terça-feira, 2 de abril de 2024

Monitor da Academia da Berlinda em João Pessoa - Usando o GANHO para mixar?

 
Olá pessoal.
No dia 16 desse mês, fui fazer o monitor da banda Academia da Berlinda, lá em João Pessoa.
O show aconteceu num espaço bem legal chamado Boteco Lunar.
Quando recebi o convite de Adriano Duprat, diretor técnico da banda, e que também iria fazer o som do PA do show, ele já me adiantou que o palco era pequeno, e que os equipamentos eram de médio porte.
Uma LS9 da Yamaha no monitor (outra no PA), 4 caixas amplificadas da Yamaha (modelos DXR e DBR 12), 2 caixas amplificadas da Behringer  e uma caixa torre (3 vias) da Oneal para a bateria.
Não teríamos caixa de subgrave para a bateria e nem as caixas para o side.
Fiz uma conta rápida e vi que iria faltar monitor para a banda.
Clique na imagem para ampliar.

O normal num show da Academia são 9 monitores mais o sub da bateria, como mostra a foto acima.
E eu já falei com Adriano para colocar no rider técnico mais um monitor para a percussão, porque fiquei no limite em alguns shows que participei.
Dependendo da qualidade dessa caixa de monitor, ela não aguenta os "pedidos" do músico.
Sou de um tempo onde as caixas Oneal eram bem ruins.
Pois bem...
Como falei seria uma caixa Oneal para a bateria (tipo torre), como essa da foto abaixo.


Ainda conversando com Adriano com relação aos monitores, ele me informou que na percussão iria ter também uma caixa torre da Oneal.
Boa notícia. Já está melhorando...
Melhor que apenas uma caixa simples para fazer o serviço.
Nas minhas contas, eu iria usar as 4 caixas da Yamaha na frente para fazer quatro vias, e iria usar uma das caixas da Behringer para o tecladista.
Mas quando cheguei no palco, vi que tinha mais uma caixa da Yamaha para o tecladista.
Ótimo.
Mesmo se eu quisesse usar as caixas da Behringer no palco, não iria poder, porque foram usadas por Adriano para um "front fill" que não estava nos planos.
Traduzindo front fill para nosso idioma, vamos ter como resposta "preenchimento frontal".
Tradução perfeita, porque usamos o front fill exatamente para preencher sonoramente a parte frontal mais próxima ao palco, onde o som do line array das laterais não consegue chegar.
Na foto abaixo de um gráfico que eu achei na página do meu colega Douglas Barba no YouTube, eu acrescentei as informações em vermelho e verde para ilustrar o que falei sobre o front fill.
Quem quiser ver a explicação detalhada do Douglas no YouTube, clique AQUI.
Clique na imagem para ampliar.
Mas a notícia não tão boa que recebi antes de seguir para João Pessoa foi que a banda não iria passar o som.
Como todos já sabem aqui, eu sou fã de soundcheck.
Mas nesse show eu não iria fazer.
Mas a gente poderia checar tudo antes do show, que seria o primeiro da noite.
Sabendo disso, fui atrás de uma cena de algum show anterior da banda que eu fiz usando mesas da Yamaha.
Sempre acho que começar com uma cena onde já está tudo equalizado, com gate e compressor onde era pra ter, e os sinais sendo enviados para os monitores dos músicos, vai ajudar nessa situação de não ter soundcheck.
Dando uma olhada no meu pendrive, vi que tinha uma cena de um show anterior, e ainda era de uma LS9!
Nem seria necessário converter.
Puxei essa cena para o editor offline da Yamaha, para dar uma olhada.
Está cada dia mais difícil ver os noticiários na TV, independente do horário!
Até pela manhã, precisa ter fôlego para aguentar tanta notícia ruim!
Difícil...
Mas não foi difícil ajustar a cena para o que eu queria.
Notei que todos os canais e vias estavam no modo PÓS-FADER.
Lembrei que testei esse método nesse show da Academia que aconteceu no dia 11 de junho de 2022!
Fui conferir o input para ver se tinha muitas mudanças.
Mesmo sendo uma cena de um show bem antigo, só tinha uma pequena mudança no input e era fácil de resolver.
Ahhh! Fiz esse novo show usando os auxiliares em pós-fader.
Deixei como estava na cena do show anterior.
Quis testar de novo esse método, porque normalmente uso o pré-fader.
Tenho um medo absurdo de usar em pós, porque já peguei muitas mesas de som com faders com defeitos, onde sobem e descem aleatoriamente.
E acontecendo isso num monitor em pós-fader, pode causar um dano absurdo na mix.
Mas resolvi testar novamente.
Com umas mudanças.
Já comecei soundcheck usando cenas de shows anteriores, onde essas cenas vinham com os ganhos do show anterior.
Eu não mexia nisso.
Mas achei que estava complicando mais do que ajudando.
Eram outros monitores, com outros amplificadores, com outros microfones...
E por causa disso, muita coisa chegava muito alto nos monitores.
Resolvi então zerar todos os ganhos nessa cena que levei para o novo show da Academia.
Ahh, também afrouxei os compressores e gates dos canais.
Não desliguei, só relaxei o "threshold", que é o comando onde indicamos quando o processador vai começar a atuar.
Fora isso, baixei na mesma proporção o nível do envio dos canais para todas as vias.
Acho que baixei 2dB em todos os envios, pra não correr risco de chegar muito alto esses sinais nos monitores.
Feito esses ajustes em casa, salvei a cena com outro nome e coloquei no meu pendrive.
Na foto abaixo, a seta preta mostra o arquivo da cena antiga (AB_RABOK), e a seta vermelha mostra o arquivo da nova cena com os novos ajustes (AB_JP).

