Olá pessoal.
Ainda
tentando marcar uns exames que eu deveria já ter feito faz muito tempo, resolvi
falar sobre o trabalho que fiz nos dias 8 e 9 deste mês no Teatro de Santa
Isabel.
Operei
o monitor de mais um show de Alceu Valença.
Só
que estes dois shows foram bem diferentes de todos os outros shows dele em que eu trabalhei.
Estes
dois shows foram gravados, e vai virar um DVD.
Vivo!
Revivo!
Este
show foi baseado no álbum Vivo!, lançado em 1976.
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Capa do disco Vivo! |
Alceu
já tinha feito este show antes, mas eu não participei de nenhum.
A
formação da banda é quase a mesma. Bateria, baixo e guitarra.
Não
tem teclados e nem acordeom.
E
entram três músicos. Flauta, viola e percussão.
Fui
para dois ensaios aqui em Recife, para ver com Rogério como seria o input list.
Rogério
iria operar o som do PA.
Ele
me passou como seria a monitoração, pois ele já tinha trabalhado neste show
anteriormente.
Basicamente
era a mesma linha de monitoração que fazemos nos shows de Alceu, ou seja, usando
caixas como monitores.
Só
a flauta (Cesar Michiles) e a Viola (Léo) usariam in-ears.
Para
diminuir o volume de som no palco e também para limpar o visual do palco,
monitores pequenos foram escolhidos.
Para
Alceu, foi colocado quatro monitores FZ, modelo 108A. Já conhecia estes
monitores e a resposta deles é bem legal, mesmo com o tamanho bem reduzido.
Para
o baixo e guitarra foi usado o monitor QSC, modelo K12.
Não
conhecia, e achei muito legal. Aguentou firme um bumbo e baixo mais a guitarra.
Na
bateria e na percussão foram usados os "velhos" SM400.
Um
pequeno SUB da FZ ajudava na monitoração da bateria.
No
side também foi usado caixas pequenas. Todas da JBL.
Cada
lado era formado por uma caixa de subgraves (PRX 718 XLF) mais uma caixa PRX
625.
Serviu
perfeitamente para o que a gente queria.
Caixas
compactas com um som legal.
Sou
horrível em decorar os modelos. Tive que perguntar para Rogério e para Marcelo
(técnico da empresa de som contratada). Segundo Tovinho, Marcelo
"Purpurina"! (risos)
Depois
de meses com a requisição, marquei minha ressonância magnética.
Como
sei que não ia aguentar aquele aperto dentro do cilindro, pedi ao meu amigo
médico Francisco que colocasse o exame com acompanhamento anestésico.
Ainda
falta uma "tuia" de exames...
Mas
pelo menos dei o pontapé inicial.
Neste
trabalho, o pontapé inicial foi dado já na segunda-feira, dia 05.
Dois
dias de ensaios (segunda e terça) e na quarta (dia 07) ligamos os equipamentos
no teatro e já dei uma geral nos monitores.
Rogério
já viu também o som do PA.
A
mesa de monitor foi uma CL5 da Yamaha. No PA uma SC48 da Venue.
Line
array AERO12 da D.A.S. mais subs da JBL.
Normalmente
não se pode pendurar caixas no Teatro de Santa Isabel, o que prejudica a
sonorização.
Mas
Rogério conseguiu fazer isso, e o line array ficou suspenso.
O
problema é que o local para suspender as caixas fica num ponto bem atrás da
linha do começo do palco.
Ainda
puxamos a posição de Alceu para trás, evitando passar muito da linha do PA, mas
Alceu queria ficar mais perto do público, e ele acabou passando muito da linha
das caixas.
Vamos
ver no que vai dar... Pensamos.
Eu
tinha passado seus monitores na posição anterior e não deu mais tempo para verificar
novamente como estava soando os monitores na posição passando da linha do line
array.
Já
estava começando o soundcheck.
Alceu
Valença foi passar o som com a banda.
Tudo
foi indo bem, passaram várias partes de músicas do show.
Só
tive problemas na hora de passar o violão de Alceu, que estava com um captador
de contato, pois o sistema normal de captação dele tinha dado problema dias
antes.
