sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Turnê com o SESI Bonecos pela Bizasom (Belo Horizonte) – Fechando ciclos, como diria um cantor amigo meu.


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Olá pessoal.
Não muito bem acomodado ainda no meu quarto novo aqui em Recife, enquanto um dos meus amigos discute o relacionamento com a namorada na sala, resolvi começar a escrever sobre o evento em Belo Horizonte. Pensei que não iria sentir muito a mudança de moradia, mas errei feio desta vez. Muito estranho o fato de eu ter saído para a turnê morando num local e voltar da turnê morando em outro local! Estranho, não acham? Ou vai dizer que alguém aqui já passou por isso? Mas mesmo sendo estranho, não esperava sentir tanto. Ainda estou me sentindo um estranho no ninho aqui. Mas o tempo deve modificar este sentimento, tenho certeza disso. Será mais um ciclo fechado na minha vida. O tempo...
O tempo até que não estava frio em Belo Horizonte. Mais uma vez só nos deixaram montar e ligar o equipamento de som na sexta-feira. Virou até rotina. Ainda fomos na quinta-feira lá, mas o teto do palco não estava levantado. Normalmente são perfurados buracos no local aonde são colocados pinos para amarrar com cabos de aço as estruturas. Ouvi o pessoal falar a palavra “estanhar” para definir esta ação, mas não encontrei esta definição no dicionário online que tenho aqui. Mas que eles falavam estanhar, falavam!

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Neste local não era permitido furar. A solução então era amarrar as estruturas com pesos. Para isso existem grandes recipientes (ou tonéis) que são enchidos com água (ou areia) aonde se prendem os cabos de aço para fixar as estruturas. O pessoal responsável pela montagem da estrutura, com receio de algum vento forte, não levantou o teto do palco porque estes pesos não estavam no local. Adiantamos o que podíamos na quinta-feira, mas a maior parte ficou mesmo para a sexta-feira, inclusive para ser ainda descarregada do caminhão! Por isso combinamos sair com o pessoal da montagem logo cedo no ônibus. Acordei-me às 6:30h para sair às 7:30h. Fazia tempo que não me acordava tão cedo nesta turnê. Chegando ao local, os carregadores tiraram nossos equipamentos do caminhão, mas o teto do palco ainda estava embaixo, por isso Rodrigo não poderia posicionar as caixas do PA. Para adiantar, ele foi montando as torres de delay com Marcelo. Eu fiquei posicionando e ligando minhas coisas na house mix.
Detalhe dos recipientes com água usados na amarração das estruturas.

-->Enquanto isso...
Meu amigo ainda discute a relação na sala! Eu já estou com uma pequena vontade de abrir minha garrafa de Travessia da Concha y Toro! Minhas pernas doem, pois estou sentado na minha cama com as pernas cruzadas! Estou pensando também em comprar dois chips da Tim para poder falar mais tranquilamente com meu filho nas minhas viagens, pois a promoção de falar por 25 centavos para qualquer lugar do país é muito boa. Já volto para BH neste domingo de madrugada para fazer o FITO (Festival Internacional de Teatro de Objetos) e passo uma semana lá! Estou pensando o que fazer com Raian (meu filho) neste sábado. Tudo isso passa pela minha cabeça enquanto escrevo aqui.

