Olá pessoal.
Estava até sem saco de escrever para o Blog, pois ando numa fase não muito boa na minha vida, e me passou pela cabeça se realmente está servindo pra alguém essas coisas que escrevo. Quem me deu um empurrão de ânimo foi uma pessoa que eu nunca tinha visto (pelo menos que me lembre), e que eu nem lembro o nome dele. No último dia do festival, quando terminou meu palco, fui para a house mix do palco 1 conversar com meu amigo Rogério, que foi quem me chamou para trabalhar no evento. Esta pessoa estava lá e eu pensava que ele fazia parte da equipe técnica de um grupo circense do sul do país que acabara de se apresentar. Fiquei surpreso quando esta pessoa me perguntou se eu já tinha feito o texto falando sobre o Festival de Jazz. Porra! Tá servindo para alguém! Tem gente lendo. Vale à pena. Quando ele ler este texto, vai saber que é ele. Aproveita e fala teu nome nos comentários. Valeu.O que os organizadores dos eventos teimam em entender, é que ao contrário daquela lei que diz que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, com o SOM é diferente! Dois sinais distintos de som ocupam o mesmo espaço, e é sempre uma confusão tremenda quando isso acontece! Para separar estes sinais, só com um ISOLAMENTO ACÚSTICO (não confundir com tratamento acústico). E quanto mais baixa é a freqüência deste sinal, mais difícil de ser isolado. Se você pegar uma caixa dessas de som do seu system caseiro e colocar uma placa de madeira na frente dela e ir pra frente escutar, você vai notar uma diminuição considerável nos agudos, mas nem tanto nos graves, pois os graves são muito menos direcionais que os agudos. Os graves vão se espalhar pela sala ao bater na placa de madeira, enquanto que os agudos vão bater e voltar! Já notaram que quando tem festa no apartamento do vizinho e as portas estão fechadas, o que a gente escuta mais é o TUM TUM TUM dos graves? Os graves conseguem se mover também pela estrutura do prédio! Existe uma técnica muito usada em estúdios que é chamada de box-in-a-box, ou seja, caixa dentro da caixa. Consiste em separar a sala da estrutura do prédio.
E pode? Pode! Imagine uma sala quadrada. Dentro desta sala, constrói-se outro piso, só que em vez dele ser feito em cima do piso da estrutura, são colocados suportes de borracha para isolar este contato e logicamente o piso tem uma dimensão menor para não encostar nas paredes. Com as paredes e teto é mais fácil. É só fazer afastado da estrutura original. Temos assim, uma caixa dentro de uma caixa. O isolamento aumenta à medida que as espessuras das novas paredes aumentam. Quanto mais massa, mais difícil do som passar.O outro problema é quem se posicionava na frente das caixas da direita, escutava menos as caixas da esquerda e vice-versa. Como o ambiente era bem pequeno, esta diferença não era tão sentida. Mas imaginem num estádio com um palco enorme vendo o show de Madonna. O lado esquerdo fica beeeeeem longe do direito. Você simplesmente não escutava o outro lado quando era usado este sistema no chão. E existia uma velha (e ainda existe) discussão no meio técnico se era certo fazer uma mixagem estéreo no show como está no CD em que colocamos determinados instrumentos só de um lado, pois quem está do outro lado não vai ouvir tão bem. Os sistemas de Fly P.A. (suspensos) apareceram para diminuir bastante este problema, mas a grande revolução foi mesmo o aparecimento do Line Array, que diminuiu mais ainda esta diferença auditiva do outro lado do P.A. e tornou o som mais homogêneo em todo o espaço do público. No Line Array, você coloca os dados do local do show no computador e indica qual a área que você quer que o som chegue. Diz a que altura vai ficar a primeira caixa do topo do agrupamento e quantas caixas você vai usar. Depois de colocar todos os dados, o programa diz qual a angulação de cada uma das caixas para poder cobrir o ambiente que você deseja. Salve a tecnologia. Um pequeno Line Array seria muito bem vindo neste palco 2 do Festival. É aquela velha história... quem começa a beber o vinho Concha y Toro, jamais vai voltar a gostar de beber o vinho Capelinha.