Insertei
até um EQ gráfico para tentar ajustar o som, mas não deu certo.
Depois
de alguns minutos de tentativas, decidiram mudar o violão, e este reserva tinha
um sistema normal de captação.
A
diferença foi notada nas primeiras dedilhadas.
Ficou
o reserva mesmo. (ufa!)
A
"violinha" de Alceu estava também com captador de contato, mas a
intenção era deixar o som deste instrumento bem metálico (latinha), e deu
certinho o tipo de captação.
Rogério
teve que segurar mais os sub-graves do PA, pois estavam causando pequenas
realimentações.
E
o posicionamento de Alceu bem à frente não causou nenhum problema.
Eu
achava que poderíamos ter problemas com isso.
Mas
deu tudo certo. Errei mais uma vez.
Todos
ficaram no teatro aguardando a hora do show.
Com
o trânsito de Recife, o risco era grande de chegar no hotel já na hora de
voltar para o teatro.
Os
dois dias de shows foram bem tranquilos, sonoramente falando.
Pelo
menos foi isso que notei.
Só
no segundo dia foi que Alceu pediu para repetir uma música porque tinha
aparecido uma realimentação no monitor dele.
À
princípio, Paulo Rafael veio me falar que deveria ser o violão de Alceu que
estava causando isso, e me pediu para ajustar a equalização do violão (em torno
de 200 Hz).
Fui
escutar o som do violão e não notei nada sobrando. Mas ao escutar a via de
Alceu, realmente estava sobrando de vez em quando.
Logicamente
era algum instrumento que estava indo para a via dele.
Escutei
o bumbo. Não era. Viola? Achei!
A
sobra vinha da viola.
Ajustei
a equalização. A realimentação sumiu.
Achei
interessante o fato porque no dia anterior não aconteceu nada disso.
Mas
lembrei que neste segundo show, Paulo Rafael me pediu para subir mais um pouco
a viola no side, e foi isso que causou a realimentação.
Conversei
com ele durante o show e ele pediu então para baixar o instrumento no side.
Baixei
e ajustei novamente a equalização da viola.
Não
tive mais problemas depois disso.
A
viola não tinha aquele "tampão", que é muito útil no palco, pois
elimina quase por completo o risco das realimentações.
Já
falei em texto anterior deste tampão-redutor-de-realimentações.
Fui
procurar aqui o texto e achei.
Mário
Jorge (Elba Ramalho) chama de "Cala Boca"! (risos)
Pois
bem...
O
resto transcorreu normalmente.
Ou
quase...
Alceu
Valença fez o show duas vezes no primeiro dia, só pulando uma música, a que ele
fazia sozinho no palco.
O
pessoal ficou com bastante material (áudio e vídeo) para escolher depois na
montagem do DVD.
O
primeiro dia de show foi para convidados e o segundo dia para quem comprou
ingresso.
De
onde eu estava, não via nada da plateia. Só conseguia ver um camarote no alto,
pois o side impedia de ver o resto.
Nem conseguia ver Alceu.
Pelo
som que eu ouvia da plateia, achei o segundo dia mais animado.
O
pessoal participou bem mais na segunda noite!
O
áudio do show foi captado pela equipe da Audiomidi Remote, do meu irmão
Tovinho, tecladista de Alceu Valença. Usaram (mais uma vez) uma XL200 da Midas
para receber os sinais antes de enviar para o computador.
O
sistema é formado por Motu, Mac e Logic
As
imagens foram captadas pela equipe da Luni Produções.
Vamos
aguardar o DVD agora, né?
Pelo
que eu sei, deve sair em 2016.
Antes
de acabar o segundo dia de show, notei que o que eu estava fazendo ali era
muito mais especial do que eu realmente achava.
Não
era "mais um" trabalho de monitor. Não era "mais um" show
de Alceu Valença.
Mesmo
eu sabendo que nunca um show é apenas um show. Sei que tem muito colega do ramo
que trata um trabalho como apenas mais um trabalho. Já pensando na soma dos
cachês...
Eu
já deixei de fazer um trabalho porque simplesmente achei que não eu não ia
combinar muito com o pessoal da banda. Levei para o lado pessoal. Filosofias
diferentes. Não sou normal mesmo, eu sei disso.
