sábado, 26 de abril de 2008

Uma resposta que virou tópico!

Oi pessoal.
Fui dar uma resposta para Felipe Rangel em um comentário que ele colocou no meu texto anterior, e notei que acabei colocando nessa minha resposta algumas curiosidades que gostaria que todos soubessem. Vou colar a resposta aqui.


Cabine da boite Over Point no começo dos anos 90.


Olá Felipe.
Em meados da década de 80, quando eu era DJ de uma saudosa boite no bairro das graças chamada Over Point, tive os primeiros contatos com o som ao vivo, pois a casa noturna tinha essa opção e eu tive que aprender na marra. Era uma mesa Staner de 8 canais no começo, depois passamos para uma Alesis de 16 canais e quando deixei a profissão de DJ era uma Mackie de 16 canais. Por ser uma boite, ela tinha um equipamento muito bom. Microfone sem fio Shure, vários SM57 e SM58, um SPX 900 e um quadraverb Alesis. Nesta época, eu fazia exatamente o que você faz hoje em dia. Ligava e desligava todo o palco, era o roadie e fazia o monitor e o P.A. da mesma mesa. Foi uma grande escola, pois passaram grandes nomes por lá, como por exemplo: Verônica Sabino, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Rosana, Léo Gandelman, Miele, Eliane, Netinho, Rosa Maria, etc, e ainda tinha o pessoal local: André Rio e a Banda Modelo do Meu Terno (eita, faz um tempinho), Weudes, Herberth (Azul), Pagunça, Renato Campelo, Jura, Mônica Feijó, Spok, e tantos outros nomes que se fosse tentar colocar aqui seria mais da metade do texto.

Gostaria de ter passado por uma firma de som aqui em Recife, pois acredito que seja muito importante essa escola, mas não tive a oportunidade de fazer isso, pois já comecei como técnico de monitor da Banda Versão Brasileira (sem nunca ter visto uma mesa de monitor). Meu irmão que era o tecladista da banda e de Alceu Valença falou com Bizoca para eu ir ao galpão dele para ter um contato com uma mesa de monitor, que na época era a famosa mesa da Studio R. Foi assim que tudo começou e eu não sei aonde vai parar.

Como falou Silvério, nosso sonho de consumo hoje em dia é viajar com uma 01V96 com a cena dos monitores gravada. Quem estava com esse setup no Abril Pro Rock foi Lobão. Faz ajustes ainda na hora do sound check? Faz, pois são outros microfones, outro ambiente, outras distâncias entre os músicos, etc, mas que já é uma “mão na roda”, isso é!








Detalhe do transmissor do in-ear de Silvério (esquerda) e do sampler (direita). O sampler foi usado na turnê 2007 para disparar as vinhetas e a base da música Coco do M.



Em alguns shows na Europa, eu fico com o in-ear de Silvério na mesa de P.A. e faço o monitor dele, deixando o resto da banda com o operador da empresa de som. Na grande maioria das vezes, tirando um show na Holanda em que sai da mesa pra escutar como estava o som em outro local e esqueci que tinha que abrir o metrônomo para Silvério e quase derrubo a banda toda por isso, o resultado sempre foi muito bom. Sou fã de in-ears e/ou fones na monitoração e quando consegui colocar fones na banda toda de Silvério, fui transferido para o P.A.. Quem faz o monitor agora é Normando.

Quase que esta resposta vira um tópico (virou!).

Um abraço.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Sound check – Como costumo fazer.










Olá pessoal.

Atendendo a vários pedidos de uma Pessoa somente, no caso Silvério Pessoa, artista com quem trabalho e que todas as vezes que nos encontramos pra tomar vinho ou para eu ensinar como se usa um software de gravação, ele me pede para fazer um texto falando sobre isso. Não agüentei mais a pressão e resolvi escrever sobre tal assunto.

Como fazer o sound check de um show?

