segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Rider Técnico - Vai virar peça de museu?

Olá pessoal.
Faz é tempo que não falo aqui, e tenho tanta coisa boa pra contar...
Muitos shows legais, com artistas que nunca pensei em trabalhar, como é o caso de Paulo Miklos.
Muitas surpresas legais como Filipe Catto e Rachel Reis.
Nesses três exemplos, teve a indicação do meu nome feita por Adriano Duprat, que já está quase virando meu empresário! (Risos)
Passei por várias situações nos diversos shows que aconteceram depois do show de Siba e A Fuloresta em Arcoverde, que foi o último que comentei aqui, e que aconteceu no dia 22 de junho!
Vou falar sobre alguns desses trabalhos, eu acho.
E foi pensando exatamente nesses trabalhos, no que eu poderia falar sobre eles, que apareceu uma coisa "em comum" na maioria desses shows.
O Rider Técnico!!!!
Ou... Como o rider técnico está ficando obsoleto!
Como esse Blog foi criado pensando em leitores que não fazem parte dos shows e eventos, vou fazer uma pequena explicação.
Rider técnico é um documento onde estão todas as necessidades técnicas do artista e/ou banda para a realização de um show.
Esse documento é enviado para as produções dos eventos, ou para os contratantes.
Basicamente, esse documento é composto por 3 partes.
1- Relação dos equipamentos: Informamos as nossas necessidades e preferências, como mesas de som, amplificadores de instrumentos, monitores, sistemas de PA, in-ears etc.

2 - Relação dos canais de entrada e saída: Como deve ser ligado cada instrumento e voz, mostrando quais os microfones preferidos, e como deve ser ligado as vias de monitores, com caixas ou com in-ears.



3 - Mapa de palco: Basicamente, informamos o posicionamento de cada músico no palco com seus respectivos monitores.

