também já está começando a aparecer na Europa. Passei a minha sessão de Silvério para a mesa e fiz o sound check normalmente. Não lembro qual era a marca do line array, mas ele falava bem. É muito difícil pegar um line array na Europa que não “fale” legal, levando-se em consideração o que eu encontro aqui no Brasil, que muitas vezes é cópia grosseira. Lá eles não fazem cópias! Detalhe das mesas de luz e som.

Pensei que fosse mais fácil operar o som do show de Renata, mas me enganei. O show varia muito de dinâmica e tem detalhes sutis de violão, viola, rabeca e percussões. Tive que ficar ligado o tempo todo.

O show aconteceu sem nenhum contratempo.

Como tínhamos um bom tempo para mudar o palco, e minha mesa era digital, foi tudo calmo na mudança. Só me restava agora torcer para o técnico de monitor da firma de som acertar nas mudanças das ligações no palco, pois a mesa dele era analógica e ele teria que reajustar as coisas lá. Se houve algum problema nos monitores da banda, não deve ter sido sério, pois não me lembro de nada para comentar.

É muito ruim comentar sobre os shows muitos dias depois, pois acabo não lembrando de alguns detalhes. Estou escrevendo o texto olhando as fotos como referência para tentar lembrar como foi. Mas foram legais os dois shows.

Desarmamos o nosso equipamento e seguimos no nosso ônibus-hotel para o próximo show que seria no outro dia! Dia 19, show de Silvério Pessoa em Arles – França. Já gostei quando cheguei ao local e vi que o line array montado era um Adamson. Já sabia que era muito bom! Depois desta grata surpresa, ainda tive duas outras boas. A mesa era uma digital PM5D e só haveria um show naquele palco, o de Silvério. Passei mais uma vez minha sessão para a mesa e o sound check foi muito rápido! Quando passo a sessão que tenho gravada no meu laptop para a mesa, já ganho muitos minutos com isso. Todos os canais já estão com os nomes. Já existe uma pré-equalização em cada um destes canais. Meus efeitos já estão no lugar e eu sei que se eu enviar o sinal de um canal pelo auxiliar 21, ele vai para um efeito de ambiência que fiz para a bateria e as percussões e volta no canal Return Eff 1 (retorno efeito 1). Eu já programei esta ligação em casa, tomando vinho com queijo parmesão! Line Array Adamson. Neste evento ele foi sub-utilizado. Estou ganhando muito tempo com isso, tornando o sound check muito rápido. Até Silvério comentou uma vez isso. E eu para variar, falei que era porque o som era bom. Mentira! Um sistema de som equilibrado ajuda muito, mas esta comunicação entre mesa e laptop colabora também! E de nada adianta isto tudo se o operador não souber como usar! (...pronto! minha modéstia foi para o espaço.) Depois destas boas surpresas, veio a notícia não muito boa: o festival tinha limite de volume!

Pra tentar passar o que senti com este controle de volume usando um line array da Adamson, seria a mesma coisa que você ter a oportunidade de pilotar um carro da Fórmula 1, mas sem passar de 40 km/h!

Mostrei para o técnico da empresa de som enquanto fazia o sound check, que era impossível deixar no nível que ele queria, pois já vinha muito som do palco. E olhe que não usamos monitores de chão! Todos estavam de fones, menos o percussionista novato que não tinha o equipamento. Mas só o som acústico da bateria e das percussões, somado ao som dos amplificadores de guitarra e baixo faziam com que eu chegasse bem pertinho dos 95dB estipulado. Depois de alguma conversa, o técnico francês pediu para eu fazer o sound check como eu queria e depois veríamos o que fazer. Já fiz um show na Bélgica com estes 95dB de limite, e ficou legal, mas a área era muito menor. Tentei segurar de todo jeito, mas como falei, não tinha como, e passei várias vezes do limite. No show seria pior, pois haveria o barulho do público que seria somado, e os músicos normalmente (quase sempre!) tocam mais forte por causa da empolgação e de outros fatores que não acho necessário explicar agora. Acabamos o sound check e fomos para o camarim esperar pela hora do show. Fomos muito bem atendidos e a comida do camarim estava melhor do que o jantar!