Vou falar de como eu faço, e acredito que seja como a maioria faz. Já me pediram pra fazer de outro jeito, mas achei que iria demorar mais e nunca testei. Não estou dizendo que o meu jeito é o correto e nem o mais rápido, simplesmente é do jeito que faço até hoje quando estou operando o monitor, como foi o caso agora do Abril Pro Rock 2008, em que EU coordenava o sound check da minha mesa de monitor. No caso de Alceu Valença, por exemplo, quem geralmente faz esta coordenação é Paulo Rafael, guitarrista de longas datas de Alceu.

Vamos lá.

Vou levar em consideração que o operador de monitor já alinhou todos os monitores. Falo sobre isso mais adiante.

A primeira coisa que deve ser resolvida é QUEM vai coordenar este sound check. Não comece o trabalho sem saber quem é esta pessoa, pois você corre um sério risco de tornar esta etapa uma verdadeira esculhambação, perdendo muito tempo e não saindo direito do lugar. Esta pessoa pode ser o próprio operador de monitor ou pode ser qualquer pessoa da banda ou da produção (desde que esta pessoa tenha noção do que está fazendo ou de como a banda costuma fazer). Depois de decidir isso, coloque um microfone sem fio na mão desta pessoa e enderece o som deste microfone para todas as vias de monitor no palco. Agora é esta pessoa que vai ser a ponte de ligação na comunicação entre os músicos e o operador de monitor. Nesta hora já é para todos os músicos estarem em seus respectivos lugares com seus monitores (e/ou fones) ligados e funcionando. O mais comum em um show, e também é como costumo trabalhar, é ir fazendo o sound check junto com o operador de P.A., só passando para outra peça no palco quando o operador da frente der ok, pois ao terminar o palco, na frente já vai estar adiantado também, não precisando voltar a passar as peças só para ser ajustado para o P.A..

Começo o sound check pelo bumbo da bateria que em 99,99% dos casos é o canal 1 do “ input list” (lista com a relação dos canais com seus devidos instrumentos utilizados pelo artista, que deve ser enviado com antecedência para o contratante ou para o responsável da empresa que vai sonorizar o evento). Depois vou seguindo normalmente com os canais na seqüência: 2- caixa, 3- esteira, 4- caixa2, 5- Hihat, etc. Depois de fazer os devidos ajustes (ganho, equalização, compressão, etc) em todos os canais da bateria e endereçar estes canais ao monitor do baterista (ao gosto dele), pergunto ao resto da banda o que eles vão querer da bateria em seus monitores e faço a distribuição, sendo um músico de cada vez. Sigo esta lógica durante todo o sound check, seguindo sempre a ordem crescente dos canais na mesa de monitor que é igual ao input list e que normalmente estão nos mesmos canais na mesa do P.A.. Ajusto o instrumento para o músico responsável e depois distribuo este instrumento para o restante da banda. Com o artista que trabalho ou com a maioria das bandas com quem trabalhei, normalmente depois da bateria vem a percussão, depois a harmonia (baixo, guitarra, teclados, acordeão ou sanfona - como queiram chamar, violões), depois os back vocals e por fim a voz principal.

Normalmente os sopros entram depois da harmonia, mas por uma questão de praticidade, pois às vezes o show do meu artista é com metais e às vezes não, resolvi colocar os metais no final de tudo, logo após a voz principal, não precisando assim fazer dois input list. Se os metais forem, tudo bem, pois estão no input list, e se não forem, só comunico na hora que os canais que vamos usar vão até a voz principal, não mudando em nada a seqüência dos canais.

Depois de ajustar e endereçar todas as peças aos músicos (nem todas as peças são usadas no monitor!), solicito que toquem alguma(s) música(s) do roteiro para fazer os ajustes finos, pois passando peça por peça é uma coisa e todos tocando ao mesmo tempo é outra, e tocando pra valer na hora do show é ainda outra coisa completamente diferente, pois a empolgação do músico é muito maior por causa do público e da adrenalina normal de um show, refletindo na sua pegada (força ao tocar). Geralmente acontecem ajustes durante as primeiras músicas do show, e dependendo da banda, esses ajustes só acabam quando termina o show!

