segunda-feira, 26 de maio de 2014

Alceu Valença no SESC Interlagos – Errei na mão e na decisão.



Olá pessoal.
No dia 17 deste mês segui para São Paulo, onde fiz o monitor de três shows de Alceu Valença.
Os shows aconteceram nos dias 17 (SESC Interlagos), 22 e 23 (SESC Pompéia).
Vou falar aqui sobre o primeiro show.
Mesmo com quatro dias de folga, a produção do SESC achou melhor deixar todos no hotel durante estes dias do que mandar todos para casa e trazer novamente de avião.
Por causa desta folga, fiz umas farrinhas boas com a banda em alguns bares e restaurantes.
Conheci um pouco da vida noturna da Vila Madalena.
Espetacular.
Quem não conhece, pode ir que não vai se arrepender.
São inúmeros bares e restaurantes para todos os gostos.
Fiquei no Bar Filial, muito legal, com cara de mercearia.
Numa outra farra, fui almoçar no restaurante Costela da Vila.
Também espetacular.
Só não consegui almoçar... Usei a costela como tira-gosto, junto com um bolinho de verduras muito gostoso, e ainda tinha macaxeira frita.
Nem provei o feijão com arroz, que o nosso anfitrião Dido (e família!) falou que era muito bom também.
Almoçar nos restaurantes dos SESC já virou rotina ultimamente para mim.
Comida boa e barata, e sempre nos locais dos shows.


No do SESC Interlagos eu ainda não tinha ido, mas já faz parte agora da minha lista de visitados.
O palco foi armado na Praça Pau Brasil que fica dentro do SESC Interlagos.
Lugar arborizado, muito legal, clima frio, lembrando os locais de alguns shows que fiz na Europa anos passados.
Além do show de Alceu Valença, só teria uma banda antes, mas teríamos tempo sobrando para remontar nossas coisas.
A bateria ficaria armada no lugar, o que já adiantava muito o nosso trabalho.
Todos os monitores eram da FZ, modelo M212A.
Nunca tinha usado estes monitores.
Inicialmente, teríamos tempo de sobra para passar som, mas acabou que este tempo de sobra não aconteceu. Nem recordo direito por que foi, mas o tempo ficou apertado pra gente.
O local ainda era bem longe do nosso hotel, mas não acredito que tenha sido isso a causa do atraso, a nossa produção sempre marca certinho os horários, independente da distância para o local do show.
Mais uma vez passei uma cena de um show anterior, e antes de zerar os equalizadores, fui ouvir o monitor de Alceu, usando seu microfone sem nenhuma equalização (inclusive o HPF).
De cara achei muito estridente, mesmo sabendo que o microfone que Alceu usa atualmente (Beta SM87A), por ser condenser, é muito mais sensível na captação, tornando-o um pouco mais “brilhante” que o Beta SM58 que ele usava anteriormente.
Voltei na mesa e zerei os equalizadores das vias.


No começo desta mudança de microfones, eu alinhava os monitores usando um SM58, pois já estava acostumado com este microfone para este serviço.
Só depois checava com o microfone de Alceu.
Mas achei que estava perdendo mais tempo porque normalmente ajustava novamente a equalização de alguns monitores quando falava no microfone que Alceu iria usar.
Hoje alinho todas as vias, inclusive o side, com o microfone sem fio de Alceu.
Lembrando mais uma vez que sou SUB nos shows de Alceu Valença, não faço todos os shows, sou o técnico "SUBstituto".
Nosso tempo já estava bem apertado e existia a possibilidade da banda não passar o som.
Por causa do tempo curto que teríamos, e pela distância do hotel em relação ao local do show, estavam resolvendo se só chegariam perto da hora do show, davam uma passada rápida para conferir as coisas e começariam o show.
Mas felizmente resolveram por passar o som e ficar direto para o show.
Por incrível que pareça, ainda não estava satisfeito com o resultado dos monitores.
Mas não tinha mais tempo para ficar “envernizando”.
Fui ver o side.
Estava falando diferente um lado em relação ao outro.
A solução mais rápida que encontrei foi desligar uma das caixas do lado que estava falando mais.
Ainda tive que mexer ainda nas altas frequências para ficar mais coerente.
Neste momento, Rogério já estava me ajudando no palco, pois acho que notou que eu ainda estava passando vias e nunca demoro tanto.
"Conversando depois com Rogério, ele me falou que a solução que daria mais certo, e que não seria a mais rápida, era abrir uma caixa do lado que estava falando mais e desligar apenas o mesmo número de componentes que estavam parados na caixa do outro lado.
Pois é... Minha decisão foi a mais rápida, mas errada".
Explicando mai uma vez, Rogério é o técnico de monitor de Alceu Valença.
Quem faz atualmente o som do PA é Aurélio, que mora no Rio de Janeiro.
Quando Aurélio não pode fazer, Rogério vai para o PA e eu faço o monitor.
E quando Rogério não pode fazer, eu novamente vou para o monitor.
A banda já estava chegando e tínhamos que passar o som.
Passaram uma ou duas músicas (não me recordo mais se teve a segunda), e fiz alguns ajustes seguindo os pedidos dos músicos, mas nada de anormal.
Eu só não consegui ficar no local onde fica Alceu, escutando a banda tocar e falando no microfone dele para sentir a relação da voz com a banda, como geralmente faço.
A outra banda já estava esperando para montar seus equipamentos.
Como era um local aberto, não se escutava muito o som do PA porque não tinha nenhuma parede para rebater o som de volta para dentro do palco, e não tinha também nenhum telhado para refletir este som do PA.