Ainda tem o Mapa de Luz, que vai só em alguns riders.
Pois bem...
Foram muitos shows legais depois do show de Siba em Arcoverde, com resultados muito legais (na grande maioria) na parte técnica.
Isadora Melo, Maestro Spok e Orquestra Forrobodó, Mestre Ambrósio, Otto, Almério, Lirinha, mais um Siba e A Fuloresta, Rachel Reis, Filipe Catto, Duo Repercuti, Academia da Berlinda, Del Rey, mais um show de Otto e mais dois de Filipe Catto, Almério & Martins, e para finalizar, um show de Paulo Miklos no dia 24/08.
Vários trabalhos, com vários estilos musicais.
Muito legal poder caminhar entre vários tipos de shows.
Estou ainda pensando o que comentar sobre alguns desses trabalhos.
E foi justamente enquanto estava pensando sobre isso que surgiu o problema do Rider Técnico.
Já se foi o tempo em que os contratantes seguiam à risca o rider técnico.
Isso acontece hoje em dia somente com grandes nomes da nossa música, como um Djavan, Ney Matogrosso, Marisa Monte, Maria Bethânia...
É que nem jogador de futebol ganhando milhões.
Tem. Mas a maioria dos jogadores (Séries A, B, C e D) ganham infinitamente menos!
O que está acontecendo hoje em dia com relação ao rider técnico?
Antigamente, principalmente em festivais, onde (por exemplo) seis bandas iriam tocar no mesmo palco, todos os riders eram observados.
Qual o maior número de canais entre as bandas? 48. Ok, então não pode ser uma mesa de 32, tem que ser uma com 48 canais, no mínimo.
Qual o maior número de monitores? 20. Ok, então não podemos colocar só 6, tem que ter no mínimo vinte.
Tem banda que solicita in-ears? Tem, várias. Qual o maior número? Seis.
Ok, no mínimo seis sistemas de in-ears... E por aí vai.
Ou ia!!!!
Não é mais assim, principalmente em shows e eventos feitos por prefeitura e governo.
Mas em shows privados também acontece isso, viu?
Hoje o documento mais utilizado nos eventos é o CONTRA RIDER.
Documento enviado pelo contratante ou pela produção do evento, depois que eles recebem nosso rider.
Esse documento informa quais os equipamentos que estarão disponíveis no evento.
Aí começa a negociação, que muitas vezes é muito mais desgastante do que o trabalho de passar o som e fazer o show!!!
Agora o artista ou banda tem que se adaptar ao que vai ter no evento, e não o contrário.
Precisa de 4 sistemas de in-ear? Não tem. Ou o artista leva ou faz com caixa de monitor.
Ok, faço com caixa de monitor. Preciso de 8. Não tem. Só tem 6. E por aí vai...
Tá assim.
E ainda está pior!!!
Preciso de 6 in-ears. Só temos 4. Ok, vou usar os seus e coloco monitores para os outros músicos.
Quando chegamos no local, dos quatro in-ears que ele falou, só tem dois funcionando.
Passei por várias situações de equipamentos com defeitos, e alguns com defeitos gravíssimos, que poderiam causar danos sérios e irreversíveis na audição do músico, que estava usando in-ear.
Foi mesa com graves problemas nos faders e que aparecia um ruído ensurdecedor na volta de dois efeitos, onde tive que sair eliminando essas voltas, mas fiquei desesperado para o mesmo problema não acontecer no único efeito que estava usando, que estava indo para os ouvidos da cantora.
Como não rezo, fiquei torcendo desesperadamente.
Peguei alguns microfones sem fio com problemas, onde um deles parou de funcionar antes da metade do show, e o microfone reserva falhava com o vento.
Quem me salvou nesse dia foi um amigo que estava com o material dele alugando in-ear para um artista, e tinha microfone sem fio.
Ele "emprestou" o sistema de microfone sem fio dele!!!!
Vi os técnicos de Lenine desesperados, tentando ajustar os in-ears no palco, e depois de muita luta, desistiram, e resolveram usar o que eles levaram para emergências.
Dos 8 sistemas disponibilizados pelo evento, nesse dia só 4 estavam "mais ou menos" estabilizados.
Eu só iria usar dois!!!!!!! Foi minha salvação.
Tem quantos monitores no palco? 6. Ok.
Só quando vou passar o som, vejo que 4 estão falando parecido. Um está falando completamente diferente, e o monitor 6 está com o drive (médio/agudo) queimado!
Aí meu colega do FIG fica arretado que eu reclamo muito.
Oxe. O básico não está sendo feito.
Além do rider técnico do artista não ter muita importância hoje em dia, o que é disponibilizado pelos contratantes não está funcionando direito.
Fiz um trabalho num teatro onde a mesa estava com problemas sérios (a que falei acima), o microfone sem fio estava com problema na cápsula, que parecia estar solta, o amplificador de baixo não aguentava o serviço, e um dos lados do PA parava o tempo todo!
Esse trabalho foi o mais desesperador.
Aconteceu o show? Aconteceu. E foi massa!
Já postei até vídeo!!!
Mas ninguém sabe o que aconteceu antes e na hora do show!!!!
Sabem agora.
Ahhh, o produtor da artista também sabe, pois ele estava perto do rapaz que desligava o lado do PA quando ele parava, pois quando reiniciava, ele voltava funcionando normalmente.
Não sei quanto ao microfone, mas o responsável pelo sistema de som tinha conhecimento dos problemas na mesa e no PA, mas não me falou nada.
Fui descobrindo durante o soundcheck!
Fiquei muito triste com a atitude dele.
A parte boa, se é que posso falar isso, é que fui pulando as fogueiras e os shows foram acontecendo.
Mas não deveria ser desse jeito!
Não só eu pulei a fogueira, os outros técnicos dos artistas que estavam comigo também pularam.
Não esqueçam de Adriano Duprat levando choque na House Mix em Arcoverde, viu?
Luciana Raposo operando a luz de um show, que só chegou AC para a luz, 1h depois da hora marcada para esse show começar!!!! Eu estava no monitor desse show de Otto no FIG, enquanto ela tentava na agonia operar a luz do show no palco, porque não conseguiram enviar o sinal para ela controlar tudo lá na House Mix!!!
Peguei mesa digital no PA que não podia tocar no fader do Máster (L/R) que cortava completamente o som!
Parecia mesa analógica.
E vários faders dos canais também estavam com "vontade própria", eu não podia mudar a página porque corria o risco de alguns subirem ou descerem abruptamente!
Do palco em Arcoverde dando choque eu já falei antes, nem vou repetir.
Microfones com defeitos ou falsificados?
Vixe! Tem muitos na estrada.
Já ando com o meu SM58 para mostrar ao técnico da empresa a diferença quando encontro um ruim no palco, ou para usar em alguma voz.
Já usei várias vezes meu microfone na voz principal!

