segunda-feira, 24 de abril de 2023

Parece mentira... Mas foi verdade! - Caso 31.

Olá pessoal.
Essa história eu já conheço faz muito tempo, e ela veio à tona hoje numa conversa com um amigo das antigas chamado Janjão, que eu até já fiz homenagem para ele aqui no Blog.
Com um detalhe... Ele está "vivinho" ainda, morando numa chácara no interior de Minas Gerais.
Mas continua produzindo de lá, peças de áudio para o Estúdio Panela, como jingles, trilhas, discos etc.
A internet nos propicia isso atualmente, né?
Mas vamos ao "causo", que nem aconteceu com Janjão, e sim com Zé da Flauta e o irmão dele, chamado Paulinho da Macedônia.
Fui falar com Zé para me autorizar a postagem falando sobre o assunto, e para ouvir dele a história completa, porque eu poderia estar enganado com algum detalhe, e nem sabia se era totalmente verídica.
Mas o que eu sabia, estava quase 100% correto.
Inclusive, Zé da Flauta fala sobre esse caso no livro dele, lançado agora em março, que se chama "Tempos Psicodélicos e Outros Tempos", que é a foto no início dessa postagem.
Nesse livro ele fala de vários assuntos, como a fase da Psicodelia Pernambucana, o Movimento Armorial, o Movimento Mangue, e conta vários causos que aconteceram com ele.
Fica aqui a dica para uma boa leitura.
Vamos lá...
A história é sobre um jingle.
Para quem não sabe o que é um jingle, é uma música cantada para divulgar algum produto nos meios de comunicação, como TV e rádio.
Os jingles tiveram uma força absurda tempos atrás.
Hoje ainda existem, mas não são tão utilizados como antigamente.
Trabalhei muito tempo mixando jingle no Estação do Som, e posso garantir que ainda era bastante explorado na década de 90.
Tinha jingle que usava música de sucesso, logicamente pagando para os autores da música, onde só a letra era modificada para encaixar o produto, como uma sapataria.
O Estúdio Estação do Som produziu muito jingle desse tipo para a Esposende à pedido da O&M Propaganda, que de tanto veicular, o público esquecia da letra original da música!!
Geralmente esses jingles tem a duração de 30 segundos ou 1 minuto.
O jingle dessa história foi criado por Zé e Paulinho para a Pitú, a aguardente de Vitória de Santo Antão (PE).
E isso aconteceu em 1978!!!!!!
Os dois foram convidados pela agência de propaganda para uma reunião, para a turma falar como eles queriam o jingle.
Essa reunião se chama até hoje de "Briefing".
Clique na imagem para ampliar.

Seria o primeiro jingle que o estúdio de Zé/Paulinho iria produzir!!!
Foi o próprio dono da agência quem passou o briefing para a dupla, como por exemplo:
1- O jingle tem que falar muito o nome Pitú. 2- Quanto mais vocês falarem a palavra Pitú, melhor! 3- É um jingle para o carnaval, mas eu não quero um frevo, porque a turma tá querendo escutar música baiana, com aquela guitarrinha baiana. 4- Mas mesmo assim, eu também não quero música baiana. 5- Eu quero uma batucada! 6- Etc, etc, etc...
Zé e Paulinho já saíram da reunião com a imagem da batucada na cabeça... Um surdo marcando o ritmo, um pandeiro, um cavaquinho, vocais cantando... E também com a palavra Pitú aparecendo o tempo todo na música. Nunca esquecer desse detalhe importantíssimo!!!
E eles foram pensar.
Com que Pitú combinava ou tinha ligação?
Carnaval, batucada, feijoada, futebol, vaquejada, caipirinha ou batida com várias outras frutas...
Foi aí que eles tiveram uma ideia sensacional!!!
Eu achei essa ideia fantástica desde o dia que ouvi a história.
O que foi que eles inventaram???
O som da palavra PITÚ seria o surdo da batucada!!!!!
Não usaram o instrumento SURDO na música.
Usaram o SOM da palavra Pitú produzindo o som do instrumento musical!!!!
(Difícil passar essa informação SONORA usando palavras, mas vou tentar)
Na música usaram vários instrumentos, MENOS o surdo, que seria feito com vozes graves cantadas, que forçavam o som grave do surdo na sílaba TÚ!
Então, ficou mais ou menos isso:
piTÚÚ no carnaval.
piTÚÚ na feijoada.
piTÚÚ com abacaxi.
piTÚÚ na vaquejada.
piTÚÚ com limonada.
PiTÚÚ no futebol...
E assim foram passando o recado... Que repito: Achei espetacular!!!!
Gravaram o jingle mixado numa fita de ROLO(!!!), e foram levar para o pessoal da agência escutar.
Só que...
Era 1978... Fita de rolo... Gravador/Tocador de rolo Toshiba, mono... O falante do aparelho não reproduzia os graves como os do estúdio... Ou seja?
As silabas graves dos vocais (TÚÚ) não apareciam direito, que seriam o TUMMM do surdo.
Realmente, o som deve ter ficado magrinho nessas partes, né?
Fico imaginando a cena enquanto escrevo...
Mas mesmo assim, os irmãos perguntaram diretamente para o dono da agência:
--- E aí? Gostou?
E ele respondeu:
--- É... Batucada... Legal... Só não ouvi o surdo. Cadê o surdo?
E Paulinho da Macedônia completou na mesma hora, apontando para o dono da agência:
--- Tá aqui. Na minha frente! O surdo está aqui na minha frente!
(Surdo de surdez, porque ele não notou o som do surdo feito com as vozes)
Zé falou que ainda procurou um lugar pra se esconder dentro da sala, pensando:
--- Mal comecei a ganhar um cliente, e já vou perdendo, né?!?!
(Ri muito aqui escrevendo, mesmo já sabendo do caso)
(Seu) Queiroz, o dono da agência em questão, a Ampla, olhou para os dois, e falou:
--- Vocês são muito... É... Engraçados... São muito espirituosos... Gostei de trabalhar com vocês.
Vamos trabalhar muito daqui pra frente.
Livro biográfico, lançado em 2012.
Seu Queiroz e sua Agência Ampla, são nomes sempre enaltecidos e venerados nas conversas sobre a Propaganda Pernambucana até os dias atuais!!!
Não tem como falar de Propaganda em Pernambuco, sem falar os nomes Queiroz e Ampla.
Esse foi o primeiro jingle que o estúdio de Zé da Flauta produziu.
E foi um sucesso!!! Ganhou 18 prêmios!!!!!!!!
Na minha humilde opinião... Prêmios mais do que merecidos!!!
Obrigado Zé, por me contar a história em detalhes.
Eu tinha obrigação de deixar registrado isso aqui no Blog.
Pois conto até hoje esse teu causo para meus amigos do áudio.
Um abraço a todos.

2 comentários:

Janja disse...

Titio, bom é assim direto da fonte primária!
Abraço, JanjaBoy

Titio disse...

Oi Janjão.
Isso mesmo.
Fui falar direto com Zé, para saber a versão real de como aconteceu, para não escrever besteira.
Não era muito diferente da que eu tinha escutado.
Mas não sabia de alguns detalhes, como o lance da fita de rolo...
Aí o texto ficou completo.
Obrigado por participar do Blog.
Um abraço.