quarta-feira, 30 de março de 2022

Lula Queiroga no Teatro do Parque - Showzaço! Fazia tempo que eu não tremia. E não foi de frio.

Show Lula Queiroga no Teatro do Parque. (Foto by Janaísa Cardoso)
Olá pessoal.
Showzaço!!!!
Não tenho outra palavra pra começar a conversa.
E nem é muito de costume eu começar a falar sobre o trabalho usando o subtítulo do texto.
Mas como esse complemento do título é grande, vocês ainda estão sem entender o que ele quer dizer de verdade.
Já no soundcheck (vídeo abaixo) deu para eu notar que as chances eram grandes de ser um belo espetáculo.

O som do Teatro do Parque é legal.
Um sistema de três torres de line array da JBL, modelo VTX.
Formando esse desenho: <Left (>L+R<) Right>.
E as caixas de subgraves, também da JBL, dão conta do recado.
O line central é uma soma do canal esquerdo com o direito.
Já tinha feito um evento lá substituindo o técnico do teatro, Bruno Lins, e escrevi sobre esse trabalho aqui para o Blog.
Nesse trabalho anterior, eu usei o line central no volume que estava programado no sistema do teatro.
Não me preocupei muito com isso, pois não usei muito o PAN (panorâmico), para distribuir os instrumentos no estéreo.
(Foto by Janaísa Cardoso)
Nesse show de Lula seria diferente, por isso dei uma conferida nas caixas do centro, e achei melhor baixar o volume delas para ter mais noção do estéreo.
No começo dos testes eu até desliguei, mas achei muito melhor ligado. 
Comecei do zero e fui subindo o volume até chegar no complemento de som que eu queria.
Parei de aumentar o volume, e quando fui ver no visor, estava com um volume de 5 dBs (Decibéis) abaixo do zero. Ou seja... Menos cinco.
Achei ótimo!
As caixas do centro deram um apoio na distribuição do som no ambiente como eu queria, e o estéreo ainda ficou bem definido.
Seguimos com a montagem dos equipamentos.

TF5 da Yamaha.
A mesa de som do teatro é uma TF5 da Yamaha, que faz apenas 32 canais. Mas dá pra fazer um som legal com ela, mesmo sendo bastante limitada.
Um ponto negativo, é que o teatro não tem um bom "Backline", que são os equipamentos que precisamos no palco para fazer um show. 
Uma grande parte desses equipamentos tem que ser alugado, como por exemplo: mesa de monitor, monitores ou caixas de subgraves para a bateria, alguns microfones específicos, sistemas de fones com ou sem fio, praticáveis, amplificadores de baixo e guitarra.
Não posso falar da luz, pois não conheço o que eles tem, e não é minha praia, mas se eu não me engano, não precisou alugar equipamentos de luz para esse show.
Acho que ouvi Raí, o iluminador do show, falando só que não tinham luzes robotizadas, as chamadas "Moving Lights". Era tudo luz fixa.
Confirmei aqui com ele. Foi isso mesmo.

Visão de Raí, iluminador do show.
O "danado" fez um belo trabalho, mesmo usando somente luzes paradas, pelo que pude notar em fotos, e nas poucas vezes que prestei atenção na luz durante o show.
Falou também que a mesa de luz é bem legal, uma Titan Mobile, da Avolites. Bem versátil, segundo ele.
Só olho para o palco para ver quem está tocando, e o que está tocando.
Falando em luz...
Quem quase me tira do sério foi a falta de uma luminária na mesa de som.
Já tinha comentado isso para meu amigo que é o técnico do teatro na última vez que tinha ido lá, e ele me chamou de velho.
Relevei...
Dessa vez fui um pouco mais convincente no comentário: --- Não é uma questão de ser velho não, porra!!!! Velho um cacete!!! Não existe essa mesa de som sem uma luminária!!!!
Era pra eu trazer a minha, e dava de presente para o teatro. Eu que esqueci em casa.
Acho que o argumento foi bom, pois ele falou que iriam providenciar essa luminária, e iam até colocar meu nome no objeto. Estavam pensando qual seria: Luz do Titio, Titio é Luz, Luz do Tio, Tioclareando... Coisas do tipo. (risos)
(Foto by Dani Hoover)