Não gosto de fazer o sound check com os músicos tocando algo totalmente diferente do que vão tocar no show, como por exemplo, passar o som com o pessoal tocando George Benson, mas vai ser um show de forró ou frevo! A execução de um frevo é totalmente diferente de como é executado as músicas de Benson! Isso é um gosto meu, não quer dizer que não se possa fazer isso. Vai do gosto de cada operador ou de cada artista, pois se o artista gosta de passar o som tocando black music, mas vai tocar samba, como sou contratado, tenho que aceitar e fazer como eles gostam. Posso até tentar convencê-los ao contrário, mas nunca dizer que está errado e que não faço!

Uma grande diferença do operador de monitor para o de P.A. é que o de monitor depende do gosto de cada músico para fazer o serviço. Acontece muitas vezes de você não achar legal o timbre ou o volume do instrumento no monitor de algum músico, mas foi assim que ele quis e gosta. Ainda tem o agravante do número de vias, que pode ser seis, sete, ou muito mais vias (monitores) e que esses monitores, dependendo da empresa de som, podem soar diferentes uns dos outros, sendo necessário o alinhamento (usando-se equalização) destes monitores antes de começar o sound check, para que eles soem semelhantemente.

No caso do P.A. normalmente só tem o gosto do próprio operador. Tudo bem que aparece de vez em quando a mulher ou o cunhado do cantor, ou o primo do guitarrista, ou o irmão do baixista, ou o produtor para dar um palpite, mas quem decide tudo mesmo é o operador. E o número de vias na frente para se alinhar é muito menor, pois normalmente são apenas duas! Os lados esquerdo e direito do P.A..

Vou fazer algumas observações que aprendi durante estes anos fazendo monitor:

*Como é muito grande a possibilidade hoje em dia de se pegar uma mesa digital no monitor, acredito que o botão mais importante nestas mesas, a meu ver, é o botão SELECT. Não faça nada antes de selecionar o canal que você quer ajustar, pois não fazendo isso, você corre o grande risco de ajustar o canal errado.

*Cuidado com os pedidos de roadies e outros da produção, solicitando que você aumente ou diminua determinada coisa em determinado monitor. Certifique-se que este pedido foi feito realmente pelo músico, pois já aconteceu muito comigo de roadies e produtores pedirem ajustes, simplesmente porque eles achavam que precisava. Com o tempo e conversando com o pessoal, você resolve este problema, e passa a confiar cegamente nos seus colegas de trabalho.

*Nunca engane o músico, fazendo de conta que está ajustando ou modificando alguma coisa que ele pediu. Faça o que ele pede, a não ser que você não tenha mais recursos para fazer ou se achar que está no limite do equipamento.

*Tente de todas as maneiras convencer todos da banda, inclusive o cantor, a usarem fones ou in-ears. O resultado na qualidade do som na frente e no palco é muito melhor, pois não há vazamentos dos monitores de chão nos microfones e tudo fica mais fácil para os operadores de P.A. e monitor.

*Se a mesa não for digital, anote tudo em mapas de papel, e se agüentar o rojão, não volte para o hotel e veja o que está sendo modificado no sound check das outras bandas, para você não ter nenhuma surpresa na hora do seu show.

*E quando chegar a hora do seu show, faça o line check em todos os canais e certifique-se com seu amigo do P.A. se está tudo certo pra ele também.

*Não tire um minuto sequer o seu olhar do palco na hora do show. Deixe pra paquerar depois.

*Tome sua cervejinha depois do show, para evitar que alguém fale que um erro que você cometeu foi por causa de bebida.

*Faça questão de chegar antes da banda no local do show, pois você já pode ir adiantando as coisas.

*Leve sempre seu material de trabalho, como lanterna, fita crepe, fone, caneta retro-projetor, para não depender de ninguém. Essa vai para meu amigo Rogério (monitor de Alceu), que me deve umas 30 canetas e uns 10 rolos de fita crepe!

