Olá pessoal.
Mais uma vez fui à Natal para fazer um show de Silvério Pessoa num festival chamado MPBeco. Quem acompanha o Blog, deve lembrar que eu já tinha ido no ano passado para este mesmo festival, mas não houve show por causa da chuva (chamado em alguns contratos de “caso fortuito”). Pedi ao nosso produtor para perguntar quais as mesas que seriam usadas no evento. Eram as mesmas do ano passado. Uma digital M7CL da Yamaha na frente e uma analógica da Ciclotron no monitor. Deduzi então que seria o mesmo equipamento de som do ano passado. Lembrava que era um line array “caseiro”... E não era tão ruim pelo que eu lembrava... Decidimos levar nossa pequena mesa digital para o monitor. Tem mais recursos, tem efeitos embutidos, a equalização funciona, etc, etc, etc.
Porque hoje em dia só pergunto (em eventos de pequeno porte) quais são as mesas e não pergunto qual o sistema de P.A. (caixas de som)?
Resposta: --- Porque se eu perguntar, a resposta provavelmente vai ser que é um line array. Mas em 90% dos casos este line array não é industrial, é uma cópia, e na (absurda) maioria das vezes é uma cópia muito mal feita! E se eu disser que não aceito este sistema de caixas, vou deixar de fazer 90% dos eventos de pequeno porte! Fica complicado para quem trabalha para um artista independente, não é? Mas mesmo assim, já vetei equipamentos por não atenderem às mínimas condições, e o contrato não foi fechado.
Pois bem...Saímos de Recife muito cedo para poder fazer o sound check com calma, mas esta saída prematura não rendeu frutos. Chegamos um pouco depois das 11 horas da manhã, mas o equipamento do palco (som e luz) ainda estava sendo armado. Achei que as caixas do line array (caseiro!) não eram as mesmas do ano anterior... Se eu não me engano, no ano anterior as caixas tinham umas palavras pintadas nas laterais. Como meu HD externo que contém todas as minhas fotos está emprestado neste exato momento, não posso conferir isso agora, mas depois eu digo se eram as mesmas caixas (lembrei agora que não tirei fotos do sistema no ano passado). Resolvemos ir almoçar e voltaríamos depois. No restaurante (comendo novamente meu arroz de leite com farofa d’água, carne de sol e feijão verde) conversando com o pessoal da organização, apareceu a velha pergunta (nem sei quantas vezes já me perguntaram isso!): --- Quanto tempo vocês levam para passar o som? Parece uma pergunta fácil de responder, mas não é!
Existem tantas coisas que influenciam nesta resposta, que hoje em dia eu falo: --- SE TUDO ESTIVER CERTO NO LOCAL, levamos “tantas” horas.Lembro-me de um show de Silvério Pessoa na Holanda, que ao chegarmos ao local, o pessoal da organização falou que teríamos uns 30 minutos para armar nosso equipamento, ligar tudo, passar o som rapidamente e começar o show! Uma banda africana estava tocando na hora, e quando ela acabasse o show, o público iria sair do recinto para tomar uns drinks, e esse era nosso tempo para fazer tudo. Meu deus (uso sem letra maiúscula mesmo, pois não tenho nenhum deus)! Estamos ferrados! Não tínhamos operador de monitor e todos usariam fones. Nunca vou esquecer daquele dia, pois conseguimos neste breve espaço de tempo organizar tudo! Por minha causa? Não. Ajudei, mas...
Enquanto a banda africana se apresentava, armamos nosso equipamento atrás do palco. Quando a banda acabou, subimos ao palco. Tudo era muito bom lá. O equipamento era espetacular, o técnico de monitor era muito bom, o pessoal que ligava os cabos no palco era muito bom e rápido, nada falhava. Não trocamos nenhum cabo. Todos os canais foram ligados seguindo exatamente o documento que eu havia enviado. Quando eu levantava o canal do instrumento na frente, já chegava o instrumento certo e o som já estava bom. Fiquei impressionado com o sistema de caixas de som, com a nitidez. Tirei fotos. Nunca tinha ouvido falar daquele sistema. Perguntei ao técnico da empresa Holandesa que sistema era aquele e ele me falou que era um line array da NEXO. Simplesmente, impressionante! Como dizia um jornalista de Natal... SOM DE PRIMEIRA! Abaixo, as fotos do sistema Nexo e nossos equipamentos armados atrás do palco no show da Holanda.Voltando ao nosso show em Natal...
Já estava perto das 17h quando começamos a montagem do nosso equipamento. Iríamos montar tudo, passar o som e começar o show, pois haveria ainda 12 apresentações de bandas locais disputando uma classificação e ainda teria um show para fechar a noite.
