segunda-feira, 14 de abril de 2008

Festival APR 2008 – O que mudou?

Mais uma vez participei do festival Abril Pro Rock. Acho que esta foi a sexta ou sétima vez que fui ao evento para trabalhar, pois para tomar uns drinks e conversar nem recordo as inúmeras vezes que estava lá, pois sou amigo dos sócios da empresa de som que faz o festival desde o primeiro ano. São 16 anos de festival e muita coisa mudou durante este tempo. Operei mais uma vez o monitor do palco 2 (foram três palcos no total) nos dias 11 e 12 de abril, com três atrações no primeiro dia e seis atrações no segundo neste meu palco. Dia 27 ainda tem um dia de festival, mas só vão ser dois shows num único palco e não vão precisar dos meus serviços.

Lembrem-se que o intuito deste espaço é comentar e mostrar os bastidores e curiosidades dos eventos que eu participo e não sou um crítico de uma revista de música ou de shows, mesmo que de vez em quando minhas palavras soem como uma crítica, mas minha intenção não é essa. É apenas minha visão e não quer dizer que está certo ou errado.

Depois de anos usando o pavilhão do Centro de Convenções, o festival muda de lugar. Se eu não me engano, durante os 15 anos o festival só aconteceu em somente dois locais. O primeiro local era aberto e somente o palco 2 ficava numa pequena área coberta com uma lona de circo. Só não lembro se existia este palco 2 desde a primeira versão. O problema com a chuva foi o grande motivo da transferência do festival para o Centro de Convenções, que ganhou muito com esta mudança no quesito conforto para o público e perdeu muito na parte da inteligibilidade do som. Por ser uma área de concreto sem nenhum tratamento para shows, o som ficou muito mais confuso. E no que se refere ao clima despojado que o festival tinha no começo quando era na área aberta, o que notei é que este despojamento foi dando espaço para o conforto. Este ano dava pra deitar no chão de tão limpo, e os banheiros seguiam esta mesma regra. Senti falta das barraquinhas com comidinhas gostosinhas da terrinha, mas estou falando agora como um viciado em tira-gosto que sou! O clima despojado dos anos anteriores se foi. Este ano o festival foi realizado na maior casa de shows de Recife, o Chevrolet Hall. Tudo muito bem estruturado e bem cuidado. Tem até ligação subterrânea da house mix até o palco.




House mix com as três mesas do P.A.: Midas XL200 e Yamaha M7CL para controlar o som do palco 1 e Yamaha DM2000 para o palco 2.

Durante os anos indo como amigo dos “donos do som” e depois como contratado, sempre pude notar uma melhora na parte técnica e operacional nos palcos do festival. Em 2007 já existiam três palcos e a diferença técnica e operacional do palco 2 para o 1 era muito pequena. Por razões administrativas do festival, que resolveu enxugar os custos, esta melhora que sempre ocorreu nos anos passados não aconteceu agora em 2008. Não me cabe aqui fazer nenhum tipo de comentário sobre se foi correto ou não esta reformulada, pois não faço parte da administração, não sei quais as dificuldades que eles passam, não é minha praia e sou adepto de um pensamento que diz: “... é muito fácil resolver os problemas dos outros” ou traduzindo: ...”pimenta no cu dos outros é refresco!”. Só vou tentar passar minha visão dessas mudanças e comentar sobre alguma curiosidade de bastidores.





Palco 2 ao lado esquerdo e palco 3 abaixo.







