quarta-feira, 6 de julho de 2022

Monitor de Mariana Aydar na Macuca - Explicando o porquê de rever minha tese.

Olá pessoal.
Lembram que no final da postagem do dia 01 de julho, sobre o trabalho com a Academia da Berlinda, falei que no show de Mariana Aydar eu tinha comprovado que teria que mudar o meu jeito de trabalhar?
Mudar uma tese que eu tinha?
Pois bem... Vou tentar explicar aqui o porquê dessa minha convicção.
Nunca tinha feito trabalhos com Mariana Aydar.
Muitos artistas do sul/sudeste decidiram ultimamente andar com apenas um técnico, e contratar o segundo no local do show, ou pelo menos perto desse local.
Trabalhei no show do Ira! por essa razão, e agora com Mariana.
Fui indicado para este trabalho mais uma vez por Adriano Duprat.
Cassia, a produtora de Mariana, entrou em contato para acertar os detalhes.
Como imaginei, eles estavam trazendo o técnico que sempre faz os shows da cantora, que se chama Alê (Cabelo).
Me passaram o contato de Cabelo, e eu fui ajustando as coisas com ele, já pedindo o rider técnico para ter uma ideia do show, como sempre faço.

No detalhe, a X32 da Behringer.
Como fiquei sabendo qual seria a mesa de monitor, uma X32 da Behringer, tratei de montar em casa uma cena inicial no meu laptop.
Nesse show de Mariana Aydar, chamado Veia Nordestina, são apenas 17 canais.
A banda é formada por Bruno Marques (bateria), Magno Vito (baixo), Rafa Moraes (guitarra), Feh Silva (zabumba) e Cosme Vieira (sanfona).
O baixista e o guitarrista usam caixas na monitoração, e o resto da banda (bateria, zabumba e sanfona) usa fones.
Pra ser mais exato, o baterista usa fone e caixa na monitoração.
E a bateria é eletrônica, onde ele usa o pé para tocar o bumbo, e todo o resto da bateria é tocada com os dedos, num PAD com vários botões (Maschine Mikro MK2), fabricado pela Native Instruments.
Maschine Mikro MK2.

Além da bateria, ele dispara no MK2 outros samplers durante o show.
Acho que foi a primeira vez que trabalhei com uma banda onde a bateria de todo o show é tocada com os dedos.
Alguns anos atrás, quando fiz o monitor do palco 2 no Festival Coquetel Molotov, teve uma banda chamada Rosa Neon que tinha uma formação parecida, sem bateria, mas se não me falha a memória, o músico disparava bases programadas e disparava alguns samplers em cima dessas bases, mas não tocava cada peça da bateria.
Muito legal o trabalho da Rosa Neon, que infelizmente acabou.
E uma das cantoras dessa banda, em carreira solo atualmente, está fazendo o maior sucesso!
Rosa Neon no Festival No Ar Coquetel Molotov (2019).
Quem?
Marina Sena.
Mas a postagem de hoje não é para falar de Marina, e sim de Mariana.
Montei a cena inicial da X32 em casa, enquanto pegava algumas dicas com Cabelo.
Durante nossa ida de van para o local do show, que ficava perto de Garanhuns, no interior de Pernambuco, fui anotando outras dicas, e vi que teria que ajustar muito minha cena inicial.
Principalmente nos monitores do guitarrista e baixista, onde eu já tinha enviado todos os instrumentos e vozes para esses monitores, e os músicos não ouvem tudo isso nas caixas.
Para vocês terem uma ideia, no monitor do guitarrista só vai a guitarra dele e a voz da cantora.
Isso é comum, principalmente quando o show é num palco pequeno, onde todos ficam muito juntos, como foi no caso desse show na Macuca.
Chegamos ao local um pouco fora da hora marcada, o que eliminou a sobra de tempo que teríamos, pelas minhas contas.
E com essa diminuição no nosso tempo de soundcheck, a coisa foi bem corrida.
Para dar mais uma animada no trabalho, todos os monitores eram diferentes!
O de Mariana era um modelo, o da guitarra era outro, e o do baixo e bateria era o mesmo modelo, mas cada um "falava" de um jeito!
Eu tenho outra tese, mas essa até os dias de hoje não penso em mudar.
Eu não confio em caixas de monitor com botões de grave, médio e agudo.
As caixas do side eram assim.
Na frente da mesa de monitor, a caixa do side.
Mas eu não tinha tempo para ficar pensando em teses. Corri para tentar alinhar os monitores.
Quando eu achava que estava quase tudo meio que controlado, o microfone da voz de Mariana começou a realimentar no palco.
Não estava. Começou depois.
Pedi para Cabelo fechar a frente, e vi que a realimentação era realmente no palco.
De uma hora para outra? Não...
Pode ter sido quando coloquei a voz dela no side.
Para confirmar, fechei o side enquanto falava no microfone, e realmente a sobra vinha do side.
Ajustei novamente a equalização do side no equalizador da via.
Não toquei nos botões que ficam na parte de trás das caixas!!!
Geralmente deixo todos no meio, como se fosse zero de equalização, nenhum acréscimo ou decréscimo.
Side ajustado, seguimos em frente no soundcheck.
Nesse trabalho, o método "pós fader" que usei na cena não me ajudou muito no início.
Mas como seria muito pior mudar isso na hora, segui usando o método onde eu levanto o fader do canal, e esse canal vai para todas as vias.
Se não for todos da banda usando fones, acredito que não uso mais esse método pós fader.
Ou então vou pensar em outros ajustes para esses shows, onde alguns usam fones e outros usam caixas.
Mesmo na correria, chegamos num ponto que todos estavam satisfeitos no palco, inclusive Mariana com seu in-ear sem fio.
Cabelo já tinha me adiantado, que não era difícil ela tirar o fone durante o show, mas eu achava que ela não iria precisar fazer isso.
Mas se ela decidisse por isso, tinha a voz dela nos seus monitores de chão e no side.
Soundcheck finalizado.





