Olá pessoal.
Já estava devidamente preparado para ir a uma “despedida da casa velha” que Renato Bandeira (músico amigo meu) tinha combinado. Ele está se mudando para uma casa nova na semana que vem. Na realidade, sempre achamos um motivo (despedida, inauguração, reinauguração) para nos reunirmos para um papo e uns comes e bebes. Mas para variar, ele acabou “farrapando”. Para quem não é de Recife, farrapar quer dizer não cumprir com o compromisso. Renato Bandeira é muito bom também neste quesito. (risos)
Só estava esperando o trânsito ficar mais calmo para seguir para casa dele, quando ele me ligou para desmarcar. Mas não vou desperdiçar as garrafas de vinho que comprei para o evento. Vou degustar pelo menos uma hoje aqui em casa vendo um jogo na TV. O chato é que não tenho nenhum queijo parmesão para acompanhar o vinho! Eita! Prometi não falar muito sobre o lado pessoal!
(Não resisti e fui ao supermercado comprar o queijo!)
Já que não vou mais sair, resolvi escrever sobre o trabalho que fiz no Festival Internacional de Teatro de Objetos (FITO) acontecido no último final de semana em Belo Horizonte. Fui mais uma vez com a empresa Bizasom daqui de Recife. O evento parecia um pouco com o SESI Bonecos. A estrutura foi montada num espaço coberto chamado Serraria. Três mini-teatros com pequenos sistemas de som foram armados dentro deste espaço. Achei até muito som para o espaço reduzido. Como no evento anterior, a luz era a coisa mais complicada porque precisava “afinar” tudo para cada peça. Completando o espaço da Serraria, tinha um palco grande onde fiquei encarregado pelo som. Todos os três espaços dos teatros eram fechados e climatizados. O único problema foi que os três teatros eram colados e o som de um interferia no outro, pois funcionavam simultaneamente. Meus três colegas estavam com rádios comunicadores e um pedia para o outro baixar o nível quando o som começava a interferir. Eu também estava com um rádio, e eles me falavam quando meu som interferia no som deles. Passamos o evento todo nos comunicando, mas o problema maior ficou entre os três teatros mesmo, pois meu som externo pouco (ou quase nada) interferia no som dos espaços dos meus colegas.
Como o SESI Bonecos teve sua última apresentação em BH, o equipamento da Bizasom ficou por lá e foram enviados mais equipamentos para suprir as necessidades do novo evento. O equipamento do meu palco era basicamente o mesmo do evento anterior. A mesa Venue Profile da Digidesign enviava o áudio para um sistema line array da FZ. Ela era também responsável pela monitoração e (como eu já desconfiava) ficou na lateral do palco.
Foram quatro dias de evento e só o primeiro foi um pouco confuso, pois não sabia direito como era o funcionamento, e não tivemos tempo para ensaios! Era também o primeiro ano do evento. Diferentemente do SESI Bonecos que já tinha cinco edições anteriores. A empresa responsável pela produção do FITO era a mesma do SESI Bonecos. Interior de um dos mini-teatros ainda em fase de construção.Depois de sincronizar as ações, ficou moleza (mais uma vez). Virou um trabalho de sonoplastia.
Passaram-me que eu teria todo dia no meu palco um músico chamado Fernando Corbal tocando “taças de cristal” acompanhado por um pianista e um percussionista. Todo dia também teria uma banda circense composta por caixas, surdos e metais. E só no sábado teria uma apresentação de um grupo instrumental muito bom de Belo Horizonte chamado Uakti junto com as atrações fixas. Tentei armar apenas uma cena para todos os grupos, e quase consegui. Fernando Corbal afinando seu instrumento. Cada taça tem água e a afinação é feita acrescentando ou tirando a água. Para isso ele usa uma ferramenta parecida com uma seringa. Acima, meu local de trabalho sendo armado ao lado do palco.
Como o grupo instrumental de BH era o que precisava de mais canais, parti dele para montar a cena. Eu tinha 48 canais disponíveis na mesa. Coloquei todos os canais do grupo, juntei com os canais para a banda circense, mais um canal para o locutor, mais dois canais para o áudio do vídeo, mais dois canais para o CD player, mais os canais do trio com os cris
(Uma pausa para o vinho, o queijo parmesão e o jogo na TV. Volto já).
Quase uma hora depois...
Onde estava mesmo? Ah...
Mais os canais do trio dos cristais! Pronto. Coloquei todos os canais e salvei a cena. Quarenta e oito canais certinho. Com isso não iria precisar trocar de cena e nem ligar e desligar cabos, pois tudo que eu precisava estava naquela cena. Minha intenção era não trocar ligações de cabos no palco porque o meu assistente não tinha a mesma experiência de Rodrigo que fez o serviço no SESI Bonecos. O problema é que apareceram mais quatro canais de teclados para as apresentações do grupo XPTO entre as sessões do teatro! Aí não teve jeito, tinha que fazer outra cena. Para evitar confusões nas ligações para o meu colega, deixei tudo ligado no palco e eu fiquei encarregado de fazer as pequenas mudanças nas ligações dos cabos na mesa. Essas mudanças só seriam necessárias no sábado, onde teria a atração grande. No resto dos dias não seria feita nenhuma mudança no patch. Não usei o recurso snapshot da mesa porque tinham mudanças de canais mono para estéreo, e como falei em texto anterior, o snapshot não entende tal mudança. Equipamentos do excelente grupo mineiro Uakti ( http://www.uakti.com.br/ )A apresentação do trio com Fernando Corbal tocando nas taças de cristal foi o que me deu mais trabalho no evento todo! Nunca tinha microfonado tal “instrumento musical”. O som emitido pelo passar dos dedos molhados nas bordas das taças é muito baixo. E foi complicado colocar este som nas caixas do PA.
