sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Operador de áudio – Investir no conhecimento melhora o cachê?


Olá pessoal.
Pediram-me uma vez para falar sobre um tema parecido como este que coloquei aqui hoje. Não era bem esta pergunta, mas era alguma coisa como “até que ponto o investimento no conhecimento está ajudando nos trabalhos como operador de áudio”.
Não sou muito bom em falar sobre um tema solicitado, que eu não passei pela situação. Nem ia escrever sobre isso, mas estou notando atualmente que estou dentro desta situação já faz um tempo.
O mercado do áudio mudou bastante desde 1987, que foi quando comecei como discotecário (agora chamado DJ) na Boite Over Point.
Até para o DJ aconteceram mudanças mercadológicas. No meu tempo, trabalhava-se só para uma casa noturna. Quem comprava os discos era a casa noturna. Acho que o respeito era maior, mesmo o nosso nome não sendo citado nas propagandas da casa nos meios de comunicação. Não existia o perigo de numa semana ter um DJ trabalhando e na outra ser outro.
Hoje em dia, o DJ trabalha em várias casas noturnas ao mesmo tempo. Quem compra (ou baixa na internet) o material para se tocar na casa noturna é o próprio DJ. O nome do profissional é constantemente citado nas propagandas, mesmo eu achando que tem muito “profissional” que não merece ser citado. Você vai na quinta-feira numa casa e é um DJ e na sexta-feira já é outro.
Teve um tempo anos atrás, que o DJ era muito bem pago para se fazer uma festa particular. Não tinha esta boquinha no meu tempo. Hoje em dia, meus amigos DJs que ainda continuam no ramo falam que o preço do cachê para fazer estas festas caiu absurdamente!
Vejo que os mesmos problemas que tenho no meu trabalho existem quase que na mesma proporção em outras áreas, e até em áreas completamente diferentes da minha. Uma coisa está tendo um peso muito forte na hora de um contrato para um serviço: PREÇO.
O que eu ganhava como DJ na minha época era muito bom. Tinha ainda muitas regalias dentro da casa noturna. Uma cota alta de vodka por mês completamente grátis. (risos)
Colocava para dentro da boite quem eu queria, desde que respeitasse as normas da casa logicamente.
Do mesmo jeito que aconteceram mudanças na profissão do DJ que fui um dia, na do operador de áudio aconteceram várias mudanças também.
Já como DJ, sempre tentei aprender a usar coisas que um DJ não estava acostumado a usar, como uma mesa de som ou um processador de efeitos. Comecei meu contato com a música ao vivo na Boite Over Point. Eu operava o som das bandas que tocavam lá e que não levavam operador próprio. Até nos dias de hoje não me recordo de um DJ que faça isso aqui em Recife.
Talvez esta era uma arma que eu usava para compensar por eu ter caído na profissão de pára-quedas. Exatamente. Como já falei anteriormente em algum texto, meu começo na profissão de DJ foi um acaso. Até posso falar que foi uma escolha por achar que seria mais rentável para minha vida do que trabalhar no escritório de um posto de gasolina, que era o eu fazia antes.
Como operador de áudio (ou técnico de áudio, como a maioria está preferindo ser chamado na enquete feita no Gigplace) acho que o caminho foi bem parecido. Vou usar o termo TÉCNICO DE ÁUDIO daqui pra frente.
Achei no primeiro contato visual que nunca poderia manusear a mesa de som do estúdio de gravação do meu irmão. O estúdio era chamado Estação do Som.
Era uma mesa Amek TAC Magnum. Nunca vi tantos botões juntos num só lugar!
Deixei a carreira de DJ e fui para o estúdio pelo mesmo motivo da primeira troca de profissão. Achei que aprenderia muito mais e iria muito mais longe no estúdio do que numa casa noturna.
Neste estúdio tive o primeiro contato com gravação no computador, quando a maioria dos técnicos nem queria saber desta onda.
Depois todos tiveram que aprender a usar um mouse ou ficariam para trás!
Sempre gostei de investir em conhecimento e até em equipamento próprio como um roteador wireless ou uma placa de áudio externa. Nem pensei em comprar os equipamentos para me diferenciar numa hora de contratação, era apenas para minha satisfação pessoal.
Não adianta você ter todo este equipamento próprio e o resultado sonoro do show não ficar legal. Ninguém vai te contratar porque você tem um roteador wireless para controlar a mesa de onde você quiser, ou por causa de uma placa externa boa para gravar o show.
O conhecimento adquirido mais o resultado sonoro dos shows que você faz deveriam ser os fatores mais importantes numa contratação.
São muito importantes ainda, mas não sei se são os fatores mais importantes.
Como falei acima, o PREÇO cobrado tem uma força muito grande hoje em dia. As empresas de som não conseguem pagar a um freelancer um cachê igual ao que ele ganha com um artista, mesmo trabalhando muito mais na empresa. O cachê é inversamente proporcional. Trabalhamos mais e ganhamos menos.
Pelo menos é isso que eu vejo aqui na minha cidade.