-->Voltando à Praça da Estação em Belo Horizonte... Ainda esperávamos pelo içamento do teto do palco para dar continuidade ao nosso trabalho. Não tínhamos mais nada para fazer, a não ser esperar. Tudo que poderíamos fazer, foi feito. Só faltava levantar as caixas do PA e testar o som. O horário do primeiro sound check foi mudado. Sabia que eu iria entrar na madrugada por causa disso. Voltamos do almoço e esperamos um bom tempo ainda pelo levantamento do teto. Nunca tivemos um atraso tão grande em todo o evento. Mas não tinha nenhuma apresentação neste dia. Era só o sound check das companhias que se apresentariam no sábado. Por isso não fiquei receoso. O máximo que poderia acontecer era entrar madrugada adentro fazendo o serviço. Nem lembro que horas acabou o sound check. Acho que antes das duas da manhã eu já estava no hotel. Mais cinco horas e eu teria ficado 24 horas no local do evento! --> -->É... Nem tudo são flores nesse meu trabalho. Tem muito amigo meu ainda que pensa que estas viagens que faço é um passeio turístico! Ficam sem acreditar quando me perguntam como é a cidade e eu não tenho muito o que falar porque quase não saí do hotel. Sendo bastante sincero, com muito dinheiro sobrando no bolso, dá realmente para transformar estas idas à trabalho num passeio turístico. -->Principalmente este do SESI em que eu tinha três noites completamente livres! Mas como não tinha dinheiro sobrando, e minha intenção lá não era gastar dinheiro, e sim ganhar, não conheci muita coisa. Fiz a “velha feirinha” de abastecimento do frigobar que vocês viram no texto anterior sobre Cuiabá, e tomei meus vinhos no quarto vendo programas esportivos ou jornalísticos (mais esportivos, para ser sincero!). -->Acho que está na hora de abrir a garrafa de Concha y Toro! Já passou das 22h aqui na capital Pernambucana, e meu amigo ainda discute a relação lá na sala! Mas vi que está tudo ok, pois já estão vendo A Grande Família na TV abraçados no sofá que ganhei de presente dos amigos! -->Estava focado em não errar novamente na operação do som da companhia XPTO que seria no sábado. Nem falava direito com Waltinho (iluminador) enquanto seguia o roteiro no meu laptop. Quase zerei o percurso. Achei que meu desempenho foi 99,58%. (risos) Lá vem eu novamente com o perfeccionismo absurdo! Só teve um pequeno deslize, que só conta nos meus cálculos perfeccionistas. Antes de abrir os canais de alguns atores que estavam fora da cena, eles começaram a gritar (foi tão alto que ouvi da house mix!) nos bastidores antes da cena anterior terminar. Com o susto, abri os canais antes de eles entrarem em cena. Não tem diálogo normal neste espetáculo. Eles se expressam com gestos e usam palavras inexistentes do vocabulário, mas dá para entender o significado por causa da cena. O resto foi tudo perfeito. Música na hora certa, efeito de torcida nas horas certas, efeito na voz na hora certa. Já dá para eu ser o SUB (substituto, quando ele não puder fazer) de Alonso (operador de áudio da XPTO, e agora leitor do meu Blog). Não é Alonso? No detalhe, o roteiro do XPTO (desfocado) no meu laptop. -->
Lembrei agora que a única coisa de diferente que aconteceu em BH foi que mudaram o posicionamento dos telões e das torres de delay que ficam atrás da minha house mix. Normalmente os dois telões ficam na mesma linha nas laterais atrás da house mix e na mesma distância do PA. Então as duas torres de delay que ficam ao lado de cada telão têm o mesmo tempo de atraso no som em relação ao som que vem das caixas do PA. Estas torres têm que ter o som atrasado, pois o som que vem das caixas do PA vai levar um pequeno tempo para chegar até o ouvinte que está perto das torres de delay. Sem este atraso, o ouvinte vai ouvir primeiro o som da torre que está próxima dele para depois ouvir o som das caixas do PA que estão bem afastadas. E isso causa uma confusão (um eco) que atrapalha a inteligibilidade.
Dessa vez, colocaram um telão no local normal e o outro telão com a respectiva torre de delay foi para bem mais longe da house mix. Resumindo... Teria que colocar outro tempo de atraso (delay) para esta torre bem mais afastada do PA. Os dois telões com as torres de delay. Um logo atrás da house mix e o outro no fundo à esquerda.
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Existe uma fórmula para calcular o tempo que você tem que atrasar o sinal depois de saber a distância entre uma torre de delay e o PA, mas nunca decorei esta danada!
Existe também um binóculo que usamos para medir estas distâncias. Neste binóculo tem uma cruzinha no visor que você aponta para o local que você quer e aperta um botão que ele informa qual a distância de onde você está para o local que você apontou. Como não tinha o binóculo e nem lembrava da fórmula, fui no meu método antigo mesmo. Na mesa da Digidesign, o tempo de delay já está em metros (você pode escolher isso em OPTIONS > INTERACTION), o que facilita bastante. É só você saber a distância entre uma fonte e outra e colocar na mesa. Como não tinha o binóculo, fui até as caixas do PA e saí contando com passos largos a distância para a primeira torre (que já estava com o tempo de atraso certo) e para a torre bem mais afastada. Cada passo largo era um metro. Deu uns 56 passos para a torre mais afastada. Fui na mesa e coloquei 56 metros de atraso para esta torre. Aí fui conferir se estava tudo certo com meu instrumento de trabalho. Meu ouvido!
