segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Operando o som dO Grande Encontro em Recife - Quem diria...


Olá pessoal.
Só escrevo agora para o Blog ouvindo um "somzinho" na minha JBL Flip 4, usando o Deezer.
Viciei. Vou passeando pelos estilos... Flávio Venturini, Barro, Flaira Ferro, Frejat...
Vou até pegar uma lista de álbuns dos artistas Pernambucanos com Juliano Holanda, um dos idealizadores do Reverbo, que aconteceu no fim de semana passada, e que eu tive o prazer de operar o som de quase todos os dias. Evento espetacular. Mais um susto bom na minha trajetória.
Falando em dias...
No dia 25 de novembro, recebi uma mensagem no meu WhatsApp de Mário Jorge:
--- Oi Titio. Tás livre na sexta? Estou dirigindo, já te ligo.
Mário Jorge é o técnico de PA de Elba Ramalho faz muito tempo, e atualmente faz também o PA do "O Grande Encontro", com Elba, Alceu e Geraldo Azevedo. E uma banda espetacular!
Esperei ele ligar e conversamos.
No dia 29, O Grande Encontro (vou abreviar o nome - OGE) estaria em Recife, no Teatro Guararapes.

Nesse mesmo dia, Mário também estaria em Recife com uma peça de teatro, e ele não conseguiu colocar o SUB (substituto) que sempre faz para ele esta peça quando ele não pode, como era o caso desse dia 29.
Foi aí que entrei no plano de salvamento.
Que consistia em eu ir no dia do soundcheck do OGE, passaríamos uma cena de um show anterior para a mesa Venue MixRack, e passaríamos o que fosse possível.
Mário não poderia fazer todo o soundcheck, pois tinha que ir para o outro teatro ajustar as coisas para a peça, e nem poderia começar o show, pois a peça era quase na mesma hora do OGE.
O plano era eu assumir o soundcheck no meio, começar o show para Mário, e ele chegar no meio do show para assumir o controle.
Simples, né?
Eu nunca tinha visto o show.
Sem problema, falou Mário. Te mando o áudio do último OGE que gravei.
Ele grava todos!
Peguei o áudio e fui fazer o dever de casa.
Que eu me lembre, ouvi o show completo quatro vezes.
A primeira vez sem muito compromisso, só curtindo.
A segunda vez já observando alguns detalhes, mas sem anotar nada.
Na terceira vez anotando tudo que eu pudesse usar à meu favor.
Fiz um rascunho grosseiro nessa hora.
Só na quarta audição do show, fui ouvindo com mais calma, dando pausas, voltando alguns trechos das músicas, e fui ajustando este rascunho no WORD, como vocês podem ver na foto abaixo.

Clique na imagem para ampliar.

O roteiro do show é basicamente o mesmo, mas eles fazem pequenas modificações no dia, e eu só receberia este roteiro minutos antes de começar o show.
Como tem muito "abre e fecha" de canais, Mário montou todo show no SNAPSHOT da mesa Venue.
Snapshots na mesa Venue. Clique na imagem para ampliar.

Falando grosseiramente, a função Snapshot é como se ele tirasse uma foto de cada música, onde fica registrado muitas configurações dos canais e de toda mesa. Então cada música vai ter sua foto (configurações).
No OGE, ele só "tirou a foto" do liga-desliga dos canais (MUTE), e de configurações dos PLUGINS.
Se não me falha a memória, a função Snapshot na Venue só não consegue mudar o patch e o posicionamento dos canais.
Mas o resto ela faz.
É muita coisa que você pode modificar entre uma música e outra.
Mas isso é assunto para um texto completo aqui no Blog, o que não é o caso aqui.
Vamos para o Teatro Guararapes..


