sábado, 8 de janeiro de 2011

A influência da internet no áudio publicitário e nos lucros dos estúdios.


Olá pessoal.
Estava mais uma vez aguardando em casa, sentado na minha sala de estar, uma locução para editar e mixar um áudio de um VT (Vídeo Tape) para televisão.
Esta locução chegaria até mim através da internet. Já faço isso há anos!
Enquanto aguardava, o locutor me chamou pelo MSN e me informou que estava com um pequeno probleminha. Perguntei o que estava havendo, e ele me falou que estava chovendo muito no bairro onde ele mora e não dava para gravar naquele momento porque os pingos de chuva que caíam sobre o carro dele iriam atrapalhar a gravação. Exatamente. Ele grava as locuções dentro do carro dele!
E presta? Presta sim. É melhor do que gravar no quarto, ou na sala ou no banheiro.
Dentro de um carro fechado existem poucas reflexões no som. O espaço é pequeno e tem ainda os bancos para absorver estas reflexões. Na realidade, o carro serve como uma cabine de gravação.
Logicamente os pingos batendo na carroceria do automóvel causariam um barulho que seria tranquilamente captado pelo microfone.

Na sala da minha casa editando os áudios.

Este locutor usa um dos vários gravadores portáteis que surgiram no mercado para substituir o gravador cassete. Estes gravadores são muito usados atualmente por repórteres.
O que ele usa é este da marca Zoom.
Este modelo permite que você ligue um microfone que normalmente usamos em estúdio e que necessita de 48 volts para funcionar.
Para acelerar mais o processo de gravação e envio, este locutor me falou que está gravando com o microfone que vem no aparelho. A qualidade é inferior ao microfone que eu usava para gravar no estúdio? É sim. Mas os prazos cada vez mais apertados das agências de propaganda estão fazendo com que a qualidade diminua para compensar a rapidez na entrega do material.

Kit de gravação do locutor Wemmerson Seixas. A conexão na internet é feita pelo Iphone.

No começo eu relutei um pouco e não aceitava que os locutores gravassem em casa e me enviassem a locução pela internet. Não tenho como mostrar como quero a locução, e nem mostrar se tem algum erro na pronúncia de alguma palavra. Só posso analisar a locução depois que ela chega pra mim.
Os locutores tinham que ir ao estúdio onde eu trabalhava para gravar. E isso levava tempo. Dependendo do trânsito, levava muiiiito tempo.

Nuendo é o software que eu uso para editar os áudios.

Depois da primeira vez que fiz o trabalho usando a internet, não parei mais. A agência não sentiu nenhuma perda na qualidade. O cliente dela também não. Realmente o processo ficou bem mais rápido. Tenho uma internet móvel. Uso a da Claro. Até agora estou muito satisfeito. O meu plano foi um dos primeiros, que nem limite tem. Posso ficar 24 horas conectado e baixar quantos arquivos eu quiser que o valor da minha mensalidade não aumenta.
A agência me comunica que foi enviado para meu email o roteiro para gravação. Conecto-me na internet, baixo este roteiro, vejo quanto tempo tem para o locutor e envio para ele este roteiro só com o texto que ele tem que falar e o tempo que ele tem para fazer isso.
Aviso ao locutor que enviei o roteiro para o email dele.
Muitas vezes ele parou em estacionamentos de supermercados para gravar o texto e de lá mesmo me enviava a locução em MP3.
O tempo maior é para ele poder gravar e me enviar a locução, pois quando a loc (é assim que chamamos) chega nas minhas mãos não levo mais que 15 minutos para editar, mixar e enviar para a agência, com cópia para a produtora de vídeo que vai montar as imagens em cima do meu áudio.
Uso sempre a taxa de 256 kbps na conversão para MP3. Serve perfeitamente.
Do mesmo jeito que ele já gravou estas locuções em lugares nada convencionais, eu já editei também em vários lugares inusitados. Dois lugares me marcaram.
Um foi participando de uma palestra da AES sobre áudio em São Paulo. Enquanto o palestrante falava, eu fiz todo o processo que falei acima e enviei o áudio mixado para Recife.
A outra vez foi quando eu fui fazer o monitor da cantora Joanna em Parintins. Fiz todo o processo entre as descidas do avião até chegar a Manaus. Foram duas ou três escalas. Enquanto esperava para embarcar no bi-motor que me levaria de Manaus até Parintins, finalizei tudo e enviei o áudio para Recife. Minha internet só não funcionou em uma cidade nestas minhas viagens pelo Brasil. Isso foi em Boa Vista – RR.
Nesta viagem com Joanna, por saber que seria complicado fazer o trabalho publicitário, deixei um substituto fazendo o serviço para mim. Inclusive ele montou o mesmo áudio para o VT. Fui fazendo junto só para ver se conseguia. Depois fiquei sabendo que a agência escolheu minha mixagem para montar o VT! Paguei do mesmo jeito para meu colega que fez o trabalho. Nem disse para ele que usaram o que eu fiz. Não importa, não é? O que importa é que tudo saiu bem e o VT foi para “o ar” como se nada de anormal tivesse acontecido.


