sábado, 15 de novembro de 2008

Festival Recife Jazz – Palco 2 – P.A. no chão e proximidade com palcos de outro evento dificultam o trabalho.

Olá pessoal.

Estava até sem saco de escrever para o Blog, pois ando numa fase não muito boa na minha vida, e me passou pela cabeça se realmente está servindo pra alguém essas coisas que escrevo. Quem me deu um empurrão de ânimo foi uma pessoa que eu nunca tinha visto (pelo menos que me lembre), e que eu nem lembro o nome dele. No último dia do festival, quando terminou meu palco, fui para a house mix do palco 1 conversar com meu amigo Rogério, que foi quem me chamou para trabalhar no evento. Esta pessoa estava lá e eu pensava que ele fazia parte da equipe técnica de um grupo circense do sul do país que acabara de se apresentar. Fiquei surpreso quando esta pessoa me perguntou se eu já tinha feito o texto falando sobre o Festival de Jazz. Porra! Tá servindo para alguém! Tem gente lendo. Vale à pena. Quando ele ler este texto, vai saber que é ele. Aproveita e fala teu nome nos comentários. Valeu. Meu minúsculo palco sendo montado. Só para esclarecer, o Festival Recife Jazz acontecia no mesmo espaço que o Festival de Circo do Brasil. Os dois Festivais se uniram (numa união não muito sincronizada). O local era a Praça do Arsenal, no Recife Antigo. O complexo era formado por um palco grande principal, aonde se apresentavam atrações do Circo e do Jazz. Um palco bem menor que ficava dentro da torre Malakoff, aonde se apresentavam atrações do Jazz, e era aonde eu estava. E entre estes dois palcos, existiam um tablado sonorizado e um outro palco pequeno também sonorizado só para apresentações do Circo. Isso tudo num espaço bem pequeno. Logicamente o som de um palco interferia muito nos outros. Deu pena de um pianista (Argentino, eu acho) que enquanto tocava sozinho no meu palco, um som de dance music entrava avassaladoramente por todo ambiente. Ele foi de um profissionalismo sem tamanho, pois dependendo do pianista, parava imediatamente. Do mesmo jeito que chegou gente da organização do Circo pedindo para baixar o som do meu palco, pois estava (e eu tenho certeza disso!) atrapalhando a apresentação do Circo no tablado que ficava logo na entrada da Torre Malakoff. Pianista Argentino. Enquanto tocava, ouvia-se o som de dance music vindo do outro palco.

O que os organizadores dos eventos teimam em entender, é que ao contrário daquela lei que diz que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, com o SOM é diferente! Dois sinais distintos de som ocupam o mesmo espaço, e é sempre uma confusão tremenda quando isso acontece! Para separar estes sinais, só com um ISOLAMENTO ACÚSTICO (não confundir com tratamento acústico). E quanto mais baixa é a freqüência deste sinal, mais difícil de ser isolado. Se você pegar uma caixa dessas de som do seu system caseiro e colocar uma placa de madeira na frente dela e ir pra frente escutar, você vai notar uma diminuição considerável nos agudos, mas nem tanto nos graves, pois os graves são muito menos direcionais que os agudos. Os graves vão se espalhar pela sala ao bater na placa de madeira, enquanto que os agudos vão bater e voltar! Já notaram que quando tem festa no apartamento do vizinho e as portas estão fechadas, o que a gente escuta mais é o TUM TUM TUM dos graves? Os graves conseguem se mover também pela estrutura do prédio! Existe uma técnica muito usada em estúdios que é chamada de box-in-a-box, ou seja, caixa dentro da caixa. Consiste em separar a sala da estrutura do prédio.