Clique na imagem para ampliar.
O palco era bem pequeno mesmo.
E a mesa de monitor ficou embaixo, fora do palco, porque não tinha lugar pra ela ficar em cima!
Não dava pra ver direito os músicos lá de baixo, e alguns não dava pra ver de jeito nenhum!
Torci para não ter problemas na conexão wireless da mesa com o iPad.
Foi a primeira coisa que eu fiz, antes mesmo de passar a cena para a mesa de som.
Tudo certo!!! Conexão funcionando perfeitamente.
Mais uma vez fui salvo pelo iPad!
Antes de passar minha cena, sempre salvo a mesa no modo ALL, onde todos os parâmetros e cenas que estão na mesa vão para meu pendrive.
Caso eu faça alguma besteira, posso voltar com todas as configurações e cenas que estavam na mesa antes do meu trabalho.
Mas nada deu errado nesse início, como é o normal.
Passei minha cena tranquilamente sem mexer nas cenas que já estavam lá dentro, e comecei meus ajustes nos monitores.
Todos os equalizadores gráficos das vias estavam zerados.
Chequei todos os monitores, como o ganho de entrada e parâmetros de equalização, que existem em monitores amplificados, deixando todos com os mesmos ajustes.
Na foto abaixo da traseira da caixa DXR12, eu indico o botão de ganho de entrada, e os dois ajustes de equalização.
Clique na imagem para ampliar.
Nos canais de instrumento, não mexi na equalização que usei no outro show, mas nos canais de voz, só deixei ativado o HPF (filtro de grave), zerando o resto da equalização anterior.
E foi pelos canais de voz que comecei meus ajustes no palco.
Lembrando que todos os canais já estavam endereçados para as vias, de acordo com o show anterior.
Fui falando no microfone enquanto ajustava o ganho, e quando chegou num nível legal no monitor, parei de subir com o ganho.
Se o músico pedisse para aumentar qualquer canal, eu tinha bastante sobra na mandada.
Quase não mexi na equalização dos auxiliares (vias), onde basicamente só usei o equalizador paramétrico, sem tocar no EQ gráfico.
Depois de ajustar as vozes na frente, fui para a bateria e usei o mesmo método.
Ia subindo o ganho do canal até o som chegar bem no monitor da bateria, e depois ajustava a equalização do canal (quando necessária).
Só depois disso ajustava o threshold do compressor e gate, caso estivessem ligados, ou se eu achasse que era necessário.
Com a percussão foi do mesmo jeito.
E até me surpreendi com a qualidade da caixa da Oneal.
Fez muito bem o trabalho na bateria e percussão.
No teclado é que foi moleza mesmo.
Nem perigo de microfonia eu corria risco.
Só ajustei o ganho dos dois teclados e corri pro abraço.
Como nos outros canais, o som chegava bem em todos os monitores depois dos ajustes nos ganhos.
Pessoal...
Posso até falar que isso deu certo porque em todos os meus trabalhos no monitor, uso bem o ganho dos canais.
Quando o som chegava bem no monitor, eu olhava para o nível do sinal no iPad, e ele estava como geralmente uso. 
Nem muito alto, com sobra ainda para não clipar, mas muito longe do mínimo.
Depois da posição do microfone, dos ajustes no DI (Direct Box) e depois de conferir se não tem ruído no sinal, o ganho é sempre a prioridade!
Depois vem a mixagem!
Agora minha opinião sobre usar o ganho para mixar.
Eu não uso o ganho para mixar o som do PA de um show.
Nunca!
Sempre ajusto o ganho antes, para depois levantar o fader do canal.
Sempre!
Principalmente em mesas digitais! Mas sempre fiz isso nas analógicas também!