Boa parte da equipe não foi para o hotel, que ficava em Garanhuns.
Ficamos aguardando pela hora do show no local.
O show não poderia atrasar, porque Mariana e a banda tinham viagem marcada de Recife para Belo Horizonte no outro dia, no começo da manhã.
Mas quando chegou nossa hora, deu tempo de ligar tudo no palco, e checar todos os canais e vias de monitores bem antes do previsto.
Ficamos até esperando pela hora exata de começar o show.
Vou aproveitar essa pausa aqui para começar o show, e vou ali na esquina tomar um sorvete e comprar as garrafas de vinho para o fim de semana.
Hoje tem jogo bom na TV da Libertadores, e não será difícil eu não respeitar outra tese que tenho, onde acho que só é bom beber vinho na quarta, sexta e sábado!
Essa eu nem considero uma tese. Seria apenas um pensamento vago.
Este texto foi criado na terça-feira (06/07/2022).
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Remédio Chileno e petiscos (leves) garantidos até sábado, vamos voltar para o show na Macuca.
Começou o show, e não demorou muito para Mariana ajustar o volume do seu receptor.
Solei a via dela no meu fone, e aumentei um pouco sua voz, ainda sem querer mexer na mix que ela tinha aprovado no soundcheck.
Acho que nem chegou na terceira música e ela já tirou um dos lados do fone.
Foi aí que joguei minha tese para o espaço, e resolvi meter a mão novamente na mixagem do fone, mesmo sem ela me pedir modificações.
Ajustei de imediato os volumes da sanfona e do baixo (achei alto), e fiquei olhando para ela, pra ver se me pedia algo. Nada.
Ajustei também um pouco o nível dos vocais... Dei uma verdadeira geral na mix.
Pelo que recordo, ela só me pediu para aumentar um pouco a voz da sanfona no fone.
Foi aí que notei que ela estava ainda usando um lado do fone.
Achei que ela tinha tirado os dois fones, me desanimando completamente.
Aí pedi para nosso roadie (Lucas) falar com ela num intervalo entre as músicas, para ver se poderia colocar o outro lado do fone, já que eu tinha ajustado tudo (ao meu gosto, logicamente), e que agora poderia estar bem melhor do que no começo do show.
Ela disse que estava tudo ok, e que iria ficar com apenas um fone.
Quando ela decidiu isso, ajustei todos os PANs (panorâmicos) dos instrumentos para o centro, porque eu tinha colocado a guitarra um pouco mais para um lado, a sanfona um pouco mais para o outro lado, assim também fiz com os vocais.
E sempre usando a posição do músico em relação à ela.
Se a sanfona estava do lado esquerdo dela, no fone também estaria mais para o lado esquerdo, e isso servia para os vocais também.
Quando ela tirou o lado esquerdo do fone, a sanfona e a voz do sanfoneiro quase sumiram para ela, pois não tinha quase nada desse instrumento e vocal no lado direito do fone.
Por essa razão, acabei com a mixagem estéreo do fone dela.
Ela foi até o final do show desse jeito.
Com relação aos monitores da banda, fiz pequenos ajustes durante o show, que eles mesmos me solicitaram.
Nada de anormal.
No contexto geral, acho que foi bem tranquilo o trabalho.
Poderia ter sido melhor (meu trabalho)?
Acho que sim, se eu tivesse jogado para o espaço a minha tese nos primeiros minutos do show!
Mas como diz o ditado: "Há males que vem para o bem".
E por causa desse show, tenho certeza que meu método na monitoração de vias com fones mudou.
Agora, vou meter a mão sempre na mixagem!
Se a mudança não agradar, eles me avisam.
Quanto ao show, o vídeo abaixo que eu gravei da mesa de monitor, mesmo com o som distorcendo no microfone do meu celular, consegue dar uma ideia do que foi, e de como o público estava reagindo.
Muito legal, né?
Dava pra notar que o som estava bem redondinho lá na frente.
O tal do Cabelo, que eu não conhecia, mandando ver!
Muito legal participar desse trabalho, que eu também não conhecia.
Um abraço a todos.

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