Olá pessoal.
Pois é...
Tem viaduto caindo no país.
Um amigo colocou no Facebook que isso já
aconteceu antes aqui no Brasil e matou muito mais gente.
Em 1971 morreram 26 pessoas no Rio de Janeiro.
Neste de Belo Horizonte foram apenas (?) duas
mortes.
Só acho que as causas foram diferentes nos
dois casos.
Mas estou sem saco para falar sobre isso.
Este show de Naná com Virgínia Rodrigues
estava marcado para o dia 4 de julho.
Mas quando viram que neste dia ia ser o jogo
do Brasil com a Colômbia, mudaram a data para um dia antes.
Como foi muito em cima da hora, não
conseguiram mudar nossas passagens que estavam marcadas para o dia 3.
Chegaríamos um dia antes do show, mas com esta
mudança repentina, agora a gente ia chegar na hora do show!
Cachoeira é uma cidade que fica a 109 quilômetros
de Salvador, na Bahia.
Em 1971, no mesmo ano em que o viaduto tombou no Rio, Cachoeira foi tombada pelo Instituto do Patrimônio e Histórico Artístico
Nacional, e passou a ser considerada Monumento Nacional.
A pousada onde ficamos
mostrava bem o que era isso.
Ficamos na Pousada do Convento
do Carmo.
Uma verdadeira viagem no
tempo.
Enormes corredores com
piso de madeira que rangiam com as pisadas, enquanto a gente passava pelas portas dos
quartos, que seguiam lado a lado.
Eu como sou muito
religioso, achei aquele ambiente parecido com uma prisão.
Uma prisão sem grades.
Mas só cheguei no quarto
no final de tudo, vamos voltar para o começo.
Quando chegamos à cidade,
paramos na frente da pousada, mas nem desci.
Só Naná seguiu para o quarto,
e a equipe técnica seguiu para o local do evento.
A produção do evento
entrou em contato comigo para falar sobre o local.
A mesa seria uma LS9 para
fazer o PA e monitor.
Até aí, nada demais.
Não tinham todos os
microfones (marcas) que eu solicitava no rider técnico, mas também não tem
muito problema isso.
Podemos substituir estes
microfones por outros similares.
A coisa complicou um pouco
quando eu perguntei qual era o sistema de caixas do local.
O técnico responsável
chamava-se Ivo, e ele foi contratado para ligar o sistema do cine-teatro.
Exatamente. O local era um
cinema!
Com sistema de som para
cinema!
E este show de Naná com Virgínia seria
a inauguração deste sistema!
Não fiquei muito animado
com a notícia, e depois que ele me falou que não sabia qual era a marca das
caixas que estavam no teatro foi que eu fiquei tenso.
Falei para ele que se
fosse um show normal com banda eu provavelmente não iria aceitar o sistema, mas
como este show é bem light, e Ivo me garantiu que as caixas falavam bem,
aceitei o desafio.
A maioria das caixas estavam
dispostas nas laterais da plateia.
Na parte de baixo, oito
caixas, sendo quatro de cada lado.
E na parte do mezanino,
quatro caixas, sendo duas de cada lado.
As caixas de baixo eram de
uma marca, e as quatro caixas de cima eram de outra marca.
Não tive nem tempo, e nem
vontade de ver as marcas.
O palco ficava na frente
da grande tela branca.
E na mesma linha da tela
ainda tinham 3 caixas, sendo que uma era para o sub-grave.
Ivo me passou por telefone
como ele fez a ligação do sistema.
Auxiliares 1 e 2 eram as
duas caixas na linha da tela, e o auxiliar 4 era para as caixas de sub-graves.
O auxiliar 3 ele usou para
enviar o sinal para duas caixas fora do teatro.
Os auxiliares 5, 6, 7 e 8
estavam alimentando as caixas de baixo. Duas caixas para cada auxiliar.
Os auxiliares 9, 10 e 11
eram as mandadas para os monitores dos músicos (Naná, Virgínia e o violonista).
Os auxiliares 12, 13, 14 e
15 alimentavam as quatro caixas do mezanino.
E o auxiliar 16 era uma
mandada para um efeito (reverb).