E pode? Pode! Imagine uma sala quadrada. Dentro desta sala, constrói-se outro piso, só que em vez dele ser feito em cima do piso da estrutura, são colocados suportes de borracha para isolar este contato e logicamente o piso tem uma dimensão menor para não encostar nas paredes. Com as paredes e teto é mais fácil. É só fazer afastado da estrutura original. Temos assim, uma caixa dentro de uma caixa. O isolamento aumenta à medida que as espessuras das novas paredes aumentam. Quanto mais massa, mais difícil do som passar. Meu lugarzinho de trabalho ao lado do palco. No meu caso no Festival de Jazz, para que o meu som não atrapalhasse o evento ao lado, eu teria que deixar num volume tão baixo que as pessoas que estivessem no meu ambiente iriam reclamar que não estavam escutando direito, porque o som que vinha de fora iria começar a atrapalhar a audição. Solução? Isolamento acústico? Impossível! Vejo duas: mudar os horários das apresentações para não se chocarem, ou afastar consideravelmente os palcos. Se seria simples ou não fazer isto, eu não sei dizer, pois já não é minha área. Tive até um bate-boca com um colega meu que estava na organização do Circo por causa deste lance de volume. Mas nem deu tempo de discutir muito porque eu estava em cima da hora pra fazer o sound check. Depois eu compro uma garrafa de vinho Chileno e ele compra uns pedaços de queijo parmesão e fazemos uma farrinha. Outra coisa que complicou um pouco no meu palco, fora a única mesa de som posicionada ao lado do palco para fazer o monitor e P.A. (que nem comento mais isso), foram as caixas de som que ficaram no chão. Era um P.A. “como antigamente” (não tenho saudade nenhuma!). As caixas empilhadas no chão, uma em cima da outra. Qual o problema? Por estarem no mesmo nível do público, para o som chegar bem no final do ambiente, ficava insuportável para quem estava perto do palco. E por incrível que pareça, tinha muita gente sentada perto das caixas! Não sei, sinceramente, como agüentaram! Era muito alto. Ou então eu estou velho demais nos conceitos de volume de som. Detalhe do público colado nas caixas de som de um dos lados do P.A.. Com o lado direito não tinha tanto problema de volume porque não tinha arquibancada e o pessoal ficava sentado no chão que ficava abaixo do nível do palco. Mas no lado esquerdo existia uma arquibancada de cimento que estava no mesmo nível das caixas de som.

O outro problema é quem se posicionava na frente das caixas da direita, escutava menos as caixas da esquerda e vice-versa. Como o ambiente era bem pequeno, esta diferença não era tão sentida. Mas imaginem num estádio com um palco enorme vendo o show de Madonna. O lado esquerdo fica beeeeeem longe do direito. Você simplesmente não escutava o outro lado quando era usado este sistema no chão. E existia uma velha (e ainda existe) discussão no meio técnico se era certo fazer uma mixagem estéreo no show como está no CD em que colocamos determinados instrumentos só de um lado, pois quem está do outro lado não vai ouvir tão bem. Os sistemas de Fly P.A. (suspensos) apareceram para diminuir bastante este problema, mas a grande revolução foi mesmo o aparecimento do Line Array, que diminuiu mais ainda esta diferença auditiva do outro lado do P.A. e tornou o som mais homogêneo em todo o espaço do público. No Line Array, você coloca os dados do local do show no computador e indica qual a área que você quer que o som chegue. Diz a que altura vai ficar a primeira caixa do topo do agrupamento e quantas caixas você vai usar. Depois de colocar todos os dados, o programa diz qual a angulação de cada uma das caixas para poder cobrir o ambiente que você deseja. Salve a tecnologia. Um pequeno Line Array seria muito bem vindo neste palco 2 do Festival. É aquela velha história... quem começa a beber o vinho Concha y Toro, jamais vai voltar a gostar de beber o vinho Capelinha.

Lembram de uma turnê de U2 que o sistema de caixas de som era todo posicionado suspenso (era um Fly ainda) no meio do palco? Se eu não me engano, o som do show era mixado mono! Eu e meu amigo Ricardo, murchando as barrigas pra sair bem na foto! Como comecei em estúdio, tenho esta mania de espalhar alguns instrumentos no estéreo. No Recife Jazz posicionei alguns instrumentos no som de acordo com a posição do músico no palco. Em ambientes pequenos, faço muito isso. Descongestiona o meio de campo e melhora a inteligibilidade dos instrumentos para o ouvinte.