-->Para fazer esta conferência, coloque para tocar um som seco sem efeito repetidas vezes. O som de uma batida de uma caixa da bateria por exemplo. Como eu não tinha este som, coloquei o som de um metrônomo (cowbell) que tenho num MD do show de Silvério Pessoa. Fui me afastando das caixas do PA em direção a primeira torre de delay logo após minha house mix. Ao passar da torre de delay, continuei a escutar uma única batida do metrônomo (toc). Parecia que tinha um único sistema de caixas funcionando. Isso quer dizer que o tempo de atraso desta torre estava correto. Fui em direção da torre mais afastada e quando passei a escutar o som desta torre, notei que agora não existia uma única batida. Ouvia duas em cada batida (toc-toc). Isso quer dizer que o tempo não estava correto. Estava escutando um eco (para os leigos). Como saber se eu tinha errado para menos ou para mais no tempo do atraso? Não sei se por eu ter sido DJ e ter lidado com sincronia de batidas me ajudou nesta minha atual profissão, mas eu consigo notar qual som está chegando primeiro. Neste caso eu consegui notar que escutava primeiro o som que vinha da torre de delay para depois ouvir o som do PA. Coloquei menos tempo de atraso que o necessário. Os meus 56 passos não correspondiam a 56 metros. Teria que aumentar este tempo. Pedi para meu colega de profissão Rodrigo ficar na torre escutando enquanto eu aumentava o tempo de delay (atraso) na mesa. Quando cheguei em 58 metros, ele disse ok. Fui lá só conferir de teimoso, mas estava tudo certo. Ainda acrescentei uns centímetros no tempo, mas coisa de perfeccionista mesmo! Nada que o público que estava ali notasse. (risos) -->
Fora isso, nada de novo para contar. Até as fotos são as mesmas. Sempre tento enquadrar o que está atrás do palco para poder mostrar que é em local diferente! Ou então peço para tirar uma foto minha com a camisa da cidade! (risosssssssssssssssssssssssssssss)
No sábado também não teve nenhuma novidade (curiosidade) que pudesse comentar aqui.
Nunca tinha participado de um evento desses. Bonecos. Diferente. Mais simples que um show com banda, mas prazeroso do mesmo jeito. Legal esta diversificação no meu trabalho. Mais um ciclo que se abre na minha profissão, como mais um ciclo se abre na minha vida pessoal (ou se fecha). Uns ciclos se fecham, outros não. Uns nunca se abrem! Janjão... Mais uma vez o vinho fazendo efeito!
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Sempre (pelo menos, tento) misturo os assuntos profissionais com os pessoais nos meus textos, pois acredito que um depende do outro, sempre! Um interfere no outro, por mais que você tente separar! Meu Pai morreu um dia antes da re-inauguração da Boite Over Point onde eu era DJ (lembram que só coloco letras maiúsculas quando respeito a palavra?) aqui em Recife. Devo muito a esta Boite (ou Boate, como queiram). O proprietário, Rogério Amorim, veio me perguntar se eu queria cancelar a re-inauguração e eu disse que não mudaria nada o cancelamento. Muita gente tinha se programado para aquela noite, alugado roupa e tudo mais! Eu teria que fazer a noite. Fiz a noite chorando (do mesmo jeito que choro agora lembrando), mas fiz. Tentei ao máximo que uma coisa não interferisse na outra, mas era impossível! Não sei se fiz a coisa certa, mas achei que era a certa naquele momento. Hoje já acho que não foi certo. São ciclos. Arrependo-me (o maior arrependimento da minha vida!) de ter deixado meu Pai naquele hospital um dia antes da sua morte para cumprir com minhas obrigações no trabalho, mesmo sabendo que ele iria me mandar trabalhar. Não cometam o mesmo erro! Foda-se o trabalho!
Deixei de ir a muitos casamentos de amigos porque tenho uma aversão absurda a igrejas (ou políticos), seja qual for a religião (ou partidos).
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Hoje me arrependo de não ter ido a muitos desses casamentos! São ciclos.
Demorei doze anos para dizer Eu Te Amo para minha Esposa, e quando resolvi dizer (pois só descobri que realmente a amava com a separação), não tinha mais tempo! Acreditem, nunca disse estas três palavras pra ela durante 12 anos! São ciclos.
Não tenho nenhum arrependimento quanto a políticos ou partidos! Troco (como já troquei) um dia de votação por um churrasco. Pago a multa depois. Nada até agora me fez mudar de opinião sobre política. Acho até muito difícil, pelo que ainda vejo acontecer, que eu mude de opinião neste caso.
Já deixei de ir a enterros, por achar (egoisticamente) que não era legal pra mim ver um ente querido morto. Não fui ao enterro da minha Mãe (tinha 7 anos), não fui ao enterro do meu Pai, não fui ao enterro dos meus Irmãos. Nunca meu amor por eles foi menor por causa disso (só eu sei disso), foi só um egoísmo meu. Mas se o tempo voltasse atrás, não deixaria de estar presente. São ciclos.
--> Fui para o enterro de um grande amigo meu (grande amigo mesmo!) uns anos atrás, e não foi para dar satisfação para ninguém, foi para dar início a um novo ciclo na minha vida. Foi bom ver Carlos morto? Não. Foi absurdamente ruim! Toquei na sua mão e me assustei com a frieza. Nunca tinha tocado num morto, principalmente num amigo que vivia beijando a careca dele. Mas não me arrependo de ter ido. São ciclos. -->
Acredito que fiz um bom trabalho no SESI Bonecos, pois já fui chamado pela empresa para fazer outro evento esta semana que vem em Belo Horizonte novamente. Agora serão objetos! FITO (Festival Internacional de Teatro de Objetos). Mais um ciclo que se abre.
Sintam-se bem no profissional, que isso reflete no pessoal... Ou vice-versa.
Aproveitem e aprendam com seus ciclos.
Este Blog está cada vez menos parecido com os bastidores de um show!
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Um abraço a todos.

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