*E para finalizar, pense duas ou mais vezes antes de aceitar o convite para fazer o som do P.A., pois você corre um risco enorme de descobrir que monitor é coisa pra doido e não vai querer mais voltar para o palco para fazer este tipo de serviço!! Kkkkkkk (50% desta última dica é brincadeira).

Mais uma vez, espero que estes relatos ajudem alguém, em algum dia.
Até a próxima.

Um abraço a todos.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Festival APR 2008 – O que mudou?

Mais uma vez participei do festival Abril Pro Rock. Acho que esta foi a sexta ou sétima vez que fui ao evento para trabalhar, pois para tomar uns drinks e conversar nem recordo as inúmeras vezes que estava lá, pois sou amigo dos sócios da empresa de som que faz o festival desde o primeiro ano. São 16 anos de festival e muita coisa mudou durante este tempo. Operei mais uma vez o monitor do palco 2 (foram três palcos no total) nos dias 11 e 12 de abril, com três atrações no primeiro dia e seis atrações no segundo neste meu palco. Dia 27 ainda tem um dia de festival, mas só vão ser dois shows num único palco e não vão precisar dos meus serviços.

Lembrem-se que o intuito deste espaço é comentar e mostrar os bastidores e curiosidades dos eventos que eu participo e não sou um crítico de uma revista de música ou de shows, mesmo que de vez em quando minhas palavras soem como uma crítica, mas minha intenção não é essa. É apenas minha visão e não quer dizer que está certo ou errado.

Depois de anos usando o pavilhão do Centro de Convenções, o festival muda de lugar. Se eu não me engano, durante os 15 anos o festival só aconteceu em somente dois locais. O primeiro local era aberto e somente o palco 2 ficava numa pequena área coberta com uma lona de circo. Só não lembro se existia este palco 2 desde a primeira versão. O problema com a chuva foi o grande motivo da transferência do festival para o Centro de Convenções, que ganhou muito com esta mudança no quesito conforto para o público e perdeu muito na parte da inteligibilidade do som. Por ser uma área de concreto sem nenhum tratamento para shows, o som ficou muito mais confuso. E no que se refere ao clima despojado que o festival tinha no começo quando era na área aberta, o que notei é que este despojamento foi dando espaço para o conforto. Este ano dava pra deitar no chão de tão limpo, e os banheiros seguiam esta mesma regra. Senti falta das barraquinhas com comidinhas gostosinhas da terrinha, mas estou falando agora como um viciado em tira-gosto que sou! O clima despojado dos anos anteriores se foi. Este ano o festival foi realizado na maior casa de shows de Recife, o Chevrolet Hall. Tudo muito bem estruturado e bem cuidado. Tem até ligação subterrânea da house mix até o palco.




House mix com as três mesas do P.A.: Midas XL200 e Yamaha M7CL para controlar o som do palco 1 e Yamaha DM2000 para o palco 2.

Durante os anos indo como amigo dos “donos do som” e depois como contratado, sempre pude notar uma melhora na parte técnica e operacional nos palcos do festival. Em 2007 já existiam três palcos e a diferença técnica e operacional do palco 2 para o 1 era muito pequena. Por razões administrativas do festival, que resolveu enxugar os custos, esta melhora que sempre ocorreu nos anos passados não aconteceu agora em 2008. Não me cabe aqui fazer nenhum tipo de comentário sobre se foi correto ou não esta reformulada, pois não faço parte da administração, não sei quais as dificuldades que eles passam, não é minha praia e sou adepto de um pensamento que diz: “... é muito fácil resolver os problemas dos outros” ou traduzindo: ...”pimenta no cu dos outros é refresco!”. Só vou tentar passar minha visão dessas mudanças e comentar sobre alguma curiosidade de bastidores.





Palco 2 ao lado esquerdo e palco 3 abaixo.







