quinta-feira, 30 de abril de 2015

Rapidinha 193 – Guest? What?? O que?

Lille (França).

Olá pessoal.
Minha primeira ida à Europa foi em 2005, com Silvério Pessoa.
Fui mais seis vezes depois desta de 2005.
Cinco com ele e uma com Naná Vasconcelos.
Quando Silvério me convidou em 2004 depois de fazer o monitor dele no carnaval, a minha resposta foi rápida. Vou não, disse eu.
E levei algum tempo para mudar de ideia.
Era para fazer o som do PA, e eu só fazia monitor. Nunca tinha operado o som de PA em shows grandes.
Paris (França).
Fazia o som de alguns artistas na boite quando eu era DJ, mas nunca tinha feito um show em um som grande, ao ar livre.
Esta foi uma das razões para eu não aceitar o convite na hora.
A outra razão foi meu inglês.
Meu inglês sempre foi “chulo”.
Chulo = grosseiro, rude...
Para ser mais exato, meu inglês sempre foi muito curto, quase zero.
E isso me veio à cabeça na hora do convite.
Juntei as duas razões e disse que não ia para Silvério.
Nice (França).
Depois de vários incentivos de parentes e amigos, resolvi arriscar.
Meu Amigo Rogério Andrade fez até uma “cola” numa folha de papel com frases feitas básicas relacionadas ao trabalho de um operador de áudio.
Lembro muito bem de uma:
It´s not working.
Para eu falar quando algo não estivesse funcionando.
Nunca mais me esqueci desta frase.
Uso-a até hoje!
Pois bem...
Segui para a Europa com este pedaço de papel com várias frases na minha mochila do laptop.
Na emergência, sabia que eu poderia contar com o produtor de Silvério Pessoa na Europa, o francês Mark Regnier, que fala muito bem o nosso português.
Mas minha intenção era não solicitar muito sua ajuda, queria tentar resolver sozinho este problema.
Bruxelas (Bélgica).
Acabei conseguindo fazer a turnê, e só precisei da ajuda de Mark uma única vez num show em Paris.
Sempre quis aprender a falar o inglês.
Mas este meu querer não foi suficiente para tentar alguma escola ou curso.
E depois que passei 110 dias na Europa fazendo shows, e só usei o auxílio de Mark uma única vez, aí foi que eu me achei o “tal”.
Não mexi “uma palha” para aprender a língua inglesa quando voltei da turnê.
Em 2006 retornei à Europa, novamente com Silvério Pessoa.
E num show em Nijmegen, uma cidade na Holanda, me senti muito mal por não dominar o inglês.
Som maravilhoso. Foi meu primeiro contato com o line array Nexo GEO T.
Impressionante!
Berlim (Alemanha).
O sound check foi “nas carreiras”, mas era só levantar o fader que o som já estava pronto.
Já perto do final deste sound check, quando o público já estava entrando, o técnico da empresa tentou me avisar sobre um canal na mesa. Não entendia direito o que ele falava.
Gasti, mic gosti, gueste... Hã? What? O que?
Mic guest. Guest. Guest Microphone.
Quando eu estava começando a ficar angustiado, uma alma caridosa, um brasileiro que estava atrás da mesa de som falou:
--- Ele está te falando que é o microfone do convidado. Guest mic. Guest é convidado.
Morri de vergonha.
Toulouse (França).

Não tinha nenhuma frase no papel que Rogério me deu com a palavra GUEST!!!!!
Eu não tinha a menor ideia do que era guest.
Esta vergonha está até hoje na minha cabeça.
Entre outras que a falta do inglês me proporcionou nas outras idas à Europa.
Consegui fazer todas, mas me senti um verdadeiro imbecil em várias oportunidades.
Poderia ter aproveitado muito mais nestas turnês se eu dominasse o inglês.
Deixei de conversar com vários técnicos, de vários países, com várias experiências.
Deixei de aprender.
Simplesmente isso.
Cartagena (Espanha).
Tive uma simples aula de como é ser um analfabeto.
Era isso que eu era lá.
E é isso que eu queria deixar aqui registrado para quem lê este Blog e é do ramo.
Ou de qualquer outro ramo!
Saber falar inglês vai abrir portas que você nem imagina.
Principalmente neste meu ramo da música, som, estúdio, PA, monitor... Shows.
Não queira se sentir um analfabeto, como ainda sou hoje em dia.
Aprenda a falar e escrever inglês.
Principalmente falar.
Falou?
Em alguma parte do mundo com várias taças de vinho na cabeça!
E o que é mais vergonhoso do que aconteceu em 2005?
É eu escrever este texto em 2015 sabendo quase a mesma coisa de inglês do que naquele dia na Holanda há dez anos.
Só mudou uma coisa.
Se alguém gritar na house mix: --- Open the guest. Open. The guest!
Eu vou saber qual canal abrir!
Um abraço a todos.