Ajudei Normando a ligar nosso equipamento no palco e fui para frente. Sincronizei meu laptop com a mesa e fui dar uma escutada no som do P.A.. Já não começou certo a coisa, pois um lado estava “falando” diferente do outro. E isso fazia com que o som pendesse para o lado esquerdo, que era o lado que estava ok. Perdi já um tempinho para deixar a coisa “menos ruim”. Quando achei que estava mais ou menos, começamos o sound check. E logo no primeiro canal apareceu um problema de falta de grave no microfone que estou até agora pensando o que teria causado aquilo. Minha primeira reação foi achar que o problema estava na minha sessão que eu tinha feito em casa e passado para a mesa digital. Pedi para o técnico da empresa de som chamar a cena dele na mesa e o som ficou normal. Deve ser comigo mesmo o problema (pensei com meus botões), mas o problema voltou mesmo na cena dele. Aí a coisa complicou. Troca cabo. Troca microfone. Troca a via no multicabo. E o tempo passando... A solução encontrada na hora foi ligar o bumbo da bateria em outro canal. O som chegou. Continuamos. Ainda apareceram dois canais trocados, mas foi rápida a troca. O técnico da empresa de som indagou (já ouvi muito isso também) que estava tudo certo com ele quando passou o som das bandas. Sempre costumo lembrar que nós morremos de uma hora para outra, imaginem cabos, conexões, soldas e aparelhos eletrônicos! Fora este problema no bumbo da bateria e nos canais trocados, um dos canais do acordeão e o canal do sampler não chegaram. Troca cabo, troca DI (direct box), troca a via no multicabo. E o tempo passando... E o público chegando... Depois de algumas trocas, o som destes canais chega para mim lá na frente e para Normando no monitor. Seguimos com o sound check e mais nenhum canal deu problema. Com todos os canais chegando (condição básica num show), a banda tocou uma música para ajustes rápidos no som da frente e no monitor. Como nosso tempo já estava muito estourado, não deu para ir mais adiante, mas eu já estava (na medida do possível) satisfeito, dava para começar e eu iria ajustando tudo no show mesmo. Não sei como estava no palco, e nem deu para saber, porque depois de alguns minutos o show começou. Consegui dar a ajustada que queria e já estava tranquilo lá na frente, até tirei várias fotos. Notei em determinada hora que Silvério estava meio agoniado na cadeira (neste show todos os músicos ficam sentados), mas não sabia o que era. Em certa hora ele engasgou ao cantar e pediu para Roberto (nosso iluminador que está de viagem marcada para uma turnê com Aurélia Chaplin em diversos países) diminuir a fumaça. Foi aí que entendi o desconforto. Mas mesmo sem fumaça, notava que o desconforto continuava, e notei também um certo desencontro entre a banda em algumas músicas que normalmente não acontece. Aqui eu tinha certeza que eles não estavam se escutando direito. E chegou uma hora que, sem condições de continuar tocando e cantando, Silvério Pessoa parou o show para ajustar o monitor, dizendo que estava insuportável o ruído nos fones e ninguém estava se escutando direito. Roberto "Chaplin" Reagert Estes ruídos não chegavam lá na frente, por isso nos assustamos (eu e Roberto) com a parada. E sei que ele parou porque não tinha jeito mesmo. Tinha notado uns poucos ruídos no meu som, mas foram tão rápidos que não consegui saber aonde era. Depois, conversando com Normando, ele me falou que uma das violas estava falhando no palco e para tentar resolver o problema, mexeram no cabo que sai do instrumento, e este desencaixe/encaixe gerou o ruído para o som da frente. Eu, particularmente, estava satisfeito com o resultado sonoro que consegui lá na frente, levando-se em consideração os problemas que ocorreram. Na realidade, o caos mesmo foi só no palco. E se não fosse meu errinho no final da última música, onde cortei acidentalmente o som da base eletrônica antes dela acabar, eu sairia ileso disso tudo. Já atrás do palco, Ricardinho (baterista) veio me perguntar o que tinha havido com a base eletrônica que acabou antes dele sair do palco. Falei: --- Fui eu que errei! Ou você acha que é só músico que erra?!?! (risos) Sem ter mais o que fazer, fui ao camarim tomar o vinho que levamos para a despedida (uma das) do nosso iluminador Roberto Riegert que vai trabalhar, como falei acima, na turnê da neta de Charles Chaplin. Tem amigo importante quem pode!No camarim, mesmo degustando um bom vinho, não consegui me desvencilhar dos problemas ocorridos no palco. Pensei até na possibilidade da nossa mesa digital ter ajudado no aparecimento dos problemas. Penso em todas as possibilidades. Mas se tivesse sido nossa mesa, Normando me falaria. O que pude notar, foi que a maioria dos problemas apareceram em canais de instrumentos que usavam o direct box (DI) nas conexões, no caso a viola, o sampler e um dos canais do acordeão. E estes DIs eram ativos, ou seja, precisavam de energia (48 volts) para funcionarem. Sei que é uma combinação perigosa DIs ativos com cabos mal feitos. E isso poderia ter sido a causa dos problemas também. Pude notar também que apareceram problemas semelhantes nos shows que aconteceram logo após o show de Silvério Pessoa. E foi justamente no mesmo instrumento, o violão. Que usa DI. Um foi numa banda que estava concorrendo e levou-se um tempo para chegar o som do violão e o outro problema foi no show de encerramento da noite, aonde o artista (também) parou o show, porque o som do violão dele parou. Coincidências?
Foram menos problemas nos outros shows se compararmos com o nosso. Mas neste show acústico usamos 9 DIs no palco, enquanto a maioria das bandas que se apresentaram depois usavam no máximo 2. Este é meu ponto de vista sobre as falhas no sinal dos canais que não chegaram pra mim. Quanto aos ruídos nos fones, que era só no palco, não posso entrar em detalhes porque eu não estava lá em cima.Ah! Já ia me esquecendo... Aprendi mais uma palavra e vou acrescentar ao meu humilde vocabulário. Nunca tinha ouvido falar da palavra “caviloso”. Vivendo e aprendendo.
Um abraço a todos.
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