Olá pessoal.
Êxodo?
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Esse problema do tempo muito longo para receber os cachês dos artistas contratados pelas prefeituras e/ou governos não é recente, né?
Todo ano acontece, independente da "cor da bandeira" do gestor.
Deve ter aqui no meu Blog várias postagens falando sobre esse assunto.
Não falo sempre porque vai ficar repetitivo.
Dei uma "cutucada" no Instagram sobre o assunto na semana passada, só para não acharem que não existe mais o problema.
Ele ainda persiste e com força máxima!
Ainda aguardo 2 trabalhos de fevereiro e 2 trabalhos de março.
Ainda tenho 1 do começo de maio... Mas ainda está dentro do prazo do cachê sapataria, né?
Não vou explicar novamente o que quer dizer cachê sapataria.
E também não vou falar hoje dos prazos absurdos para receber esses cachês.
O assunto hoje é o que isso está causando!!!
Já comecei a notar isso anos atrás.
Inclusive, se vocês não lembram, quase vou parar num hotel luxuoso em Jericoacoara, para operar o som de DJs...
Não fui por um detalhe besta.
Resolvi escrever sobre esse assunto agora porque tive uma conversa com um amigo músico nessa semana.
Na conversa ele me informou que desistiu e "se rendeu" a CLT.
Achei até engraçado na hora a frase que ele falou, mas o assunto era sério.
Resumindo, ele escolheu trabalhar com carteira assinada, com horário para chegar e sair, com férias, décimo terceiro, e tudo mais que tenha relação ao trabalho regulamentado!
Fazer shows não seria mais a fonte principal de renda dele.
Essa procura por mais estabilidade financeira sempre existiu no meio dos shows e eventos.
Mas sempre notei que essa mudança era feita por profissionais que não tinham uma agenda boa, ou até por causa de qualificação profissional mesmo.
O profissional não tinha uma boa qualificação técnica e por causa disso não conseguia uma agenda boa.
O que estou notando atualmente é que excelentes profissionais (técnicos e músicos), com agendas legais, estão desistindo, como é o caso desse meu amigo músico.
Ele não está pensando. Já está resolvido.
Olhando nas nossas agendas, ainda nos encontramos no palco uma vez em junho, e depois só quando ele conseguir uma brecha na sua nova "casa", no seu novo emprego.
Quando ele me falou os dias e horas de trabalho que ele vai ter que cumprir, fiz uma conta rápida e não vi muito tempo sobrando para fazer shows, infelizmente.
Não vai ter como ele conciliar com os ensaios e viagens para fazer os shows.
Pelo menos ele vai continuar no meio da música...
Conversamos um bom tempo sobre isso, e ele estava realmente bem cansado do "modus operandi" dos recebimentos dos cachês, das várias viagens para os shows, longe da família, e sem saber quando iria receber por esses trabalhos...
Mas acho que esse cansaço não é só dele, é geral!
Cansa mesmo.
Nem perguntei o valor que ele iria receber no novo emprego com carteira assinada.
A escolha já estava feita.
Só posso desejar boa sorte na nova empreitada.
Fiquei um pouco triste por saber que vai ser difícil a gente fazer outros trabalhos juntos nos palcos pelo Brasil.
Mas nossas farras particulares com as famílias vão continuar, incluindo o ladrão de tira-gosto que ele tem na casa dele! (Risos)
Até agora só comentei sobre esse amigo músico, mas tenho vários outros exemplos, incluindo técnicos.
Vários amigos e colegas decidiram aceitar trabalhos em teatros, onde existe a estabilidade financeira.
Vários outros foram para Portugal!!!!
Uns foram para as prefeituras e/ou governos.
Nesse caso, acredito eu, que nem com pandemia o "numerário" da turma atrasa, né?!
Alguns voltaram para os estúdios de gravação.
Pode ganhar bem menos do que fazendo trabalhos em shows, mas suponho que a incerteza do dia do recebimento no trabalho de freelancer foi fator preponderante na decisão.
Dificilmente trabalhos fixos em teatros e/ou estúdios chegam perto dos cachês que recebemos em shows ou eventos.
Logicamente, estou usando como referência a minha turma mais próxima, porque sei que tem cachê de técnico/músico de todo tipo de valor no nosso meio artístico.
Outro amigo, esse agora técnico, que faz muito mais trabalhos do que eu, está pensando já faz um bom tempo em deixar também o trabalho em shows e eventos para segundo plano.
Nunca fiz contas, mas ele deve fazer 3 vezes mais trabalhos do que eu!!! No mínimo.
Mas é como ele falou: --- Titio, tenho muitos trabalhos para receber, e não conseguirei pagar as contas do final do mês.
Se eu tenho 5 para receber, ele deve ter uns 10!
Alguns aqui podem até perguntar: --- E por que você não pensa em mudar também?
