terça-feira, 22 de abril de 2008

Sound check – Como costumo fazer.










Olá pessoal.

Atendendo a vários pedidos de uma Pessoa somente, no caso Silvério Pessoa, artista com quem trabalho e que todas as vezes que nos encontramos pra tomar vinho ou para eu ensinar como se usa um software de gravação, ele me pede para fazer um texto falando sobre isso. Não agüentei mais a pressão e resolvi escrever sobre tal assunto.

Como fazer o sound check de um show?

Vou falar de como eu faço, e acredito que seja como a maioria faz. Já me pediram pra fazer de outro jeito, mas achei que iria demorar mais e nunca testei. Não estou dizendo que o meu jeito é o correto e nem o mais rápido, simplesmente é do jeito que faço até hoje quando estou operando o monitor, como foi o caso agora do Abril Pro Rock 2008, em que EU coordenava o sound check da minha mesa de monitor. No caso de Alceu Valença, por exemplo, quem geralmente faz esta coordenação é Paulo Rafael, guitarrista de longas datas de Alceu.

Vamos lá.

Vou levar em consideração que o operador de monitor já alinhou todos os monitores. Falo sobre isso mais adiante.

A primeira coisa que deve ser resolvida é QUEM vai coordenar este sound check. Não comece o trabalho sem saber quem é esta pessoa, pois você corre um sério risco de tornar esta etapa uma verdadeira esculhambação, perdendo muito tempo e não saindo direito do lugar. Esta pessoa pode ser o próprio operador de monitor ou pode ser qualquer pessoa da banda ou da produção (desde que esta pessoa tenha noção do que está fazendo ou de como a banda costuma fazer). Depois de decidir isso, coloque um microfone sem fio na mão desta pessoa e enderece o som deste microfone para todas as vias de monitor no palco. Agora é esta pessoa que vai ser a ponte de ligação na comunicação entre os músicos e o operador de monitor. Nesta hora já é para todos os músicos estarem em seus respectivos lugares com seus monitores (e/ou fones) ligados e funcionando. O mais comum em um show, e também é como costumo trabalhar, é ir fazendo o sound check junto com o operador de P.A., só passando para outra peça no palco quando o operador da frente der ok, pois ao terminar o palco, na frente já vai estar adiantado também, não precisando voltar a passar as peças só para ser ajustado para o P.A..

Começo o sound check pelo bumbo da bateria que em 99,99% dos casos é o canal 1 do “ input list” (lista com a relação dos canais com seus devidos instrumentos utilizados pelo artista, que deve ser enviado com antecedência para o contratante ou para o responsável da empresa que vai sonorizar o evento). Depois vou seguindo normalmente com os canais na seqüência: 2- caixa, 3- esteira, 4- caixa2, 5- Hihat, etc. Depois de fazer os devidos ajustes (ganho, equalização, compressão, etc) em todos os canais da bateria e endereçar estes canais ao monitor do baterista (ao gosto dele), pergunto ao resto da banda o que eles vão querer da bateria em seus monitores e faço a distribuição, sendo um músico de cada vez. Sigo esta lógica durante todo o sound check, seguindo sempre a ordem crescente dos canais na mesa de monitor que é igual ao input list e que normalmente estão nos mesmos canais na mesa do P.A.. Ajusto o instrumento para o músico responsável e depois distribuo este instrumento para o restante da banda. Com o artista que trabalho ou com a maioria das bandas com quem trabalhei, normalmente depois da bateria vem a percussão, depois a harmonia (baixo, guitarra, teclados, acordeão ou sanfona - como queiram chamar, violões), depois os back vocals e por fim a voz principal.

Normalmente os sopros entram depois da harmonia, mas por uma questão de praticidade, pois às vezes o show do meu artista é com metais e às vezes não, resolvi colocar os metais no final de tudo, logo após a voz principal, não precisando assim fazer dois input list. Se os metais forem, tudo bem, pois estão no input list, e se não forem, só comunico na hora que os canais que vamos usar vão até a voz principal, não mudando em nada a seqüência dos canais.

Depois de ajustar e endereçar todas as peças aos músicos (nem todas as peças são usadas no monitor!), solicito que toquem alguma(s) música(s) do roteiro para fazer os ajustes finos, pois passando peça por peça é uma coisa e todos tocando ao mesmo tempo é outra, e tocando pra valer na hora do show é ainda outra coisa completamente diferente, pois a empolgação do músico é muito maior por causa do público e da adrenalina normal de um show, refletindo na sua pegada (força ao tocar). Geralmente acontecem ajustes durante as primeiras músicas do show, e dependendo da banda, esses ajustes só acabam quando termina o show!

