Olá
pessoal.
Fui
na confraternização do Estúdio Carranca/Onomatopeia nesta segunda.
São
dois estúdios no mesmo lugar. O Carranca responde pelas gravações de CD/DVD de
bandas, projetos de eventos ao vivo, e o Onomatopeia fica com a parte
publicitária, produzindo jingles e trilhas para comerciais de rádio e TV.
Fiz
tantos trabalhos para a empresa ultimamente, que me chamaram para a confraternização.
E
este trabalho na Arena de Pernambuco foi mais um que eu fiz pelo estúdio, que
passa a ser chamado de Carranca Live em eventos como este.
Tenho
até a senha ainda do portão eletrônico do estúdio.
Não
bloquearam ainda, pois testei um dia desses.
Pois
bem... Durante o bate-papo descontraído na "confra", onde na maioria
das vezes o assunto era som, Carlinhos Borges (Kborges), um dos sócios do
estúdio me falou:
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Má rapá (Mas rapaz)... Tu não escreveu para teu Blog sobre o nosso trabalho na
Arena de Pernambuco da Assembleia de Deus? A principal razão da gente ter te chamado
foi exatamente para isso!
Brincadeiras
à parte, analisando friamente, foi bem assim mesmo.
Fui
mais um assistente de Vinícius (Vini), que criou o projeto de monitoração, do
que qualquer outra coisa.
Como
falei em texto anterior, tinha até comentado que já tinha o título do texto na
cabeça para este trabalho, que eu "roubei" de Carlos (Financeiro do
Carranca), só faltava a coragem chegar para eu escrever.
Avisei
que iria usar a ideia dele.
Por
que Inferno de Dante?
Gosto
destas brincadeiras aqui.. Na leitura do título, ninguém vai entender.
Só
depois de ler o texto todo, ou quase todo, entendem qual o sentido de alguns
títulos, sem sentido à primeira vista.
E
depois da "brincadeira" de Kborges na confraternização, vou tentar escrever
este texto até o final, pois só disse que iria tirar férias em janeiro de 2019.
Ainda posso escrever sobre outros trabalhos que vieram depois deste, mas não
garanto.
O
evento na Arena de Pernambuco foi bem grande.
Só
de público, foi mais de 60 mil pessoas!
Só
no local, foi uma semana de preparação das mesas, para apenas um dia de evento.
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Ajustando as mesas, alguns dias antes do evento. |
Mas
esta preparação começou muito antes, na elaboração do projeto de sonorização,
monitoração, gravação e transmissão!!!!
Isso mesmo. Teve o som do PA para a grande
plateia, o som do monitor para os músicos, cantores e oradores, o áudio para a
gravação multipista, que serviria também para a mixagem usada na transmissão
para a internet.
Para
gerenciar todos os canais, várias mesas de som foram utilizadas.
Duas
PM5D da Yamaha, e cada uma com o DSP5D acoplado. Fora isso, mais uma X32 e duas
X32Core da Behringer. E para completar o time, mais duas mesas Yamaha CL5.
Uma
PM com DSP mixou 96 canais da orquestra, a outra PM com DSP ficou responsável
por 90 canais do coral.
Na
X32 entrava 15 canais via AES50, sendo 11 de microfones sem fio, mais 4 canais
para o áudio de um laptop e do vídeo.
Estes
canais na X32 eram gerenciados pelo operador de áudio da Assembleia de Deus.
Somando...
96+90+15=201.
Duzentos
e um canais!!
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Com Gera e Vini, dando uma olhada na PM5D. |
Deu
até saudade dos 6 canais do show acústico de Alceu Valença! (risos)
Uma
CL ficou no monitor e outra CL ficou para gravação/transmissão.
Mas
cada CL só "aguentava" 64 canais. E eram 201!!!!
Ou
seja... Foi preciso fazer "reduções" para poder os 201 canais entrarem
nas CL5.
Como
reduções?
Simples
(teoricamente).
Da
house mix, Kborges que mixou a orquestra, e Gera que mixou o coral, em vez de
mandar todos os canais separados, o que não daria pra fazer com o equipamento
disponibilizado (ou o que foi possível com o orçamento), tiveram que enviar via
auxiliar, várias "submixagens".