Pensei sim! Quase ia para a famosa praia no Ceará! Não esqueçam disso.
Aqui, já fui sondado para trabalhar em teatro, mas quando falei por quanto eu deixaria meus trabalhos nos shows para ficar preso num teatro, o amigo que entrou em contato sabia que não tinha como chegar nesse meu valor.
Esse valor que eu passei para ele, era o mesmo que eu iria ganhar no hotel em Jericoacoara.
Tirei uma média dos meus recebimentos para chegar num valor.
É muito “louca” a situação. (Falo por mim)
Posso faturar 16 mil num mês, e no outro só entrar 800, ou não entrar nada!
Já aconteceu várias vezes isso comigo, inclusive esse exemplo do texto acima foi no ano passado.
É muito raro não ter trabalhos num determinado mês, mas corremos o risco.
Lembrando que, faturar é fazer os trabalhos, não quer dizer que recebi.
Receber pelos trabalhos é outra história!
Falando com um amigo cantor ontem, ele me falou que não recebeu ainda o trabalho que fez no Réveillon!!!!!!!!
Outro amigo técnico falou que recebeu ontem um trabalho realizado em novembro de 2024!!!
Dá para notar que é um problema sério, contumaz e generalizado?
Pois é...
Ahhh, quando falo técnicos, isso engloba tudo.
Técnico de som, luz, projeção, roadie, produtor, etc etc etc...
Tá todo mundo procurando um plano, que seria o plano A, para deixar o trabalho com shows e eventos como plano B.
Particularmente, acho muito difícil conciliar os dois planos, principalmente se o plano A tem dia e hora pré determinados.
Muito fácil não conseguir fazer trabalhos do plano B, por causa dos motivos que falei lá em cima no texto... Conciliar ou conseguir encaixar os ensaios, viagens e os shows nas folgas da agenda do plano A.
E quanto menos o profissional consegue fazer esses shows, mais ele vai sendo substituído, porque o que os artistas mais querem é uma disponibilidade constante dos músicos e/ou técnicos.
Também já falei sobre esse assunto muito tempo atrás aqui.
Muitos artistas preferem um técnico ou músico mediano sempre disponível, do que um excelente técnico ou músico com pouca disponibilidade.
Cada um com suas necessidades, né?
Esse é o meio em que vivo e que me sustenta desde 1987.
Nem estava nos meus planos viver do áudio!
Mas tudo que consegui até agora foi através do áudio, do som, dos eventos...
Penso que para mim atualmente é mais fácil “segurar a onda”, porque não tenho um gato pra dar de comer aqui no apartamento.
Já tive.
Até contribuo na alimentação e no plano de saúde de um felino, mas não mora mais comigo, está com meu Filho.
Mas já dormi com esse safado da foto abaixo por um bom tempo!
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Tom. |
Consigo almoçar dois dias com uma quentinha, que compro ali na esquina por 20 reais.
Não faço mais almoço em casa, só asso carnes para complementar a quentinha ou cozinho meus petiscos para o vinho.
Por isso meu botijão de gás dura mais de um ano!
Por morar só, minhas despesas com água, luz e telefone não são altas.
Meu condomínio é até alto (R$ 570) para um prédio tipo caixão.
Não pago mais colégio para meu único Filho, ele já é formado.
Mas já paguei, e muito!
No último ano no Colégio Motivo, quando ele tinha 18 anos (faz 30 no dia 20/06) eu pagava 1000 reais!!!
Nunca esqueci desse valor, pois nem eu sei direito como eu conseguia pagar!
Sabe deus quanto custa hoje em dia esse terceiro ano do ensino médio no mesmo colégio...
Nem fui pesquisar!
Ou seja... Já passei pelo que meus colegas e amigos estão passando atualmente, e os entendo.
Os gestores responsáveis pelas contratações e pagamentos dos artistas para seus eventos é que NÃO ENTENDEM a situação caótica que eles “alimentam” ano após ano, década após década.
E eles vão se importar com um êxodo de equipes técnicas de shows e eventos?
Lógico que não, né?
O São João já está começando!!!
E vários nem receberam o carnaval!
Torço para que a situação melhore, e que a gente não pense em mudar de profissão por livre e espontânea... Pressão!
Pelo que vejo ao meu redor, a vontade e o prazer pela profissão de muitos está se esgotando.
E os empresários dos artistas? Qual a parcela de responsabilidade nessa situação?
E os artistas? Mesma parcela de responsabilidade?
Façam suas apostas...
Afinal de contas, vivemos atualmente no mundo das BETs, né?
Um abraço a todos.
PS1: Vou fritar uns bifes para complementar a metade da quentinha de ontem!
PS2: Nem comentei sobre os extraordinários profissionais que tocam e cantam nos restaurantes, por cachês baixíssimos, muitas vezes com o público "nem aí" para a música, mas eles sabem quando vão receber!
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