quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Show de Silvério Pessoa no Projeto Verão PE – Foi sufoco!! – Usando subgrupos ou VCAs na mixagem de um show.

Olá pessoal.

Tenho tanta coisa pra comentar, que fiquei até com preguiça de começar a escrever. Se quando dá quase tudo certo eu já escrevo muito, imaginem dando quase tudo errado!

Vou tentar (acho difícil) ser breve.

O sound check estava marcado para as 15h. Chegamos ao local perto desta hora e o equipamento de som do evento estava ainda sendo retirado do caminhão! Dá para notar isso na foto acima.

As caixas do P.A. já estavam montadas. Já sabia que a mesa de monitor seria uma (mais uma vez) digital M7CL da Yamaha. Muito bom. A do P.A. seria uma analógica. Eu teria que anotar meus ajustes, pois o nosso show estava marcado para ser a segunda atração da noite, com o horário previsto de entrada para 20:30h. O evento estava marcado para ter início às 19h ou 19:30h no mais tardar. A empresa de som tinha até um rack de periférico muito legal. Muitos compressores, muitos gates, várias máquinas de efeitos. A mesa não fazia muito a minha cabeça, pois não possuía VCA (em mesas digitas é DCA), uma ferramenta muito útil na hora de mixar um show. Alguns técnicos que estão lendo isso, podem até pensar: --- Mas a mesa tinha subgrupo, deixa de frescura, é a mesma coisa...

Eu particularmente não acho. Acho muito chato trabalhar com subgrupos, prefiro VCA/DCA.

Vou dar uma breve (breve? kkkkkkk) explicação para os leigos que estão lendo este texto.

Em um show, existem vários instrumentos (violão, baixo, guitarra, etc) e até várias peças de um instrumento só, como a bateria por exemplo, que no show de Silvério Pessoa eu uso 11 canais só para ela. Cada instrumento ou peça do instrumento chega para mim e para o operador de monitor que fica no palco, em canais separados na mesa. Neste show de carnaval de Silvério Pessoa são utilizados 38 canais!

Meu trabalho (o cara do palco é um pouco diferente) é justamente juntar todos estes canais transformando-os numa massa sonora uniforme e coerente para o público que está assistindo o show. Todos os canais são agrupados e enviados a duas saídas na mesa de som que chamamos de MÁSTER. O que sai nesta saída máster é exatamente o que é enviado para as caixas de som. O nome dado a esta tarefa de juntar e/ou misturar os canais é MIXAGEM.

Se eu simplesmente levantar todos os faders (controle deslizante que comanda o volume do canal) na mesa sem nenhum embasamento técnico e/ou teórico, com certeza o resultado sonoro final não será nada interessante, para não dizer catastrófico!

Pois bem... Imaginem agora que depois de ajustar o volume de cada uma das 11 peças da bateria, eu decida baixar o volume geral do instrumento. Cada fader está numa posição diferente e eu teria que baixar 11 faders ao mesmo tempo mantendo as diferenças de volumes. Por causa dessa dificuldade surgiram nas mesas de mixagem os subgrupos, e mais tarde os VCAs (Voltage Controlled Amplifier ou amplificador controlado por tensão).

São faders (normalmente 8) que ficam no meio da mesa. Com eles podemos fazer subgrupos de mixagem. Diferença básica entre subgrupo e VCA: Quando você endereça um canal para um subgrupo, o áudio deste canal é enviado para os faders do subgrupo. Inclusive, existem estas saídas dos subgrupos atrás da mesa. No subgrupo eu tenho que endereçar a saída dele para o máster da mesa.

No caso do VCA, não. Quando você endereça um canal para um VCA, você simplesmente está indicando que o volume daquele canal vai ser controlado pelo tal fader do VCA. Não é enviado áudio nenhum aqui e não existem saídas físicas na mesa para VCA. O VCA simplesmente amplifica (aumentando ou baixando) o sinal(ais) do(s) canal(ais) endereçado(s) para ele.

