sexta-feira, 14 de março de 2014

Mixando para a TV neste carnaval (Bizasom) – ...mas gostei muito da experiência.

Foto: Bruno Campos / PCR.


Olá pessoal.
Nem ia trabalhar neste carnaval, estava pensando em ir (liso) para uma praia qualquer ou para Garanhuns onde aconteceria um Festival de Jazz.
Já sabia que não ia fazer Alceu Valença, porque só faço quando um dos dois técnicos dele não pode fazer, e neste carnaval eles confirmaram que iriam fazer todos os shows.
Ainda recebi uma proposta de um colega que trabalha na prefeitura para fazer o monitor do palco principal do carnaval de Recife (Marco Zero), mas como não sou muito fã da filosofia de pagamento das prefeituras e governos, resolvi não aceitar.
Quando já estava vendo para onde eu iria, recebo uma proposta da Bizasom (Ítalo) para fazer a mixagem para a TV Band dos shows no Marco Zero.
Como nunca tinha feito isso, aceitei o convite antes mesmo de combinar os valores.
Tenho que perder esta mania!
Sempre me empolgo antes com o que vou fazer e depois vou ver o lance da grana.
Mais uma vez caí na conversa (no bom sentido) do meu Amigo Ítalo.
Vai ser uma coisa simples, mixar algumas bandas para a Band...
Só nos quatro dias de carnaval, mais a abertura na sexta...
Só na hora que a TV estiver no ar...
Etc, etc... Falou ele.


Comecei a trabalhar na segunda-feira que antecedia o carnaval!
Não lembro se já passei o som de alguma banda já neste dia, acho que sim.
O meu setup estava montado provisoriamente atrás do palco e era composto por uma mesa Venue S3L e duas caixas Yamaha HS80M.
Vou fazer um outro texto somente comentando sobre a nova mesa Venue.
Os sinais entravam num sistema digital da DSPro chamado DSnake que ficava no palco e estes sinais eram “splitados” e enviados por cabos de rede para a mesa de monitor no palco, para a mesa de PA lá na frente e para a minha mesa da mixagem para TV.
Estes cabos (eram dois, sendo um de reserva) de rede que chegavam às três mesas entravam em outro equipamento de apenas uma unidade rack chamado DSnake Compact.
E atrás dele saía o multicabo analógico (de 8 em 8) para ser plugado às mesas.
Este DSnake Compact suporta até 64 canais!


O patch dos canais das bandas era feito digitalmente, usando-se um laptop.
Muito prático e rápido. Cada patch era salvo no laptop e na hora da banda era só chamar de volta o que foi salvo.
Não tive nenhum problema com sinais falhando ou chegando errado durante todo o evento!
Rodrigo Nalin (Bizasom) foi o técnico de monitor e era responsável também por gerenciar estes patchs no laptop.
Muito bom o sistema.

Adilson “Xuxu” e o Mago completavam o time que gerenciava o áudio no palco.
A mesa de monitor foi a PM5D da Yamaha e a mesa de PA uma Venue MixRack.
Pois bem... Sistema explicado, vamos para a parte “não tão suave” que começou na segunda, dia 24 de fevereiro.
Levei até duas caixas da Genelec emprestadas do estúdio do meu Irmão Tovinho, pois usei estas caixas durante um bom tempo quando trabalhava com ele produzindo jingles.
Mas quando começaram a passar o som, vi que as caixinhas estavam completamente descartadas, pelo menos com o sistema armado ali no palco.
Mas como era provisório aquele local, não trouxe de volta as caixas pra casa.
Passei o som de várias bandas com o sistema armado atrás do palco.
Apelei para meu fone Audio-Technica ATH-M50, dica do meu amigo Júnior Evangelista.
Estou gostando muito do fone, acho que não volto mais para o Sony.
Tou até com medo de voltar à Caruaru.
Não resisto às iguarias exóticas (buchada, rabada, miúdo de perua, galinha cabidela, tripa assada, etc) e acabo comendo mais do que preciso.
Mas mesmo como medo, acho que volto lá este fim de semana, já estou quase 100% recuperado das dores no estômago. 
Logicamente este não é o único (nem principal) motivo para voltar à Capital do Forró... 

Setup montado atrás do palco.