O novo local melhorou muito a inteligibilidade do som, pois o local é uma casa de espetáculos e tem um tratamento acústico. Mesmo com esse tratamento ainda prefiro um local aberto para fazer um show. Os dois palcos principais tiveram seus equipamentos de som e luz bastante reduzido. Essa redução também aconteceu no setor dos profissionais. Para se ter uma idéia, no ano passado no palco 2, além de mim operando a mesa de monitor, tinha ainda um diretor de palco, dois roadies (profissional encarregado de, entre outras coisas, dar uma assistência aos músicos durante um show) e mais duas pessoas responsáveis pela troca nas ligações dos cabos (patch), totalizando seis pessoas. Este ano só foi eu, um roadie e um responsável pelo patch, ou seja, 50% de corte. Não vou falar do palco 3, pois o mesmo não foi muito afetado. A grande diferença ficou mesmo nos palcos 1 e 2. Este ano não tivemos os diretores de palco. Os próprios sócios da empresa de som fizeram esta função no palco 1 e o 2 ficou sem. Mas também nem precisava mesmo, pois todas as bandas do palco 2 tinham uma formação bastante simples, diferente de vários anos anteriores, aonde teve noite que a diferença entre as bandas era enorme, exigindo mudanças complexas entre uma banda e outra. Estes diretores de palco são responsáveis pela organização e gerenciamento dos palcos. Coordenam os horários das passadas de som (sound check) e dos shows, seguindo uma planilha feita com antecedência e enviada aos responsáveis dos artistas. Esta coordenação não é uma coisa muito simples de se fazer, pois é muito difícil que o artista entenda que ele não tem mais tempo para ajustar o som de seu show, pois seu tempo encerrou e têm outras bandas para fazer o mesmo. No primeiro dia do festival não houve nenhum contratempo, e os horários do sound check foram cumpridos sem problemas e consequentemente os shows começaram e acabaram dentro dos horários pré-determinados.
Já no segundo dia, a coisa foi mais complicada. Existiam muito mais atrações nos dois palcos principais. Por isso, o primeiro sound check do meu palco estava marcado para começar às 8 horas da manhã! Sai do primeiro dia do festival assim que acabou o ultimo show no meu palco, chegando em casa perto das 3 horas da madruga e acordei de 7h para voltar para o evento. Não tive muitos problemas no sound check, pois como falei anteriormente, as bandas do palco 2 tinham uma formação bem simples, sendo a grande maioria formada apenas por bateria, baixo, duas guitarras e no máximo 3 vozes. O mesmo não aconteceu no palco 1, aonde tinha atrações com muito mais músicos, mais instrumentos e ligações mais complexas. Para complicar mais, o equipamento de Lobão não chegou no aeroporto, fazendo com que houvesse um remanejamento nos horários para tentar amenizar os atrasos. Mas não teve jeito, e ficamos com um atraso de quase 2 horas no sound check e isso refletiu diretamente nos horários do início dos shows. Lobão que era o último show da noite e estava marcado para começar de 1:40h, só conseguiu iniciar seu show perto das três horas da madrugada.

Detalhe de Brinquinho (roadie do meu palco) dormindo abraçado
com o praticável da bateria no sábado, logo após término do sound check de todas as bandas do dia.



Achei este ano o festival com mais cara de festival, pois não vieram os medalhões nacionais que geralmente vêm para chamar público, como por exemplo: Rappa, Paralamas, Nação Zumbi, Angra, Sepultura, etc. A maioria das bandas eram desconhecidas da mídia, e na minha opinião era pra ser assim quando algum evento usasse o nome “festival”. Acredito que o intuito de um festival seria mostrar coisas novas. Em anos anteriores, passaram pelo palco 2 nomes que eu nunca tinha ouvido falar, que hoje em dia são reconhecidos nacionalmente, como foram os casos de Pitty, Cachorro Grande, Mombojó. Teve muita coisa legal no palco 2 e eu poderia indicar aqui duas que me chamaram a atenção: Superguidis e Pata de Elefante, todas duas do RS. E para quem curte um rock muito mais pesado e gritado, teve a banda local Project 666 que passou muito bem o recado. A com mais chances de se popularizar como uma Pitty ou Cachorro Grande, na minha opinião , seria a Superguidis.

Outra curiosidade este ano, foi a presença de Vítor Araújo tocando piano acústico no palco 2. Foi a primeira vez durante esses 16 anos que tivemos um piano acústico no palco do festival, e esta apresentação foi solo, sem nenhum outro instrumento. A grande dificuldade foi amplificar o som do piano para o público. O operador do P.A. não conseguiu deixar o som num volume que agradasse o público, pois o mesmo realimentava (apitava, dava microfonia) quando ele aumentava muito. Tive o mesmo problema no monitor, pois realimentava comigo também quando tentava aumentar o som dos dois microfones que captavam o piano no monitor de chão. Eu resolveria meu problema colocando fones (in-ear) no pianista, eliminando assim o monitor de chão, mas eu não dispunha desse equipamento no palco. Por isso optei por tirar completamente o som do piano dos monitores. Uma curiosidade: muita gente usa em gravações de DVD apenas uma carcaça de um piano acústico adaptada para encaixar um piano elétrico com teclas grossas de piano. Depois eles podem até regravar em estúdio o som do piano acústico, mas no show o que sai mesmo no P.A. é o som de um piano elétrico, fazendo com que a probabilidade de se ter realimentação do som seja zero!

