Olá pessoal.
Não vi o jogo ontem do Brasil contra o México.
Não me arrependi. Fui participar do movimento Ocupe
Estelita aqui em Recife.
Mais pelo meu Filho do que por vontade própria.
Ele participa deste movimento.
Para quem não é de Recife, vou dar uma rápida
explicação sobre o que é o Ocupe Estelita.
O Cais José Estelita é um terreno no centro do
Recife formado por galpões desativados há muitos anos.
Este terreno foi comprado da prefeitura por um
grupo de empreiteiras que tem um projeto de construir no local 12 torres (prédios)
enormes para comércio e residência.
Surgiu um movimento na cidade chamado Ocupe
Estelita, onde o pessoal deste movimento tenta impedir a construção destes prédios
alegando, dentre outras coisas, que existem irregularidades no processo de
compra do terreno, que estes prédios vão ferir a imagem da cidade, que os
moradores de Recife não vão ter nenhum benefício com estes prédios, etc.
Este movimento tenta discutir com a prefeitura
estes e outros pontos, como doações das empreiteiras para campanhas de diversos
políticos envolvidos, facilitação destes que receberam estas “doações” na
compra do terreno pelos “doadores”, e por aí vai...
Resumindo, é bronca. Normal nesta nossa
política, não é?
Nem só na política, em todos os setores, para
ser mais exato.
Somos bombardeados há anos com notícias de
subornos em vários setores, visando alguma facilitação ou para conseguir pegar
algum serviço.
Pois bem...
Pensei nos outros protestos que aconteceram meses
atrás no país pelos (teoricamente) 20 centavos, e que na maioria das vezes eu
estava trabalhando e não participei de nenhum.
Mesmo o protesto sendo outro aqui em Recife,
fui protestar (e cuidar do meu Filho).
Temos milhares de razões para protestar com as
coisas que acontecem aqui na nossa cidade e no nosso país, há muitos anos!
Sempre compartilho no Facebook ou coloco aqui
no Blog notícias que mostram os absurdos que acontecem no país.
Mas nunca passei disso, um “protestador
profissional de sofá”.
Meu Filho foi o impulso que eu precisava. Ele
me ligou avisando que estava indo para o Ocupe Estelita.
Tentei convencê-lo do contrário e não
consegui.
Desliguei a TV, coloquei o tênis e peguei uma
camisa preta de show.
Ah, não esqueci de levar o cartão de saúde!
Liguei para a mãe dele, que falou que deixou
Ele ir porque ela viu que estava tudo tranquilo no local depois da reintegração
de posse feita pela PM na madrugada com bombas, balas de borracha, spray de
pimenta, cassetetes e cavalaria.
Notei que esta tranquilidade não existia quando
subi o viaduto perto do Estelita e vi que a descida estava bloqueada por um
protesto.
Voltei na contramão e desci o viaduto por outra
saída e estacionei o carro numa rua próxima.
Perto de onde estacionei, já vi um pelotão de
choque da PM na “espreita” numa rua paralela ao foco do protesto.
Aí foi que vi que a tranquilidade se
transformou em tensão.
Estava muito mais tenso do que eu imaginava, e
é uma merda saber que seu Filho estava ali no meio desta confusão.
Aí vem aquele ditado: “Pimenta no cu dos
filhos dos outros é refresco”.
Atravessei as avenidas e fui me juntar ao
pessoal que estava ao lado do viaduto.
Não fiquei no viaduto do Cabanga fechando o
trânsito, por discordar da atitude. Fiquei ao lado, no gramado, participando e observando
o movimento formado na sua grande maioria por jovens com a idade do meu Filho, que
vai completar 19 anos nesta semana.
Liguei para Ele, pra saber onde estava.
E logicamente, para meu desespero, Ele estava
na avenida fechando o trânsito.
Lembrei na hora das imagens do pai tirando o
filho dele de um protesto que foram amplamente divulgadas pelos meios de
comunicação.
