sexta-feira, 2 de maio de 2008

APR 2008 – Shows de Gamma Ray e Helloween.

Olá pessoal.

Acabei indo para o último dia do festival Abril Pro Rock no dia 27, mesmo não sendo contratado. Fui para me divertir e ver se aprendia algo novo, pois neste ramo (e em quase todos!) tem sempre o que se aprender todo dia. Como sou amigo do pessoal do som, levei todo meu material de trabalho para o caso de precisarem de ajuda, mas foi tudo tranqüilo no palco. Como não estava de serviço, acrescentei na maleta minha garrafinha metálica de 750 ml de vodka!

Só não foi mais tranqüilo por causa dos técnicos das bandas, que eram os mesmos para as duas. Os operadores de P.A. e monitor eram gringos e o iluminador era brasileiro. Achei os alemães muito lentos, muito mesmo! Tinha tudo para ser um sound check tranqüilo, com tempo de sobra, mas acabou ficando agoniado no final. O roadie, que era gringo também e parecia um personagem exótico do filme de Harry Potter, levou uns 40 minutos só para armar uma bateria. E antes de começar a armar a outra, parou para se alimentar, pois ninguém é de ferro, não é? Nessa parada para o lanchinho, pararam todos!

Lembram que falei em algum texto que nos adaptamos ao tempo que temos para fazer o sound check? Mas neste caso, eles abusaram! A segunda banda passou o som com as cortinas fechadas do palco e com o público entrando no local.

Ah... O público... Pensem numa galera animada! Eles vibravam até com os clipes que passavam no telão! Cantavam junto como se já fosse um show. Mas todos os clipes seguiam o contexto da noite, logicamente! Ainda bem que não colocaram um comercial de uma cerveja que foi veiculado nos dois primeiros dias do festival, que tinha como trilha musical um axé, pois com certeza teria sido vaiado com fervor.

Neste dia era muito fácil me encontrar no salão, pois só vi uma camisa com a mesma cor da minha que era vermelha! Quase todo o resto do pessoal vestia preto!! Lembrei da menininha de vestidinho vermelho do filme A Lista de Schindler. Ela era a única coisa que aparecia colorida no filme que era em preto em branco, lembram?

Vamos voltar aos shows...

Os dois operadores, como muitos hoje em dia, solicitaram mesas digitais. Cada um deles trouxe a cena do último show que foi feito em Fortaleza salva no pendrive. Esta cena é passada para a mesa, fazendo com que se ganhe muito tempo com isso. Talvez isso tenha influenciado no relaxamento da equipe na hora do sound check.

Fiquei grande parte do tempo no palco observando a passada de som e pude notar algumas curiosidades, principalmente na banda Helloween. Eles não usam amplificador de guitarra microfonado, o que para muitos guitarristas puristas é uma coisa absurda! Deixo esta discussão para os guitarristas, porque para mim, se o produto final ficar legal, pouco me importa se tem amplificador microfonado ou não na jogada. O guitarrista usava várias guitarras com um único transmissor sem fio e estes sinais passavam só por um cabeçote de amplificação Marshall e por pedais simuladores de amplificadores, sendo enviados por linha (estéreo) para o som. Inclusive anotei a referência deste transmissor sem fio para usar no violão do artista com quem trabalho, pois o meu amigo Normando, que é um dos sócios da empresa de som que faz o festival, e que trabalha comigo no monitor deste artista, já tinha me alertado sobre a existência de tal equipamento.

O baixista usava caixas amplificadas no palco, mas ficavam escondidas abaixo do praticável da bateria, e isso fez com que o palco ficasse visualmente limpo. Outra coisa que pude observar foi o microfone da voz principal. Era um microfone sem fio que eu já tinha ouvido falar e que tentei uma vez fazer com que o artista com quem trabalho comprasse, pois qualidade sempre foi uma prioridade para este artista. O grande problema que encontramos foi que o preço dele aqui no Brasil era somente 32 mil reais!!!! Não tive argumentos (e nem tentei!) para convencê-lo a comprar!!

Como sabia que o som seria pesado, levei e usei meus protetores auriculares para proteger meus ouvidos, pois são minhas ferramentas de trabalho e não posso danificá-los. Fui para o local onde fica a mesa de P.A. que chamamos de F.O.H. (Front Of House), e fiquei lá ao lado do operador alemão até o final dos shows! Escutei a primeira metade do show de Gamma Ray sem os protetores para ouvir o som sem barreiras e coloquei-os na outra metade para descansar os ouvidos até o início do show de Helloween. Foi um show de competência do operador alemão! O som estava muito bom, mas muitíssimo alto! Não sou roqueiro, mas adoro um som bem feito, independente do estilo e não sei também se aquele estilo de música poderia ser apreciado em outro volume. Achei também a voz muito dentro da base musical, fazendo com que eu não entendesse direito as palavras (em inglês) que o cantor pronunciava, mas isso já é um gosto pessoal, pois sempre trabalhei com jingles publicitários em que o entendimento da palavra é a prioridade. Faço sempre isso nos shows em que opero o som do P.A., ou seja, primeiro eu tenho que entender as palavras que o cantor está pronunciando, e depois eu vou complementando com os instrumentos. Lembro-me uma vez que fui a um show de Fernanda Abreu e este show foi gravado. Escutei a gravação depois e fiquei impressionado com o resultado final. Estava tudo muito nítido e equilibrado, parecia um CD gravado em estúdio, só que no show eu não entendi nada da letra que ela estava cantando em várias músicas, pois eu não conhecia as letras! Tudo é uma questão de concepção.

No final do show de Helloween, depois de tomar toda a garrafa de vodka com um amigo meu, dei os parabéns ao alemão pelo som, e não me contendo de curiosidade, pois já fiz shows na Alemanha, perguntei com meu inglês fraquíssimo: Você usa este volume de som na Alemanha? Ele respondeu satisfeito e sorrindo: never!

Fui acabar a noitada com meu amigo Normando no mercado de Casa Amarela, tomando “as saideiras” com galinha cabidela e me perguntando se Recife mereceria tais shows! Acho às vezes o público daqui muito ingrato.

Fui dormir muito feliz por ter presenciado um grande espetáculo, e repito, mesmo sem ser roqueiro!

Um abraço a todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu gostaria de ter ido para presenciar a equipe trabalhando, mas não conheço o pessoal.
Terça aconteceu um workshop da Proshows aqui, aprensentação da empresa e de alguns produtos, incluindo a marca própria Lexsen ("cara-careta DBX"). Foi interessante, conheci alguns grandes do ramo como Luizinho Referência, Marcelo Rodrigues e Ralph. Estava trabalhando na ocasião?
abraços!

Anônimo disse...

Bacana! os "Camisa preta" são fiéis.Pensei que ontem fui ao Festival de Cinema e em dois dias o Teatro Guararapes estava LOTADO para assistir filmes e principalmente "Curtas" que absolutamente ninguém conhecia. O público apladia como se fosse um show! Ver um trabalho que não se conhece é o momento mais absoluto para quem gosta de qualquer tipo de arte. Música às vezes não é assim, vc aplaude ou vai pq ouviu no rádio ou na TV. O Heavy Netal tem essa fidelidade, essa crença. Parabéns pelo texto.