sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O mercado – Regressão em alguns casos?


Foto: http://guiainvestidor.blogspot.com.br/2011/07/profissionais-do-mercado-financeiro.html


Olá pessoal.
Vejo muita gente do meio (técnicos, músicos, donos de estúdios, DJs, donos de empresas de som, etc) discutindo o assunto nas redes, e resolvi tentar escrever algo falando disso.
Qual o assunto?
Valores. Preços. Cachês...
Ou seriam valores em relação ao que se vai fazer ou o que vai ter que ser colocado?
Pelo que pude notar nestes anos (comecei a trabalhar em shows em 1992), muita coisa mudou e melhorou no show business.
Organização, produção, palcos, equipamentos de som e luz.
Operei o som de uma grande quantidade de shows antes de 1992 quando eu era DJ, mas não recebia nada pela operação do som das bandas que iam tocar na boite.
De 1992 para os dias atuais, tivemos uma melhora absurda no áudio!
Sistemas sem fio confiáveis, a chegada do line array, que para mim foi uma das mais importantes mudanças, as mesas digitais que facilitaram muito a vida dos operadores e mexeu muito com o mercado também, o in-ear que deu uma enxugada no som do palco, melhorando assim o som da frente, etc.
Diretor de palco se tornou uma coisa comum nos shows. Como também ter um cara só para fazer as ligações dos canais (patchman).
Não tenho do que reclamar destas mudanças, foram todas para melhor.
Quando comecei com a Banda Versão Brasileira (VB) em 1992, fazendo o monitor, a banda andava com técnico de monitor, técnico de PA, iluminador e roadie!
Isso em 1992.
Pelo que eu me lembro, foi a primeira banda a fazer isso aqui em Recife (considere também como Pernambuco).
Lembro que meu cachê era 150 reais, e o técnico de PA recebia 300.
Tinha esta diferenciação naquele tempo, mas não demorou muito para chegar na igualdade.
Sempre achei que não era justa tal diferença.
Em datas especiais como carnaval, natal, réveillon ou comícios, o valor era dobrado, ou seja, o técnico de PA chegava a ganhar 600 reais por show.
Vamos entrar em 2015, então isso foi há 22 anos!
Naquela época, tinha empresa de som e empresa de luz.
Atualmente, aqui na região, a empresa de som que é contratada tem que fornecer o som e a luz!
E pelo que ouço dos donos das empresas, os valores estão absurdamente baixos.
O preço caiu muito, mas os preços dos equipamentos não caíram. E se caíram, não foi na mesma proporção.
Foto: http://ucho.info/mercado-financeiro-eleva-projecao-da-inflacao-oficial-de-2012-para-558-mas-a-realidade-e-outra


Eu acho que é absurdamente mais fácil comprar os equipamentos hoje em dia, mas os preços não devem ter caído na proporção da queda do valor da locação.
Pelo andar da carruagem, não vai demorar muito para os contratantes exigirem que as empresas de som coloquem também os painéis de LED, ou até o palco!
Mas aí a briga não é minha, vou deixar isso para meus colegas e amigos que possuem tais empresas resolverem.
Na minha área atualmente, os preços dos cachês estão quase a mesma coisa da minha época de VB.
Se paga até menos de 150 reais em muitos casos. Muitos mesmo!
Tudo bem, não posso comparar a VB com pequenas bandas que estão começando hoje em dia, acho que a VB já começou grande, mas mesmo assim muitas bandas e/ou artistas que não são mais iniciantes hoje em dia não chegam a pagar os 300 reais que meu amigo do PA ganhava na VB no começo dos anos 90.
Mesmo começando grande, por ter grandes músicos e uma proposta inovadora na época, a VB não deixava de ser uma banda iniciante, não é mesmo?
Ela mexeu com o mercado daqui naquela época, ao ponto de um dono de empresa de som falar para mim num show:
--- Vocês inflacionaram o mercado de técnicos. (risos)
Muitos técnicos começaram a achar baixos os cachês que recebiam nas empresas e nas bandas.
Fico pensando aqui com meus botões...
É normal, depois de 22 anos, o preço ficar mais baixo ou estacionado?
Como sou dono de casa, faço minhas compras, e vejo que na área de alimentação não ocorreu isso.
Meu leite em caixa que eu comprava por um pouco mais de 1 real, hoje em dia, tenho que rodar muito para achar por menos de 3,50 reais.
O normal é o preço do leite em caixa girar em torno de 3,80 reais.
Um carro 1.0 está muito mais barato hoje ou tem o mesmo preço de 1996?
Atualmente, alguns setores do show business estão assim. Valores estacionados, ou muito mais baixos.
Vejo atualmente aqui em Recife ainda muitos artistas e bandas viajando com apenas um técnico de som, onde ele tem que passar o som do palco e correr pra frente para fazer o PA.
Nunca gostei desta forma de trabalho e nem aceito.
Primeiro, porque você está tirando o trabalho de outro profissional, e segundo porque eu acho esquisito o técnico passar os monitores do jeito dele, fazer a mixagem para os músicos e correr lá pra frente para fazer o outro trabalho, deixando a bomba na mão do técnico da empresa de som.
Nos anos que fiquei responsável pelos monitores do palco 2 no Abril Pro Rock (APR), era raríssimo também um artista (local ou de fora) chegar com técnico de monitor.
Deixei de fazer o APR em 2011.
Quando me chamam para um trabalho, deixo claro que só faço um trabalho (PA ou monitor).
Já tenho minhas dúvidas sobre meu trabalho fazendo uma coisa só, imagine fazer os dois serviços! Aí é que eu não faço direito mesmo!
Foto: http://www.wscom.com.br/noticia/economia/INFLACAO+MERCADO+PRVE+CRESCIMENTO+MENOR-144872