Quando ele me passou estas
informações, pedi para ele preparar a mesa para o show da seguinte maneira:
Envie todos os canais da
mesa para todos os auxiliares na mesma proporção, só que em “pos –fader”.
Ou seja, quando eu
levantasse o fader do canal da mesa, este sinal iria para todas as caixas do
ambiente com o mesmo volume.
Se eu achasse que estava alto em algum canto, eu
diminuiria no auxiliar do canal ou até no máster do auxiliar.
Não falei para Ivo que
isso não era pra ser feito nos auxiliares que enviariam os sinais para os
monitores dos músicos por achar que não seria preciso falar, ele iria saber que
os auxiliares dos monitores dos músicos deveriam ficar em “pre-fader”.
Mas me dei mal.
Quando cheguei lá e fui
dar uma conferida na mesa, notei que ele deixou os auxiliares dos monitores em
pos-fader também.
Tudo bem se não fosse por
um detalhe.
A produção deste show
tinha combinado comigo e com Ivo para ele adiantar o sound check com Virgínia e
seu violonista que chegariam antes à cidade, pois vinham de Salvador.
E foi o que ele fez.
Eu não teria tempo para
colocar os auxiliares dos dois músicos em pre-fader e passar de novo o som.
Resolvi deixar como
estava, mas coloquei o auxiliar de Naná em pre-fader.
Cheguei ao cine-teatro na
hora que começou a solenidade.
Fiquei observando como
estava soando as caixas enquanto falava com Ivo sobre a mesa e outros detalhes.
Notei que ele não fez
exatamente o que eu pedi.
Nem todos os canais
estavam enviados na mesma proporção para os auxiliares.
A inteligibilidade estava
bem legal, notei que daria para fazer tranquilo o trabalho.
As quatro caixas do
mezanino eram do tipo “EON”, mas não deu para ver qual era a marca.
As que ficavam embaixo foi
que não deu mesmo para saber por que eu não iria ficar na plateia olhando marca
de caixa enquanto a solenidade acontecia.
Não sou doido a este
ponto.
Como estava soando bem, relaxei.
Ainda deu tempo de
procurar um acarajé para jantar.
Saí com Roberto e achamos
uma morena na esquina preparando a iguaria.
Eu sou totalmente viciado
em acarajé!
Procuro sempre por um acarajé
nos trabalhos que faço em palcos na rua.
Este de Cachoeira não foi
o melhor recheio que eu comi, mas a massa foi uma das melhores que já
experimentei até hoje!
Quando a solenidade
acabou, o público foi avisado que teria que sair do local para a gente montar o
palco e passar o som rapidamente com os três músicos no palco.
Ainda teríamos que afinar
a luz e testar as projeções.
Pedi para o roadie de Naná
falar no microfone dele, ajustei o ganho e coloquei o sinal no monitor dele, e
fiz a mesma coisa com o microfone do berimbau.
Naná só iria usar estes
dois canais neste show.
Por causa disso, já sabia
que eu não iria precisar das caixas de sub-graves por que só uso estas baixas
frequência na moringa de vidro, que ele não usaria neste show.
Também não estava nos meus
planos usar as caixas que ficavam na linha da tela do cinema porque o som iria
atravessar o palco, e isso poderia causar realimentações.
Quando eu soube que elas
estavam bem acima do nível dos músicos, estavam no alto, deixei como uma opção
caso eu achasse que deveria usar, mas realmente não precisei destas caixas.
Ficaram paradas durante todo o show.
Era mais fácil o som
destas caixas atrapalhar os músicos, pois eles iam escutar primeiro o som dos
monitores para depois ouvir o som destas caixas que chegaria atrasado.
Aí eu teria que atrasar o
som dos monitores deles, passar o som de novo, aí...
NÃO TENHO TEMPO PRA ISSO!
Elimina-se o que vai levar tempo.
O violonista ainda
dedilhou algumas notas no violão, mas foi só isso que eu tive.
Estava soando legal.
Eram dois canais, um canal
linha e outro canal microfone.
O canal linha foi usado
para enviar o sinal para o monitor dele, e os dois canais foram enviados para o
som da casa.
Virgínia não quis passar
novamente o som do seu microfone por que tinha muita gente já dentro do teatro.
E Naná bateu o recorde de
sound check!