O show foi bom, mas poderia ter sido melhor se não houvesse este limite. Passei várias vezes dos 95dB, mas sem exageros, e ainda assim o som estava baixo para o ambiente. Nas últimas quatro ou cinco músicas, passei ainda mais do limite e fui até o final assim, me fazendo de doido, pois o técnico francês não ficou na mesa comigo e só aparecia de vez em quando para olhar o decibelímetro.

Mais uma vez, desarmamos nosso equipamento, colocamos no ônibus e seguimos para Paris. O próximo show seria no outro dia novamente. Só que agora, dormimos toda a viagem e fomos direto para o local do evento fazer o sound check. Não deu tempo de passar no hotel! Dia 20, show de Silvério Pessoa e Renata Rosa em Paris – La Villette.

Marc, o produtor, nos acordou no ônibus quando estávamos chegando perto do local do show. Tomei um café com leite, escovei os dentes, lavei o rosto, passei uma água nos meus poucos cabelos para “assentar” e quando o ônibus parou, desci e fui para o palco.

O local era um parque bem amplo, com muito verde e o tempo estava frio. Montamos todo nosso equipamento e esperamos o pessoal do som ligar tudo. Enquanto isso fui dar uma olhada nos equipamentos. As duas mesas seriam analógicas. Nada bom, pois eu faria os dois shows e teria que anotar as mudanças. O line array era um francês da marca Amadeus que eu nunca tinha trabalhado, mas como falei antes, é muito difícil estes equipamentos soarem mal. Coloquei meu CD para tocar e constatei que o equipamento “falava” legal.

Não gostei da equalização da mesa, mesmo sendo uma Midas, sempre elogiada. Era uma Heritage 3000.

Passei o som de Silvério e esperei para a mudança do palco para Renata. Todos da banda de Silvério foram para o hotel e eu fiquei direto, e ainda por cima sem casaco, pois ele ficou no ônibus. Tremi direitinho lá na frente! Para não ter que anotar os canais de Silvério que seriam mexidos por causa do show de Renata, decidi fazer umas mudanças de ligações na minha mesa, passando alguns canais de Renata para o final da mesa, fazendo com que os canais de Silvério não fossem mexidos. Isso causou uma confusão para os técnicos franceses que quase desisto da idéia. Tive que chamar Marc para traduzir o que eu queria, pois meu inglês simplório não deu conta do recado. Conseguimos nos entender e tudo ficou como eu queria. Depois de fazer o sound check de Renata, esperamos só alguns minutos para começar. Perguntei ao técnico da empresa qual era meu limite sonoro e ele me falou que era 100dB.

Não tive nenhum problema, pois a mesa estava numa distância considerável das caixas de som (ao contrário do que aconteceu no festival anterior em Arles), e para dar 100 dB eu precisaria aumentar e muito som! Nem cheguei perto dos 100 dB no show de Renata. Fiquei todo o show entre 90-95dB e estava confortável.

Tivemos uns probleminhas no canal do violão que parou de funcionar e tivemos que aguardar enquanto o pessoal do som descobria o problema e consertava. Fora isso, foi tudo certo e foi muito legal o show.

Ao final, fui ao palco com os dedos doendo de frio, ajudar na montagem do palco para o show de Silvério. Ele me falou que não tinha gostado do seu monitor, que ficou pendendo para um lado, mas eu não tinha o que fazer naquele momento, a não ser torcer para melhorar durante o show.

Não consegui pegar meu casaco, pois o ônibus tinha ido para a garagem para ser lavado e só voltaria dois dias depois! Meu casaco foi dentro.

O show foi muito bom, mesmo sem iluminação, pois ainda estava claro quando o show acabou. Fiquei todo show entre 93-97 dB. O técnico francês estava super-animado e curtindo o som. Perguntou-me se eu nunca ria, e eu respondi que nunca acho que está 100% o meu trabalho. E ele respondeu: Verdade? Não se preocupe, está muito bom! Retribuí com um sorriso e relaxei. Cheguei nos 100dB na última música, que era o Coco do M com a base eletrônica. No camarim, Marc me falou que algumas pessoas acharam alto o som. Não duvido (usando o padrão Europeu) que tenha ficado alto em alguns setores na frente quando cheguei nos 100dB, mas não posso sacrificar a grande maioria por causa de uma minoria! Comemoramos no camarim pelo show e pelo aniversário de 10 anos da Outro Brasil, empresa que gerencia os shows de Silvério Pessoa e Renata Rosa na Europa, e fomos para o hotel. No outro dia, seria folga e passeio por Paris! Uh uhhhhhhh!

