quarta-feira, 9 de abril de 2008

Show fechado - Um risco em alguns casos.

Dia 2 de abril trabalhei num show fechado (só para convidados – não existe bilheteria). Era um congresso do SINTEPE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Pernambuco. O show foi realizado num auditório de um hotel no Cabo de Sto Agostinho - Pernambuco. Um espaço para umas 600 pessoas, preenchido na sua quase totalidade por cadeiras. Esses shows são bem complicados de se fazer (do ponto de vista do artista), pois ele pode não ter o perfil do público que está no local. Ao contrário de um show pago, aonde as pessoas vão espontaneamente ao evento para ver determinados shows. Presenciei em janeiro de 2008, ao ser contratado para gravar o áudio de um evento fechado de um banco na maior casa de shows de Recife, um artista de projeção nacional ser totalmente ignorado pelo grande público que estava no local. Era um show surpresa, ou seja, as pessoas que estavam no evento não tinham idéia de quem seria o show. Notei que o público estava mais para um show de alguém lá da Bahia, mas o artista que fez o show não tinha nenhuma influência musical daquela região! Resultado, o show foi um dos mais frios que vi na minha vida, fazendo com que a maioria das pessoas saísse do salão, indo para a área externa conversar. Até o artista notou a roubada em que estava metido, pedindo oralmente animação para os poucos que ficaram na frente do palco! Não teve jeito. O show transcorreu insosso do começo ao fim. Acredito que na grande maioria das vezes, esses fatos são causados pelos próprios empresários dos artistas que não se preocupam muito se o perfil do público vai se encaixar com o do artista nestes congressos. Imagino também que não é nada fácil para estes empresários saberem qual vai ser o perfil, principalmente depois de ver o cachê depositado antecipadamente! Mas acredito que algumas coisas podem ser evitadas, como por exemplo, um show de Carlinhos Brown na mesma noite do Heavy Metal! Lembram do episódio? Seria a mesma coisa que contratar um show de Capital Inicial para um congresso de cirurgiões cardiovasculares ou contratar um show de Yamandú Costa para um congresso de professores de educação física. Só consigo ver tais misturas em festivais da Europa. Aqui no Brasil é muito complicado colocar diferentes gêneros num mesmo evento.

Voltando ao evento do SINTEPE...

Na van, a caminho do hotel para a montagem dos equipamentos, comentei com os outros técnicos, Normando (operador de monitor) e Roberto Riegert (iluminador), que estava achando tudo muito tranqüilo, com tempo de sobra para fazer as coisas. Todos riram. Mas realmente não teve agonia mesmo não. Tivemos o tempo necessário para ligar os equipamentos e esperar o artista com a banda para passar o som. O equipamento era muito bom, um line array (4 caixas por lado) D.A.S., mais 4 subs (2 por lado), duas mesas digitais M7CL e um monte de luz, que por não ser minha praia, não vou entrar em detalhes. Aproveitei para fazer uns testes com uma nova ligação na voz do artista que passa por um Kaos Pad, mas não gostei do resultado e não usarei mais. Acontece uma coisa engraçada nessas passadas de som. Adaptamos-nos ao tempo que temos para fazer o “sound check”, ou seja, quando temos pouco tempo pra fazer, na maioria das vezes conseguimos fazer neste tempo, e quando temos muito mais tempo pra fazer, fazemos a mesma coisa que fizemos no tempo curto, só que usando todos os minutos deste tempo longo. É um relaxamento natural. Uma das coisas mais rápidas que fiz em show, foi no Verão Vivo da Bandeirantes aqui em Recife, trabalhando para a Banda Versão Brasileira, em que trocamos o palco entre duas bandas num intervalo comercial. Tínhamos somente 3 minutos para fazer uma coisa que geralmente leva de 15 a 30 minutos no mínimo! O planejamento foi muito bem feito. Vamos voltar novamente ao evento do SINTEPE (me desculpem, pois sempre lembro de outros fatos relacionados ao que estou falando).