Segui para lá com minhas anotações impressas nas folhas de papel.
Mário passou a cena dele para a mesa, colocamos nossas músicas e escutamos o som do PA.
Foi um ajuste à quatro mãos.
O sistema já falava muito bem.
Um line array da JBL, modelo VTX A12, da Bizasom
Decidimos também eliminar os Snapshots das FALAS entre as músicas, pois achei que iria mais me atrapalhar do que ajudar. Passamos todos eles lá para baixo da lista.
Nestas cenas, basicamente o volume do efeito nas vozes diminuía para não atrapalhar as falas, mas decidi que faria isso na mão mesmo, usando o DCA responsável pelo volume dos efeitos.
Depois de conferir tudo no som, inclusive as quatro caixas responsáveis pelo front fill, aguardamos ligar as coisas no palco.
Quando já estava tudo ligado na bateria, pedimos para Rogério dar uma "tocada" para a gente já dar uma conferida como estava soando no PA.
Como o microfone usado no show anterior foi outro, o bumbo soou muito diferente do que queríamos, mas Mário ajustou rapidinho.
O resto da bateria já soou bem.
Foi mais um linecheck do que um soundcheck.
E só deu tempo de fazer isso, pois antes da banda chegar, Mário teve que ir embora.
Ele me explicou as configurações da cena dele, de como ele usa, e onde estão as coisas.
Ahhh. Passamos os microfones dos cantores, mas sem eles. Conferimos o timbre, o volume, e se teria alguma chance de realimentação quando eles fossem muito pra frente do palco, captando o som do PA. Tudo ok. Nada de realimentação, mesmo a gente forçando um volume alto e um posicionamento na frente das caixas do PA.
O ajuste final mesmo dos microfones seria na hora que eles começassem a cantar. Situação não muito confortável, mas era o normal desse show.
Fiquei aguardando a banda, para fazer o soundcheck completo.
Minha intenção era ouvir primeiro como iria soar cada peça, para só depois mexer.
Eu sabia que vários canais estavam com plugins de equalizadores insertados. Caso eu não gostasse do som, iria logo nestes equalizadores para "fletar" (Flat = Plano) a equalização. Zerar a equalização.
O soundcheck do OGE é muito parecido com o que fazemos em Alceu Valença.
Enquanto a banda vai ajustando o monitor no palco, o técnico de PA vai levantando e ajustando os canais na frente.
E foi isso que aconteceu.
Mas isso não quer dizer que não podemos pedir para um músico tocar algum instrumento ou peça isoladamente, para um ajuste fino.
Fui seguindo de acordo com o que era feito no palco.
E tudo foi muito rápido.
Pedi para ouvir pouca coisa isoladamente.
Alguns canais zerei a equalização e fiz outra, e em outros canais ficou exatamente como Mário deixou do show anterior.
Passamos os violões de Alceu e Elba, e o soundcheck foi finalizado, eu achando ainda que iriam passar mais uma musiquinha... (risos)
Um pouco depois disso, Geraldo Azevedo apareceu e passou o violão dele e a voz.
Legal. Já adiantou meu serviço.
Só me restava aguardar pelo começo do show.



Fiquei dando uma revisada nas minhas anotações, e nesse tempo me entregaram o roteiro do show.
Comparei com os Snapshots, para ver se estava na sequência certa. E vi que tinham colocado uma música que Mário falou que nem sempre entra, e colocamos ela lá no final da lista dos Snapshots.
Puxei ela de volta para sua posição, conferi novamente a lista com o roteiro, conferi novamente as anotações, e esperei o começo do show, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Definitivamente, não era a coisa mais normal do mundo pra mim naquela hora.
Quando deu o terceiro toque, respirei fundo umas três vezes, e fui seguindo o que eu tinha planejado com Mário Jorge.
Tava tão tenso, que nem lembrei de dar o REC nos dois gravadores portáteis que iriam gravar o show.
Ítalo (Bizasom) foi quem lembrou de dar o REC, mas só no meio da introdução de guitarra de Paulo Rafael na primeira música, que é Anunciação.
A minha principal preocupação naquela hora, era colocar as vozes no lugar.
E foi nisso que eu foquei, ajustando os ganhos, faders e equalizações quando Elba e Alceu começaram a cantar. Tive que fazer estes ajustes também em Geraldo, porque passar sozinho é uma coisa, e com a banda tocando é outra.
Mas foi tudo certo. Já ajustei o que eu queria na primeira música.
O resto foi seguir o roteiro com as anotações, mudando as músicas no Snapshot.
Como ficou o roteiro e as anotações ao final do show.