Dia 22, show de Silvério Pessoa em Grimaud – França.

Passamos todo o dia 21 batendo pernas em Paris e comprando o que os amigos pediram (no meu caso, fui comprar dois microfones). Voltamos para o hotel no começo da noite (mas ainda claro), jantamos num restaurante em frente ao hotel e pegamos nosso ônibus-hotel para seguirmos para Grimaud.

Cansados de tanto andar por Paris. Esperando Pepê, músico de Renata Rosa que estava comprando algo numa loja de esportes.

O que acontece em Paris quando estacionam em local proibido!

Fizemos a velha farrinha no ônibus de vinho, conversa fiada e música e fomos dormir. Esse é um ponto negativo (depende do ponto de vista!) do nosso ônibus. Como nos sentimos dentro de um quarto de hotel, corremos um grande risco de exagerar nas conversas e vinhos, pois esquecemos que estamos indo para o local do show! Não vou negar que é um risco prazeroso.

Acordamos na frente do hotel que ficava próximo a cidade (nem tanto!). Descarregamos nossas malas, pegamos nossos quartos e esperamos só alguns minutos para almoçar. Voltamos aos quartos e esperamos chegar a hora marcada para ir ao local do show. Uma van vinha nos apanhar.

Pensei que ia chegar ao céu de tanto subir! Teve até gente da equipe que passou mal com a subida. Disse que foi problema com a pressão. Coisa de idade mesmo ( e não fui eu!!!!). kkkkkkkk

O local era muito bonito. Era uma ruína de um forte, e acredito que seria o ponto mais alto da cidade. No topo deste forte ainda dava pra ver o que restou de duas torres, que pela quantidade de janelas, deveria servir como observatório contra os inimigos. Muito legal o lugar. O local do show era um teatro ao ar livre com arquibancadas de pedra! Impressionante como eles têm certeza que não vai chover! Só haveria o show de Silvério naquele dia. Vi que a mesa de monitor era uma digital igual à usada no show do dia 19 em Arles, e eu tinha salvado a cena do show de Arles no pendrive. Pedi para Marc entregar o pendrive ao operador de monitor para ver se mesa iria reconhecer, pois tinha minhas dúvidas se o operador de Arles tinha salvado corretamente. Eu iria salvar no meu laptop, mas não deu tempo. A mesa reconheceu a cena e isso nos ajudou muito no sound check, pois estava tudo endereçado aos músicos. Era só uma questão de ajustes. Montamos nosso equipamento com tranqüilidade e começamos o sound check. No detalhe, a mesa digital do P.A. ligada ao meu laptop via cabo USB. Mais rapidez na hora do sound check. A primeira coisa que perguntei ao técnico francês (que tinha nascido em Portugal) foi se eu teria limite de volume. Já sabia que ele iria responder que sim, mas não imaginei que poderia ser como foi! Mais uma vez, passei minha sessão para a mesa digital da Yamaha e fiz o sound check tranquilamente. Já sabendo que eu teria limite, segurei um pouco no volume, mas estava confortável pra mim. Perguntei ao técnico se estava ok, e ele ainda achou alto o som, mas que talvez com as arquibancadas cheias desse para continuar neste volume. Aguardamos então a hora do show.

Quando começou a entrar o público, tive a certeza absoluta que jamais poderia usar aquele volume do sound check! O membro da equipe que passou mal por causa da pressão brincou dizendo que estava se sentindo no jardim da infância, pois com certeza ele era o mais novinho dentro daquele local! Ele está na casa dos 50 anos. Eu tenho 42.

Tinha um número muito grande de idosos na platéia!

Falei para o pessoal da banda “amaciar” na hora de tocar, pois quanto mais alto eles tocassem, mais eu teria que baixar o som da frente.