O novo local melhorou muito a inteligibilidade do som, pois o local é uma casa de espetáculos e tem um tratamento acústico. Mesmo com esse tratamento ainda prefiro um local aberto para fazer um show. Os dois palcos principais tiveram seus equipamentos de som e luz bastante reduzido. Essa redução também aconteceu no setor dos profissionais. Para se ter uma idéia, no ano passado no palco 2, além de mim operando a mesa de monitor, tinha ainda um diretor de palco, dois roadies (profissional encarregado de, entre outras coisas, dar uma assistência aos músicos durante um show) e mais duas pessoas responsáveis pela troca nas ligações dos cabos (patch), totalizando seis pessoas. Este ano só foi eu, um roadie e um responsável pelo patch, ou seja, 50% de corte. Não vou falar do palco 3, pois o mesmo não foi muito afetado. A grande diferença ficou mesmo nos palcos 1 e 2. Este ano não tivemos os diretores de palco. Os próprios sócios da empresa de som fizeram esta função no palco 1 e o 2 ficou sem. Mas também nem precisava mesmo, pois todas as bandas do palco 2 tinham uma formação bastante simples, diferente de vários anos anteriores, aonde teve noite que a diferença entre as bandas era enorme, exigindo mudanças complexas entre uma banda e outra. Estes diretores de palco são responsáveis pela organização e gerenciamento dos palcos. Coordenam os horários das passadas de som (sound check) e dos shows, seguindo uma planilha feita com antecedência e enviada aos responsáveis dos artistas. Esta coordenação não é uma coisa muito simples de se fazer, pois é muito difícil que o artista entenda que ele não tem mais tempo para ajustar o som de seu show, pois seu tempo encerrou e têm outras bandas para fazer o mesmo. No primeiro dia do festival não houve nenhum contratempo, e os horários do sound check foram cumpridos sem problemas e consequentemente os shows começaram e acabaram dentro dos horários pré-determinados.
Já no segundo dia, a coisa foi mais complicada. Existiam muito mais atrações nos dois palcos principais. Por isso, o primeiro sound check do meu palco estava marcado para começar às 8 horas da manhã! Sai do primeiro dia do festival assim que acabou o ultimo show no meu palco, chegando em casa perto das 3 horas da madruga e acordei de 7h para voltar para o evento. Não tive muitos problemas no sound check, pois como falei anteriormente, as bandas do palco 2 tinham uma formação bem simples, sendo a grande maioria formada apenas por bateria, baixo, duas guitarras e no máximo 3 vozes. O mesmo não aconteceu no palco 1, aonde tinha atrações com muito mais músicos, mais instrumentos e ligações mais complexas. Para complicar mais, o equipamento de Lobão não chegou no aeroporto, fazendo com que houvesse um remanejamento nos horários para tentar amenizar os atrasos. Mas não teve jeito, e ficamos com um atraso de quase 2 horas no sound check e isso refletiu diretamente nos horários do início dos shows. Lobão que era o último show da noite e estava marcado para começar de 1:40h, só conseguiu iniciar seu show perto das três horas da madrugada.

Detalhe de Brinquinho (roadie do meu palco) dormindo abraçado
com o praticável da bateria no sábado, logo após término do sound check de todas as bandas do dia.



Achei este ano o festival com mais cara de festival, pois não vieram os medalhões nacionais que geralmente vêm para chamar público, como por exemplo: Rappa, Paralamas, Nação Zumbi, Angra, Sepultura, etc. A maioria das bandas eram desconhecidas da mídia, e na minha opinião era pra ser assim quando algum evento usasse o nome “festival”. Acredito que o intuito de um festival seria mostrar coisas novas. Em anos anteriores, passaram pelo palco 2 nomes que eu nunca tinha ouvido falar, que hoje em dia são reconhecidos nacionalmente, como foram os casos de Pitty, Cachorro Grande, Mombojó. Teve muita coisa legal no palco 2 e eu poderia indicar aqui duas que me chamaram a atenção: Superguidis e Pata de Elefante, todas duas do RS. E para quem curte um rock muito mais pesado e gritado, teve a banda local Project 666 que passou muito bem o recado. A com mais chances de se popularizar como uma Pitty ou Cachorro Grande, na minha opinião , seria a Superguidis.