Para ser sincero, não consegui isso no primeiro dia. Não consegui amplificar o som das taças responsáveis pelo som grave. Quando eu aumentava o volume, realimentava (microfonias). Pedi ao músico para chegar mais cedo no outro dia para fazer mais alguns testes com outros microfones e posições.Inclusive, a menina responsável pela limpeza, retirou as marcações feitas com fita crepe coladas no piso do palco pensando que era sujeira! Fazemos estas marcações para saber onde recolocar pedestais, praticáveis e monitores quando o palco é mexido porque tem mais de uma atração. Em grandes festivais, cada banda tem uma cor de fita e o chão do palco fica com várias marcações coloridas.
Eita! Nem cheguei no assunto responsável pelo título, mas estou perto. Qual o nível de importância?
No outro dia, fiz mais uns testes de posição e troquei o microfone. Melhorou bastante. Mas mesmo assim não consegui dar muito volume, pois realimentava. Vou até dar uma pesquisada para ver como o pessoal faz com este instrumento que emite pouquíssimo som! Pronto! Este foi meu maior esforço no evento. O resto virou basicamente um trabalho de sonoplastia, ou seja, abre microfone do locutor, coloca trilha de fundo, abre o som do vídeo, fecha o locutor, baixa o canal da trilha, aumenta o canal da trilha, solta o som do gongo para avisar que vai começar as sessões nos teatros. Tudo muito simples. E isso era feito somente entre as sessões do teatro. Durante estas sessões, que duravam em média meia hora, eu ficava sem nada pra fazer. Toda noite, eram três ou quatro sessões. A apresentação com as taças de cristal durava apenas 25 minutos e era logo no início do evento. O grupo Uakti trouxe operador. Fiquei só dando uma assistência na operação da mesa. Eu não tinha nem a preocupação com chuva ou vento, pois a área era coberta. Como disse antes, depois de “pegar a manha” do roteiro do evento, tudo fluiu sem maiores complicações. Foi aí que fiz uma comparação com um trabalho em um grande festival internacional na Bélgica. Qual o nível de importância entre estes dois trabalhos que fiz? Mesmo havendo uma grande diferença operacional entre os dois, para mim o nível de importância é o mesmo! Porque por menor e menos complicado que seja um evento, pode ter certeza que para alguém é a coisa mais importante do mundo! Do mesmo jeito que tremi na Bélgica ao seguir para house mix observando aquele mundo de gente esperando pelo show e falando outra língua, fiquei muito “puto” em não ter acertado o som grave das taças no primeiro dia! Todo trabalho que faço tem o mesmo nível de concentração, de dedicação e de importância. Acredito que por isso acho uns muito mais simples do que outros. O cara que te contratou para operar o som de um show num barzinho não quer saber do seu trabalho na Bélgica. Ele quer que tudo saia bem no barzinho. Em alguns casos, é até mais complicado operar o som num barzinho do que num festival internacional! Gosto de passar som independente de o show ser num grande palco de um festival na Bélgica ou num pequeno tablado de um barzinho no Brasil. Para mim o que interessa é o reconhecimento por um trabalho bem feito.
O que interessa é ouvir os gringos gritando de alegria e o técnico do evento gritando “super, super, super” atrás de mim ao final do show. O que interessa é o produtor do evento “teoricamente” mais fácil vir me parabenizar pelo excelente trabalho concluído, e me perguntar se eu vou trabalhar no outro evento que ele vai fazer com a mesma empresa de som. Isso é o que interessa.
No detalhe acima, o ator Pascoal da Conceição. Mestre de cerimônia do FITO 2009.
Comprei um barbeador Mach 3 Turbo da Gilletti (na minha opinião não tem melhor) e uma espuma de barbear em spray e dei embrulhado em papel de presente para meu filho de 14 anos. Combinei com ele uma aula de como se barbear! Para muitos pais, uma coisa besta e sem importância... Para mim, o nível de importância aqui é maior do que qualquer trabalho que fiz na vida!
Duvido que ele se esqueça deste simplório e inusitado presente. Do mesmo jeito que não me esqueci do meu Pai falando que meu café parecia “água suja” porque eu colocava água gelada para esfriar. Só tomo café estupidamente quente hoje em dia e sempre me lembro do meu Pai num simples ato de tomar um café!
Viram como falei muito pouco do meu lado pessoal neste texto?
Um abraço a todos.
3 comentários:
Olá...
Como sempre dei aquela passada básica para ler tuas postagens, dei umas boas risadas com a farrapada de Renatinho (rsrsrs).
E como não entendo nada dos termos técnicos que vc coloca, fico "voando"...Mas continuo acompanhado suas "viagens".
Abraços!
Oi Fábia.
Mesmo não entendendo nada dos termos técnicos que eu coloco, você já sabe que o barbeador Mach 3 Turbo é muito bom e você pode indicar para os amigos. Aprendeu alguma coisa lendo o Blog.
Um abraço.
Rsrsrsrs...É verdade, vc tem toda razão!!! Vou indicar sempre!
Abração!
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