Antes de começar o show, baixei o controle do máster da mesa consideravelmente. Detalhe da torre iluminada à noite e o nome do evento projetado na encosta.

O show começou. O som estava baixo, mas dava pra fazer. Foi quando o organizador do evento chegou ao meu lado depois da segunda música (eu acho) e comentou que teve gente que saiu por causa do volume. Baixei novamente o máster da mesa e o som que chegava pra mim era ridículo! Desanimador mesmo! E ainda tinha na minha frente, bem perto da mesa, um loirinho de uns 10 anos (filho da #¤§*) com os dedos nos ouvidos olhando pra mim! Mas não tinha como baixar mais. Só se desligasse o som!

Fui averiguar a veracidade deste excesso de volume e desci para chegar mais perto do palco. Pude notar que realmente o som era outro lá! Estava bem mais alto. O motivo para isso acontecer foi o mau posicionamento do line array. O pessoal do som simplesmente colocou as oito caixas (4 por lado) sobre uma plataforma fixa nos lados do palco. O correto seria suspender e ajustar a angulação destas caixas para distribuir melhor o som pelo ambiente. Minha mesa estava no topo da arquibancada e o palco lá embaixo. Realmente, se eu deixo o volume do som como eu queria ouvindo lá de cima, teria matado um bocado de velhinhos! Mesmo eu estando desanimado com o resultado sonoro, sabia que não poderia ser de outro jeito. Mais ninguém saiu do local e o show foi muito aplaudido. Isso é o que importa no final. Teve até uns gritinhos de uns poucos jovens que estavam presentes. Com certeza, o show agradou.

No camarim, agradeci à banda pelo profissionalismo, pois fizeram exatamente o que pedi, mesmo não sendo confortável pra eles tocarem daquele jeito. Para vocês terem uma idéia... Na última música (não lembro se foi Coco do M ou Na Boléia da Toyota), Renatinho se empolgou na guitarra, pois a música tem muita guitarra distorcida, e eu tive que tirar completamente o som da guitarra do P.A., pois se ouvia (e muito) o som vindo do amplificador no palco!

Desarmamos nossos equipamentos, tomamos uns vinhos no camarim e voltamos para o nosso hotel. Seguiríamos de ônibus no outro dia para a Suíça, aonde iríamos nos despedir do nosso ônibus. Passaríamos um dia off passeando no festival Paléo, dormiríamos no ônibus, e viajaríamos no outro dia cedinho de avião para Portugal para fazer um show em Sines. Retornaríamos após o show para a Suíça para fazer os últimos dois shows no festival Paléo! Essa seria a parte mais cansativa da turnê.

Dia 23, dia de folga (day off) na Suíça passeando pelo festival Paléo.

Nosso ônibus estacionou bem próximo ao local do festival. Dava para ir andando.

Ele ficaria parado ali até a madrugada do dia seguinte, quando iria nos deixar no aeroporto para seguirmos para Portugal. Nossas bagagens ficariam no hotel, pois cada um fez uma pequena mochila com as roupas para a viagem. Nosso produtor reservou um quarto deste hotel para quem quisesse tomar banho antes de viajar para Portugal. Como seria tudo mais complicado, a maioria resolveu tomar banho em Portugal. É selva! (kkkkkk)

Fomos então conhecer o Festival Paléo.

Impressionante! Tudo! Principalmente a organização! Nunca vi coisa tão organizada!

Mesmo não sendo o dia da apresentação de Silvério Pessoa, uma van foi nos apanhar para irmos ao festival. Já na área de credenciamento, o tratamento assustou de tão bom! Todos sorriam e perguntavam o que desejávamos. Quer café, água, cerveja, vinho? Tá tudo bem? Tá precisando de algo?

Pegamos as nossas credenciais e fomos passear pelo festival e conhecer o local aonde seria o show de Silvério, o palco The Dome. Combinamos que não demoraríamos neste dia, pois iríamos viajar logo cedo no outro dia. The Dome.

Ao todo, eram 5 palcos. Um enorme montado numa área aberta, 3 menores cobertos (o The Dome era para umas 2500 pessoas) e um bem pequeno que servia mais para fazer o programa de rádio. Quase não tinha som de frente, apenas duas caixinhas.