Outra curiosidade este ano, foi a presença de Vítor Araújo tocando piano acústico no palco 2. Foi a primeira vez durante esses 16 anos que tivemos um piano acústico no palco do festival, e esta apresentação foi solo, sem nenhum outro instrumento. A grande dificuldade foi amplificar o som do piano para o público. O operador do P.A. não conseguiu deixar o som num volume que agradasse o público, pois o mesmo realimentava (apitava, dava microfonia) quando ele aumentava muito. Tive o mesmo problema no monitor, pois realimentava comigo também quando tentava aumentar o som dos dois microfones que captavam o piano no monitor de chão. Eu resolveria meu problema colocando fones (in-ear) no pianista, eliminando assim o monitor de chão, mas eu não dispunha desse equipamento no palco. Por isso optei por tirar completamente o som do piano dos monitores. Uma curiosidade: muita gente usa em gravações de DVD apenas uma carcaça de um piano acústico adaptada para encaixar um piano elétrico com teclas grossas de piano. Depois eles podem até regravar em estúdio o som do piano acústico, mas no show o que sai mesmo no P.A. é o som de um piano elétrico, fazendo com que a probabilidade de se ter realimentação do som seja zero!

Colocaram pra mim uma mesa digital para fazer os monitores, o que ajudou em muito no trabalho, pois salvava a cena de cada artista, não precisando fazer nenhuma anotação em papel. Já tinha trabalhado com esta mesa em outros shows e sabia que não era muito rápida a sua operacionalidade, pois por ser uma mesa mais barata em relação a suas irmãs do mesmo fabricante, alguns recursos foram economizados para justificar o preço. Por isso levei meu laptop e usei um programa que o fabricante da mesa disponibiliza na internet aonde você pode controlar a mesa pelo computador via cabo de rede. E tudo ficou mais fácil. Outras mesas do mesmo fabricante usam a porta USB como via de comunicação com o computador.


Hoje em dia conseguimos controlar estas mesas à distância sem usar nenhum fio. Isso é possível usando-se um roteador normal sem fio de internet, aquele que você usa na sua casa para poder ficar com o laptop conectado na internet em qualquer cômodo da casa. Para nós, isso ajuda em muitos casos, como por exemplo:

- No trio elétrico, onde a mesa fica em cima do trio e ficamos em cima das caixas de som. No sound check podemos descer do trio e fazer os ajustes antes do início do show, que é em movimento na maioria das vezes, escutando o som em frente das caixas e não em cima!

- Em locais onde não se pode colocar a mesa na frente e no centro do palco. Isso acontece muito em eventos de empresas, em que os decoradores acham horrível e desnecessário aquela mesa cheia de luzinhas no meio da sua decoração. Já tive vários problemas com isso. Uns eu relevei, pois o show não era tão sério, e teve caso de fincar o pé e dizer que não faria se a mesa de som não estivesse no local apropriado. Nesta vez não foi nem com o decorador que tive o impasse, mas sim com o proprietário da casa que só fazia os seus eventos com a mesa ao lado do palco. Podemos simplesmente deixar a mesa onde está e sentarmos numa cadeira na nossa posição desejada que é o centro de frente para o palco e operar o som de todo o show usando o laptop com o sistema wireless.

Muito legal isso, não acham?



Sound check de Lobão (ao lado) e sound check de Céu (abaixo).





Lembram da Lei de Murphy que falei no texto anterior? Pois bem, ela se fez presente neste festival no show de Céu. Alguém quer dar um palpite de qual canal deu problema no meio do show?

Exatamente! Falhou exatamente a voz da cantora!

Até a próxima.

Um abraço a todos.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Show fechado - Um risco em alguns casos.

