segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Line Array “made in home”. A dor de cabeça dos operadores de áudio.

Olá pessoal.

Fui operar o som do show de Silvério Pessoa na Fliporto (Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas). O formato do show seria acústico. Violão, violas, acordeom e um kit simples de bateria.

Ao todo dezoito canais. Tinha ligado para o responsável pelo som e perguntado qual era o equipamento disponível. Só notícias boas (rsrs). Apenas uma mesa de som. E posicionada na lateral do palco! A mesa era uma boa digital. Menos mal.

Silvério me pediu para fazer a monitoração com caixas de som, pois não estava muito seguro ainda para usar fones com este show.

E quando o responsável falou que tinha um “Linezinho” no P.A., já sabia que era mais um “feito em casa”. Não tem erro. Quando o Line é bom, o responsável faz questão de falar a marca, e quando não é, ele só fala que tem um Line (ou Linezinho) no P.A..

O nosso sound check estava marcado para as 16h, mas ocorreram alguns desencontros de horários entre a nossa produção e a produção do evento e só saímos de Recife depois das 16:30h. O grande problema é que o horário do nosso sound check não foi mudado. Resumindo... Não teríamos mais horário para passar o som, pois o sound check de Gabriel (O Pensador) estava marcado para depois do nosso e acabaria minutos antes do horário de abertura da casa de eventos.

Prós? Só um. A boa mesa digital.

Contras? Cinco! Apenas uma mesa para fazer P.A. e monitor. Mesa posicionada na lateral do palco. Monitores de chão. Line Array caseiro. E não teria tempo para fazer o sound check.

As probabilidades não estavam nada a meu favor.

Quando chegamos ao local, o pessoal de Gabriel estava passando o som. Não gostei do timbre do P.A.. Como falei anteriormente, o Line Array era “feito em casa”. Uma cópia grosseira de um dos melhores Line que eu conheço, o (Francês) Nexo. Por causa dessas cópias grosseiras, as licitações para a locação de equipamentos de som para eventos da prefeitura aqui em Recife já exige que os Line Array sejam industrializados, pois antes não tinha esta exigência e as empresas(?) de som de som colocavam estas cópias no evento, prejudicando (e muito!) o nosso trabalho. Poderia usar todo o espaço deste tópico do Blog para falar destas cópias (grosseiras!!!), mas quando eu tiver com paciência eu dedico um texto só para isso. Vamos seguir com o evento em Porto de Galinhas.

Esperei pelo término do sound check de Gabriel e corri para montar nossas coisas. Tinha feito uma sessão da mesa no meu laptop, mas só iria usá-la se eu tivesse tempo para começar do zero, mas já sabia que não teria tempo, pois Gabriel estava marcado para acabar sua passada de som minutos antes da casa abrir.

Foi uma correria!

Tentei usar a regulagem do operador de áudio de Gabriel, mas não gostei. Zerei tudo e fiz rapidamente uma equalização corretiva para o som do P.A., que mesmo assim ainda não teve jeito de ficar legal. E tenho certeza mais que absoluta que se tivesse todo tempo do mundo, não conseguiria fazer com que aquele P.A. falasse um pouco parecido com o Nexo! Quando penso numa distância entre os dois sistemas, só me vem a medida ano-luz na cabeça (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ano-luz ). Dá pra ter uma idéia agora da diferença?

Tinha falado com André (acordeom) para colocar fone pra ele e assim fiz. Para o restante da banda, inclusive Silvério, usei monitores de chão e não tive tempo pra alinhar os mesmos. O risco de microfonias (realimentação) era muito grande.

As pessoas já começavam a entrar quando eu pedi para o baterista bater no bumbo! Enquanto isso, para ajudar mais ainda, uma música tocava no sistema de som. A ordem que eu tinha era que não poderia abrir o som dos instrumentos no P.A., mas essa ordem foi descumprida segundos depois de iniciar meu desautorizado sound check. Deixei para a produção resolver isso, pois tinha que fazer o meu.

Como era uma mesa só para fazer as duas coisas (som da frente e som do palco), tudo que eu fazia na equalização dos instrumentos refletia nos dois sons. Eu teria até como separar isso, duplicando os canais na mesa via ligações internas digitais e usando um canal para frente e o outro canal duplicado para o palco, mas não tinha tempo pra fazer isso. Existiam outras prioridades.

Vou explicar uma coisa aqui um pouco mais técnica, mas acho importante tocar no assunto para que possam entender a situação que passei e que sempre existe a possibilidade de acontecer.

Com a mesma equalização dos instrumentos para os dois sistemas (P.A. e monitor), quando estava bom para o monitor, não estava bom para o P.A.. Vou dar um exemplo. Passando a voz do cantor para seu monitor, ele me pede para dar mais brilho, pois acha que está muito abafada sua voz. Ok. Aumento o ganho das freqüências agudas para dar este brilho que ele quer. Ele fala que está perfeito agora. Abro esta voz na frente e a mesma soa muito estridente nas freqüências agudas! Se eu mexer na equalização do canal da voz e diminuir os agudos por causa do som da frente, esses agudos vão diminuir no som de monitor do cantor, fazendo com que ele ache abafado novamente. Quando o P.A. e monitor estão bem alinhados, esta diferença de equalização diminui bastante, mas não era o meu caso neste dia.