Rodamos por todo o festival. Olhamos todos os palcos. Foi um dia de turista mesmo. Como sempre, encontramos comidas e artesanatos de várias partes do mundo. Um grande festival! Palco principal do festival. Vimos pedaços de shows em todos os palcos. No palco principal estava armado uma parede de amplificadores de guitarra que me deixou curioso. Até foto eu tirei. Combinei com o pessoal em voltar lá antes de irmos embora para ver o guitarrista surdo da banda de rock chamada Justice! Palco preparado para a apresentação de Justice.

Depois de comer um macarrão com poulet (galinha) delicioso, passamos no palco principal e nem guitarrista existia! Justice eram dois DJs que faziam música eletrônica! Os amplificadores faziam parte do cenário! Divirto-me com estas surpresas.

Voltamos andando tranquilamente sem medo de ser assaltado para o nosso ônibus, para aguardar a hora da partida para o aeroporto. Eu não demorei muito conversando e fui dormir! Marc me acordou quando estávamos chegando perto do aeroporto. Despedimo-nos do nosso motorista muito “gente boa” e partimos para o check-in.

Dia 24, show em Sines – Portugal.

Pegamos uma criança no avião que chorava mais alto do que qualquer sistema de som que eu conheço! Nunca tinha ouvido um choro tão potente! Antes de o avião decolar, peguei meu protetor auricular, empurrei-o até onde conseguia no ouvido, e como estava cansado, consegui pegar no sono, depois de tentar todas as posições possíveis. Escutava ainda ao longe aquele grito de agonia... Uma van nos aguardava no aeroporto de Lisboa e seguimos para Sines (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sines).

No caminho, decidimos almoçar e seguir direto para o sound check. Levaram-nos para um restaurante especialista em frutos do mar e eu pedi uma feijoada (com feijão branco) de frutos do mar! Gostosinho... Mas não tão bom como nossa feijoada ou dobradinha.

Antes dos pratos principais, vieram as entradas, e como sempre, um exagero. Camarão, umas conchinhas que lembravam ostras e uma “coisa” que parecia da pré-história que não achei muita graça o gosto. Pedi para Marc descobrir quais seriam as mesas de P.A. e monitor. A do P.A. era uma digital DiGiCo D1 (http://www.digico.org/DiGiCo-05/d1live-custom.htm) e eu nunca tinha trabalhado com ela. A de monitor seria uma analógica que não me recordo agora qual era a marca e modelo. Sabendo destes detalhes, não poderíamos aproveitar nenhuma sessão das mesas gravadas dos shows, pois eram só para as mesas da Yamaha. Almoçamos e fomos para o local do show.

O local era à beira-mar também. Muito amplo. O sistema de som era muito bom. O line array era um Nexo GEO T Series (http://www.nexo-sa.com/asp/catalogue/catalogue.asp?linkid=704). Um dos que mais gosto! Tinha muita luz. Roberto Riegert era só sorrisos.

Peguei umas dicas com o técnico da empresa de como funcionava a mesa, pois cada mesa digital tem seu modo particular de funcionamento. Estranhei no começo como mudar as páginas de faders, pois era totalmente diferente da maioria das mesas digitais, mas acabei me acostumando. Passamos o som tranquilamente e fiquei muito satisfeito com o som do P.A. Nexo, pra variar! Fizemos um lanchinho atrás do palco com direito a sopinha, bolinho de bacalhau, uvas, vinho e conversamos sobre o sound check. Todos estavam satisfeitos. Fomos para o hotel tomar banho e aguardar a hora do show. Tinha tudo pra ser um grande show. E foi!

Som perfeito, luz perfeita! Muita gente pra ver o show. Não tive problemas com limite de volume. A luz funcionou, pois não tinha sol. Ninguém chegou ao meu lado pra falar que eu tinha que baixar o volume! A língua também ajudou para o sucesso do show. As pessoas cantavam, dançavam. Foi sem dúvida, o melhor show da turnê até o momento. Não me lembro de nenhum contratempo. Foi tudo perfeito.