Uma
mixagem estéreo (pós fader) com todos os canais da percussão, outra mixagem em
estéreo com todos os violinos, e assim por diante. Reduziram aonde podiam
reduzir.
Se
a percussão tinha 12 canais, viraram 2 para o monitor e para a
gravação/transmissão.
Ou
seja...
Transformaram
os 201 canais em 64, sempre usando as submixagens.
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Vista da House Mix. |
Qual
o problema maior nestas reduções?
No
monitor, se o percussionista solicitasse um aumento de volume de uma
determinada peça do setup dele, não poderia ser feito, pois o que estava na
mesa de monitor não eram os canais separados da percussão, e sim um conjunto
mixado em apenas dois canais.
O
mesmo aconteceu na gravação e transmissão. Na hora, Júnior Evangelista (Júnior),
que ficou responsável pela gravação e mixagem para a transmissão, não poderia
aumentar ou baixar uma determinada peça que estava vindo por uma submixagem,
como foi o caso da percussão.
Até
poderia ser feito... Era só pedir para Kborges aumentar o volume individual
deste canal no AUX SEND, mas isso só iria piorar as coisas, tanto para a
monitoração, quanto para a gravação/transmissão.
Nem
sei se Vini ou Júnior pediram isso alguma vez naquele dia...
Para
o PA não iria alterar em nada esta "mexida" no auxiliar.
Vou
fazer um resumo do que foi usado na monitoração. O texto já está ficando
bastante longo, pra variar, mas não teria como resumir mais, pois nem no DANTE
do título eu entrei ainda.
Vini
foi quem elaborou o plano de monitoração. Já cheguei com o "bonde
andando".
Todas
as 32 saídas da mesa CL5 de monitor foram usadas.
Para
a banda (bateria, baixo, guitarra/violão e teclados) foram 4 vias de fones. Só
na percussão eram 2 vias com caixas SM400.
Não
lembro da maioria das referências dos monitores, ok? Nem Vinícius lembra também.
Continuando...
Mais 2 vias para o side EAW (estéreo), mais 1 via para o maestro com duas
caixas Clair Brothers, mais 1 via com duas caixas JBL para o pastor e oradores,
que muitas vezes cantavam também, mais 4 vias com caixas SM400 para os cantores
principais que ficavam na primeira fileira do grande coral formado por 2.300 vozes
que ficaram nas arquibancadas atrás do palco. Destas vozes, 64 tinham
microfones individuais.
Mais
1 via para várias caixas amplificadas que foram espalhadas no meio deste coral,
levando a mixagem da banda e orquestra.
Ainda
tinha 1 via com uma caixa SM400 para os solistas da orquestra no palco.
Até
aqui 16 vias... As outras 16 saídas da mesa alimentaram as várias caixas CBT da
JBL espalhadas nas laterais da orquestra. Era muita gente no palco!!!
Achei
que num local menor e fechado, estas caixas CBT renderiam melhor. O palco era
muito grande e totalmente aberto, dificultando o serviço das
"caixinhas", que trabalharam um pouco além do limite delas.
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Caixa CBT da JBL. |
Mas
a intenção de Vini foi boa.
Nem
sei o que eu faria com apenas 32 saídas.
Poderia
até falar sobre a monitoração "pós fader" que Vini costuma usar nos
seus trabalhos, mas vou deixar para uma outra ocasião, com um texto específico
sobre o tema.
Enquanto
Vini ficava na lateral do palco com um iPad atendendo as solicitações dos
músicos, eu fiquei na mesa de monitor, basicamente com a via principal do
pastor em SOLO, e ajustava o volume dos oradores e cantores à medida que iam mudando.
Nesta via já ia uma mixagem da banda e orquestra.
Os
mesmos canais que chegavam na mesa de monitor, chegavam na mesa de
gravação/transmissão, que ficava numa sala dentro da Arena, distante uns 100
metros.
Estes
canais eram "splitados" (divididos) para dois laptops que gravavam
simultaneamente.
Agora
vou começar a falar sobre o título do texto que tá lá em cima.
A
comunicação (interligação/conexão) entre as mesas que estavam na house mix com
a mesa de monitor e a mesa da gravação/transmissão, e desta última para os dois laptops que iriam gravar,
tudo isso foi feito através de cabos de rede, usando um protocolo chamado DANTE.