Voltando ao Marco Zero, como vinha falando, meu fone foi quem me salvou nos dias que o setup estava montado no palco, descartei completamente as caixas de som. Simplesmente não dava para ouvir nada quando a banda estava passando o som.
Passei o som de bandas durante toda a semana!
Chegou o dia da abertura do carnaval, sexta-feira, dia 28.
Se eu não me engano, foi o dia em que terminaram de montar a “casinha” onde eu iria ficar.
Ar-condicionado. Linda. Se não fosse por um detalhe.
Só conseguiram montar esta casinha atrás (uns 15 metros) das caixas de subgraves.
Ainda tentei puxar mais para trás, mas não tive êxito.
Esta casinha era feita daquelas placas fininhas de compensado presas em estruturas de alumínio.
A grande maioria dos camarins aqui na minha região é montada deste jeito.
Imaginaram o ruído gerado pela estrutura ao receber o impacto das ondas sonoras subgraves?
Vou colocar a minha resposta em letras maiúsculas para vocês entenderem.
NÃO, VOCÊS NÃO TÊM IDEIA DO RUÍDO!!!!!!!
ERA ASSUSTADOR!!!
Ao fundo, uma das caixas de subgraves.


Já tinha trazido as pequenas caixas da Genelec para casa porque tinha decidido que usaria as caixas da Yamaha da Bizasom por serem bem mais robustas.
Mas nem estas caixas da Yamaha funcionariam ali naquele local.
Na realidade, caixa nenhuma, independente de tamanho, potência, fabricante, resolveria aquele problema.
Ainda consegui usar as caixas para escutar individualmente cada instrumento ou voz quando este instrumento ou voz estava sendo checado individualmente no palco.
Mas quando todos estavam tocando juntos, o fone era minha única saída, e com determinadas bandas onde o técnico usava muito os subgraves, o fone só funcionava quando eu apertava nos meus ouvidos os dois lados com as mãos!
Meu maior inimigo era o SURDO do frevo ou as ALFAIAS do maracatu.
Só precisava de um surdo ou de uma alfaia no som da frente para eu não escutar mais nada nas minhas caixinhas.
Continuei passando o som das bandas neste dia da abertura.
E em 3 dos 4 dias de carnaval ainda tinha sound check pela manhã.
Tínhamos que chegar lá às 10:30h no máximo!
Só na terça-feira é que a passada de som foi às 13h.
Nestes três dias de sound check cedo, não dava pra dormir mais que três horas, pois saímos tarde do evento.
Mas já foi pior que isso antigamente, sabiam?
Falaram-me que em carnavais passados, não dava nem tempo de ir pra casa direito porque o evento acabava mais tarde ainda e tinha que chegar ainda mais cedo para passar o som das outras bandas.

Sistema Venue S3L.


Resumindo...
Passei o som antecipadamente de 98% das bandas que se apresentaram no palco do Marco Zero.
Só me recordo de duas atrações que tocaram no palco que eu não passei o som antecipadamente.
Uma foi o Orquestrão que seria o encerramento do carnaval, onde seu técnico me passou uma cena de PA para eu colocar na minha mesa e eu iria mixar na hora do show, e a outra foi uma banda de Maracatu, que passei o som na hora da apresentação.
Mas o resto? Passei tudo!
Pensei em Ítalo vários dias.

Foto: Bruno Campos / PCR.

Alguns pontos eu gostaria de comentar aqui, fora a tortura provocada pelas paredes vibrando com o subgrave que já comentei acima. 
Comentário 1:
Achei estranho mixar várias bandas e/ou artistas diferentes.
Não é nada confortável pegar o input list de Lenine, ver 6 canais de samplers e não ter ideia o que vai sair nestes canais e em qual música se encaixa estes sons.
Porque dois amplificadores diferentes para um instrumento? O som é feito misturando os dois sons? Que canal é este de Eff (efeito) aqui? Ah, é um efeito que o cara da guitarra coloca na voz de Lenine! Em qual música?
Dois canais de bumbo no Nação Zumbi. Qual usar? Os dois misturados?
Tem outra caixa no input de Gabi Amarantos lá no final. Eita, é eletrônica. Ah, tem um bumbo eletrônico também... Qual deixar mais evidente?
O sampler 3 de Lenine é na realidade o metrônomo que é endereçado aos músicos no palco, não pode sair no som. Deixo fechado.
Fui descobrindo ou tentando achar tudo isso e muito mais durante cada show!
Atualmente, algumas bandas e/ou artistas já andam ou contratam um técnico para Broadcast, ou seja, para mixar o show para TV ou rádio.
Faz muito sentido, não acham?