Não tive grandes problemas na parte técnica durante todo o festival. Os monitores de chão não eram “os monitores do meu sonho”, mas deu pra fazer. A maior dificuldade foi amplificar o som de um cello usando um microfone. Por causa da proximidade das caixas do P.A. com o palco, fiquei sempre no limite da realimentação. Os outros dois problemas, foram infelizmente com esta mesma banda do cello. Parou o canal de um dos violões na última música, e o sinal do violino falhou algumas vezes, mas estabilizou. No caso do violão, não deu tempo de consertar, pois a última música acabou.

Operei a maioria das bandas, pois ninguém vinha com técnicos. Apenas duas bandas trouxeram operadores. Achei baixa a percentagem. Essa turma do Jazz tem que rever este conceito.

Ah! Já ia esquecendo. Ainda operei o monitor do Palco 1 nos dois últimos dias. Deu tempo, pois o palco 1 só começava após o término do palco 2. No sábado foi complicadinho, pois as bandas não fizeram o sound check, e tinha uma banda muito complexa do Chile. Muitos instrumentos, muitos microfones, e um acordeom que precisava ser microfonado (dor de cabeça). Foi feito tudo na hora do show. Line check, sound check... E o show começou. E começou a realimentar (microfonias). Corta grave aqui, baixa o médio ali, diminui o volume acolá. Um corre-corre básico. Levei umas duas ou três músicas pra achar um ponto de equilíbrio. A voz da cantora foi uma das vozes femininas mais bonitas que já ouvi. O nome da banda, se eu não me engano, é Verdevioleta.

No domingo foi moleza, pois as duas primeiras bandas tinham feito o sound check com Rogério logo cedo e eu só fiquei brincando com a mesa. A terceira banda não passou o som, mas era um trio simples e não tive problemas com o monitor.

Gostei muito de trabalhar no evento, e tive a oportunidade de ouvir grandes músicos. Muita coisa boa: Contracuarteto, Bráulio Araújo, Mallavoodoo, Mr. Trio, Sonore Fábrica, A Trombonada, Saracotia, Cantiga Caarina, Verdevioleta, Na Tocaia Trio & Alex Corezzi, Luis Nacht, etc.

Tenho certeza absoluta que o público que compareceu nos 3 dias não se arrependeu de ter ido ao evento. Quem não foi, dançou! Pois não vai ser tão fácil ver (ouvir) uma galera dessa reunida novamente, a não ser no próximo ano do Festival Recife Jazz. Bráulio Araújo Mr. Trio Mallavoodoo

Finalizo com a frase do pianista do Mr. Trio que disse durante o show: --- Tou até emocionado de ver tanta gente ouvindo música instrumental. Isso quer dizer, que nem tudo está perdido.

Um abraço a todos.

12 comentários:

Anônimo disse...

Grande Titio! Pois é, dava pra ouvir o show de Otto todinho do Palco 2, como estávamos ouvindo e o pianista todo concentrado (e um número considerável na platéia!) Apesar de todos os problemas e alguma falta de organização, as bandas fizeram seu trabalho muitíssimo bem feito, mesmo com todas as limitações (Palco 2), como você já disse, é preciso tirar o máximo do equipamento que possui. Fui também no domingo, já cheguei meio tarde e você estava no monitor do Palco 1. Alex Correzi e banda mandam muito bem! Ah, o comentário inicial fui eu? Parabéns e continua escrevendo!
Abraços.

Titio disse...

Oi Felipe.
Eu não conhecia a pessoa que fez a pergunta sobre o Blog. E isso foi no domingo. Não foi você, pois eu já o conhecia.
Um abraço.

Anônimo disse...

Adorei ter notícias do Recife Jazz Festival sobre um ponto de vista quase nunca comentado. Parabéns pelo seu trabalho. Parabéns pelo blog!!! D+

Titio disse...

Obrigado Emanuelle.
A intenção do Blog é exatamente essa.
Um abraço.

Anônimo disse...

Muito legal Titio. Adorei o site!
Muito bom parabéns!!
Continue sempre. Grande trabalho!!!!
O mercado profissional de artes Pernanbucano,precisa de iniciativas como essa sua!!!!
Parabéns,muito sucesso!!!
Abraços
Leo Dim

Titio disse...

Obrigado Leo Dim.
Bom ouvir comentários positivos de profissionais "das antigas" como você. Isso me faz crer que o Blog está surtindo efeito.
Um abraço.

