sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Naná Vasconcelos (BatucAfro) em Jardim São Paulo – Por que dois?



Olá pessoal.
Vou aproveitar que faltou energia aqui na rua para continuar com os textos dos últimos trabalhos que aconteceram no Carnaval 2015.
A energia voltou antes de 10 segundos, mas nas tomadas está dando menos de 110 volts, e caindo...
Agora marca 63.
Está caindo mais do que as ações da esquartejada Petrobras.
Mas aqui não é blog político, vamos aos shows.
Fiz três shows de Naná Vasconcelos neste carnaval.
Este show se chama BatucAfro.
Ele fez já este show em anos anteriores, mas eu nunca tinha feito.
A formação é um pouco diferente da chamada formação “normal”.


A banda é formada por 4 percussionistas que se revezam tocando caixa, conga, repique, pandeiro, timbal (dois), ganzá e gonguê. Tem 4 gêmeas na banda. Duas tocam caracaxás e/ou alfaias.
E as outras duas tocam cavaquinho e bandolim.
Para completar o time, tem 3 vocais e 3 metais (trompete, trombone e tuba).
Naná usa um bombo Turco durante todo o show.
Seria o meu substituto para o bumbo da bateria.
Neste ano, teve uma convidada que participou dos três shows do carnaval.
Lura, uma cantora Africana de Cabo Verde.
Para quem não sabe, o português é a língua oficial de lá.
Ela participou também da Abertura do carnaval no Marco Zero.
Pois bem...
O primeiro show foi no Polo Jardim São Paulo, um bairro perto de onde eu moro.
A única coisa que consegui saber dos equipamentos foi que as duas mesas (PA e monitor) seriam a M7CL da Yamaha.
Antes de começar a falar sobre o show, vou abrir um parêntese aqui, que na realidade é o ponto principal deste texto.


Quando vi que a formação da banda não era tão simples, e eu sabia que normalmente Naná Vasconcelos só leva um operador de áudio, passei um email para a produção do artista falando um pouco do meu ponto de vista sobre o assunto.
Nunca fui fã da ideia de apenas um operador de áudio.
Todos os shows anteriores de Naná Vasconcelos onde operei o som, sempre só fui eu como técnico.
Mas nestes shows, ou era ele sozinho, ou era ele com Lui Coimbra, um violoncelista.
Quem costuma ler os meus textos aqui deve lembrar de vários destes shows.
Teve até um que foi com outros dois músicos. Naná mais um percussionista com outro músico no violino.
Esta formação com 3 músicos foi a maior formação que eu participei antes.
E uma vez tive que fazer o PA e monitor deste show.
Tudo bem, não tinha muitos canais e nem muitas vias para gerenciar.
Deu para fazer, mas não foi tranquilo.
Neste dia tive que fazer o som do monitor e do PA usando a mesa de monitor no palco, sem poder ir à frente ouvir como estava.
Falei deste show aqui anteriormente.
O SESC onde foi feito este show não “empresatava” o técnico para operar o som do monitor.
O artista tinha que levar os dois técnicos, ou o técnico tinha que fazer os dois serviços.
Tentei convencer a produção nestes shows do carnaval a levar dois operadores de áudio nos três shows que estavam marcados, mas não teve jeito.
A produção alegou que sempre fez assim, e que este ano seria do mesmo jeito.
Ok, vamos em frente...

A energia aqui não chega nem perto dos 220V.
Quero só ver quando a prontidão vai consertar isso.
Liguei pra eles um pouco antes da meia-noite.
Deram uma previsão de duas horas para o conserto!
Quarenta e sete minutos se passaram.
Quando vou sozinho para um trabalho destes, já aviso que não faço os dois trabalhos.
Faço o monitor ou o PA.
Primeiro, porque estou tirando o trabalho de outro operador de áudio.
Segundo, porque não sei fazer direito um serviço, quanto mais fazer dois ao mesmo tempo?
Outra coisa que não acho legal é alinhar os monitores do meu jeito, e depois falar para o técnico da empresa:
--- Pronto. Faz o resto.
Curto isso não.
Não acho ético.
Se é ele quem vai fazer o monitor do show, que faça do jeito dele.
Quando cheguei no palco e contei os monitores, já vi que não daria para fazer como estava no rider técnico.
Lembrei do show anterior que fiz com Alceu e comecei a fazer os cálculos novamente.
Nem lembro quantos monitores eles tinham lá.
No rider do BatucAfro eu peço 13 monitores.