Perguntei se ele estava com o rosto coberto
enquanto procurava-o na multidão.
E Ele me falou que não, no momento em que o
encontrei visualmente.
Ainda tentei convencê-lo a vir para onde eu
estava ao lado da pista, mas Ele tentava (sem êxito também) me convencer do
contrário.
Como não vi nenhum perigo iminente, deixei-o
lá, e fui dar uma volta no meio do grande número de jovens para tentar entender
o que se passava.
Eu era um dos poucos "coroas" no local.
Roger Renor (da saudosa Soparia) era outro da
minha idade que vi por lá, mas este é participante há anos de movimentos que
visam uma cidade melhor!
Continuei impressionado com a idade do pessoal
que estava no local.
Fiquei observando...
Fui na entrada do terreno, que já estava
fechado por paredes de folhas de alumínio.
Porque o pessoal estava fechando a rua e não estava
ali na frente da entrada?
Esta foi minha primeira dúvida.
Não seria mais correto ficar na frente do
terreno?
Eu achava isso.
Na minha caminhada ouvindo as conversas, descobri que o pessoal estava
inicialmente concentrado exatamente na frente da entrada do terreno, mas foram
expulsos (sem gentilezas logicamente) pelos policiais, com as velhas bombas,
balas de borracha, cavalos e etc.
Na correria, invadiram a pista.
O trânsito parou e a PM deve ter decidido
parar com a dispersão por causa dos carros parados no congestionamento que
aumentava a cada minuto.
Depois a PM reconsiderou e decidiu que o
pessoal poderia voltar para a frente da entrada do terreno, mas o pessoal não
quis.
Eu queria, muito mais por causa do meu Filho
do que pela situação.
Sem meu Filho ali, acho que ficaria mais um
tempinho fechando a rua mesmo para descansar das balas e bombas da primeira
expulsão.
Lembrei do único dia na minha vida que fechei
uma via pública para protestar.
Foi quando eu estudava no Colégio e Curso
União.
Impediram a entrada para as provas de alunos
que estavam com as mensalidades atrasadas.
Decidimos fechar a rua em protesto.
Não deve ter dado 30 minutos de fechamento...
A diretoria do União voltou atrás e todos foram fazer as provas.
Voltei para o lado da pista e fique observando
as negociações entre PM e manifestantes (para muitos, chamados de vândalos).
Uma menina franzina, muito bonita, subiu na
mureta de proteção para falar.
Não deve ser difícil se apaixonar por uma
mulher dessas... Pensei, enquanto ela se equilibrava para falar.
Depois de apreciar a beleza da menina, fui mais
perto ver como ela ia conseguir falar para todas as pessoas que estavam na
pista com aquela “pequena voz macia” que eu tinha certeza que ela tinha.
Surpreendi-me com a técnica!
Ela falava uma frase, e as pessoas que estavam
mais perto dela e ouviam a frase, repetiam em voz alta e em coro estas frases para
as pessoas mais afastadas!
Frase por frase, a menina franzina ia passando
o recado para todos que estavam ao redor.
Muito bom!
Ela não era a líder, não vi isso lá.
Pelo que pude notar, era uma mediadora entre
as pessoas do movimento e a PM.
Vários subiram na mureta para falar com o
pessoal, para decidir o que fazer.
Uma destas pessoas que subiu na mureta, era
uma senhora que devia ter minha idade, usava uma bata de médico e óculos de
motociclista.
Uma figura.
Muitos usam óculos ou máscaras para protegerem
os olhos das balas de borracha.
A mulher com bata e óculos de motociclista
falava que poderiam existir no meio do movimento pessoas contratadas pelas
empreiteiras para tornar o movimento violento, no intuito de enfraquecer o
mesmo.
No final do recado ela estava olhando para mim, perguntando com o polegar virado pra cima se eu tinha entendido o recado.
Entendi na hora que ela poderia achar que eu
fosse um destes contratados. (risos)
Continuei observando tudo.
E o que notei com estas observações?
Várias coisas.
Positivas e negativas.
