segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Abertura do Carnaval 2015 com Naná Vasconcelos – Menos pode ser mais?



Olá pessoal.
Quando fechei o carnaval com Naná Vasconcelos, isso incluía a abertura do carnaval no Marco Zero em Recife.
Nunca tinha feito este trabalho, que ele faz há vários anos.
Naná Vasconcelos junta várias “Nações” de Maracatu, e sai num cortejo até o Marco Zero, onde está armado o grande palco.
Na frente deste palco tem uma rampa que é usada para desfiles de vários grupos ligados ao carnaval (maracatus, troças, etc).
É nesta rampa que Naná fica quando chega do cortejo, e cada Nação de Maracatu vai se posicionando lado à lado na frente da rampa.
São mais de 700 batuqueiros.
Naná Vasconcelos ainda usa um tímpano, instrumento comum nas orquestras sinfônicas.
Além das alfaias, existem outros instrumentos que formam a sonoridade do Maracatu.
Caixa, gonguê, ilú, ganzá e agbê.
Mais detalhes aqui neste LINK.


A produção de Naná me mandou o rider da abertura do ano passado para eu dar uma olhada, e para fazer alguns ajustes caso fosse necessário.
No ano passado eu estava no Marco Zero fazendo a mixagem para a Band, contratado pela Bizasom.
Sabia que existiam dois microfones de ambiência, um coral e sempre tinha convidados.
Se eu não me engano, no ano passado os convidados foram Marcelo D2 e Zé Brown (rapper de Recife).
Neste ano foram três convidadas.
Fafá de Belém, Elba Ramalho e Lura, uma cantora de Cabo Verde (África).
A abertura do carnaval seria no dia 13, mas antes disso, nos dias 10 e 11 fizemos um ensaio geral.
Ainda bem que teve estes ensaios.
No primeiro, a coisa foi bem complicada, pois quando eu ia escutar o PA para fazer meu alinhamento, chegou a notícia que eu tinha que abrir o som do PA para uma reportagem de televisão.
Foi o caos.
Na rampa, só deu tempo de ligar os microfones.
Os sete microfones do grupo Voz Nagô, dois microfones de ambiência, dois microfones do tímpano, a voz de Naná e os microfones sem fio para as convidadas.
Não deu para passar direito a monitoração.
Fui levantando os faders do Voz Nagô, levantei os canais do tímpano e a voz de Naná.
Na confusão, fui testando as vozes das convidadas. Neste dia, só Fafá de Belém e Lura compareceram.
Nada deu muito certo neste dia.


Não deu tempo para fazer a monitoração corretamente.
As convidadas e o grupo Voz Nagô não estavam se escutando direito e por estarem na frente do PA, acho que estavam ouvindo um pouco atrasado suas vozes.
Deixamos para resolver tudo no outro dia, no segundo ensaio geral.
Desta vez a coisa fluiu melhor.
Colocaram os fones com fio no grupo Voz Nagô e os inears sem fio nas convidadas.
Eu já tinha sido alertado que os microfones de ambiência captavam muito os instrumentos com sonoridades mais para os médios e agudos, que ficavam mais próximos da rampa.
Resolvi então separar o som dos dois microfones (shotguns).
Usei um “filtro passa alta” (HPF) em um microfone e no outro eu usei um “filtro passa baixa” (LPF).
Com isso eu fiquei com um microfone com o som dos instrumentos mais para os médio-agudos e no outro microfone eu tinha o som mais grave.

Começamos a passar o som novamente, desta vez com mais calma.
Vi que poderia usar os microfones de ambiência para ajudar a colocar o som dos batuqueiros no PA. Ficou até legal a separação dos sons que eu fiz com os filtros.
Mas acabei não usando, pois achei que iriam atrapalhar mais do que ajudar.
Os batuqueiros avisaram Naná que estavam escutando as vozes do coro atrasadas.
Eu sabia que eles tinham razão. É uma questão de física (sempre fui ruim em física!).
Os grupos de maracatu estavam há pelo menos 15 metros de distância do PA e o som das vozes do coro iria chegar atrasado mesmo. Complicou.
E o pior... 15 metros estavam os primeiros batuqueiros que ficavam com os instrumentos mais agudos. Atrás deles iam os outros, ficando lá no final as alfaias, que ouviam muito mais atrasadas as vozes.

