quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Posicionamento diante do mercado - Fácil, eu sei que não é.



Olá pessoal.

(abre aspas)
Caros,
Chegamos ao final de nossas negociações e infelizmente sua empresa não foi a vencedora da nossa concorrência.
Agradecemos pela participação e esperamos poder contar convosco em novas oportunidades.
Obrigada,
(fecha aspas)

Como muitos colegas e amigos meus sabem, faz um bom tempo que eu monto os áudios para o rádio e TV de GM (General Motors - Chevrolet) para três estados: PE, PB e RN.
Olhando aqui nas minhas anotações, tem peças produzidas no ano 2000!
Ou seja, no mínimo 15 anos.
A conta da GM passou por várias agências de propaganda de Recife, mas continuei fazendo os áudios.
Atualmente uma agência de Salvador é a responsável por esta região, que passou a ter 6 estados: PE, PB, RN, BA, SE e AL.
Comecei no estúdio Estação do Som, que depois virou Audiomidi, e a partir de 2011 abri uma ME para continuar fazendo este trabalho.
Pois bem...
Este ciclo se encerrou este semana com um email que coloquei logo no começo deste texto.
Por que estou falando isso aqui no Blog?
Porque queria fazer uma comparação com outros setores do mercado do áudio, como empresas de som, estúdios de gravações, estúdios de ensaio, músicos e técnicos do setor de entretenimento.
Eu acho que todo mercado é muito parecido.
Sempre estão querendo baixar os preços e sempre vai ter gente para fazer por menos.
Vejo isso há muitos anos no áudio.
Empresas de som gastando uma fortuna para atualizar os equipamentos e o contratante pagando cada vez menos, e o tempo para o pagamento aumentou absurdamente.
Grandes estúdios de gravação perdendo horas para estúdios caseiros, e na grande maioria das vezes estas gravações nos estúdios caseiros são levadas para mixar no estúdio grande.
Técnicos de áudio renomados aceitando cachês baixos, alegando que se não faz o serviço vem outro e faz.
Estúdios de jingles fazendo 3 DEMOS para a agência escolher um (ou nenhum). E logicamente que se escolher um, vai pagar apenas por um. Quem participou dos outros dois "demos" fica a ver navios mesmo.
Músicos e técnicos fazendo shows e eventos e recebendo o cachê com 3, 6, 9, ou até mais de 12 meses.
Cachês congelados por décadas.
Quando eu comecei a fazer shows com a Banda Versão Brasileira no começo da década de 90, o cachê que eu recebia para fazer o monitor era 150 reais. O técnico de PA recebia o dobro!
Esta diferença entre monitor e PA acabou (nada mais justo!), mas vejo ainda muitos músicos e técnicos recebendo hoje em dia este mesmo valor ou até menos!
Vejo atualmente excelentes músicos, com excelentes (e caros!) instrumentos, recebendo 150 reais para tocar em alguns eventos ou em "bandas de baile", que hoje se chamam orquestras.
Muitos não tem plano de saúde, muitos não pagam INSS, vivem na total informalidade.
Operadores de áudio fazendo PA e monitor ao mesmo tempo.
Nem tem graça mais falar sobre isso, né?
Logicamente recebendo só por uma tarefa.
Os mercados são muito parecidos.
Resta a nós um posicionamento diante destes mercados.
Alguns amigos meus acham interessante ter o que receber, mesmo que isso leve um ano!
Meu posicionamento é um pouco diferente. Prefiro receber menos e mais rápido.
Ou trocar este trabalho que sei que vai demorar muitos meses para receber, e arriscar pegar um serviço melhor.
Mas o contratante vai colocar outro tranquilamente no meu lugar. Muitos alegam isso para mim.
Ok, eu sei. Que coloquem. Tenho um ano para tentar conseguir o valor em outros trabalhos.
E não vou ter um infarto por causa do estresse de tanto cobrar.
Isso é meu posicionamento, cada um que ache o seu.
Perdi um trabalho que fazia durante 15 anos.
Pois acho que tudo tem um limite.
A proposta feita pela empresa estava abaixo do limite que eu achava que seria o justo.
E mesmo sabendo que vários estúdios "profissionais" aceitariam tal valor, não baixei este limite.
Se não existir um limite, vai chegar num ponto de pagar para trabalhar.
Se é que já não tem profissional ou empresa assim, não é mesmo?
Eu já operei o som de um show por duas garrafas de vinho! Mas tinha que ser do Chile.
Foi para um amigo. Fiz para ajudá-lo e para me divertir, pois estava passando uns dias em Garanhuns na casa de parentes. Não olhei pelo lado profissional. Sim, eu me divirto operando o som de um show.
E o pior. Este amigo (safado) nem me deu as duas garrafas de Casillero Del Diablo até hoje!
Não é Jades?
Mesmo indo pela amizade, não pisei no palco para fazer o monitor.
Ele contratou outro operador, que recebeu por isso, e não foram duas garrafas de vinho.
Já pensou eu ir fazer um trabalho por duas garrafas de vinho e ainda tirar a chance de um colega ganhar um cachê para fazer o monitor?
Não seria justo, né?
Nem na brincadeira eu faço isso...
Limitei até a brincadeira.
Achem seus limites.
Posicionem-se.
Fácil, eu sei que não é.
Ah! Quem ganhou a concorrência foi um estúdio profissional aqui de Recife.
Logicamente, o limite dele é mais baixo que o meu.
Um abraço a todos.

7 comentários:

Lucas Brandão disse...

Vou postar pra os meus alunos! Sempre bom ler teu blog titio!

Titio disse...

Oi Lucas.
Fique à vontade.
E obrigado pelas palavras.
Um abraço.

Unknown disse...

Parabéns pela postura ética!

Titio disse...

Oi Eduardo.
Valeu.
Liso, mas feliz.
Como falei, fácil, eu sei que não é.
Mas temos que fazer algo.
Eu tento.
Obrigado por participar do Blog.
Um abraço.

Titio disse...

Ahhhhhhh!
O amigo (safado) pagou!!!!
E ainda com juros!
Recebi 3 garrafas de Casillero Del Diablo.
Um abraço.

Felinos Da Antonia disse...

Muito bacana velho, Deus abençoe por seu posicionamento.

Titio disse...

Obrigado pelas palavras Felinos da Antônia.
E obrigado por participar do Blog.
Um abraço.