Kit Emergencial para fazer monitor. (Tem mais ainda!)
Estou até marcando os microfones depois do soundcheck, para ter a certeza que vai ser o mesmo na hora do show.
Normalmente, esses microfones são usados para outras bandas, sem nenhum tipo de marcação, e não voltam para o mesmo lugar na hora do meu show.
Por isso estou fazendo ultimamente essas marcações nos microfones, como faço em todos as caixas de monitor.
Você passa o som com um SM58 original, e volta um falsificado ou de outra marca e modelo na hora do show!
A mesma coisa acontece na maioria das vezes com as caixas de monitor. Marco todas também.
Mais um detalhe...
Por causa dos preços das viagens aéreas, cada dia fica mais difícil ($$) para as bandas levarem seus instrumentos, principalmente os instrumentos percussivos, onde as ferragens são muito pesadas.
Essas ferragens são solicitadas nos riders, incluindo até uma bateria completa, e se torna mais um detalhe não tão simples para ser ajustado com as produções dos eventos.
Tudo está no rider, mas isso não quer dizer mais muita coisa hoje em dia, pelo o que estou notando.
Tudo bem... Existem exageros em alguns riders, isso eu também sei.
Mas estou usando como referência pedidos básicos.
Eu já não acho básico solicitar bateria e percussão completa, só falei que em muitos riders isso é solicitado, e mostrei a razão principal, que seria o preço das viagens aéreas.
Hoje em dia, muitas vezes montam as estruturas primeiro, e depois contratam os artistas.
Só que a estrutura montada foi feita para apresentações simples, e não para uma banda complexa, com quase 40 canais de instrumentos e vozes, e que fora os 4 in-ears, usam 10 monitores de chão!
Montam para um trio pé de serra, e colocam Nação Zumbi para tocar!!
Tem uma frase ótima que gosto de usar: "Não me venha com orçamento de Jaspion, para fazer um filme de Spielberg."

Com certeza, não vai dar certo!
Acho que não está dando, e o que é pior... Está piorando.
Depois da pandemia, a "coisa desandou".
E pelo que vejo, vai demorar um pouco para a turma deixar de colocar a culpa da falta de manutenção dos equipamentos ou das estruturas precárias na COVID.
Espero estar errado.
Como falei lá no começo do texto, mesmo com os obstáculos que apareceram numa boa parte dos trabalhos que eu fiz nesses três meses, a equipe técnica do artista conseguiu amenizar os danos, e os shows aconteceram.
Encontrei várias equipes técnicas dos eventos querendo fazer todo o possível para que tudo saísse perfeito no show.
Mas com a falta de equipamentos e/ou com equipamentos com defeito, ou com estruturas precárias, não tem boa vontade que resolva.
Não acham?
Aí, mais uma vez eu pergunto: --- O rider técnico vai mesmo virar uma peça de museu?
Pelo menos aqui na nossa região?
Espero, de coração, que isso não aconteça.
Um abraço a todos.

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