E quando é só uma mesa para fazer PA e monitor, o risco de um grande problema aumenta absurdamente quando o técnico usa o ganho para mixar!!!
Como nesse caso do FITO que relato abaixo, onde a única mesa de som ficava ao lado do palco.
Vi um técnico de uma banda instrumental no FITO ficar desesperado com os pedidos dos músicos no palco, porque ele ajustou primeiro a mixagem do PA usando o ganho e depois foi ajustar a monitoração dos músicos.
Dançou!
Dançou feio!
Muitos canais com o ganho bem abaixo do que deveria ser, e por mais que ele enviasse esses sinais para os monitores, o som não chegava, porque quase não tinha sinal do instrumento no canal.
Aí ele teve que aumentar o ganho de vários canais, e logicamente a mixagem que ele fez para o PA foi literalmente "para o espaço"!
Quando ele subia o ganho para ter um sinal bom (quente) que pudesse enviar para monitores, esse canal ficava muito alto na frente.
O soundcheck foi pura aflição.
Até para mim, que não estava participando.
A mesa era uma Venue, e naquela época não tinha um aplicativo para controlar remotamente essa mesa, o que poderia facilitar a vida do técnico, ou pelo menos diminuiria a aflição.
Nesse dia, ele tentava ajustar os monitores dos músicos ao lado do palco e corria pra frente pra ouvir o som do PA...
Não me recordo direito se ele estava usando os auxiliares em pós-fader, o que seria ainda mais complicado para fazer os ajustes de PA e monitor.
Usando em pós, se ele baixasse o fader para ajustar o som na frente porque teve que aumentar o ganho do canal, esse sinal diminuía nos monitores.
Caos total.
E pela correria que foi, acho que ele estava usando pós-fader mesmo!
Ele colocou todos os faders no ZERO e foi ajustando o ganho para mixar o PA.
Foi bronca.
Voltando ao meu caso aqui do monitor, estou quase convencido que vou continuar usando os auxiliares em pré-fader.
Mesmo que o resultado desse trabalho em João Pessoa tenha sido muito bom. 
Mas... Nesse show, já tinha fader um pouco louco na mesa, que seria um problema caso eu não estivesse com o iPad!
Deixei tudo paradinho na mesa, sem mudar de página de fader, e fiz tudo pelo iPad.
Os pontos positivos do pós-fader num mixagem de monitor, é que o técnico pode baixar ou aumentar um canal rapidamente em todas as vias ao mesmo tempo, ou aumentar o som de um solo de guitarra em um determinado momento para todos os músicos também ao mesmo tempo, usando o fader do canal para isso.
Mas...
Quase certeza que vou continuar com o pré-fader nos próximos trabalhos, mesmo usando esse método do ganho que fiz no show da Academia da Berlinda no Boteco Lunar em João Pessoa.
E sobre o show?
Foi massa!!!

Fiquei todo o tempo em cima do palco, sentado num caixote vazio, que estava ao lado da percussão.
Nesse local eu via todos os músicos, e fiz alguns ajustes leves durante o show.
Para não dizer que não fiz um ajuste mais "pesado", tive que subir bastante o nível geral do monitor do guitarrista Gabriel, e com essa subida, ele pediu para diminuir bastante as vozes de Tiné e Urêa.
O resto foram ajustes pontuais normais de um show, onde Irandê, Tom e Yuri fizeram poucos pedidos.
E nem lembro de Gila me pedir algo nos teclados...
Depois do show fui comemorar no camarim, mas como só tinha cerveja, só consegui beber uma latinha, me esforçando muito!!!!
Resumindo...
Eu não uso o ganho para mixar!!!
Mas... Posso dizer que dependendo do caso, dá pra usar sim!
Um abraço a todos.

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