Só não tínhamos tempo para comemorar. Uma pena, pois merecia umas rodadas de vinho! Fui ajudar na desmontagem dos nossos equipamentos e após tudo desmontado e colocado no caminhão, seguimos para o aeroporto sem passar pelo hotel, pois teríamos que voltar imediatamente para a Suíça, aonde seria encerrada a turnê com dois dias de show no Festival Paléo.

Dias 25 e 26 – Dois shows de Silvério Pessoa no Festival Paléo – Suíça.

A agitação dentro da van quando seguíamos para o aeroporto de Lisboa para voltarmos para a Suíça não durou mais que uns 20 minutos. O cansaço nos dominou e tentamos aproveitar o tempinho para dar um cochilo, mesmo sem conforto. Já estava claro o dia quando o avião seguiu de Lisboa para Geneve.

Mais uma vez, uma van nos esperava.

O que eu estava sabendo antecipadamente era que não ia dar tempo da gente fazer o sound check, pois chegaríamos muito em cima da hora por causa do show em Sines. Faríamos somente um line check e sem poder abrir o som do P.A.. Mas ao chegarmos a Geneve, o nosso produtor nos falou que teríamos tempo para fazer o sound check, por causa de uma brecha deixada pela equipe de Marcelo D2. Essa era a boa notícia. A notícia não muito boa era que para fazer isso, teríamos que ir direto do aeroporto para o palco! Não pensamos duas vezes e seguimos para lá.

Eu já sabia quais seriam as mesas, pois recebi antecipadamente os documentos com a relação do equipamento. A mesa de monitor seria uma digital PM1D da Yamaha e a do P.A. seria uma Studer Vista 5.

A mesa da Yamaha eu já tinha ouvido falar, mas nunca vi. Sei que tem umas poucas empresas brasileiras que possuem tal mesa. Já a Studer, eu nunca tinha nem ouvido falar! Fui ao site da empresa (http://www.studer.ch/index.aspx?menu_id=3&sub_menu_id=9&locale=en&url=includes%2fproduct_sheet_include.aspx%3fproduct_id%3d42) antes mesmo de viajar para a turnê, para ver como ela era. A empresa Studer era famosa antigamente por fabricar gravadores analógicos de fita profissionais, mas com a chegada dos gravadores digitais ADAT, que usavam fitas VHS como mídia, a situação da Studer não ficou nada bem. Pensei até que ela tinha fechado. Assustei-me quando vi a mesa no site. Design arrojado. Gostei. Vi mais ou menos como era que funcionava, para não chegar sem saber de nada no festival.

Detalhe da mesa digital de monitor PM1D da Yamaha.

E foi exatamente isso que tentei falar para o técnico Suíço. Sabia só o básico. Pedi pra ele me explicar algumas coisas e solicitei o que queria.

Este comentário abaixo vai para os operadores de áudio que estão lendo este meu texto.

Sempre digo que numa mesa digital, o botão mais importante é o SELECT, pois se você não selecionar o canal antes de fazer qualquer coisa, corre o risco de modificar o canal errado. Isso não se aplica a esta mesa Studer, pois cada canal tem seu botão de ganho e sua janelinha de equalização, dinâmicos e pan. Diferentemente de outras mesas em que estes controles são únicos e servem para todos os canais. Você seleciona o canal desejado e vai nestes controles para ajustar. Se quiser ajustar outro canal, seleciona-se o outro canal e vai novamente para estes controles que passam a comandar os ajustes deste novo canal selecionado. A mesa Studer é mais prática. Legal. Mesa Studer Vista 5.

A DiGiCo que usei em Portugal também sai um pouco do comum, mas ainda tem controles únicos para cada 8 faders.