Então, eu posso endereçar todos os canais da bateria para o subgrupo (ou VCA) 1, todos os canais de metais para o subgrupo 2, todos os canais de vocais para o subgrupo 3, etc, tendo assim várias submixagens nas mãos. Querendo baixar o som da bateria, eu simplesmente baixo o fader do VCA 1 que está controlando o volume de todos os canais da bateria. Querendo baixar o naipe de metais, eu baixo somente o fader do VCA 2. Prático, não?

Nas muitas vezes que peguei mesas com subgrupos, não me senti confortável. Endereçava toda bateria para o subgrupo 1-2 e não endereçava os canais para o máster, mas durante o sound check ou durante o show eu acabava tendo que endereçar alguns destes canais ou para o máster ou para outro subgrupo porque precisava de mais volume. E quando baixava um subgrupo, algumas peças não baixavam na mesma proporção porque estavam endereçadas para outros subgrupos. Com os VCAs e/ou DCAs não tenho este desconforto.

Quando a mesa possui VCAs, eu geralmente trabalho deste modo: Coloco a bateria no VCA 1, a percussão no VCA 2, a guitarra no VCA 3, o acordeom no VCA 4, os vocais no VCA 5, os metais no VCA 6, as vozes de Silvério no VCA 7 e TODA A BANDA (menos Silvério) no VCA 8.

Porque eu coloco apenas um instrumento no VCA (a guitarra ou acordeom)? Coloco porque tenho muita variação de volume destes dois instrumentos durante o show. Em certas músicas eles são os instrumentos principais na introdução da música ou num solo. Deixo-os sempre na minha frente, não precisando ir ao canal que pode estar longe na mesa.

Porque eu coloco toda banda em um VCA? Peguei esta mania com o tempo. Fazia o sound check e estava tudo certo. Só que na hora do show, pude notar que os músicos tocavam mais forte seus instrumentos. Isso fazia com que o instrumental cobrisse a voz do cantor. Colocando todo instrumental num VCA, tenho o volume geral da banda em um único fader. Como as vozes (Kaos Pad e sem fio) de Silvério ou de qualquer outro artista está no meu VCA 7, geralmente em todo início de show uso muito os VCAs 7 e 8 para ajustar os volumes da banda em relação à voz principal.

Para quem quiser uma explanação mais detalhada sobre mesa de som para P.A., encontrei um texto muito legal na internet da DGC Áudio. O endereço é:

http://www.dgcaudio.com.br/conteudo/suporte/textos/mesapa.htm Do lado esquerdo, a mesa de som. Os faders brancos são os canais dos instrumentos e os faders vermelhos no centro são os subgrupos. Do lado direito, parte dos periféricos.

Voltando ao show...

Lembrando que chegamos perto das 15h ao local.

O tempo foi passando e nada do som falar. Notamos que não daria tempo da gente fazer o sound check, desligar e retirar do palco nossos instrumentos, para o pessoal do som armar a outra banda e começar o evento. Fizemos então uma reunião e decidimos com a produção do evento que iríamos fazer o sound check e começar o evento. Tudo certo. E o tempo foi passando e nada do som da frente falar. Aproveitei para escrever os nomes dos meus canais na mesa e notei que eu tinha esquecido de colocar o canal do baixo no input list. Fiz tanto input list e mapa de palco ultimamente para os shows do carnaval (vão ser 3 shows diferentes) que acabei cometendo este erro. Tudo bem... Como Normando (operador de monitor) não tinha plugado nada no palco, avisei pra ele da besteira que tinha feito e combinei aonde seria o canal do baixo. E o tempo foi passando...

Enquanto o técnico da empresa de som fazia as ligações para o som do P.A. funcionar, fui para o palco dar uma força para Normando, pois não tinha o que fazer na frente.

Pensei que iríamos ter problemas com os cabos para ligar nossos fones, mas deu pra ligar tudo. Em contrapartida, faltou pedestal! É amigo... Tivemos que fazer uma ginástica para posicionar os microfones. E o tempo passando...