Meu kit armado em um hotel.

Sobre a influência da internet nos lucros dos estúdios, me lembro que quando era feito um áudio para ser veiculado nas rádios, tínhamos que fazer uma cópia em fita de rolo para cada rádio. Imaginaram a coisa?
Teve um caso muito famoso aqui em Recife há muito tempo atrás. Perguntaram para o dono de um estúdio quanto custava um SPOT.
Ele perguntou quantas cópias seriam e o cliente disse (não me recordo o número, vou supor) que seriam umas oitenta cópias. O dono do estúdio falou que o custo da produção do spot seria de graça e que ele pagaria somente as cópias!
Realmente ganhava-se muito dinheiro com cópias. Cheguei ainda a fazer estas cópias na fita de rolo. Divertia-me.
Lembro-me que já na era do CD, tivemos que comprar uma copiadora de CDs para dar conta do trabalho. Ela copiava três CDs ao mesmo tempo, e numa velocidade oito vezes maior! Quase choro de emoção ao fazer as primeiras cópias!
Com a chegada da internet esta grana deixou de entrar para os estúdios. Quando eu envio o áudio mixado para o spot de rádio para a agência de propaganda, ela distribui este áudio para todas as rádios em menos de cinco minutos!
Um abraço a todos.

2 comentários:

Joyce Hauschild disse...

Oi Titio...seu texto fez eu dar uma viajada no tempo. Me lembrei de quando comecei a trabalhar em rádio e usávamos rolo, cartucheiras, DAT, MD, Cds e hoje temos tudo isso dentro de um computador. Usamos um programa chamado PlaYlist onde já fica tudo pré-programado para ir "ao ar". Quando gravos meus spots, normalmente eu mesma edito e envio pro cliente o material pronto. A maioria do que faço vai "pra fora", poucas vezes gravei para João Pessoa e adjacências. E isso só foi possível com o acesso as novas tecnologias...gravadores MP3, programas de edição em notebook, e-mails com alta capacidade, internet móvel, WI FI....e por aí vai.
E é verdade, se o locutor não tem um local apropriado, ou tem "pressa", o carro é o melhor lugar para gravar, a acústica é a mais propícia para um "improviso necessário".
Enfim, a internet e as facilidades que vieram com ela, ajudaram muito a uns, derem prejuízo para outros, mas no final das contas é uma "mão na roda", para os profissionais da área. Bom texto, como sempre...abração Titio

Titio disse...

Oi Joyce.
Ainda esqueci de falar a questão dos spots feitos pelos próprios meios de comunicação, no caso o rádio. Muitas vezes o cliente fazia o spot diretamente nas rádios onde ele ia veicular a propaganda. A rádio "dava de presente" o spot para o cliente. Usava os locutores contratados da empresa sem pagar nenhum adicional para o profissional fazer o serviço.
Meio desleal a concorrência, mas...
Seria a mesma coisa da televisão gravar de graça com seus funcionários os VTs para os clientes em troca da veiculação.
Ainda não chegamos neste estágio. Espero nunca chegar.
Obrigado por participar.
Bjs.