Mesmo sem enxergar vários controles na mesa, fui operando o som.
Como eu já sabia que a visão dos controles não era legal, usei muito os DCAs da mesa.
Explicando rápido, um fader DCA controla o nível de volume de vários canais de instrumentos ao mesmo tempo.
DCA = VCA (Voltage Controlled Amplifier = Amplificador Controlado por Voltagem), onde o D significa "Digital", por ser uma mesa digital, onde tudo dentro dela é processado DIGITALMENTE.
Na TF5 existem 8 faders de DCA. 
Em cada fader desse, eu escolhia o que eu queria controlar.
O DCA 1 era todos os canais da bateria. O 2 ficou com as guitarras. O 3 era só o baixo. O DCA 4 controlava os dois canais do teclado. Não usei o 5. No 6 coloquei os Backing Vocals, no 7 ficaram as vozes de Lula (principal e reserva), mais a voz dos convidados.
E no DCA 8 sempre coloco toda a banda, caso eu precise baixar todo mundo, sem baixar a voz principal.
Vejam os DCAs na foto abaixo, da cena que eu fiz em casa no Editor Offline da mesa digital TF5.
Clique na imagem para ampliar.

Montamos a cena inicial do show, passamos para um pendrive, e descarregamos essa cena direto na mesa. Já adianta muito o trabalho!
Então com esses oito faders na mão, eu controlo quase tudo no mesmo lugar, sem precisar ficar procurando os canais na mesa.
Nesse show só tinham 28 canais. Imaginaram um show com 48, 64 canais? Como os DCAs podem facilitar o serviço?
Passei muito tempo do show usando a página dos DCAs, onde todos os outros canais sumiam da minha visão. Mas tem uma vantagem nessa mesa. Ao apertar o botão "select" do DCA, os canais que esse DCA está controlando aparecem do lado esquerdo da mesa, onde o técnico pode baixar ou aumentar cada canal individualmente, sem ter que voltar na página principal onde estão todos os canais. Rápido e prático.
Deu para entender?
Pois bem... Nem estava nos meus planos falar em DCAs, mas o assunto apareceu na narração.
Vamos voltar para o show.
Nos dois vídeos abaixo, a visão do técnico de monitor durante o show, Bruno Lins, que falou que eu não enxergava os controles da mesa porque estou velho.

Acho até que foi ele quem envelheceu umas horinhas mais rápido no sábado, pois estava acostumado com shows "pianinho" lá no teatro, e esse show de Lula Queiroga tem uma pressão sonora muito grande no palco.
Mas ele segurou bem os monitores, pois não tivemos sequer uma realimentação (microfonia).


O público foi chegando... E vi muita gente que fazia um tempo que não via.
E como a mesa de som fica na entrada do teatro, via sempre quem chegava, e notei que entrou muita gente da cena musical Pernambucana. Cantores, músicos, produtores...
Só me dei conta do que isso poderia influenciar no meu trabalho, quando os primeiros acordes do show soaram no sistema de som do teatro.
Fui tocar no fader da base eletrônica, que é onde sai o primeiro som do show, e mesmo sem enxergar o fader direito por causa da falta de luz, notei os dedos trêmulos.
Oxe. Não estou com frio...

Foi aí que notei que não era frio, e sim a responsabilidade de estar controlando um sistema de som, onde vários na plateia eram artistas e músicos.
Fazia tempo que não sentia isso.
Senti algumas vezes, mesmo não conhecendo ninguém no público!
Num show de Silvério Pessoa na Bélgica, muitos anos atrás, num festival enorme chamado Esperanzah, ao caminhar para a mesa de som, com meu inglês básico, nem sentia as pernas direito.
Silvério Pessoa se apresentando no Festival Esperanzah em 2007.

Lembro até hoje o que eu pensei na hora que estava caminhando na direção da house mix: --- O que é que eu estou fazendo aqui??!!???
Mas não tinha mais o que fazer. Respirar fundo e seguir.
Essa foto que eu tirei na hora do show de Silvério na Bélgica, se vocês não notaram, é a foto de fundo do Blog.
No vídeo abaixo, feito por Shari Almeida, um pouco do show de Lula Queiroga.


