terça-feira, 18 de agosto de 2009

Turnê com o SESI Bonecos pela Bizasom (Palmas) – Faça por onde parecer MOLEZA.

Olá pessoal.

Estou dentro do ônibus seguindo para Goiânia em Goiás. Tenho algumas horas para escrever enquanto a bateria do laptop aguenta. Estou parecendo com o ator que manipula o boneco mascote do SESI Bonecos. Notei na segunda apresentação no teatro em Brasília que ele não tem um texto pronto para seguir. Ele decide o que vai falar em cima de alguma coisa, ou pessoa, ou acontecimento do local. Por causa disso, às vezes ele não sabe o que vai falar. O ator me falou durante um café da manhã, que uma vez teve um dia que ele já estava dentro da “casinha” aonde manipula o boneco sem ter a menor idéia do que falaria. Foi quando ao olhar para cima avistou a pintura (ou vitral) de dois anjos. Um olhava para a platéia e o outro para o palco. Então deduziu que um anjo sempre sabia o que acontecia no palco e o outro sempre sabia o que acontecia na platéia. Foi com este pensamento que ele começou a falar. E foi inventando o texto na hora. Muito criativo. E ele é realmente criativo. Sempre dou umas boas risadas no começo do evento com o bonequinho. Estou como ele agora, sem saber o que falar. O que poderia passar para vocês dos bastidores do evento em Palmas? O equipamento de som é o mesmo. Os palcos são os mesmos. A equipe é a mesma. Algumas das atrações são as mesmas. Quando comecei a escrever este texto, coloquei na segunda parte do título a frase “Parecia um velho caindo na house mix”, pois foi o fato que achei que merecia um comentário. Eu caí na house mix! Como comentei no texto anterior, tudo está muito tranquilo. E enquanto um espetáculo acontecia, peguei minha câmera e fui tirando umas fotos. Tirei uma e fui me afastando para trás para aumentar o enquadramento. Foi quando tropecei na minha mochila do laptop que estava no chão. Sem ter aonde me apoiar, despenquei por cima dos equipamentos do pessoal do vídeo! Despenquei mesmo! Não sei como não desliguei os equipamentos! Luciano (que sempre conheci como Tuchê), proprietário dos equipamentos de vídeo, veio ao meu encontro perguntando se eu tinha me machucado. E eu estava mais preocupado em não ter desligado nada dele. Levantei-me todo sem jeito e fiquei pensando: Tais ficando velho Ildemar, caindo nos lugares... (risos). Nada foi desligado.

Enquanto escrevia sobre esta minha queda, lembrei-me de outro assunto que acho mais digno de título de texto e que poderia ser mais útil para alguém que está lendo aqui, principalmente operadores que estão começando. Por isso o subtítulo ficou este que está acima.

Conversando com meu amigo Ricardo hoje de madrugada pelo MSN enquanto tomava (pra variar) meu vinho e dava uma geral na internet, comentei para ele que estava tudo tranquilo aqui, sem estresse, tudo funcionando perfeitamente. Resumindo... Acho que está sendo uma MOLEZA o serviço! Foi quando ele me perguntou se eu não estava me subestimando... Será? Falei pra ele que pensaria sobre o assunto e falaria sobre isso no Blog, pois ele poderia ter razão. Com meu colega de trabalho, o ilumindador do evento Waltinho. Gente boa.

Porque estou achando moleza e tem gente que não pensa assim?

Alguém deixou um comentário sobre uma foto que coloquei na minha página no Orkut. Era a foto da mesa com que estou trabalhando aqui nesta turnê pelo centro-oeste. Uma mesa digital top de linha da Digidesign. O comentário diz: “Um dia ainda chego lá.”