Posso enumerar algumas:
1 – No meio de toda aquela gente, tem gente
que não faz parte da coisa. Isso eu já achava que seria impossível. Todos com o
mesmo intuito.
Mas lá eu pude comprovar isso. Tem várias
pessoas no meio aproveitando o aglomerado de gente para fazer “outros trabalhos”
e com outras intenções que não chegam nem perto das reais intenções do
protesto.
2 – Vi gente (bem mais velha) com jeito de “macaco
velho” de sindicato ou de algum partido político pedindo para os jovens
continuarem na pista.
Com certeza também tem este pessoal
aproveitando o momento para puxar a brasa para sua sardinha.
3 – A grande maioria daqueles jovens estava
ali por uma mesma causa.
4 – É muito bom ver isso. Jovens reunidos para
manifestar suas vontades.
Nunca fui muito bom para manifestar minhas
vontades no lado sentimental. No profissional eu até consigo fazer alguma
coisa, mas no sentimental sempre fui uma catástrofe!
Espero ter aprendido algo com este dia no meio
da galera jovem.
5 – Não vi nenhum artista (formador de opinião)
por lá.
Só Roger, mas este não vale mais porque sempre
esteve no meio destes movimentos há muito tempo, como já falei.
6 – Como falei para meu Filho depois, sou a
favor de protestos, mas com limites. Poderiam sair da pista antes da invasão do
batalhão de choque.
7 – É absurdamente mentirosa a afirmação de que a
PM só atira depois que algum policial sofre alguma agressão dos manifestantes,
ou por causa de algum ato de vandalismo por parte dos mesmos manifestantes.
Isso eu também já sabia por causa de vários
vídeos gravados desde as manifestações dos 20 centavos.
Em muitos casos, o quebra-quebra só começa depois das balas e bombas.
8 – Os manifestantes são completamente apartidários!
Não se vê nenhum símbolo, cor ou qualquer coisa que lembre algum partido, sindicato
ou grupo.
Isso já aconteceu nos protesto dos 20
centavos, onde os próprios manifestantes não deixavam que outras pessoas
levantassem bandeiras de partidos e/ou sindicatos.
O pessoal dos partidos já deve ter notado este
descrédito (com razão) por parte de um grande número da população, e pessoas
infiltradas sem nenhuma identificação para “puxar a brasa para a sardinha” do
partido ou coisa do gênero já pode ser uma arma que está sendo usada nestes
movimentos.
9 – É humanamente impossível separar quem vai participar
de um protesto para defender uma causa das pessoas que estão lá por outro(s)
motivo(s).
10 – Se quebraram algo neste dia, podem ter
certeza que foram as pessoas que estavam lá por outros motivos, que não eram
relacionados com o Estelita.
Quando eu vi que a invasão pela PM era
inevitável, fui encontrar meu Filho para se afastar dali.
Ele já estava vindo na minha direção quando as
bombas e os tiros começaram.
Parecia filme.
Mesmo ainda a contragosto, Ele me seguiu
correndo, atendendo aos meus pedidos não mais gentis naquela “altura do
campeonato”.
Segui na direção onde deixei meu carro.
Torci pra gente estar invisível para os olhos
dos inúmeros soldados da PM, principalmente os que estavam em cima do viaduto praticando o
"tiro ao alvo".
Sabe aquele brinquedo de parque que aparece em filmes, dos
patinhos caindo com os tiros?
Nunca pensei que um dia me sentiria como um
patinho de tiro ao alvo.
E o pior... Com meu Filho ao lado.
Éramos dois patos correndo com vários outros
patos correndo ao redor.
Deu ainda para ouvir os PMs gritando em cima do
viaduto: --- Acerta aquele ali de camisa azul, vai, vai.
Passamos pela área de fogo sem sermos
acertados.
Meu carro estava próximo.
Entramos no carro e seguimos para longe do
lugar do conflito, sem nenhum problema para sair porque não tinha nada
acontecendo naquelas ruas que seguiam para o lado oposto do viaduto.