Duas soluções:
1 - Colocar inears em todos os batuqueiros. (risos)
2 - Colocar os batuqueiros na mesma linha do vocal, ou seja, todos em cima da rampa ou no palco.
Como sabia que nenhuma dessas soluções poderia ser usada, nem comentei nada.
Eles teriam que tocar escutando as vozes atrasadas mesmo.
Por causa desta questão do atraso do som do PA em relação aos batuqueiros, resolvi também não colocar o som dos microfones de ambiência no PA.
Seria um atraso em cima do outro, pois o microfone já estaria captando com atraso e depois do som sair no PA, ainda iria ter mais atraso para os batuqueiros escutarem este som.
Imaginaram a confusão?
Enquanto as convidadas passavam o som, saí da house mix e fui até o final do maracatu ouvir o som do PA.
O som dos batuqueiros era tão alto, que quase não escutava o som das convidadas e o som do coral.
Tive a certeza que teria que dar muito mais “gás” nas vozes. Muito mesmo!
Aí aparecia outro problema.
As sete vocalistas e as convidadas iriam cantar na rampa que é montada na frente do palco, ou seja, ficariam na frente do PA!
Quanto mais volume, mais fácil realimentar.
Passei o ensaio todo ajustando isso. Vozes x PA x Realimentação.
Estava indo até bem... Mas quando Elba começou a cantar a parte dela, vi que estava em apuros.
Não conseguia de jeito nenhum colocar a voz dela no PA sem realimentar.
Usei plugin, tirei plugin, juntei plugin com compressor da mesa... Fiz várias tentativas... E nada!
Não ficava legal.
Solei o canal da voz dela no meu fone, e escutava mais o som do maracatu do que a voz dela.
Como ela estava usando inear, logicamente não estava precisando emitir muita voz para se escutar.
Mas esta “amaciada” que ela deu complicou o meu lado.
Se na house mix eu não escutava direito a voz dela, atrás do maracatu é que não escutaria mesmo!
Nosso horário acabou e eu não tinha conseguido.
Fui para casa pensando.
Naná com o Voz Nagô e Lura.
Acho que foi ainda quando eu estava indo para casa, que o roadie de Naná me ligou para falar alguma coisa.
E na conversa eu perguntei se Elba usou o sistema de inear dela.
Ele respondeu que sim, e que também usou o microfone dela!
Microfone dela? Que microfone dela?
Ninguém me avisou que o microfone que ela estava usando não era igual aos outros dois microfones sem fio (SM58) das outras convidadas.
Liguei para Rodrigo (Bizasom) e ele me informou que o técnico de monitor de Elba (Flávio) trocou a cápsula do SM58 por uma cápsula de SM87!
Por isso que a diferença nas vozes foi muito grande!
Na correia, nem me lembrei de perguntar isso.
Como eu achava que os três microfones eram iguais, fiquei desanimado comigo mesmo por não conseguir ajustar as coisas.
No outro dia liguei para meu Amigo Mário Jorge, técnico de PA de Elba, e conversei com ele sobre o acontecido.

Pedi para ele falar com Flávio sobre o assunto e perguntar se poderia desfazer a troca das cápsulas dos microfones.
Pedi também para Mário passar meus contatos para Flávio para ele me ligar.
Flávio me ligou.
Conversamos e ele achou muito difícil Elba aceitar a troca dos microfones.
Mário já tinha me falado antes e Flávio me falou a mesma coisa.
Na hora do show, Elba com certeza iria emitir mais voz.
Ok.
Só me restou aguardar pelo dia do evento.
Cheguei cedo.
Passamos todos os canais e o pessoal no palco checou os fones e as vias de monitores de chão.
Era muita gente no Marco Zero.
Sempre é.
No caso da abertura, quase a metade da parte central é ocupada pelos batuqueiros.
Fiz o que havia planejado. Dei mais volume em tudo no PA.
E realmente não coloquei o som dos microfones de ambiência. Deixei-os fechados.
Um pouco antes de começar, Flávio me chama pelo intercom (comunicação entre palco e house mix) e me dá a boa notícia.
Contou-me que ele conversou com Elba, falou para ela da nossa conversa, e avisou que iria baixar um pouco a voz dela no inear, fazendo com que ela emitisse um pouco mais de voz.
Pediu também para ela cantar com o microfone um pouco mais perto da boca.
Já fiquei animado. Com certeza iria ajudar.
Tudo seguiu certinho.
Vozes altas. Sem realimentar.






Cada convidada foi fazendo sua participação.
Primeiro Fafá de Belém e depois Lura.
Logicamente eu tinha um roteiro, e só abria o microfone de quem iria cantar.
Depois que Lura acabou sua participação, olhei para Fumato (técnico de PA contratado pela Prefeitura) e falei:
--- Só posso me lascar com Elba agora.
E ele respondeu:
--- Ou não, né?
Chegou a vez de Elba.
Abri o canal da voz dela e já fiquei com o dedo no fader.
Resultado?
Tomei foi um susto!
A voz veio “valendo”!
Tive até que mexer um pouco no ganho para amenizar o volume.
Fumato me olhou falando:
--- Tais vendo?
(rimos)
Ele acompanhou toda esta história lá na frente comigo, desde o primeiro ensaio geral.

A participação de Elba era o final da abertura.
Vou procurar saber com quem estava no Marco Zero neste dia para saber o que acharam do som.
Se a minha escolha por não colocar os microfones de ambiência foi boa ou ruim.
Achei que neste trabalho o MENOS poderia ser MAIS.
Ajudaria mais ter menos coisas no PA.
Mesmo se eu optasse em colocar microfones no meio do maracatu, os batuqueiros iriam ouvir tudo atrasado ainda!
Em muitos locais pequenos, já deixei de colocar o som de algum instrumento no som do PA.
Mas em lugares grandes, foi a primeira vez!
Já nos camarins, liguei para Mário Jorge para avisar que deu tudo certo e pedi para ele ligar para Flávio para agradecer em meu nome.
Enquanto eu aguardava na frente do camarim de Naná Vasconcelos (a comemoração era grande lá dentro!), Flávio passou e eu pude agradecer pessoalmente.
Um abraço a todos.

3 comentários:

Unknown disse...

que bom você relatar estes "apuros". não acho que isso possa prejudicar seu trabalho. compartilhar as dificuldades também fazem parte do nosso trabalho. tudo deu certo. precisamos muito ouvir isto dos técnicos, pois só assim poderemos enfrentar melhor nossa batalha de cada dia...,mais uma vez obrigado pela publicação, pois me ajuda muito

Lucas brandão disse...

Sempre instrutivo ler seu blog titio ..obrigado pela aula de sempre..

Titio disse...

Olá Fernandão.
Sempre relatei minhas broncas e meus erros aqui no Blog.
Fazem parte dos bastidores de um show.
Legal saber que está ajudando alguém.
Oi Lucas.
Legal saber que está ajudando alguém (2).
Obrigado por participarem com seus comentários.
Um abraço.