Lembram de uma turnê de U2 que o sistema de caixas de som era todo posicionado suspenso (era um Fly ainda) no meio do palco? Se eu não me engano, o som do show era mixado mono!Não tive grandes problemas na parte técnica durante todo o festival. Os monitores de chão não eram “os monitores do meu sonho”, mas deu pra fazer. A maior dificuldade foi amplificar o som de um cello usando um microfone. Por causa da proximidade das caixas do P.A. com o palco, fiquei sempre no limite da realimentação. Os outros dois problemas, foram infelizmente com esta mesma banda do cello. Parou o canal de um dos violões na última música, e o sinal do violino falhou algumas vezes, mas estabilizou. No caso do violão, não deu tempo de consertar, pois a última música acabou.
Operei a maioria das bandas, pois ninguém vinha com técnicos. Apenas duas bandas trouxeram operadores. Achei baixa a percentagem. Essa turma do Jazz tem que rever este conceito.Ah! Já ia esquecendo. Ainda operei o monitor do Palco 1 nos dois últimos dias. Deu tempo, pois o palco 1 só começava após o término do palco 2. No sábado foi complicadinho, pois as bandas não fizeram o sound check, e tinha uma banda muito complexa do Chile. Muitos instrumentos, muitos microfones, e um acordeom que precisava ser microfonado (dor de cabeça). Foi feito tudo na hora do show. Line check, sound check... E o show começou. E começou a realimentar (microfonias). Corta grave aqui, baixa o médio ali, diminui o volume acolá. Um corre-corre básico. Levei umas duas ou três músicas pra achar um ponto de equilíbrio. A voz da cantora foi uma das vozes femininas mais bonitas que já ouvi. O nome da banda, se eu não me engano, é Verdevioleta.
No domingo foi moleza, pois as duas primeiras bandas tinham feito o sound check com Rogério logo cedo e eu só fiquei brincando com a mesa. A terceira banda não passou o som, mas era um trio simples e não tive problemas com o monitor.Gostei muito de trabalhar no evento, e tive a oportunidade de ouvir grandes músicos. Muita coisa boa: Contracuarteto, Bráulio Araújo, Mallavoodoo, Mr. Trio, Sonore Fábrica, A Trombonada, Saracotia, Cantiga Caarina, Verdevioleta, Na Tocaia Trio & Alex Corezzi, Luis Nacht, etc.
Tenho certeza absoluta que o público que compareceu nos 3 dias não se arrependeu de ter ido ao evento. Quem não foi, dançou! Pois não vai ser tão fácil ver (ouvir) uma galera dessa reunida novamente, a não ser no próximo ano do Festival Recife Jazz.Finalizo com a frase do pianista do Mr. Trio que disse durante o show: --- Tou até emocionado de ver tanta gente ouvindo música instrumental. Isso quer dizer, que nem tudo está perdido.
Um abraço a todos.
12 comentários:
Grande Titio! Pois é, dava pra ouvir o show de Otto todinho do Palco 2, como estávamos ouvindo e o pianista todo concentrado (e um número considerável na platéia!) Apesar de todos os problemas e alguma falta de organização, as bandas fizeram seu trabalho muitíssimo bem feito, mesmo com todas as limitações (Palco 2), como você já disse, é preciso tirar o máximo do equipamento que possui. Fui também no domingo, já cheguei meio tarde e você estava no monitor do Palco 1. Alex Correzi e banda mandam muito bem! Ah, o comentário inicial fui eu? Parabéns e continua escrevendo!
Abraços.
Oi Felipe.
Eu não conhecia a pessoa que fez a pergunta sobre o Blog. E isso foi no domingo. Não foi você, pois eu já o conhecia.
Um abraço.
Adorei ter notícias do Recife Jazz Festival sobre um ponto de vista quase nunca comentado. Parabéns pelo seu trabalho. Parabéns pelo blog!!! D+
Obrigado Emanuelle.
A intenção do Blog é exatamente essa.
Um abraço.
Muito legal Titio. Adorei o site!
Muito bom parabéns!!
Continue sempre. Grande trabalho!!!!
O mercado profissional de artes Pernanbucano,precisa de iniciativas como essa sua!!!!
Parabéns,muito sucesso!!!
Abraços
Leo Dim
Obrigado Leo Dim.