Finalmente o som do P.A. deu sinal de vida e eu fui lá pra frente. O velho line array made in home. Coloquei (pela enésima vez) Lisa Stansfield para cantar. Era nítida a diferença nas partes altas (agudos) do sistema. Comentei com o técnico da empresa e ele falou que estava com problemas no processador e não teria como ajustar aquilo, pois o mesmo estava travado. E o tempo passando...

Dei uma compensada no equalizador para deixar esta diferença menor e seguimos em frente. Começamos o sound check.

No primeiro canal já tive problemas. O sistema de som tinha, como falei no começo, um bom rack de periféricos. O problema foi que as ligações entre estes periféricos e a mesa não estavam funcionando. Tira cabo, põe cabo, troca cabo. E o tempo passando...

Desisti dos compressores e gates. Falei que faria sem eles. Não tinha tempo para ver isso. Vamos em frente... Caixa! O canal da caixa não chegava. Segue! Caixa 2! E fui seguindo com os outros canais enquanto resolviam o problema da caixa. O técnico conseguiu colocar um gate no bumbo da bateria. Legal. Segue! Foi um tal de canal chegando, canal não chegando. E teve uma hora que paramos no canal do surdão da percussão. Perdemos um bom tempo para este canal chegar às duas mesas. E o tempo passando... E o público esperando...

Vamos para os metais! Sax 1, 2, Trombone 1, etc, etc, etc... Parecia que os canais não acabariam mais! (risos)

Por fim chegamos na voz principal! A banda tocou uma música rapidamente com Silvério cantando e encerramos o sound check. Todos saíram do palco para trocar de roupa e comer alguma coisa no camarim. Em menos de 10 minutos a banda retornou ao palco e começamos o show. Sabe que horas? Faltavam 15 minutos para as 22h!!!

Falei para o técnico da empresa de som que eu teria economizado muitos minutos se a mesa fosse uma digital, pois não teria problemas de ligações entre a mesa e os periféricos, pois estes periféricos estariam dentro da mesa. Não tem como fugir de certas realidades.

Às vezes noto uma certa irritação por parte das equipes de som quando tento saber antecipadamente qual vai ser o material usado no evento. Já me deparei algumas vezes com alguns técnicos de empresa com cara feia, ou com perguntas (não muito delicadas) se aquela mesa ou se aquele sistema de P.A. servia pra mim. Respondo no mesmo nível da pergunta. Perguntas delicadas, respostas delicadas. Perguntas não muito delicadas, respostas também.

O show começou e eu estava achando razoável. Ajusta aqui, ali... Estava no final da segunda música, quando o técnico da empresa de som, ainda tentando ajustar a diferença entre os dois lados do sistema no processador, mexeu (não sei se sabendo o que fazia ou não) em algum parâmetro que fez com que o som melhorasse muito. Falei pra ele na mesma hora que não mexesse mais em nada, pois tinha ficado bem melhor. E fui assim até o final do show.

Mesmo com todos os problemas, o show foi bom.

Sabíamos que existia uma grande possibilidade de uma predisposição do público em estar ali para ver a última atração da noite que seria uma dessas bandas de forró eletrônico que toca muito nas rádios. Mas o show foi muito bem recebido.

Já no camarim, comemoramos mais uma vitória sobre os problemas encontrados.

E discutimos uma notícia que ficamos sabendo lá. Duas bandas conhecidas nacionalmente, e que participaram deste mesmo projeto em outros locais em Pernambuco, simplesmente trocaram as empresas de som que estavam nos locais por empresas de sua preferência. Estrelismo ou vontade de fazer a coisa bem feita?

Sei que o line array caseiro não é mais aceito nas licitações para os grandes eventos em Recife (não sei se isso acontece para Pernambuco). Fiquei sabendo também que já estão exigindo pelo menos uma mesa digital nos pólos de carnaval nos subúrbios de Recife.