Já
recusei vários trabalhos (vários mesmo!!!!) porque ia correr o risco de deixar
alguém na mão, ou de não chegar na hora marcada porque os shows eram no mesmo
dia.
Não
tenho esta filosofia de "vamu ganhá a galinha". Vamos ganhar o
dinheiro e tudo certo.
Não
curto muito este termo.
E
nunca liguei também para ter meu nome nos créditos.
Pois
bem...
Como
disse acima, antes de acabar o segundo dia de show, notei que tudo aquilo ali
era mais especial do que eu achava que era.
E
comprovei isso depois de ler uma nota que Alceu Valença deixou no Facebook.
Vou
tomar a liberdade de colocar aqui esta nota, para vocês entenderem do que eu
estou falando, e também para ela ficar aqui registrada, pois no Facebook tudo
passa muito rápido.
Segue
a nota de Alceu Valença:
(abre aspas)
Na lente dessa luneta, sem ontem, hoje, jamais, os dias correm pra frente,
depois retornam pra trás. Escrevi essa música para o meu filme A Luneta do
Tempo.
A m
inha percepção do tempo sempre desafiou o
conceito da cronologia como uma sequência lógica. Entendo que passado, presente
e futuro acontecem num mesmo momento. O tempo é tríplice.
Nos últimos dois dias, vivi intensamente essa
experiência. Gravamos o dvd Vivo! Revivo! no Teatro Santa Isabel, no Recife. O
teatro em si já é um portal para uma outra época muito anterior ao meu próprio
nascimento. É mágico pisar naquele palco e usufruir da acústica que favorece a
condução sonora para todos os espaços da sofisticada sala de espetáculo. Logo
que cheguei ao Santa Isabel, inebriado com sua suntuosidade, encarnei Castro
Alves. Corri pelos camarotes e frisas e declamei versos de Navios Negreiros do
poeta que tanto usou aquele espaço para expor sua extasiante oratória.
Enquanto eu exercia essa viagem secular, os
músicos, técnicos, câmeras, produtores, Lula e Jacques preparavam a cena para o
registro do dvd.
A equipe brilhante como um espelho cristalino. Era
fácil perceber a harmonia entre todos. A dedicação, a entrega, a persistência,
a busca pela perfeição associada à amizade, ao carinho e à generosidade foram
os sentimentos que prevaleceram nesses 3 dias de intenso trabalho. Com toda
essa energia positiva, foi fácil para mim. Fácil, não. Foi confortante, me
senti abraçado, agasalhado, acolhido, inclusive pelo público presente nos dois
dias.
Obrigado aos músicos: Paulo Rafael, Cássio Cunha,
Leo, Nando Barreto, Jean e Cesar Michilles. Obrigado a Tovinho e sua equipe que
captaram o áudio dos shows. Obrigado aos técnicos Rogério, Titio e Rogério Luz.
Obrigado a Wally e Ambrósio, nosso contra-regras. Obrigado ao Julio Moura, à
Talita Melcop, ao Marcel Aragão e ao Beto Feitosa.
Obrigado a Pica Pau e a Serginho Cri-cri. Obrigado a Lula Queiroga e Jacques
Chauiche, nossos diretores. Obrigado a Karina e toda sua equipe de produção.
Obrigado aos câmeras. Obrigado à moça que me deu maçãs cortadas para limpar a
garganta. Obrigado aos funcionários do Santa Isabel. Obrigado à minha família,
aos meus filhos, meus irmãos, sobrinhos e primos. Obrigado aos amigos. Obrigado
a Yanê Montenegro, minha musa inspiradora, que viaja nos sonhos comigo e os
torna reais.
Obrigado a todos que viajaram no tempo comigo!
(fecha aspas)
Depois
de ler uma nota como esta, tive a certeza absoluta do eu já desconfiava.
Tudo
foi muito mais especial do que eu achava que era.
E
é muito bom saber que eu participei disso tudo!
Compartilhei
também no Facebook esta nota de Alceu, e falei:
"Alceu,
obrigado digo eu, pela honra de poder participar deste momento".
Este
foi meu ponto de vista sobre este meu trabalho.
Um
abraço a todos.
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