Dia 2 de abril trabalhei num show fechado (só para convidados – não existe bilheteria). Era um congresso do SINTEPE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Pernambuco. O show foi realizado num auditório de um hotel no Cabo de Sto Agostinho - Pernambuco. Um espaço para umas 600 pessoas, preenchido na sua quase totalidade por cadeiras. Esses shows são bem complicados de se fazer (do ponto de vista do artista), pois ele pode não ter o perfil do público que está no local. Ao contrário de um show pago, aonde as pessoas vão espontaneamente ao evento para ver determinados shows. Presenciei em janeiro de 2008, ao ser contratado para gravar o áudio de um evento fechado de um banco na maior casa de shows de Recife, um artista de projeção nacional ser totalmente ignorado pelo grande público que estava no local. Era um show surpresa, ou seja, as pessoas que estavam no evento não tinham idéia de quem seria o show. Notei que o público estava mais para um show de alguém lá da Bahia, mas o artista que fez o show não tinha nenhuma influência musical daquela região! Resultado, o show foi um dos mais frios que vi na minha vida, fazendo com que a maioria das pessoas saísse do salão, indo para a área externa conversar. Até o artista notou a roubada em que estava metido, pedindo oralmente animação para os poucos que ficaram na frente do palco! Não teve jeito. O show transcorreu insosso do começo ao fim. Acredito que na grande maioria das vezes, esses fatos são causados pelos próprios empresários dos artistas que não se preocupam muito se o perfil do público vai se encaixar com o do artista nestes congressos. Imagino também que não é nada fácil para estes empresários saberem qual vai ser o perfil, principalmente depois de ver o cachê depositado antecipadamente! Mas acredito que algumas coisas podem ser evitadas, como por exemplo, um show de Carlinhos Brown na mesma noite do Heavy Metal! Lembram do episódio? Seria a mesma coisa que contratar um show de Capital Inicial para um congresso de cirurgiões cardiovasculares ou contratar um show de Yamandú Costa para um congresso de professores de educação física. Só consigo ver tais misturas em festivais da Europa. Aqui no Brasil é muito complicado colocar diferentes gêneros num mesmo evento.

Voltando ao evento do SINTEPE...

Na van, a caminho do hotel para a montagem dos equipamentos, comentei com os outros técnicos, Normando (operador de monitor) e Roberto Riegert (iluminador), que estava achando tudo muito tranqüilo, com tempo de sobra para fazer as coisas. Todos riram. Mas realmente não teve agonia mesmo não. Tivemos o tempo necessário para ligar os equipamentos e esperar o artista com a banda para passar o som. O equipamento era muito bom, um line array (4 caixas por lado) D.A.S., mais 4 subs (2 por lado), duas mesas digitais M7CL e um monte de luz, que por não ser minha praia, não vou entrar em detalhes. Aproveitei para fazer uns testes com uma nova ligação na voz do artista que passa por um Kaos Pad, mas não gostei do resultado e não usarei mais. Acontece uma coisa engraçada nessas passadas de som. Adaptamos-nos ao tempo que temos para fazer o “sound check”, ou seja, quando temos pouco tempo pra fazer, na maioria das vezes conseguimos fazer neste tempo, e quando temos muito mais tempo pra fazer, fazemos a mesma coisa que fizemos no tempo curto, só que usando todos os minutos deste tempo longo. É um relaxamento natural. Uma das coisas mais rápidas que fiz em show, foi no Verão Vivo da Bandeirantes aqui em Recife, trabalhando para a Banda Versão Brasileira, em que trocamos o palco entre duas bandas num intervalo comercial. Tínhamos somente 3 minutos para fazer uma coisa que geralmente leva de 15 a 30 minutos no mínimo! O planejamento foi muito bem feito. Vamos voltar novamente ao evento do SINTEPE (me desculpem, pois sempre lembro de outros fatos relacionados ao que estou falando).

Roberto Riegert (iluminador, parceiro nas viagens e nas horas de tomar vinho chileno!) mostra suas ferramentas de trabalho. A mesa que controla as luzes e o laptop ligado ao teclado para disparar as projeções.