Consegui controlar o "medo" lá no Esperanzah, e o show foi espetacular!!!!
Quando falo show espetacular, não tem como separar do som.
Quase impossível um show espetacular com um som muito ruim.
Ao contrário pode até acontecer. Um som espetacular, mas um show muito ruim!
As duas primeiras músicas, é onde normalmente ajustamos as coisas.
Janaísa Cardoso mostra mais uma parte do show no vídeo abaixo.


Porque duas coisas eu tenho certeza nessa vida:
1) Todos nós vamos morrer. 2) Passagem de som é uma coisa. Show é outra.
A galera passa de um jeito e toca muito mais forte na hora!!!!!!!! (risos)
Falei até disso com os músicos na hora do soundcheck.
Eu até entendo que tem a adrenalina da hora do show, do público, dos gritos e aplausos.
Mas... Eu ainda não me acostumei.
E nunca mais esqueço da banda de Frejat passando o som no FIG.
Não eram os músicos tocando, e sim os roadies. Mas eles estavam tocando com uma "pegada" de show!!
Na hora do show, estava a mesma pancada, só que com os músicos da banda, e duvidei que o técnico iria colocar a voz de Frejat no meio daquela massa sonora...
A voz entrou com a mesma pancada do instrumental, e Frejat nem foi passar o som!
Foi uma das vezes que pensei em desistir da profissão.
Lembro até hoje do nome do rapaz. Rodrigo. Sou fã dele até hoje!
Nesse sábado vou operar o som do PA do Ira! no Aldeia Festival.
A banda não passa som, são os roadies, do mesmo jeito de Frejat, só que não vou poder passar todos os instrumentos ao mesmo tempo, como acontece com Frejat.
Depois conto como foi.
Deve ser a próxima postagem aqui do Blog.
Roteiro do show, com minhas observações.
Voltando mais uma vez pro show de Lula Queiroga...
Aconteceu no Teatro do Parque a mesma coisa que aconteceu na Bélgica.
Depois das primeiras músicas, eu fui me esquecendo de onde estava, das pessoas que estavam no ambiente, e a única coisa que me importava era o som ficar legal.
Deu até para filmar algumas partes do show, o que já é um sinal que "a coisa" estava controlada.
Gosto muito quando Lula coloca duas guitarras nos shows dele.
Ficou massa mais uma vez!!!!
Foi um showzaço!!!
Eu achei.

No final, enquanto eu guardava minhas coisas, e vários da cena musical que estavam na plateia, me agradeciam pelo som ao sair do teatro, eu pensei:
Num show desses, o técnico pode perder vários possíveis contratantes!
Não foi dessa vez pra mim, pelo que notei.
Mas que é tenso, é.
Prefiro tremer de frio!!!!!!!
Não deu outra...
Fui comemorar com amigos, com um excelente vinho Tarapacá Reserva, excelentes petiscos, e um excelente bate-papo.
É muito bom deitar a cabeça no travesseiro depois de um trabalho bem feito (e duas garrafas de vinho tinto!).






Quando faço besteiras eu falo aqui.
Por que não deveria falar das vezes que eu achei que ficou muito legal?
Né?
Um abraço a todos.









2 comentários:

Unknown disse...

Hahahahahhaha. Até hj vc foi o único que me pediu uma luz na mesa!! Tá velho mesmo!! Mas vai rolar, coisa linda! No mais… tu é foda!! Deu tudo certo e muito mais! Abração!

Titio disse...

Eheheheheehehe.
Velho tou ficando mesmo, mas nem foi essa a razão.
Esqueci de falar uma coisa na postagem...
Deixei de colocar alguns efeitos, por falta de velocidade, pois não conseguia ver direito os botões de controle da mesa e os faders.
Com certeza a pouca luz interfere na operação.
Não sei o motivo para mais ninguém que passou por lá não ter falado dessa falta de uma luminária, que ajuda também para o técnico olhar um roteiro do show, por exemplo.
Para ver meu roteiro, usei a luz do meu celular!
Realmente deu tudo certo, mesmo eu não conseguindo colocar uns efeitos na hora.
Obrigado por participar do Blog.
E da próxima vez, assine seu comentário, ok? (Bruno)
Um abraço.