Uma coisa não tenho do que reclamar. Quando comecei operando o monitor da Banda Versão Brasileira, em 1992 (mais ou menos), acho que nenhuma banda na época andava com os 3 técnicos (PA, monitor e luz). Foi uma revolução aqui em Recife. Muitas nem técnico de áudio levavam. Quem fazia o serviço era o técnico da empresa. E ainda hoje, muitas bandas (muitas mesmo) não conseguem viajar com os dois técnicos de áudio. Levam só um!
Hoje qualquer bandinha pequena, anda com pelo menos um técnico de áudio. Já melhorou. O que não melhorou foi o cachê. Pelo menos não como deveria, depois de tantos anos passados. Aumento de mais de 60% só quem consegue são os políticos!
A maioria dos meus colegas de profissão não gosta de falar em números, mas não tenho como não tocar no assunto para exemplificar tudo o que falei aqui até agora. Perdoem-me se vou ser antiético. Minha intenção está longe disso. Vou falar mais por mim e pelo que eu escuto falar.
Em 1992/93, eu recebia R$ 150 por um show da Versão Brasileira. E este cachê era dobrado em algumas datas: Carnaval, natal, réveillon e show político. Ou seja, nestas datas eu recebia R$ 300 por cada show fazendo o monitor. Meu Amigo Ricardo que fazia o som do PA ganhava R$ 300 para fazer o PA e R$ 600 nas datas especiais. Exatamente. Naquele tempo tinha esta diferença injusta de cachê. Quem fazia o som da frente ganhava mais. Ainda bem que esta injustiça acabou e o cachê é igual para ambos.
Praticamente 19 anos se passaram.
Os maiores cachês pagos por artistas (uma minoria) aqui em Recife gira em torno de R$ 350/400. A maioria é bem abaixo disso, girando na média de R$ 200.
Sobre os cachês pagos por empresas de som, como não trabalho com muitas empresas aqui em Recife, fica um pouco difícil falar. Só posso falar por mim. Recebo R$ 200 por cada dia de trabalho numa empresa e consegui R$ 375 por cada dia de trabalho numa outra empresa, pois a maioria destes dias de trabalho é fora de Recife.
Soube por um amigo que o fato de eu nunca ter medo (ou receio) de trabalhar com qualquer mesa digital, me fez ser escolhido para um trabalho. Sempre tento dar uma olhada em documentos ou nos editores offline das mesas digitais que aparecem no mercado para ter noção de como é a mesa. Isso é investir em conhecimento.
Inclusive, foi este amigo dono de empresa de som que quase me fez encerrar a carreira por causa também de uma mesa digital. Foi a primeira mesa digital em shows aqui em Recife. Uma DM2000 no monitor. A mesma mesa que estava no Teatro de Santa Isabel no trabalho que fiz recentemente. Quem quiser saber como foi este trabalho que quase me fez encerrar a carreira, clique aqui.
O que posso concluir sobre a pergunta que está no título do texto?
Não acredito que investir em conhecimento vai melhorar o cachê.
Quem estipula os cachês é o mercado.
Os cachês aqui em recife são estes. E não vão mudar por causa de diferenças de conhecimento entre os profissionais. Tenho amigos aqui que tem mais conhecimento do que eu em certos assuntos e/ou são melhores do que eu como profissionais, mas não ganham mais do que o mercado paga.
Mas a diferença de conhecimento pode ser um fator determinante na hora de escolher quem vai ser chamado! Por isso, eu acho que sempre vai valer à pena investir no conhecimento. Você pode não ganhar mais com isso por show, mas vai ajudar a fazer mais trabalhos.
Vendo por outro ângulo, este investimento no conhecimento vai fazer também com que você consiga subir na tabela da média dos cachês, indo até o máximo do valor pago na sua região. Olhando por este lado, seu conhecimento melhorou o cachê, não é verdade?
Recentemente perdi uns trabalhos por um motivo que não tem nenhuma relação com preço ou conhecimento, e que está cada vez mais sendo levado em consideração aqui em Recife: DISPONIBILIDADE.
Entraram em contato uma vez para fazer um show e eu não podia porque já tinha viagem marcada. Na segunda vez que entraram em contato era para fazer dois shows. O primeiro eu podia, mas o segundo não, porque também já tinha viagem marcada. Não me chamaram nem para o primeiro show.
Não teve o terceiro contato.
Colocaram um outro técnico de áudio mais disponível.
Um abraço a todos.

4 comentários:

wandosan disse...

é isso ai , nenhuma letra a mais ou menos, muito bom o comentário,
a 1ª vez que fui no teu studio eu trabalhava ao lado de vilarim na gravação e locução da estação sat
9 o carequinha) Wando santos
na portas tinha uma placa CUIDADDO CÃO ANTI-SOCIAL ,KKKKKKK
valeu um abraço

Titio disse...

Olá Wandosan.
Lembro-me de você.
A placa do cachorro ficava dentro do estúdio, colado no vidro que separa a técnica do "aquário". Ela está ainda lá. Eu é que não sou mais o mesmo.
:)
Um abraço.

Unknown disse...

Olá, Titio!

Tenho um Blog para Operadores de Áudio, meu objetivo é mostrar os sucessos e insucessos da profissão e as grandes possibilidades que a mesma nos proporciona.
Será que poderia publicar seus Posts em meu Blog e, claro, divulgaria o seu o seu Blog obviamente.
Fico no aguardo!
Grande abraço!

Titio disse...

Olá Jackie.
Sem problema, pode publicar sim.
Como você chegou ao meu Blog?
Me mande o endereço do seu blog, ok?
Um abraço.