E eu achando aqui a coisa mais natural e simples do mundo! Às vezes me subestimo mesmo. Estou operando o som de um evento usando uma mesa que só tinha visto (só vi mesmo) uma única vez! Já devo ter falado sobre este assunto em texto anterior. Tudo bem que o evento aqui é bem mais simples que um show normal, mas a responsabilidade é a mesma. Sei que não conheço o suficiente dela ainda para atender alguns dos pedidos dos operadores dos artistas em shows, mas acho que já estou perto do meio do caminho. Para quem só viu a mesa uma única vez antes de trabalhar com ela, já é um bom caminho percorrido, não acham? Fui ao site do fabricante e baixei o “user guide” (guia do usuário ou simplesmente o manual da mesa). Estou dando uma lida nos dias de folga no hotel, e já aprendi várias coisas! Bonecos da Companhia Giramundo de Minas Gerais. Numa das turnês da Europa que fiz com Silvério Pessoa, o produtor francês me enviou antecipadamente a relação dos equipamentos do Festival Paléo que iríamos fazer na Suíça. Um espetacular festival, diga-se de passagem. Nunca tinha nem ouvido falar da mesa! Nem sabia que existia. A internet é uma ferramenta (que podemos até ter a ousadia de chamar infinita) de aprendizado. Digo isso sempre a quem me pergunta algo. Às vezes nem precisava me perguntar. Digite algo relacionado à sua dúvida num sistema de busca na internet que aparecerão vários resultados, e num deles pode está sua resposta. Foi isso que eu fiz quando recebi o documento e vi que não conhecia a mesa. Só digitei o nome dela e apareceram vários resultados, e num deles era o site do próprio fabricante. Fui ao site e dei uma olhada nela, vendo inclusive como era (mais ou menos) sua operacionalidade. Quando cheguei ao festival, já sabia um pouco do seu funcionamento, e tudo foi mais simples. E olhe que meu inglês é medíocre! Com o domínio desta língua, nem o céu é o limite no mundo da internet! Relógio solar. A sombra no chão informava a hora. Ítalo (Bizasom) tinha me falado que em um dos espetáculos seriam necessários dois efeitos específicos, pois ele já tinha feito esta peça em edições anteriores. Não tive dúvidas, fiz uma cena para este espetáculo um dia antes já com estes dois efeitos. Quando o operador chegou no outro dia e me falou que precisaria de tais efeitos, eu falei que já estavam programados na mesa. Ele me perguntou com ar de satisfação como eu sabia disso, e eu respondi que o dono da empresa de som me passou tal informação e eu adiantei a coisa. Fiz só pequenos ajustes ao gosto dele e pulamos esta fase no sound check. São pequenos detalhes como este que podem gerar um diferencial. Coincidência ou não, este operador comentou para Ítalo que este ano foi bem melhor para ele. À esquerda da mesa, meu laptop com minha placa de áudio da M-Audio. Gravando o áudio de um MD para transformar em CD. No hotel dando uma estudada no manual da mesa Venue Profile da Digidesign. O simples (nem tanto) fato de você ter um laptop com uma placa de áudio boa em que você pode passar o áudio de um MD e fazer um CD com este áudio já gera outro diferencial. Acabei fazendo dois CDs para dois artistas internacionais diferentes que estavam precisando das suas trilhas em CDs para se apresentarem em programas de TV. Invista em ferramentas. Laptop hoje em dia é uma ferramenta essencial em várias profissões. No áudio não é diferente. Deixou de ser luxo ou somente entretenimento. Ando sempre com o meu, mesmo sendo perigoso aqui no Brasil. Em Recife eu nunca tenho certeza que vou voltar com ele para casa! Aqui no centro-oeste o risco parece ser bem menor. Se trabalha com áudio como eu, invista numa boa placa de áudio. A minha é a Fast Track Pro da M-Audio. Para minha necessidade, ela é excelente. Não economizo nas minhas ferramentas. Paguei mais de 100 reais numa lanterna de cabeça, pois estava perdendo tempo com minha lanterna de bastão. Sem contar que não aguentava mais colocá-la na boca para ficar com as mãos livres. Se não dá ainda para comprar uma lanterna de cabeça neste valor, compre uma mais barata, invista em você, nas suas necessidades que com o tempo você vai notando quais são. Muita gente aqui deve estar pensando: --- Mas ele faz isso tudo porque ganha muito bem... Engano seu, meu caro amigo! Ganho menos da metade de uma tabela do sul/sudeste do país por um show ou dia de evento que faço, infelizmente. Luto por uma equiparação. Mas não é tão fácil, pois um show de Alceu Valença é muito mais caro que um show de Silvério Pessoa. Quando faço Alceu, recebo pela tabela do sul/sudeste. Programe-se! Junte a grana para a lanterna ou divida o valor da compra do laptop em 12 vezes como eu fiz! Pesquise. Estude. Aprenda inglês, pois ele é muito importante neste meio do áudio. Se adiante. Não deixe para programar os efeitos na hora se você pode fazer um dia antes! Mais cedo ou mais tarde, o contratante vai notar a diferença. Não tenha vergonha de perguntar, e não negue informação. Sou do tempo em que se negavam informação. O pessoal tinha medo de ensinar, com medo que o aluno fosse seu concorrente mais à frente. Se eu pensasse deste jeito, este Blog não seria criado, mesmo eu achando que realmente esta pessoa vai ser meu concorrente mais adiante. Mas acredito que tem espaço para todos. Pequenas bandas hoje em dia já levam seu(s) operador(es).