Comentário 2:
Fora o sinal estéreo que eu enviava para a Band, um outro sinal estéreo igualzinho ia para um pequeno caminhão usado pela prefeitura.
Não sabia qual o destino seria dado a este sinal da prefeitura.
No decorrer do evento, conversando com o colega que estava neste caminhão da prefeitura, fiquei sabendo que um pessoal que armou um "mini-estúdio-com-vídeo" ao lado da minha casinha estava transmitindo o evento pela internet, e que o áudio usado nesta transmissão era o meu, que eles estavam pegando do caminhão da prefeitura.
Já não achei muito certo, pois eu fui contratado para fazer o áudio para a Band, mas tudo bem, vamos em frente, como diz meu amigo Silvério Pessoa.
Um dia resolvi ouvir o áudio no laptop do pessoal da internet com meu fone, e achei o som muito estridente, com muito mais médio-agudos e agudos do que eu estava ouvindo lá na minha “sala da tortura”.
Será que meu fone não responde legal nesta faixa de frequências e eu estou exagerando?
Nas caixas, quando eu conseguia ouvir alguma coisa, achava mais “espirrado” as altas, mas estava confiando no meu fone.
Mas com esta terceira audição no laptop externo fiquei na dúvida, e aliviei alguns acréscimos de freqüências altas que tinha colocado nas vozes e em alguns instrumentos, mas que estava soando legal no fone.
Desde a época que mixava jingles, sempre levei em consideração que os falantes das TVs não responderiam nunca do mesmo jeito que minhas caixas Genelec.
Uso esta tese até hoje.
Mas mesmo assim, baixei um pouco as altas neste dia.
No outro dia, no final da tarde, encontrei-me com meu colega que estava recebendo meu áudio no caminhão da prefeitura, e fui conversar com ele para entender como ele gerenciava o meu sinal.
Ele me falou que meu sinal entra numa 01V da Yamaha.
Ui, já ta convertendo novamente meu sinal e usando um conversor não tão bom.
Perguntei se ele estava mexendo neste sinal (compressor, equalizador, etc).
Foi aí que ele me confidenciou que só ontem é que tinha aumentado os agudos porque alguém da prefeitura achou um pouco abafado o som!
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.
Nem perguntei em qual frequência começava este aumento.
Expliquei que eu tinha achado o som da transmissão da internet na noite anterior muito estridente e o que tinha feito na minha mix para compensar e ele falou que já tinha colocado normal a equalização na 01V e que eu poderia voltar ao normal também.
Depois que o sinal sai para outro lugar para ser distribuído, não temos mais nenhum controle sobre ele!
Ouvi poucos comentários sobre o som da Band ou o som de alguma rádio ou de outro canal de TV, que provavelmente estavam usando também meu sinal pela prefeitura.
Tirando a sexta-feira, onde a Globo contratou outro estúdio para fazer a mixagem independente para ela, nos outros dias meu sinal do Marco Zero deve ter sido usado na maioria das transmissões das rádios ou flashs das TVs.
Vi alguns vídeos da Band na UOL e o áudio estava sofrível, muito abafado, e notei que fecharam o PAN do sinal, tornando-o mono.
Fiz algumas distribuições sutis de alguns instrumentos no estéreo para não congestionar muito o meio, e principalmente para poder entender e separar o som de duas guitarras, ou de um cavaco e um banjo, ou de um caxixi e hihat.
Mas como falei acima, não adiantou porque fecharam este PANorâmico.
No BOL encontrei os mesmos vídeos da Band, só que com o som bem mais claro, muito parecido ao que estava ouvindo no meu fone.
Quem quiser comentar algo aqui sobre o som do Marco Zero em algum meio de comunicação, sinta-se à vontade.
Para complementar, lembrei-me de algo.
Teve até uma noite que dei gritos de desespero na "solidão barulhenta" da minha sala de tortura.
Gritei todos os palavrões que eu conhecia.
Não conseguia escutar quase nada direito, inclusive no fone. Levantei-me da cadeira para deixar de sentir as vibrações dos subgraves que chegavam ao meu corpo pela cadeira, para tentar definir o bumbo e o baixo no meu fone.
A cada dia estas vibrações no corpo doíam mais.
Não foi nada confortável o trabalho, e não achei justo meu sinal ir para outros lugares fora a Band...
Mas gostei muito da experiência.
Um abraço a todos.

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