Essa “novela” aconteceu durante todo (agonizante) sound check. De vez em quando o organizador(?) chegava ao meu lado pra falar alguma coisa, mas na maioria das vezes não falou nada, acho que por causa da minha fisionomia não muito feliz. (rsrsrsr)

Quando todos no palco estavam ouvindo todos, e eu achei que estava “menos ruim” lá na frente, terminamos o sound check. Aguardamos só mais alguns minutos e o show começou. Com a mesa ao lado do palco, só me restava tentar imaginar como estava o som da frente escutando a mixagem pelo meu fone. Ainda aconteceram duas pequenas realimentações no som (achei um grande lucro!), mas por causa das circunstâncias, não fiquei nem um pouco chateado.

Ainda fui umas 4 vezes lá na frente para ter uma noção das coisas. Pensava no sistema Nexo e dava uma saudaaaaaaaaaaaaaaaaaaaade.

A primeira vez que tive o prazer de trabalhar com este sistema, foi em 2005 num show de Silvério Pessoa na Holanda. Do mesmo jeito deste show na Fliporto, não tínhamos tempo para fazer o sound check. Era para ligar tudo o mais rápido possível, checar se estava chegando o som na frente e começar o show. Só que quando eu abria o canal na frente, já estava lindo. Foi só ir juntando os canais e começamos o show maravilhosamente. O operador de monitor do festival foi muito rápido também. Nunca mais me esqueci deste dia.

Nunca fui de tentar esquecer show nenhum, mesmo quando tecnicamente o resultado não foi muito bom, pois acredito que sempre aprendemos algo, mas este show da Fliporto não vou fazer força para lembrar.

Ah! Sobre o show em si... Tou deixando esta parte poética para Silvério Pessoa comentar no Blog dele (http://www.monolitico-tema.blogspot.com/ ).

Um abraço a todos.

8 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Monolítico disse...

Esse show foi um desafio na área tecnica e outro grande desafio na área de coordenação e produção. Nos saimos bem. Musicalmente foi a segunda vez que apresento esse formato e confesso que adoro a timbragem e o formato. O desempenho do roteiro e do grupo foi muito bom e acredito que vem muita coisa pela frente! abração Titio e parabéns pela competiencia. Sigamos!

Anônimo disse...

Realmente, as produções desses eventos ainda insistem em não ouvir as pessoas da parte técnica e sempre caem nos erros de sempre. Alguns equipamentos meia-boca, configurações meia-boca, evento meia-boca. O que salva é justamente o artista, precisa dar seu show fazendo com que as perdas técnicas sejam minimizadas. Próximo final de semana terá o recife jazz, vai fazer algum trabalho por lá? abraços!

Titio disse...

Olá Felipe. Provavelmente estarei no Festival de Jazz. Já entraram em contato e só falta acertar os detalhes. Não sei se para ficar no P.A. ou no monitor. Acho que deve ser para trabalhar no monitor.
Um abraço.

Anônimo disse...

Jóia! Se eu for e você estiver lá poderíamos trocar algumas idéias. Qualquer coisa: frangel@gmail.com (só se não for te atrapalhar..)
Abraço.

MR SOM RECIFE disse...

MEU BROTHER TITIO, SE EU TIVESSE LA NO LOCAL PODERIA FAZER ALGUMAS SUGESTÕES A VC, JA QUE VC FALOU DA DIFICULDADE DE EFETUAR AJUSTES NO TIMBRE DOS INSTRUMENTOS QUE REFLETIAM NO SOM DO PA E MONITOR.

QUE TAL, COMO VC SO ESTAVA USANDO 18 CANAIS, COMO VC DISSE, SE VC USASSE O PACTH DA MESA DIGITAL PARA MANDAR O MESMO ENDEREÇO PARA DOIS CANAIS COMO EU FAÇO.

SERIA COMO UM (Y) DE CADA UM DOIS 18 CANAIS, ASSIM SERIAM 36 CANAIS USADOS (M7CL 48), DAI VC FARIA AJUSTES COMPLETAMENTE SEPARADOS ENTRE PA E MONITOR.

JA FIZ ISSO DIVERSAS VEZES QUANDO ENCONTRO ESSES PROBLEMAS. (CANAL 1 AD1 ) = (CANAL 19 AD1), (CANAL 2 AD2) = (CANAL 20 AD2) E ASSIM SUCESSIVAMENTE.

A FIZ ISSO E AINDA AJUSTEI TUDO NO PALCO NO O IPAD (VNC COM MANEGER SYSTEM YAMAHA) OUVINDO O SOM DOS MONITORES, DEPOIS FUI ATE A FRENTE DO PA COM O IPAD NA MAO E EFETUEI AJUSTES OUVINDO O PA.

DEU TUDO CERTO.

UM ABRAÇO. MARCELO RODRIGUES (MARCELO EX-MUSICAL) 81 88603043

MR SOM RECIFE disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Titio disse...

Olá Marcelo.
Bom falar com você.
Este lance de duplicar os canais na mesa é realmente uma grande ferramenta quando se tem apenas uma mesa para fazer PA e monitor. Mas como falei no meu texto:
"Eu teria até como separar isso, duplicando os canais na mesa via ligações internas digitais e usando um canal para frente e o outro canal duplicado para o palco, mas não tinha tempo pra fazer isso. Existiam outras prioridades".
O problema foi TEMPO que eu não tinha! Tínhamos que começar o show naquela hora!
Já fiz até um texto explicando mais detalhadamente para os leigos como fazer a duplicação via patch digital.
Obrigado por participar.
Um abraço.