Acho que eles tinham somente sete pelo que pude ver nas fotos que tirei.
Distribuí como podia os monitores e ajudei o técnico a ligar os canais no palco.
Quando estava bem adiantado, fui para a house mix escutar o PA.
Não perguntei que PA era aquele. Mas deveria.
Ou era “feito em casa” ou era um Leacs ou coisa do gênero.
Staner não era.


Em anos anteriores, o Staner era o mínimo em termos de line array.
Este ano caiu um pouco este mínimo.
Coloquei meu CD para tocar... Não soava mal.
Não era um NEXO, mas também não chegou perto do timbre do side no show em Olinda com Alceu.
Dei meus ajustes no EQ gráfico insertado no L/R e seguimos com o soundcheck.
A house mix, para variar, não estava centralizada! (risos)
Para que deixar no centro, não é mesmo?
Passamos o som.
Ficou razoável.
Fui no palco e salvei a cena de monitor no meu pendrive, para alguma emergência. 
Uh uhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
220 volts!
Voltou ao normal a energia aqui.
O relógio marca 1h:25m.
Para o nosso padrão de serviços, foi até rápido, não é? 
Foi menos que as duas horas que a atendente me falou. 
Não vi muita agonia no palco com relação aos monitores.
Achei que seria pior.
Fui para casa, esperar pela hora do show.
Eu levava menos de dez minutos de carro para chegar ao local.
Foi tranquilo voltar à noite, estacionei legal atrás do palco.
Nossa hora chegou e segui para a house mix enquanto faziam a mudança no palco.
À medida que iam ligando nossos instrumentos eu ia checando na frente com o fone, e de vez em quando abria o canal na frente para dar uma ouvida rápida.
Pedi para passar as duas alfaias e os caracaxás porque as duas gêmeas da percussão não tinham ido ao soundcheck à tarde.
Notei que sempre que checavam as coisas no palco, os músicos pediam novamente ajustes nos monitores.
Nos primeiros instrumentos achei normal, poderia ser uma “besteira” de ajuste.
Mas quando vi que isso estava acontecendo em todos os canais, entrei em contato com o técnico de palco da empresa e perguntei se estava havendo algum problema com a cena de monitor, e lembrei para ele que eu tinha a cena gravada no meu pendrive.
Ele me falou que não tinha problema nenhum e continuou fazendo os ajustes em quase todos os canais que ia checando.
Por causa disso, achei que ia ser uma catástrofe o show, com realimentações no palco.
Mas nem sempre acerto as minhas previsões.
(AINDA BEM!!!)


Não teve as realimentações que eu imaginei.
O som da frente estava melhor do que no soundcheck, mas ainda assim eu não gostei.
Achei tudo um pouco estridente, além de não gostar de certos sons de instrumentos.
Da mixagem em si.
Não sei...
Foi o primeiro show também, isso pode ter influenciado no meu ponto de vista.
Não achei redondo (sonoramente falando).
Mas o show estava redondo.
Lura, a cantora de Cabo Verde, arrebentou!
Ela se encaixou como uma luva nesta formação que Naná Vasconcelos criou.
Sem bateria, sem guitarra, sem baixo, sem teclados...
Nunca tinha feito o som deste show, e achei muito legal.
Esperava gostar mais ainda do som nos outros dois shows que faltavam.
Conversando com os músicos depois, me contaram que no palco foi “difícil”.
A monitoração foi sofrida para quase todos, principalmente os vocais, os metais e as duas cordas, onde os instrumentos quase não emitem som acústico.
Imaginei.
Notei várias vezes Lura apertando o ouvido para se achar no tom.
Isso era um sinal que ela não estava se escutando direito no palco.

Lura (tentando se escutar).
Aí vem a pergunta:
--- Por que dois (operadores)?
Exatamente para evitar ao máximo esta situação.
O risco é absurdamente menor quando vão os dois operadores.
Como aconteceu no trabalho anterior que fiz com Alceu Valença, neste aqui também não tinha o mínimo de monitores pedidos no rider técnico.

Avisei para os músicos que no próximo show eles não iriam sofrer, pois eu sabia que o equipamento do palco no Alto José do Pinho iria suprir nossas necessidades.
Um abraço a todos.