O
que o filme O Inferno de Dante tem a ver com este trabalho?
Nada.
Ou quase nada.
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Filme O Inferno de Dante. |
O
Inferno de Dante que eu conheço é um filme antigo que fala de uma cidade
(Dante) que tem um vulcão prestes a entrar em erupção.
Não
é um filme calmo, muito pelo contrário.
Muita
correria, fogo, tensão...
Aí
é que entra a ligação com este trabalho na Arena.
Kborges
quebrou direitinho a cabeça para fazer estas conexões via DANTE, pois nem todas
as mesas usavam o mesmo protocolo. Teve dia em que ele saiu com o semblante
completamente desgastado, de tanto projetar os caminhos dos áudios.
As
mesas da Behringer usam o protocolo AES50, por exemplo. Mas tem como você
comprar um "card" DANTE para estas mesas.
As
duas X32Core estavam com estes cards.
A
PM5D, por ser uma mesa muito antiga, não vem com saída DANTE, mas as mesas mais
recentes da Yamaha já saem de fábrica com o DANTE, como é o caso da CL3 ou CL5.
Até
saídas ADAT foram usadas nas ligações.
Eita!
E como pode misturar todo tipo de protocolo?
Não
pode. Um não entende o outro.
Para
"salvar a pátria" e Kborges, entra em ação um equipamento muito
interessante, que eu até já falei aqui em texto anterior.
O
Multiverter! Da Appsys.
Impressionante
o que o danado faz.
Como
o nome já insinua, ele é um conversor. Um multi conversor!
Você
pode entrar MADI, ou AES50, ou ADAT, e sair DANTE.
Ou
o contrário. Entrar DANTE e sair AES50 ou ADAT...
Foi
ele quem fez toda a comunicação e a conversão digital entre as mesas!
Foram
eles!!! Dois Multiverter foram usados.
Mas
quem gerenciou os dois foi Kborges.
Ele falou que até quando estava caminhando com Mutreta, seu cachorrinho de estimação, ficava imaginando os caminhos dos sinais de áudio!
Nem
perguntei como ele estava fazendo esta ligação dos dois aparelhos. Ele já
estava bem ocupado calculando os caminhos.
Dei
só uma ajuda na configuração da PM5D, e fiquei conferindo os caminhos de alguns
sinais, enquanto ele me perguntava enquanto "conversava" com o
Multiverter.
Inclusive,
ele conhece o cara que inventou o equipamento.
Fala
diretamente com ele.
Ainda
tem o gerenciamento do "clock", que se não for bem resolvido, acaba
com qualquer ligação digital.
Mas
aí é assunto para um outro texto!!!
Com
certeza, se todas as mesas fossem CL5, que usam DANTE, tudo seria bem mais
calmo.
Nem
falei muito sobre Júnior com os dois laptops MacBook Pro da Apple, gravando os
64 canais via DANTE simultaneamente.
Lembro
que ele falou que não teve nenhum problema com a gravação, e nem com a mixagem
para a internet, e que comeu mais biscoitos de coco do que trabalhou.
E
nem falei também que além das torres do PA, várias outras torres foram usadas
para fazer a cobertura sonora para a grande plateia. Gera cuidou disso, com a
ajuda de Ricardo Cruz.
O
foco do texto hoje era o tal do DANTE.
E qualquer dúvida, deixe nos comentários que peço para Kborges responder!!!!! (risos)
Ahhh...
A empresa de som responsável pelo fornecimento da grande maioria dos equipamentos foi a Luminário, que é daqui de Recife.
O Carranca levou umas coisinhas, mas o resto foi a Luminário quem forneceu.
No
final das contas, e de alguns (muitos!) fios de cabelo que Kborges com certeza
deixou ali naquele local, ou que se não caíram, ficaram brancos, os canais de
áudio chegaram nos locais que deveriam chegar.
Como
todo mundo no estúdio ficou sabendo desta correria atrás dos caminhos dos
sinais de áudio via DANTE, o nosso amigo Carlos saiu com esta pérola alguns
dias depois do evento lá no Estúdio Carranca:
---
Eu soube do inferno lá na Arena com a quantidade de canais e os endereçamentos. O Inferno de Dante, né???!!! (todos riram)
Um
abraço a todos.
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