Tudo estava muito “seco” no palco.
Este foi o comentário da maioria dos músicos quando tivemos que encerrar o sound check.
Esperamos pela nossa hora no camarim (muito bem) improvisado num trailer, com cozinha, quarto, sala e banheiro.
A outra banda montou seus equipamentos, passaram o som com todos os músicos usando fones e começaram o show.
Chega nossa hora, subo ao palco, chamo minha cena de volta na mesa digital M7CL da Yamaha.
Na frente, Rogério tinha uma Venue (Profile ou MixRack, não lembro), o line era todo FZ (incluindo os sub-graves).
Checo todos os canais no fone, e dou o sinal que está tudo OK.
Soltam a vinheta de abertura onde tem o anúncio do show e quando eu abro todos os canais da mesa, começa uma realimentação no grave, sem a banda começar a tocar.
A banda começa a tocar e eu estou procurando onde está a realimentação.
Neste mesmo momento, Alceu começa a cantar e já olha para os lados procurando pela mesa de monitor. Eu já sabia naquele momento que ele não estava gostando do monitor.
Acho o problema da realimentação, que estava no ton 2 da bateria.
E o show rolando...


Fui ajustando os monitores de acordo com os pedidos dos músicos e de Alceu, que chegou até a fazer pedidos usando o microfone dele mesmo!
Ele faz isso sempre, quando não consegue achar a mesa de monitor.
E o show rolando...
Do meio para o final do show foi que os pedidos foram cessando.
O público foi decidido a ver o show, interagiram durante todo tempo.
Foi uma festa, mesmo com todos os problemas na monitoração.
O final foi apoteótico com o instrumental pesado que os músicos normalmente fazem na música Tropicana, seguido dos aplausos, gritos e pedidos de “mais um”.
Nesta hora Alceu Valença já não está mais no palco.
Tropicana já foi o “bis”.
Já no camarim, conversei com a banda sobre o show e sobre os problemas que passamos no monitor.
Porque no sound check não teve nenhuma realimentação e no começo do show (mesmo com a banda sem tocar), ela apareceu?
Tenho um palpite... Embora não sei se foi isso mesmo.
Pode ser que quando a banda tocou aquela única música no sound check, os ton-tons da bateria estivessem com gate (quase nunca uso), e na hora que fui checar no fone momentos antes de começar o show, tive que desativar o gate do ton 2 para poder ouvir e não liguei-o novamente.
Pode ser...


Sempre converso com todos depois para ver quais foram os acertos e quais foram os erros.
E como foi a monitoração de cada um.
Foi menos desesperador do que eu estava achando que tinha sido.
Todos falaram que depois dos ajustes deu para seguir tocando tranquilo.
Só encontrei com Alceu no dia 21, no ensaio para os outros dois shows no SESC Pompéia, que seria diferente deste do SESC Interlagos.
Não iria ter sanfona e o show era mais pesado com muita guitarra.
A primeira coisa que ele falou quando me viu foi: --- O monitor do show anterior tava muito ruim. Minha voz tava sem brilho...
Deu um “alô” no microfone na sala de ensaio, e continuou: --- Olha aqui, aqui tá legal. Foi você quem fez? Eu disse não, foi Rogério.
E ele continuou: --- Venha escutar.
Fui lá e falei como normalmente faço nos meus trabalhos: --- Alô, Som, Sss Sss Ss, A A A, Hum, Oi Oi, A A, Ê Ê,...
Ele começou a rir falando que era engraçado o meu jeito de testar, e antes que eu explicasse, Rogério completou: --- Assim ele sente como está a resposta do monitor em diferentes frequências.
O ensaio começou e eu fiquei com aquele som do monitor na cabeça. E fui para o hotel com o som na cabeça.
Nem tinha achado legal o som no ensaio porque o monitor não era legal (pelo menos para mim), mas fiquei com aquele som na cabeça.
Cada voz soa diferente nos monitores, a minha não soou legal naquele do ensaio, mas isso não importa. O que importa é fazer com que músico (e/ou artista) se sinta confortável na hora do show. Entender como querem escutar.
E cada músico, e cada artista, tem um jeito próprio de escutar sua voz ou instrumento.
Achei que muito provavelmente os cortes que eu dei para amenizar o “estridente” dos monitores de Alceu e a diminuição das altas frequências num dos lados do side para ajustar o som que estava pendendo, influenciaram no som sem brilho que ele falou no ensaio.
Tinha mais dois shows em São Paulo para testar minhas observações.
Para acertar a mão e a decisão.
Um abraço a todos.