Meu Filho ainda estava puto com minha atitude,
mas eu nem ligava para isso.
Seguimos até Olinda discutindo o caso, onde
estava a mãe dele.
Deixei-o lá, e liguei para mãe pedindo para
marcar uma reunião da cúpula para resolver este assunto chamado "protestos".
Parei na padaria, comprei uma Sprite e um
salgadinho.
Liguei para minha irmã que estava desesperada
em casa porque sabia dos acontecimentos, e marquei para comer uma pizza com ela em casa
quando eu chegasse.
Minha irmã mora no apartamento ao lado do meu.
Pedi a pizza por telefone e fui tomar minha
Stolichnaya com Sprite acompanhado do salgadinho enquanto esperava a chegada da
pizza.
Liguei a TV pra ver os melhores momentos do
jogo do Brasil x México.
E fui pensar no dia nada normal, e nas
conversas com meu Filho.
É muito difícil sair de casa para participar
de um protesto, não é?
Notei isso.
Principalmente para quem tem casa própria,
carro, plano de saúde, dinheiro (nem sempre) para comprar os mantimentos mensais, comprar
seus vinhos, queijo parmesão, pagar a TV a cabo, etc, etc, etc.
Já vi comentário aqui no Facebook de uma
pessoa que achava estranho ver gente protestando no Estelita enquanto passa
mensagem no seu iPhone.
Não tem nada a ver uma coisa com a outra, não
acham?
Muitos, independente de posses, querem que as
coisas melhorem.
Que o básico melhore! Pelo menos o básico!
Que as frases feitas que os governantes não
cansam em repetir sobre educação, transporte, segurança, saúde, habitação, etc,
se concretizem.
Pois até hoje são apenas frases feitas.
Foi tenso eu estar ali com meu Filho.
Discordo de alguns pontos de vista que ele
defende, mas isso vamos tentando equacionar com as conversas.
É muito difícil um jovem de 19 anos ter pontos
de vista parecidos com os de um cara de quase 50.
Eu estava precisando participar de um
movimento como o Ocupe Estelita.
Fui para defender, além do meu Filho, alguns dos meus
pontos de vista sobre o caso.
Pesquisem no Google para ver quais são as
empresas privadas que mais fazem doações para campanhas de prefeitos e
vereadores no Brasil.
Resposta:
Empreiteiras!!!!
Em 2012, seis dos dez maiores doadores
privados eram empreiteiras!
Estranho, não é?
Atualmente estão tentando acabar com isso.
Tentando ainda, viu?
A “filantropia”(?) continua.
Atualmente elas continuam com as primeiras
posições.
Temos vários casos parecidos como este do
Estelita por todo o território continental do Brasil.
Há muito tempo os políticos não fazem política
para o povo, há muito que não representam o desejo do povo.
No primeiro dia de trabalho, já estão pensando
na reeleição.
O voto está aí pra ajudar, mesmo eu sentindo vontade
de votar apenas 3 vezes na minha vida.
A internet com sua velocidade, mostrando cenas
dos acontecimentos, se tornou também uma grande ferramenta para ajudar nas
mudanças que o povo tanto quer.
Mas quando é mal usada, causa danos absurdos e
irreparáveis.
E por último (mas com uma força tão grande ou
até maior do que as duas ferramentas anteriores), está a ocupação das ruas pelo
povo, mostrando seus desejos.
Por isso me senti tão bem em ter ido participar
do Ocupe Estelita.
Fui mostrar meus desejos também, que há muito
tempo estão presos no meu sofá, ficando apenas registrados nos meus comentários
na internet.
Tomara que mais brasileiros resolvam sair dos
sofás, que ultrapassem o limite da internet.
Que ocupem as ruas para mostrarem seus
desejos.
Razões temos para isso.
Ocupem Estelitas!
Um abraço a todos.
PS: Tou pensando em comprar óculos de
motociclista igual ao da mulher com bata de médico que não me sai da cabeça.