Bom ouvir comentários positivos de profissionais "das antigas" como você. Isso me faz crer que o Blog está surtindo efeito.
Um abraço.
oi titio comecei a ler hoje seu blog e logo me identifiquei, foi eu quem falou com vc no house do arsenal, Meu nome é jairo césar sou amigo de ricardo cruz e atuante no ramo também.
um grande abraço pra vc, e estarei sempre por aqui lendo suas experiências de trabalho e fazendo comentários.
Ok Jairo. Foi você mesmo. Vi pela foto no Orkut, quando o adicionei. Valeu pela força que você deu mesmo sem saber que estava dando.
Um abraço.
Ô Titio, claro que seu blog é útil, rapaz. Eu sou seu leitor assíduo e por causa dos seus textos, cada vez mais me interesso mais pelo assunto Engenharia de Áudio. Cada coisa interessante que descobri aqui. Nós que estamos no palco muitas vezes não paramos pra pensar com carinho que para que tudo corra bem no show, profissionais como você se empenharam e tomaram o trabalho nos braços como se fosse seu. Fico triste com alguns colegas que ao apresentar seus músicos ao público, no final do espetáculo, esquecem de apresentar também a equipe técnica (som, luz, produção e contra-regra). Se os artistas são o corpo e coração de um espetáculo, vocês são o cérebro e sistema nervoso. Parabéns pelo blog e que você tenha sempre coisas legais e disposição para nos mostrar.Abraço
Olá Ney.
Tou recebendo tanto incentivo que já estou quase acreditando.
Muito obrigado pelas palavras e por reservar um pedaço do seu tempo para ler o que escrevo.
Recebi ontem uma ligação do Rio Grande do Sul. Era um cara falando que tinha lido uma explicação que eu dei de como sincronizar a mesa digital com o laptop e tava querendo mais umas dicas, pois não estava conseguindo. Depois de uns três telefonemas, ele me ligou pra agradecer e dizer que estava tudo ok. Puxa vida! Rio Grande do Sul?? Que bom que está dando frutos o Blog. Não vou parar não, ok?
Um abraço.
Titio, sei que voce nao me conheçe, mas de vista iria lembrar, andei muito pela somax, junto com Marquinhos Maraial, hoje sou técnico de audio, já uns 10 anos eu acho, mas tive meus primeiros contatos com o audio, observando trabalhos seus, do Tovinho (grannnnde Ninja) e do Cacau Mix, (do Rogério Louro José tambem), vi no inicio que voce estava um tanto desestimulado em relação ao Blog, sobre postar ou não. Voce ainda nao se deu conta da importancia no cenário musical que voces tem para nós que caminhamos as "trilhas" e "waves" da vida, recheadas de "plugins" e circunstâncias pitorescas tambem.
Temos muiiito a dever a voces que desbravaram essa posição perante o preconceito da massa (nao todos)sulista, pois voces mostraram que no nordeste, e principalmente em PERNAMBUCO, não é apenas lugar de ampla cultura musical, como tambem de uma técnica refinada, de autodidatas que fazem a diferença na hora do vamos ver.
Jamais desestimule, pois uma geração que está surgindo, depende da experiência e do bom gosto de voces.
P.S.: Seus comentários sobre o Festival Recife Jazz, foram excelentessss.
Olá Ronney.
Obrigado pelas palavras.
Realmente Tovinho é um Ninja. Aprendo sempre com ele. Foi quem me iniciou em estúdio de gravação e em gravação em computador. Me incentivou muito para começar a operar som em shows e me levou para o monitor da banda Versão Brasileira. Devo muito à ele.
Cacau a cada dia me impressiona mais com suas mixagens. Entrei um dia no estúdio "A" da Somax e ele e Tovinho estavam ajustando o áudio do DVD Acústico de Limão com Mel. O som estava muito bom.
Fui ler o texto do Recife Jazz e acabei encontrando um erro meu na parte que falo como funciona o ajuste dos ângulos das caixas do Line Array. Falei anteriormente que o programa dizia quantas caixas usar, mas não é assim. Você tem que dizer quantas caixas vai usar. Já retifiquei o texto.
Precisando de alguma coisa, meu celular está no Blog.
Um abraço.
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