Olá pessoal.
Fui pela primeira vez operar o P.A. da banda instrumental A Trombonada. O show foi em Goiana, que fica a sessenta quilômetros (eu acho) de Recife. Achei estranho uma cidade como Goiana... Na realidade acho estranho qualquer cidade promover eventos com bandas instrumentais, pois o público que sai de casa pra ver este tipo de evento é muito pequeno, e por ser pequeno, a maioria das empresas não se interessam em patrocinar. E sem patrocínio poucas pessoas conseguem fazer estes eventos. E com poucos eventos deste tipo para que o público conheça estas músicas, o público vai continuar pequeno, não é verdade?
A produção me falou que iríamos passar o som e já ficava tudo armado para o show. Menos mal, pois não esperava pegar um equipamento muito bom por lá.
Quando chegamos, já pude notar que era mais um sistema caseiro simulando um line array. Já me deu um frio na espinha. Depois fiquei sabendo que a minha banda não seria a primeira a se apresentar. Teríamos que fazer o sound check e desmontar tudo para a outra banda. O técnico de P.A. da empresa de som achava melhor a gente nem passar o som, pois a outra banda já estava vindo e o evento começava cedo, às 19 horas. Mas depois de alguma conversa, combinamos em fazer um sound check rápido antes que a banda que iria começar o evento chegasse. Para acelerar o processo, perguntei ao meu baterista se daria para tocar na bateria do evento, pois uma troca de bateria prejudicaria na fluidez das coisas. Ele concordou. Pedi para o responsável do monitor não mudar as ligações no palco por causa do meu input list, pois teve show no dia anterior e eu aproveitaria as ligações. Só era ele me falar em qual canal estava cada instrumento. Esta ligação serviria para as duas bandas. Enquanto ele ligava as coisas, corri pra frente pra sentir o som do line array caseiro. Esperei um minutinho enquanto o técnico da empresa checava o sistema. Quando ele acabou, pedi pra colocar meu velho CD de Lisa Stansfield para tocar. Suspirei aliviado, pois o resultado sonoro foi satisfatório para quem esperava uma coisa ruim. Continuo afirmando que a diferença sonora de um line array industrial para um desses caseiros é muito grande! E sei também que é praticamente impossível empresas pequenas conseguirem comprar um line original (principalmente importado), pois o custo é muito alto, muito alto mesmo!
A empresa de som responsável por esta sonorização em Goiana era familiar. Tinha o pai e dois filhos trabalhando. Um filho no P.A., o outro filho no monitor com mais dois assistentes, e o pai pastorando. (risos) Dava para notar a dedicação deles para a coisa dar certo. E esta dedicação refletiu no resultado final do trabalho. O equipamento era bem cuidado, não tive nenhum problema de maus contatos ou ruídos. No detalhe o line array caseiro. Este deu conta do recado, mas nem sempre é assim. Enquanto Lisa cantava, eu fiz uns pequenos ajustes no equalizador gráfico que estava insertado na saída principal da mesa de som, aproveitando a equalização do dia anterior do técnico da empresa. A mesa era uma digital LS9 da Yamaha de 32 canais. Por não ter muito tempo, aproveitei também as regulagens e os efeitos usados pelo técnico da empresa de som no dia anterior, e fiz alguns ajustes ao meu gosto em vários canais. Acabou dando pra fazer um sound check completo. Eu poderia ter sido mais rápido se tivesse levado meu laptop para trabalhar sincronizado com a mesa, mas o medo de assaltos na BR falou mais alto e eu deixei o computador em casa. Uma pena, pois sou viciado em usar o laptop com as mesas digitais. Por enquanto só com as mesas da Yamaha, mas espero que as outras consigam popularizar os softwares de controle das suas mesas digitais. Sabia que iríamos voltar logo após o show, e o risco de assaltos na madrugada é grande. Na semana anterior, a condução de uma banda daqui de Recife que tocou nesta mesma cidade foi abordada na estrada de madrugada e me falaram que foram horas de horror. Levaram até instrumentos! Não foi a primeira vez que isso aconteceu, e infelizmente sei que não será a última. Por isso, sempre aconselho a não voltar de madrugada, mas é muito raro os organizadores destes eventos em pequenas cidades do interior do Estado oferecerem hospedagem. Salvei minha cena na mesa digital e fomos jantar. Como a banda que iria começar tinha pouca coisa, quase não houve mudanças nas ligações do palco. A mudança foi tranqüila. Enquanto o locutor falava antes da primeira banda, apareceu uma distorção nos médios-graves que eu não tinha notado no meu sound check. Foi preciso desligar os falantes desta caixa para sanar o problema. Mas não deu para comprometer o resultado final. Na minha hora, fiz um line check rápido no palco para ver se os 5 trombones foram religados certos e fui pra frente. Começamos o show.Exatamente na minha frente (no meio!) tinha uma árvore grande, uma placa de sinalização e uma pequena árvore que não me deixavam ver uma parte dos músicos. E pra quem acha que não interfere em nada no som ver ou não os músicos, eu vou mostrar como interfere, principalmente quando você não conhece o show, como era o meu caso. Esta é uma opinião minha. Ajuda-me no meu trabalho. Pode ser que outros operadores não sintam falta da visão do palco. Eu sinto.