Colocaram pra mim uma mesa digital para fazer os monitores, o que ajudou em muito no trabalho, pois salvava a cena de cada artista, não precisando fazer nenhuma anotação em papel. Já tinha trabalhado com esta mesa em outros shows e sabia que não era muito rápida a sua operacionalidade, pois por ser uma mesa mais barata em relação a suas irmãs do mesmo fabricante, alguns recursos foram economizados para justificar o preço. Por isso levei meu laptop e usei um programa que o fabricante da mesa disponibiliza na internet aonde você pode controlar a mesa pelo computador via cabo de rede. E tudo ficou mais fácil. Outras mesas do mesmo fabricante usam a porta USB como via de comunicação com o computador.


Hoje em dia conseguimos controlar estas mesas à distância sem usar nenhum fio. Isso é possível usando-se um roteador normal sem fio de internet, aquele que você usa na sua casa para poder ficar com o laptop conectado na internet em qualquer cômodo da casa. Para nós, isso ajuda em muitos casos, como por exemplo:

- No trio elétrico, onde a mesa fica em cima do trio e ficamos em cima das caixas de som. No sound check podemos descer do trio e fazer os ajustes antes do início do show, que é em movimento na maioria das vezes, escutando o som em frente das caixas e não em cima!

- Em locais onde não se pode colocar a mesa na frente e no centro do palco. Isso acontece muito em eventos de empresas, em que os decoradores acham horrível e desnecessário aquela mesa cheia de luzinhas no meio da sua decoração. Já tive vários problemas com isso. Uns eu relevei, pois o show não era tão sério, e teve caso de fincar o pé e dizer que não faria se a mesa de som não estivesse no local apropriado. Nesta vez não foi nem com o decorador que tive o impasse, mas sim com o proprietário da casa que só fazia os seus eventos com a mesa ao lado do palco. Podemos simplesmente deixar a mesa onde está e sentarmos numa cadeira na nossa posição desejada que é o centro de frente para o palco e operar o som de todo o show usando o laptop com o sistema wireless.

Muito legal isso, não acham?



Sound check de Lobão (ao lado) e sound check de Céu (abaixo).





Lembram da Lei de Murphy que falei no texto anterior? Pois bem, ela se fez presente neste festival no show de Céu. Alguém quer dar um palpite de qual canal deu problema no meio do show?

Exatamente! Falhou exatamente a voz da cantora!

Até a próxima.

Um abraço a todos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal a narrativa...tecnica e despojada...imagino tudo que se passou! tenho a maior preguiça de ir pro Abril, acho que faz uns 8 anos que não vou!!!!! quase que ia esse ano p ver Céu!!! abraçooooooooooo....

Anônimo disse...

Legal ver um técnico de som realmente preocupado com seu trabalho. A construção de um novo cenário musical no Brasil precisa disso.

Beda disse...

Opa,

nos conhecemos no Abril, sou Beda, o co-produtor de Vitor Araújo, e gostaria de falar com você. Meu e-mail é beda_bar@hotmail.com. Se possível, gsotaria que você me mandasse seu telefone celular pra eu poder tirar algumas dúvidas com você em relação ao show de Vitor.

Grato,

Beda Barkokebas
Co-produtor

Anônimo disse...

Grande!
Eu não pude ir ao APR este ano, estava viajando e me informaram que perdi muita coisa boa. :(
Já vi gente fazendo gambiarra para microfonar pianos acústicos. Era um circuito caseiro com alguns aops e eram ligados a dois microfones. O circuito trabalhava no conceito de de 'Rejeição de modo comum', ele comparava o sinal dos dois microfones fazendo um feedback destroyer caseiro. Era bem interessante! Pena que não lembro totalmente. Abraços!

Titio disse...

Obrigado pessoal pelas palavras positivas. Muito legal saber que o Blog está sendo útil. Esse era o meu propósito.
Felipe Rangel: Se você encontrar algum material falando sobre amplificação de pianos acústicos em shows, me mande que eu vou dar uma estudada. Meu email é titioaudiomidi@gmail.com
Um abraço a todos.

Anônimo disse...

Acho que você nunca viu o Autoramas no palco 2, porque esse foi a primeira vez que eles tocaram no festival :)

Titio disse...

Oi Bruno.
Tinha tanta certeza de ter feito o monitor desta banda que fui averiguar nos anos anteriores do APR. Fiquei pensando que estava doido, pois realmente a banda não aparecia nas programações anteriores a 2008. A imagem da banda era nítida na minha memória, inclusive por causa da baixista que era muito charmosa e não era essa que tocou no APR 2008.
Quem me salvou foi um amigo que lembrou que eu tinha feito o monitor da banda no Porto Musical e não no APR.
Obrigado pela observação. Vou retirar o nome da banda deste texto . Um abraço.