Depois de tudo acertado, começamos o sound check e mais uma vez foi tudo tranqüilo. Como a mesa de monitor era uma digital também, fiquei despreocupado, pois mesmo havendo outras atrações naquele dia, tudo voltaria como foi deixado no sound check. Ficou decidido que Silvério usaria o sistema de in-ear do festival, pois o dele poderia ter problemas com interferências. O transmissor e receptor foram os do festival e Silvério usou o fone pessoal dele. Seguimos para almoçar no refeitório. Tratamento de rei! Fartura de comida e bebida! Três refrigeradores self-service. Um com água e chá, outro com refrigerante e outro só com vinho! Tinha um self-service com as famosas entradas que sempre se fazem presentes nas refeições européias. Eu geralmente pulo esta parte e vou logo para o prato principal. Tínhamos 3 opções de escolha para este prato! Impressionante! Não vou nem comentar sobre as garçonetes voluntárias (eheheh). E para finalizar, existia um freezer cheio de sorvetes para quem quisesse pegar. No final, pedi ao nosso produtor para perguntar se haveria problema se eu levasse uma garrafa do vinho, alegando que era muito difícil encontrar vinho Suíço em Recife. A bondosa garçonete falou que eu ficasse à vontade e eu peguei duas garrafas. Uma pra mim e outra para meu parceiro de quarto, Roberto.

Depois desta pequena turnê gastronômica, fomos finalmente para o hotel tomar um banho e esticar as pernas numa caminha por algumas horas. Foram só algumas horas mesmo!

Voltamos para fazer o primeiro show no Festival Paléo.

O local do show era tipo um circo, sem ser redondo. Existia uma grande arquibancada atrás da minha mesa de som e na frente um grande espaço aberto. Em cada lateral do palco, um super telão de leds. Tivemos tempo de sobra para religar nossos equipamentos e fizemos um line check para ter certeza que nada estava errado. Mais uma vez eu teria limite de volume, mas já sabia disso desde o sound check e tinha notado que não seria problema, pois o limite não era tão baixo e daria para fazer legal. E assim foi.

O local estava cheio, mas eu esperava muito mais gente por causa do tamanho do evento. Detalhe das arquibancadas que ficavam atrás da house mix. Não sei por que não foi lotado. O show foi muito bom, mas não conseguiu superar o show de Sines. Não tive nenhum problema com a mesa Studer, do mesmo jeito como foi com a DiGiCo. Depois de saber onde estão as coisas na mesa, você opera o som do show normalmente (ou quase). Depois do show, fui fazer o que sempre faço nas turnês, ajudar na desmontagem do nosso equipamento. Desta vez não desmontamos por completo, pois seriam religados no outro dia novamente. A bateria ficou toda armada no praticável móvel e deixamos todo o resto do nosso equipamento perto deste praticável. Não desliguei nem os cabos do setup de Silvério (Kaos Pad e AirFx). No outro dia era só conectar nas ligações do palco. Enquanto comemorávamos no camarim pelo belo show, veio a surpresa... Entregaram pra gente um DVD com o show que tinha acabado fazia pouco tempo. Muito bem editado, com uma imagem perfeita! Até o som eles mixaram separadamente, pois os meus canais da mesa foram enviados separadamente para eles. Eu não gravei o show neste dia. Fiquei de gravar no segundo show. O nível do áudio do DVD ficou um pouco baixo, mas nada que possa manchar a organização. Já tinha ouvido falar de uma banda (estrangeira) que vendia os CDs do show que tinham acabado de fazer para as pessoas no final do evento, mas a atitude do festival me surpreendeu mais uma vez! Voltamos para o hotel para um descanso merecido. Eu estava maravilhado com o festival, e acredito que o restante da equipe também. No outro dia, eu e meu parceiro de quarto Robert Riegert, resolvemos ir mais cedo para o festival, pois ele queria comprar umas lembrancinhas e ajustar algumas coisas na luz. Não tivemos problema com isso, pois sempre tinha condução do hotel para o festival e do festival para o hotel! Os intervalos eram entre 30 minutos e 1 hora. Alguém já viu isso em algum festival? Eu não! Fizemos as nossas comprinhas e fomos para o nosso palco, o The Dome. Roberto foi fazer os ajustes que ele queria na luz e eu fui para o palco religar os nossos instrumentos e depois fui lá na frente armar meu sistema para gravar o show. Tudo na tranqüilidade. Eu e o iluminador Roberto Riegert no sound check.

Encontramos-nos depois com o resto da equipe no camarim, e aguardamos pela hora do início do show. Neste dia, o show seria mais cedo e acabou dando menos gente que no primeiro dia.