Não finja que está fazendo um ajuste na mesa para um pedido de um músico. Você foi contratado e está ali para servir ao evento, à banda ou artista, e não ao contrário. Tem músico que exagera? Lógico que tem. Tem contratante que exagera? Lógico que tem também. Você é que deve saber qual o limite técnico para atender ao pedido.

Acredito que estas minhas atitudes e estes meus pensamentos, me ajudaram a achar que o trabalho que estou fazendo aqui nesta turnê é uma moleza. Mesmo não sendo!

Estou finalizando este texto num belo flat aqui em Goiânia no estado de Goiás. Acabei de chegar de Palmas. Foram mais de dez horas de viagem. Como não tenho vinho, estou no meu velho hi-fi (vodka com laranjada). Lembrei-me agora que teve um caso extraordinário em Palmas. Houve uma greve dos carregadores. Não sei direito o motivo. O que chegou aos meus ouvidos foi que eles queriam receber ao final de cada dia de trabalho, e a produção do evento só paga no domingo. Tiveram que conseguir outros carregadores de última hora, e isso causou um atraso principalmente no desarme da estrutura. No resto (fora minha queda) foi tudo MOLEZA!

Ah!

Chupei uns dez picolés de tamarindo no local do evento durante os quatro dias para refrescar. Mais um de coco “pasteurizado” que me fez lembrar a minha infância.

Um abraço a todos.

5 comentários:

Thiaguinho Roadie PE disse...

Massa Titio este texto sobre auto-investimento. Penso de maneira semelhante.
Amar o que faz também torna o trabalho, digamos, mais interessante de se conseguir resultados positivos, em momentos de dificuldade e caos, os quais acontecem de quando em vez. Resultando em amadurecimento espirito/profissional, e que, por certo, muitas pessoas sensíveis e abertas em idéias, notarão estas nuances.
Parabéns.
Abraço aos leitores de todo o mundo.

Titio disse...

Oi Thiaguinho. Tais com saudades de mim? Nem comentei no texto sobre gostar do que está fazendo, pois isso para mim é uma coisa que nem precisa ser falada. É o princípio de tudo para a pessoa se dar bem numa profissão.
Um abraço.

Unknown disse...

Muito bom, amigo!

Há muito tenho vontade de trabalhar como operador... as aparelhagens sonoras, a música.. tudo isso me deixa extremamente feliz.

Sou músico aqui em Pernambuco. Comecei a lhe dar com as especificidades técnico-sonoras agora (pouco tempo).

Queria estudar, fazer um curso de produção, ou me enveredar p. área de engenharia musical.. enfim.. algo do tipo. Tens algum conselho? Algum lugar onde eu possa obter profissionalização na área aqui no estado de Pernambuco?

Olha... parabéns pela contribuição magnífica que tens dado nesse blog. Veículo importantíssimo na propagação de excelentes idéias.!

Abraços.

Alberto Monteiro (Ramsés)

Thiaguinho Roadie PE disse...

Estou sim, com saudades.
Esperançoso de, em breve, realizarmos mais trabalhos juntos.
Forte abraço Camará

Titio disse...

Olá Alberto.
Obrigado pelas palavras. É muito legal saber que tem gente que acha meu Blog um "veículo importantíssimo na propagação de excelentes idéias". Nunca tive esta pretenção. O Blog nasceu de uma brincadeira. Meus amigos que não são do meio sempre me perguntavam como era que funcionava a coisa. Resolvi mostrar como funcionava nos trabalhos que participo. Acabei colocando minhas opiniões no meio dos textos, que não quer dizer que é a coisa certa a fazer, é apenas minha opinião.
Quanto a questão da profissionalização, pelo que eu saiba não existe esta engenharia musical. Você dentro da engenharia, pode estudar acústica, creio eu. Sei que tem cursos em faculdades em Recife de produção musical ou coisa parecida. Neste meu universo de operador de áudio, não existe faculdade para isso. Alguns cursos nos sul/sudeste como IAV ou IATEC. Na Bahia tem alguma coisa parecida, mas em Recife não. De vez em quando, meu amigo Luizinho ministra uns workshops em Recife. É um bom começo. Passe um email para ele e pergunte se tem algo programado ( luiz.reis@gmail.com ). E para chegar a operar o som de uma banda como eu cheguei, não tem jeito, só aproveitando as oportunidades. Não tem diploma. As pessoas vão te indicando à medida que você vai mostrando serviço. Pelo menos comigo foi assim.
Espero ter ajudado. Continue participando.