Com a visão total dos músicos, eu sei quais instrumentos estão sendo tocados e em que intensidade, e isso ajuda na mixagem. Imaginem uma música em que o baterista em determinada hora bate em um dos tom-tons (tambores). Mas por causa de uma regulagem errada do gate (dispositivo que serve para abrir e fechar um canal de acordo com um nível de volume pré-determinado) o canal não é aberto e o som do tom-tom não sai. Se eu não estiver vendo o baterista bater neste tom e eu não conheço o show, não vou notar nada. Estou levando em consideração um palco grande, em que o som acústico do tom-tom não dá pra ser percebido por causa da distância. Eu vendo o baterista bater no tom-tom, vou saber que o som não saiu e vou atrás para tentar sanar o problema.
A Trombonada é formada por bateria, baixo, guitarra, teclados e 5 trombones de vara. Desses cinco trombones, eu só via dois! Eu parado no meu lugar, via só estes dois trombones, o baixista e o tecladista!
Ficavam encobertos o baterista, três trombones e o guitarrista. Visão que eu tinha do palco. Na minha frente, um tronco de árvore, uma placa e uma pequena árvore.Vou dar outro exemplo da ajuda da visão. Imaginem que numa hora do show fiquem 4 trombones segurando um acorde com a vara do trombone parada enquanto um trombone faz um solo frenético mudando constantemente a posição da vara. Se eu não estiver vendo isso, é capaz de ninguém escutar o som de quem está solando. O público que está vendo o show associa na hora a imagem que está vendo com o som que está escutando. E vai notar algo estranho em ver um cara freneticamente mexendo na posição da vara do trombone e não sentir isso no som.
O único “mamão” que dei (gíria usada pelos operadores de áudio da região quando erram) poderia ter sido menor se eu estivesse vendo o guitarrista. Notei no intervalo entre uma música e outra, que o microfone que estava na frente do amplificador da guitarra estava captando até os passos dos músicos no palco. Acho que o guitarrista usava o volume muito baixo do amplificador (isso é incrível! geralmente é o contrário!) e eu tive que dar um ganho significativo no canal, fazendo com que a sensibilidade do microfone aumentasse e captasse esses ruídos. Pode ser também que um (ou uns) dos pés do pedestal em que estava o microfone estivesse sem a borracha que ameniza estes ruídos, que são conduzidos pelo piso do palco.Num desses intervalos, incomodado pelos ruídos inconvenientes, fechei o canal da guitarra enquanto um dos músicos falava ao público. E não me lembrei de abrir! No meio da música foi que senti a falta!
Se eu estivesse vendo sempre o guitarrista, sentiria a falta num tempo muiiiiiito menor.
Para ver determinados músicos, eu tinha que sair da minha posição central. Mas é muito melhor trabalhar com a mesa na frente mesmo com uma árvore no meio do que com a mesa na lateral do palco vendo todos os músicos.
Mesmo com este “mamão” e por ter sido a primeira vez que operava o P.A. da banda, fiquei satisfeito com o resultado do meu trabalho.
Um abraço a todos.
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