Não recordo com certeza a hora que acabamos o “sound check”, mas acredito que foi por volta de 18:30 ou 19h. Tinha tudo para ser um show tranqüilo, mas para mim não foi, diferentemente da monitoração feita por Normando que foi muito tranqüila e elogiada por todos da banda e pelo cantor. Fomos para o camarim e ficamos esperando a nossa hora, pois o show estava previsto para começar as 20h. Grande engano! Houve um atraso significativo, e começamos lá para as 22h ou mais. Pouco antes de começar, fiz um “line check” (conferi se alguns canais estavam chegando certinho), pois exatamente os canais relacionados ao cantor tiveram que ser desligados para que alguma coisa ou pessoa ocupasse o mesmo lugar no palco, pois haveria uma apresentação teatral depois das palestras e antes do show. Tive problemas com os dois canais de voz, que estavam chegando com uma diferença de volume. Este problema também interferiu na monitoração. Após alguns minutos, consertamos este problema, e começamos o show, mas mesmo assim os canais chegaram muito mais baixos do que tínhamos deixado e eu tive que aumentar rapidamente os ganhos dos mesmos na primeira música. Já ouviram falar da Lei de Murphy? Ela diz entre outras coisas, isso: “Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.” Quem quiser mais detalhes dessa Lei de Murphy, é só ir neste link: http://www.facom.ufba.br/com024/murphya/murphy.htm .

Continuando...

Não estava me sentindo confortável com o som, achava que estava sem definição em alguns pontos. A minha mesa não estava no centro, me fazendo constantemente sair da minha posição, indo até o centro para ouvir como estava. Alexandre, que fazia nossa produção, veio me falar que tinha ouvido algumas pessoas falarem que estavam achando que os instrumentos estavam cobrindo a voz do cantor. Sou o típico do operador que não faço o som pra mim, e sim para o público, e sempre levo em consideração os comentários na hora do show, desde que eu ache que os mesmos fazem sentido. Dou sempre uma averiguada em alguns comentários. E nesses lugares fechados e pequenos em que o público fica muito perto do palco, temos o velho problema da soma do volume do som dos instrumentos que sai no P.A. com o volume do som acústico dos instrumentos e amplificadores que sai do palco. Temos que dosar isto o tempo todo durante o show. Quanto mais o guitarrista aumenta seu amplificador ou o baterista bate com mais força na caixa, menos volume colocamos dessas peças no som da frente. Quanto maior e mais aberto o espaço, temos menos interferências deste som que vem do palco, facilitando a mixagem. A sala tinha, se eu não me engano, 16m de largura por 32m de comprimento. Mesmo sendo um line array, que produz uma cobertura muito mais homogênea que um sistema convencional, ainda senti que o som geral nas proximidades do palco estava muito mais forte do que o que chegava pra mim na mesa. Lógico! Quem saiu das cadeiras e foi para perto do palco, ouvia o som do P.A. com uma soma muito forte do que vinha do palco. Mas não tinha só público na frente do palco, tinha muita gente vendo o show das cadeiras onde estavam sentadas, e eu tinha que mandar som para essas pessoas, que não ouviam com a mesma intensidade o som que vinha do palco. Resumindo... Passei um tempinho para equilibrar estes volumes, que ainda acho que não ficou 100% (tenho que acabar com esta mania de sempre me criticar - kkk), mas o que faltou (se é que faltou, não é?) para chegar nestes 100% só seria notado por quem trabalha com isso, o que não era o caso daqueles professores. O mais importante é saber que não houve mais comentários em relação ao som e todos os CDs e DVDs levados pela produção foram vendidos!

Uma torre de delay poderia até ajudar neste show, mesmo naquele espaço, mas torre de delay já é assunto para um outro tema.

Estou juntando casos de métodos (não muito comuns) usados por proprietários de empresas de som, para receberem o dinheiro do aluguel do equipamento. Aguardem. Tem muita coisa interessante.

Um abraço a todos.