Na terceira música (ou quarta?) já estava a coisa mais normal do mundo pra mim! (eheheheheheh)
(Me) Analisando depois do show, os pequenos erros que cometi, que foram poucos, não interferiram no resultado final do trabalho.
Mário Jorge, como combinado, chegou para assumir o controle do show.
Só que já estava na última música, que fazia parte do BIS!!!
E quando esta música estava acabando, só ouvi Mário falando apressado: --- A música Titio, a música!!!!
Que música porra? Que música, Mário? Respondi sem saber que danado de música ele tava falando.
E enquanto ele continuava falando "a música, Titio, a música!", foi tirando o iPad dele da mochila e ligando no cabo que já estava conectado à mesa. E no último acorde da banda no palco, ele fala:
--- Abre o canal do iPad, abre o canal do iPad! Tem que tocar esta música no final do show!
Ele esqueceu de me falar sobre isso, e só ele tinha esta música!
Eu não tinha a menor ideia de que música ele tava falando.
Mas a música do iPad entrou na hora certinha! Parecia combinado.
E todos foram felizes para sempre!
Nenhum dos produtores esculhambou Mário Jorge (e nem poderiam), pois tudo correu bem.
E olhe que tinha produtor no evento, viu? Cada um tinha o seu, né?
Então era x3 (vezes três).
Já em casa, ouvindo a gravação do show, e falando como Mário pelo WhatsApp, falei que gostei mais do som no teatro, do que da gravação.
Que o bom seria gostar dos dois casos, mas pior seria um som bom na gravação e um ruim no teatro.
E finalizei perguntando para Mário:
--- Acho que o que queríamos foi alcançado, né Mário? Acho que ninguém ali no teatro, principalmente os produtores dos três artistas vão falar pra você "Tá vendo? A merda que você fez? Colocando outro no seu lugar? Você deixou a gente na mão!"
E Mário respondeu pra mim: --- Com certeza, Titio... Com certeza.
Muitos técnicos vão torcer o nariz com o que eu vou falar agora.
Acredito que a decisão de eu começar tudo em cima de uma cena de Mário Jorge de um show anterior, foi importantíssimo para o resultado que conseguimos. Sei que muitos colegas e amigos da profissão não fariam isso, mas... Foi o que decidimos fazer e acho que acertamos em cheio! Já substitui Mário em outros trabalhos, onde usei a cena dele pra começar, e também onde eu comecei do zero, montando uma cena inicial num restaurante, pois a mesa do PA foi trocada numa emergência. Nestes dois casos, foi show de Elba Ramalho.
Tudo depende da situação. Eu penso assim.

Mas o que tem a ver a foto desta mesa de 8 canais da Staner com este trabalho que fiz?
Pois é... Em vários momentos da minha caminhada, principalmente em desafios grandes, como este daqui, me vem na cabeça essa imagem da mesa Staner.
Foi numa mesa igual a esta da foto, que comecei minha caminhada no som ao vivo, quando eu estava ainda tentando aprender a ser um DJ na saudosa Boite Over Point, no final dos anos 80.
Várias vezes esta imagem da mesinha passou pela minha cabeça.
E sempre com uma frase acompanhando, como se fosse uma legenda: Quem diria... Quem diria...
Nunca imaginei que poderia chegar tão longe, enquanto mexia na Staner de 8 canais na Over Point.


Quem diria...
Um abraço a todos.
PS: Caso não consigam ver o vídeo acima aqui no Blog, clique AQUI para ver no Facebook, ou AQUI para ver no YouTube.