Roberto Riegert (iluminador, parceiro nas viagens e nas horas de tomar vinho chileno!) mostra suas ferramentas de trabalho. A mesa que controla as luzes e o laptop ligado ao teclado para disparar as projeções.








Não recordo com certeza a hora que acabamos o “sound check”, mas acredito que foi por volta de 18:30 ou 19h. Tinha tudo para ser um show tranqüilo, mas para mim não foi, diferentemente da monitoração feita por Normando que foi muito tranqüila e elogiada por todos da banda e pelo cantor. Fomos para o camarim e ficamos esperando a nossa hora, pois o show estava previsto para começar as 20h. Grande engano! Houve um atraso significativo, e começamos lá para as 22h ou mais. Pouco antes de começar, fiz um “line check” (conferi se alguns canais estavam chegando certinho), pois exatamente os canais relacionados ao cantor tiveram que ser desligados para que alguma coisa ou pessoa ocupasse o mesmo lugar no palco, pois haveria uma apresentação teatral depois das palestras e antes do show. Tive problemas com os dois canais de voz, que estavam chegando com uma diferença de volume. Este problema também interferiu na monitoração. Após alguns minutos, consertamos este problema, e começamos o show, mas mesmo assim os canais chegaram muito mais baixos do que tínhamos deixado e eu tive que aumentar rapidamente os ganhos dos mesmos na primeira música. Já ouviram falar da Lei de Murphy? Ela diz entre outras coisas, isso: “Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.” Quem quiser mais detalhes dessa Lei de Murphy, é só ir neste link: http://www.facom.ufba.br/com024/murphya/murphy.htm .

Continuando...

Não estava me sentindo confortável com o som, achava que estava sem definição em alguns pontos. A minha mesa não estava no centro, me fazendo constantemente sair da minha posição, indo até o centro para ouvir como estava. Alexandre, que fazia nossa produção, veio me falar que tinha ouvido algumas pessoas falarem que estavam achando que os instrumentos estavam cobrindo a voz do cantor. Sou o típico do operador que não faço o som pra mim, e sim para o público, e sempre levo em consideração os comentários na hora do show, desde que eu ache que os mesmos fazem sentido. Dou sempre uma averiguada em alguns comentários. E nesses lugares fechados e pequenos em que o público fica muito perto do palco, temos o velho problema da soma do volume do som dos instrumentos que sai no P.A. com o volume do som acústico dos instrumentos e amplificadores que sai do palco. Temos que dosar isto o tempo todo durante o show. Quanto mais o guitarrista aumenta seu amplificador ou o baterista bate com mais força na caixa, menos volume colocamos dessas peças no som da frente. Quanto maior e mais aberto o espaço, temos menos interferências deste som que vem do palco, facilitando a mixagem. A sala tinha, se eu não me engano, 16m de largura por 32m de comprimento. Mesmo sendo um line array, que produz uma cobertura muito mais homogênea que um sistema convencional, ainda senti que o som geral nas proximidades do palco estava muito mais forte do que o que chegava pra mim na mesa. Lógico! Quem saiu das cadeiras e foi para perto do palco, ouvia o som do P.A. com uma soma muito forte do que vinha do palco. Mas não tinha só público na frente do palco, tinha muita gente vendo o show das cadeiras onde estavam sentadas, e eu tinha que mandar som para essas pessoas, que não ouviam com a mesma intensidade o som que vinha do palco. Resumindo... Passei um tempinho para equilibrar estes volumes, que ainda acho que não ficou 100% (tenho que acabar com esta mania de sempre me criticar - kkk), mas o que faltou (se é que faltou, não é?) para chegar nestes 100% só seria notado por quem trabalha com isso, o que não era o caso daqueles professores. O mais importante é saber que não houve mais comentários em relação ao som e todos os CDs e DVDs levados pela produção foram vendidos!

Uma torre de delay poderia até ajudar neste show, mesmo naquele espaço, mas torre de delay já é assunto para um outro tema.

Estou juntando casos de métodos (não muito comuns) usados por proprietários de empresas de som, para receberem o dinheiro do aluguel do equipamento. Aguardem. Tem muita coisa interessante.

Um abraço a todos.



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