Fui recentemente fazer um trabalho com Naná Vasconcelos em SP, onde o pessoal do teatro me avisou antecipadamente que não fornecia técnico para operar o som.
Foi a primeira vez que alguém me falou isso.
Pode ser um começo de mudança, não é?
Como eu não poderia fazer o monitor da mesa de PA porque não haviam mandadas suficientes de monitor, usei meu iPad para fazer o PA e monitor usando a mesa do palco.
Já vejo técnicos de empresas de som aqui em Recife conversando sobre isso.
Sobre a obrigação de operar ou não o som das bandas que não levam técnicos.
Eles tem que resolver este detalhe conversando com o dono da empresa de som.
Eu já fiz alguns trabalhos sozinho.
Faço normalmente isso com Naná Vasconcelos e fiz recentemente com uma banda daqui de Recife chamada Café Preto, mas não faço nada no palco, a não ser posicionar microfones e monitores ou explicar ligações de instrumentos.
Deixo isso bem claro para os artistas.
Fiquei mal acostumado com a Versão Brasileira.
Nem vou entrar no assunto “tempo para receber os cachês” atualmente, pois daria outro texto completo.
Só vou falar que nunca se demorou tanto para se receber cachês aqui em Recife.
Estou falando de shows contratados por prefeitura e/ou governo.
Conversando ontem com um Amigo cantor, ele me falou que recebeu nesta semana o cachê de um show que ele fez pela prefeitura no São João, em junho!!!!
Pelo que eu me recordo, não era assim nos anos 90.
Seis meses para receber por um trabalho??!!
Outro assunto que sempre vejo o pessoal discutindo é com relação à regulamentação dos cachês do técnico de som, ou operador de áudio, ou técnico de áudio...
Eu tenho uma opinião sobre isso. Que não quer dizer que é a correta.
Não vejo como regulamentar uma coisa que não é regulamentada.
Eu ainda acho que devemos primeiro regulamentar a profissão para depois tentar regulamentar valores, mesmo sabendo que existe uma “tabela do sul” que é seguida por alguns artistas, mas que está longe dos valores praticados na maioria das regiões.
Já falei sobre organizar a classe (ou regulamentar a classe) num texto anterior aqui, é só procurar.
Para mim, muitas classes precisavam se organizar. Estúdios, empresas de som, DJs...
Estão em situação parecida.
Vou fazer uma comparação que eu sei que não posso comparar, mas pode ser uma referência para outros casos.
Fiz recentemente o SESI Bonecos, um evento grande, 3 linhas de PA, torre de delay, mesa digital na frente e uma de monitor para o show de música.
Dois palcos que comportam um show grande, como o Música de Brinquedo do Pato Fu.
Só que nestes palcos montam-se peças de bonecos, que normalmente são feitas em teatros.
A grande maioria das pessoas que vão operar o som destas peças não tem a mínima afinidade com um som de show normal ao ar livre.
São basicamente sonoplastas.
Estão acostumadas com o som de teatro, uma mesinha simples, um sistema de som menos potente, um ambiente mais controlado, etc.
Logicamente sou eu que passo o som dos microfones no SESI Bonecos, mando para os monitores, mando para os efeitos, coloco os faders sempre na mão deles, etc.
E fico todo o tempo ao lado dos operadores, pois todos os microfones são headsets ou lapelas. Ou seja, fácil de realimentar.
Levo numa boa, sou contratado para fazer isso mesmo.
Principalmente porque não existe uma regulamentação para dizer quem é ou não operador de áudio. Ou quem pode ou não fazer o trabalho.
Se eu deixar estes “operadores” fazerem o trabalho desde o começo, só dizendo o input de cada canal, posso afirmar sem medo que 99% não seria capaz de fazer o trabalho.
Podemos afirmar que estão tirando o trabalho de um operador “real” de áudio?
Com uma classe regulamentada, isso não aconteceria?
Quando apareceu um com “jeitinho” para a coisa, nem fone ele tinha!
Um operador de áudio sem fones? Já perdeu pontos comigo.
Só se ele realmente não usar, mas não foi neste caso.
Ele precisou e usou o meu, deixando as espumas do meu ATH-M50 da Audio-Technica molhadas com seu suor.
Aprendi mais uma. Vou comprar um Porta-Pro para as visitas.
E aí? Estamos regredindo em alguns casos, ou é viagem minha?
O mercado do show business realmente está piorando para alguns setores?
Um abraço a todos.

4 comentários:

Lucas brandão disse...

Sempre bom ler seus textos titio abraço.

Titio disse...

Obrigado Lucas.
Bom saber que tem gente que gosta de ler estes textos.
Espero que eles sirvam para ajudar alguém ou para melhorar alguma coisa.
Um abraço.

Mario Jorge Andrade disse...

Eu leio sempre e gosto muito!

Titio disse...

Oi Mário.
É uma honra ter você como meu leitor.
Um abraço.