Não posso negar que isso já é um avanço.

Um abraço a todos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Titio...
Concordo com você no que se refere a qualidade dos materiais disponíveis para o show,(cabos, sub-snake, microfones, pedestais, cachimbos de microfones, Direct-box, caixas de som e seus respectivos componentes, etc), serem de uma qualidade, muitas vezes sofrível, e que possivelmente a atenção no show por arte da equipe de um artista ou banda será direcionada, não apenas para o palco, como também, a estes objetos, que se mostraram defeituosos durante a passagem de som. Aumentando o nível de estresse huamana.
Outro ponto importante, é a fomra como muitas vezes, nós membros de equipes de bandas ou artitas, somos tratados por membros de determinadas equipes de empresas de som, os quais já trabalhando em condições extremamente desgastantes, desagradáveis, não conseguem um controle mental/espiritual/profissional para encarar uma situação de defasagem técnica dos materias que a sua respectiva empresa disponibiliza. Justamente o ponto em que você citou as perguntas delicadas ou indelicadas.
São "graçinhas", "alfinetadas", que percebemos serem endereçadas diretamente a nós, membros de equipes de bandas ou artistas.
É difícil e muitíssimo inconveniente quando acontece este tipo de interação. Tenho algumas experiências de trabalho para os dois tipos de equipes: empresas de som; bandas ou artistas.
Me lembrei de uma música da Elba Ramalho: Você tem que ter: jogo de cintura; olho na mistura; não se incomodar...
Abraços...
Thiaguinho Roadie PE

Unknown disse...

Olá Titio!
Mais uma vez convivendo com os malditos "Line Errei" né?
auhsuasuhasuh
Aqui em Bh tem alguns locadores até se assustam quando ouvem falar em parâmetros Thielle Small, pra eles onda cilíndrica servem apenas para serem surfadas. hasuhash

É uma verdadeira praga a propagação destes sitemas. Felizmente temos empresas pequenas produzindo produtos que contém uma boa fundamentação teórica, e consequentemente uma melhor quaqlidade sonora, melhor cobertura etc.

Já vi gente comprar 12 caixas de propaganda volante com dois falantes de 8" e um tweeter piezoelétrico, pendurar na igreja usando ganchos(daqueles de amarrar varal. uahsuhauh). E me vem o tecnico de som e diz que é line array.

Abraços!!

Anônimo disse...

Nunca trabalhei em uma mesa que possuia VCAs! Espero poder ter uma oportunidade.
Quando descarrego meus equipamentos em casa, testo cabos, equipamentos, caixas, etc, para que não perca tempo por conta de mal contatos ou cabos partidos. Sei que em uma empresa "grande" isso é mais difícil, mas caso queira manter qualidade e agilidade, é bom perder uma manhã revendo isso. Você perde uma manhã, mas ganha uma noite de trabalho sem problemas. Eu soube que tem uma fábrica aqui em Recife vendendo 'line' ativo por um pouco mais de mil reais. pergunto... será que eles usam novik ou b&c? :)
Pois é Lucas, têm empresas que "acham" que possuem line array, e nem sequer sabem que a teoria vale para mais de 4 caixas por lado, e quando sabem, não sabem o porquê! aliás, nem sabem o funcionamento. Essa mesma empresa de 'line' disse a um conhecido que poderia colocar qualquer alto-falante!! Isso parece mercadolivre heheh

Abraços Titio!
a gente se vê pelo carnaval.

Hilda B. disse...

Pense numa pessoa frustrada!!!! Saí de Chão de Estrelas( do ensaio do Cambinda Estrela ) e fomos, em tempo record, para Janga, com o horário de 23 hrs para o show do Silvério! Cheguei a tempo, mas qual não foi minha surpresa saber que ele havia entrado antes de todos, antecipando o show??? Agora sei que vc é o culpado...rs
Isso não se faz...agora ver Silvério em PE, bota mais uns 3 anos nisso...rs
Bjos,
Hilda