Falou três palavras no seu
microfone, tocou umas quatro vezes com a vareta no berimbau, e saiu do palco.
Isso deve ter levado entre
5 e 10 segundos pelos meus cálculos!
Só deu tempo de ajustar os
ganhos para a voz dele e para o berimbau.
Mas eu não ia começar “às
cegas”.
Tinha uma pequena noção de
como todos os canais estavam soando.
Exceto a voz de Virgínia.
Por causa da
observação que eu fiz do som durante a
solenidade, fiz uma equalização que coloquei em todas as vias das caixas do
ambiente.
Para isso usei o
equalizador de 4 bandas.
Nas vias de monitor,
insertei equalizadores gráficos, onde mexi muito pouco, pois não cheguei a
ouvir os monitores.
Tirei somente algumas
poucas frequências que normalmente eu tiro na maioria dos monitores.
Chamo isso de uma
equalização “de olho”.
Enquanto eu ia verificando
o som, Roberto Riegert ia vendo luz e projeção.
Ele teve muito mais
trabalho do que eu, pois tiveram que subir em escada para ajustar os
refletores.
Mas quando ele conseguiu
um mínimo para fazer o show, deu o OK e o show foi anunciado.
Não tive grandes problemas
com o som. Para ser mais exato, não tive problemas durante todo o show.
Como Ivo tinha deixado os
auxiliares dos canais do violão e da voz de Virgínia em pos-fader, foi só um
pouquinho mais chato fazer a mixagem para o ambiente, porque se eu aumentasse o
fader do canal da voz dela ou do violão para o ambiente, este sinal aumentava
nos monitores dos músicos.
Para resolver isso, não
mexi mais nos faders destes canais, e aumentei o volume deles para a plateia usando
os auxiliares que alimentavam as caixas dos ambientes.
Com os dois canais de Naná
eu não tive este problema porque quando eu mexia nos seus faders não interferia
no monitor dele.
Não demorou muito para eu
achar que estava legal.
Este texto foi bem mais
longo do que foi realmente o trabalho em Cachoeira.
Tentei explicar com mais
detalhes para que meus colegas de profissão pudessem visualizar a situação.
Desculpem-me os leigos, não tive como fugir do
assunto.
Para vocês terem ideia de
como foi rápido este trabalho, saí de Recife na quinta-feira às 16:30h, desci
em Salvador, peguei a van, segui para Cachoeira, cheguei ao teatro, fiz tudo que
falei acima, depois do show tomei três doses de vodka com laranjada na frente
do teatro, comendo macaxeira com carne de sol.
Quando deitei na minha
cama na pousada-convento-prisão, o relógio marcava 2 horas da manhã da sexta-feira.
Acordei às 7h. A van
seguiu para Salvador às 8h.
Chegamos antes das dez ao
aeroporto, deu tempo ainda de conectar na internet e resolver alguns
probleminhas com meus trabalhos de edição de áudio com a agência de propaganda.
O avião decolou ao
meio-dia, e aterrissou às 13h no Recife.
Cheguei em casa antes das
14h.
Coloquei uma bermuda e um
chinelo, nem troquei a camisa, peguei duas garrafas de vinho e fui para a casa
de um Amigo que fica a 400 metros de casa para ver o jogo do Brasil com a
Colômbia que seria às 17h.
Fizemos um churrasco, tomei
as duas garrafas de vinho e comi pizza no final. Ri bastante com os Amigos.
O problema maior nisso
tudo que relatei aqui foi voltar pra casa andando os 400 metros depois de tomar
as duas garrafas de vinho sozinho.
Parecia que o trajeto era
de 4000 metros e não 400!
Fingi que eu estava bem
para as pessoas na rua, mesmo sem conseguir andar numa linha reta perfeita.
Cheguei em casa, tomei um
banho, coloquei uma bermuda sem cueca, tomei um sorvete, escovei os dentes e
fui dormir.
Isso foi perto das 23h.
Logicamente, a camisa eu coloquei
no cesto para lavar.
Dormi feito um nenê.
Como podem notar pelo
relato... Da quinta para a sexta...
Foi vapt-vupt!
Usei direitinho o tempo,
não foi?
Um abraço a todos.