Antes de começar o show, mais uma surpresa. O rapaz que tinha me informado sobre o limite de nível sonoro no primeiro dia, me mostrou uma planilha com os gráficos do volume do som dos 3 shows deste primeiro dia e me parabenizou, pois eu fui o único que conseguiu manter o nível dentro do combinado durante todo o show! Tinha falado para o pessoal da banda que o som seria melhor, pois estava tudo ajustado. Tudo ia dando certo, até que os pedais do baixo de Israel deram problema mais uma vez! Começou a dar uns pequenos estalos e finalmente o baixo parou! Fiquei muito puto, pois Israel já tinha tido problemas com estes pedais em Grimaud e acho que ele não deveria usá-los nos demais shows. Dos males o menor... Pelo menos não deu defeito no show de Portugal! Mesmo com menos gente, o show foi tão animado como o do dia anterior. Teve até solo de alfaia! Depois do final do show, agradeci várias vezes ao técnico da empresa de som e falei que nunca tinha visto uma organização de festival igual ao Paléo. Ele me pediu um pendrive para passar as sessões da mesa dos dois shows e eu salvei-as no meu laptop depois. Caso eu me encontre com esta mesa futuramente... Acho difícil. Só na Europa mesmo. Fui para o palco desarmar o setup de Silvério e fui para o camarim tomar um vinho, agora sem me preocupar com horário. Mais uma vez foi entregue um DVD com o segundo show gravado! Os produtores de Silvério (Marc e Fabrice) foram convidados (ou contratados) para discotecar no final da noite, e eles resolveram fazer uma festa no palco. Montaram um sofá e várias cadeiras simulando uma sala de uma casa, e falaram pra gente que seria como se estivéssemos na sala da casa deles conversando. Tudo bem. Topamos a brincadeira. E foi uma zona! Ricardo Imperador do Botecoeletro subiu ao palco, depois foi a vez de Ramiro Musoto, percussionista argentino que participou do DVD In Cité de Lenine. As pessoas iam aparecendo no palco como se fosse realmente uma festinha particular. O público começou a subir no palco e a coisa estava saindo do controle. Foi quando o diretor de palco, que não estava no local quando começou a brincadeira, chegou desesperado e ordenou aos seguranças que retirassem as pessoas que vieram do público. Com os artistas que se apresentaram nos outros horários, que estavam nos bastidores e apareceram no palco, ele não poderia fazer a mesma coisa. Mas isso aconteceu quase no final da apresentação. Foi muito divertido e estranho, pois eu nunca tinha ficado no meio de um palco em pleno show. Parecia um Big Brother! Brincadeira no palco enquanto os produtores de Silvério discotecavam.

Depois da brincadeira, fomos jantar no refeitório. Mais uma turnê gastronômica!

Voltamos para o hotel e no outro dia voltamos pra casa!

Mais uma turnê na Europa. Quinta vez que vou para a Europa em quatro anos.

Este ano foi bem corrido. Silvério fez sete shows em onze dias! Totalmente diferente da primeira que fiz com ele em 2005, que foram quase 30 shows, mas passamos 110 dias fora de casa!

A experiência com o ônibus foi muito boa, mesmo com a dificuldade de se tomar banho.

Aprendi muita coisa e acabei ensinando algo também.

Tive a oportunidade de operar mesas difíceis de serem encontradas aqui no Brasil. E tive também a oportunidade de operar o som de outro artista, com uma sonoridade diferente da de Silvério, que foi o caso de Renata Rosa.

Acredito que mais uma vez pude mostrar para os artistas e produtores, a importância que é levar para uma turnê um operador de áudio que conheça o som do show. Mesmo não conhecendo o som do show, como foi no caso de Renata Rosa, que eu nunca tinha operado o som de seu show, ainda acredito que seja um diferencial positivo e que ajuda no resultado final.

Sei que é muito difícil arcar com os custos de um profissional numa turnê dessas, principalmente quando não se tem apoio de ninguém (patrocinadores, prefeitura, governo, etc), e sinto muito orgulho do meu trabalho por isso, pois com todas essas dificuldades, ainda acham que é importante me levar! Mesmo eu não sendo um músico!

Estudo, pesquiso, não tenho vergonha de perguntar e sempre tento me atualizar, para que as pessoas continuem achando que é importante levar um operador de áudio.

Um abraço a todos.