Não gosto de fazer o sound check com os músicos tocando algo totalmente diferente do que vão tocar no show, como por exemplo, passar o som com o pessoal tocando George Benson, mas vai ser um show de forró ou frevo! A execução de um frevo é totalmente diferente de como é executado as músicas de Benson! Isso é um gosto meu, não quer dizer que não se possa fazer isso. Vai do gosto de cada operador ou de cada artista, pois se o artista gosta de passar o som tocando black music, mas vai tocar samba, como sou contratado, tenho que aceitar e fazer como eles gostam. Posso até tentar convencê-los ao contrário, mas nunca dizer que está errado e que não faço!

Uma grande diferença do operador de monitor para o de P.A. é que o de monitor depende do gosto de cada músico para fazer o serviço. Acontece muitas vezes de você não achar legal o timbre ou o volume do instrumento no monitor de algum músico, mas foi assim que ele quis e gosta. Ainda tem o agravante do número de vias, que pode ser seis, sete, ou muito mais vias (monitores) e que esses monitores, dependendo da empresa de som, podem soar diferentes uns dos outros, sendo necessário o alinhamento (usando-se equalização) destes monitores antes de começar o sound check, para que eles soem semelhantemente.

No caso do P.A. normalmente só tem o gosto do próprio operador. Tudo bem que aparece de vez em quando a mulher ou o cunhado do cantor, ou o primo do guitarrista, ou o irmão do baixista, ou o produtor para dar um palpite, mas quem decide tudo mesmo é o operador. E o número de vias na frente para se alinhar é muito menor, pois normalmente são apenas duas! Os lados esquerdo e direito do P.A..

Vou fazer algumas observações que aprendi durante estes anos fazendo monitor:

*Como é muito grande a possibilidade hoje em dia de se pegar uma mesa digital no monitor, acredito que o botão mais importante nestas mesas, a meu ver, é o botão SELECT. Não faça nada antes de selecionar o canal que você quer ajustar, pois não fazendo isso, você corre o grande risco de ajustar o canal errado.

*Cuidado com os pedidos de roadies e outros da produção, solicitando que você aumente ou diminua determinada coisa em determinado monitor. Certifique-se que este pedido foi feito realmente pelo músico, pois já aconteceu muito comigo de roadies e produtores pedirem ajustes, simplesmente porque eles achavam que precisava. Com o tempo e conversando com o pessoal, você resolve este problema, e passa a confiar cegamente nos seus colegas de trabalho.

*Nunca engane o músico, fazendo de conta que está ajustando ou modificando alguma coisa que ele pediu. Faça o que ele pede, a não ser que você não tenha mais recursos para fazer ou se achar que está no limite do equipamento.

*Tente de todas as maneiras convencer todos da banda, inclusive o cantor, a usarem fones ou in-ears. O resultado na qualidade do som na frente e no palco é muito melhor, pois não há vazamentos dos monitores de chão nos microfones e tudo fica mais fácil para os operadores de P.A. e monitor.

*Se a mesa não for digital, anote tudo em mapas de papel, e se agüentar o rojão, não volte para o hotel e veja o que está sendo modificado no sound check das outras bandas, para você não ter nenhuma surpresa na hora do seu show.

*E quando chegar a hora do seu show, faça o line check em todos os canais e certifique-se com seu amigo do P.A. se está tudo certo pra ele também.

*Não tire um minuto sequer o seu olhar do palco na hora do show. Deixe pra paquerar depois.

*Tome sua cervejinha depois do show, para evitar que alguém fale que um erro que você cometeu foi por causa de bebida.

*Faça questão de chegar antes da banda no local do show, pois você já pode ir adiantando as coisas.

*Leve sempre seu material de trabalho, como lanterna, fita crepe, fone, caneta retro-projetor, para não depender de ninguém. Essa vai para meu amigo Rogério (monitor de Alceu), que me deve umas 30 canetas e uns 10 rolos de fita crepe!

*E para finalizar, pense duas ou mais vezes antes de aceitar o convite para fazer o som do P.A., pois você corre um risco enorme de descobrir que monitor é coisa pra doido e não vai querer mais voltar para o palco para fazer este tipo de serviço!! Kkkkkkk (50% desta última dica é brincadeira).

Mais uma vez, espero que estes relatos ajudem alguém, em algum dia.
Até a próxima.

Um abraço a todos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Isso Titio! Praticamente resumiu o que é uma passagem de som. Claro que todo lugar é diferente, acústica, além do maldoso "tempo", você bem sabe que em muitas vezes temos 3 horas e em outros momentos 30 minutos.Depois você pode até comentar sobre esses "Fatores e circunstâncias" de uma passagem de som. Achei maravilhoso, oportuno e vou preparar um email coletivo para a equipe ler.
Abraços

Anônimo disse...