Anônimo disse...

oi titio comecei a ler hoje seu blog e logo me identifiquei, foi eu quem falou com vc no house do arsenal, Meu nome é jairo césar sou amigo de ricardo cruz e atuante no ramo também.
um grande abraço pra vc, e estarei sempre por aqui lendo suas experiências de trabalho e fazendo comentários.

Titio disse...

Ok Jairo. Foi você mesmo. Vi pela foto no Orkut, quando o adicionei. Valeu pela força que você deu mesmo sem saber que estava dando.
Um abraço.

Anônimo disse...

Ô Titio, claro que seu blog é útil, rapaz. Eu sou seu leitor assíduo e por causa dos seus textos, cada vez mais me interesso mais pelo assunto Engenharia de Áudio. Cada coisa interessante que descobri aqui. Nós que estamos no palco muitas vezes não paramos pra pensar com carinho que para que tudo corra bem no show, profissionais como você se empenharam e tomaram o trabalho nos braços como se fosse seu. Fico triste com alguns colegas que ao apresentar seus músicos ao público, no final do espetáculo, esquecem de apresentar também a equipe técnica (som, luz, produção e contra-regra). Se os artistas são o corpo e coração de um espetáculo, vocês são o cérebro e sistema nervoso. Parabéns pelo blog e que você tenha sempre coisas legais e disposição para nos mostrar.Abraço

Titio disse...

Olá Ney.
Tou recebendo tanto incentivo que já estou quase acreditando.
Muito obrigado pelas palavras e por reservar um pedaço do seu tempo para ler o que escrevo.
Recebi ontem uma ligação do Rio Grande do Sul. Era um cara falando que tinha lido uma explicação que eu dei de como sincronizar a mesa digital com o laptop e tava querendo mais umas dicas, pois não estava conseguindo. Depois de uns três telefonemas, ele me ligou pra agradecer e dizer que estava tudo ok. Puxa vida! Rio Grande do Sul?? Que bom que está dando frutos o Blog. Não vou parar não, ok?
Um abraço.

Anônimo disse...

Titio, sei que voce nao me conheçe, mas de vista iria lembrar, andei muito pela somax, junto com Marquinhos Maraial, hoje sou técnico de audio, já uns 10 anos eu acho, mas tive meus primeiros contatos com o audio, observando trabalhos seus, do Tovinho (grannnnde Ninja) e do Cacau Mix, (do Rogério Louro José tambem), vi no inicio que voce estava um tanto desestimulado em relação ao Blog, sobre postar ou não. Voce ainda nao se deu conta da importancia no cenário musical que voces tem para nós que caminhamos as "trilhas" e "waves" da vida, recheadas de "plugins" e circunstâncias pitorescas tambem.
Temos muiiito a dever a voces que desbravaram essa posição perante o preconceito da massa (nao todos)sulista, pois voces mostraram que no nordeste, e principalmente em PERNAMBUCO, não é apenas lugar de ampla cultura musical, como tambem de uma técnica refinada, de autodidatas que fazem a diferença na hora do vamos ver.
Jamais desestimule, pois uma geração que está surgindo, depende da experiência e do bom gosto de voces.
P.S.: Seus comentários sobre o Festival Recife Jazz, foram excelentessss.

Titio disse...

Olá Ronney.
Obrigado pelas palavras.
Realmente Tovinho é um Ninja. Aprendo sempre com ele. Foi quem me iniciou em estúdio de gravação e em gravação em computador. Me incentivou muito para começar a operar som em shows e me levou para o monitor da banda Versão Brasileira. Devo muito à ele.
Cacau a cada dia me impressiona mais com suas mixagens. Entrei um dia no estúdio "A" da Somax e ele e Tovinho estavam ajustando o áudio do DVD Acústico de Limão com Mel. O som estava muito bom.
Fui ler o texto do Recife Jazz e acabei encontrando um erro meu na parte que falo como funciona o ajuste dos ângulos das caixas do Line Array. Falei anteriormente que o programa dizia quantas caixas usar, mas não é assim. Você tem que dizer quantas caixas vai usar. Já retifiquei o texto.
Precisando de alguma coisa, meu celular está no Blog.
Um abraço.