Pois é, conhecendo a banda, o estilo musical, fica menos difícil! Geralmente pego bandas de rock (todos os tipos: hard, emo, punk.. e também amadores, hobbystas, etc) e além de técnico, tenho que virar o mesário da banda e o roadie! Com meu humilde equipamento, faço o PA e monitor na mesma mesa, e como a maioria dessas bandas não são nada profissionais, chegam na hora do show e não passam o som (este marcado para à tarde). Daí tenho que deixar a passagem da banda anterior e ir ajustando ao longo do show. terrível. E ainda você só sabe o tipo de rock quando a banda começa a se apresentar. Sem contar com os péssimos instrumentos que a banda traz: guitarras velhas, com mal-contato, chiado e interferência. Lembro que uma vez um baixo captou uma estação de rádio, tivemos que mudar a posição do mesmo no meio do show. E quando é emocore, a coisa complica, costumo não sair da mesa! hehehe
Abraços e ótimo artigo, Titio. Certamente vou passar a seguir os seus conselhos!
Silvério, também já aconteceu comigo da passagem ser poucos minutos antes do show. Principalmente no início, quando eu demorar muito para montagem do equipamento. Mas atualmente, a passagem: ou acontece pela tarde, ou não tem! :D Abraços!

Anônimo disse...

Pois é Felipe! nós zelamos pela qualidade do material usado em palco, além que muitas vezes usamos nossos cabos, microfones etc...! mas, mesmo assim é raro uma passagem de som com "sobra" de tempo! acredito que é um conjunto de ações entre a dnâmica do tecnico (PA e monitor) e a atenção dos músicos em saber o que querem em seu monitor (chão oi in ear).Estamos eu e Titio planejando adquirir uma mesa para deixar nosso som de palco registrado, "salvo", mas, ainda não sentimos segurança para esse investimento (quantidade de shows etc...) Vamos em frente!!!! sempre muitos desafios que terminam amadurecendo o(s) profissionais! abraços

Titio disse...

Olá Felipe.
Em meados da década de 80, quando eu era Dj de uma saudosa boite no bairro das graças chamada Over Point, tive os primeiros contatos com o som ao vivo, pois a casa noturna tinha essa opção e eu tive que aprender na marra. Era uma mesa Staner de 8 canais no começo, depois passamos para uma Alesis de 16 canais e quando deixei a profissão de Dj era uma Mackie de 16 canais. Por ser uma boite, ela tinha um equipamento muito bom. Microfone sem fio Shure, vários SM57 e SM58, um SPX 900 e um quadraverb Alesis. Nesta época, eu fazia exatamente o que você faz hoje em dia. Ligava e desligava todo o palco, era o roadie e fazia o monitor e o P.A. da mesma mesa. Foi uma grande escola, pois passaram grandes nomes por lá, como por exemplo: Verônica Sabino, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Rosana, Léo Gandelman, Miele, Eliane, Netinho, Rosa Maria, etc, e ainda tinha o pessoal local: André Rio e a Banda Modelo do Meu Terno (eita, faz um tempinho), Weudes, Herberth (Azul), Pagunça, Renato Campelo, Jura, Mônica Feijó, Spok, e tantos outros nomes que se fosse tentar colocar aqui seria mais da metade do texto.
Gostaria de ter passado por uma firma de som aqui em Recife, pois acredito que seja muito importante essa escola, mas não tive a oportunidade de fazer isso, pois já comecei como técnico de monitor da Banda Versão Brasileira (sem nunca ter visto uma mesa de monitor). Meu irmão que era o tecladista da banda e de Alceu Valença falou com Bizoca para eu ir ao galpão dele para ter um contato com uma mesa de monitor, que na época era a famosa mesa da Studio R. Foi assim que tudo começou e eu não sei aonde vai parar.
Como falou Silvério, nosso sonho de consumo hoje em dia é viajar com uma 01V96 com a cena dos monitores gravada. Quem estava com esse setup no Abril Pro Rock foi Lobão. Faz ajustes ainda na hora do sound check? Faz, pois são outros microfones, outro ambiente, outras distâncias entre os músicos, etc, mas que já é uma “mão na roda”, isso é!
Em alguns shows na Europa, eu fico com o in-ear de Silvério na mesa de P.A. e faço o monitor dele, deixando o resto da banda com o operador da empresa de som. Na grande maioria das vezes, tirando um show na Holanda em que sai da mesa pra escutar como estava o som em outro local e esqueci que tinha que abrir o metrônomo para Silvério e quase derrubo a banda toda por isso, o resultado sempre foi muito bom. Sou fã de in-ears e/ou fones na monitoração e quando consegui colocar fones na banda toda de Silvério, fui transferido para o P.A.. Quem faz o monitor agora é Normando.
Quase que esta resposta vira um tópico (virou!).
Um abraço.

Anônimo disse...

muito boa sua postagem de som,claro que tem lugares deferentes.