segunda-feira, 25 de abril de 2022

Operando o monitor da Academia da Berlinda no Festival DoSol - O sonho de todo técnico de monitor.

Minutos antes do início do show.

Olá pessoal.
Os eventos e shows estão voltando...
Um alívio para quem passou mais de dois anos sem saber direito para que lado deveria ir, como foi o caso dos profissionais que vivem de shows e eventos para garantir o "pão-de-cada-dia".
Foi complicado, e sei de casos de técnicos que preferiram não voltar mais para o ramo, ficando no novo trabalho que conseguiram durante a pandemia.
Os eventos e shows estão voltando... E com força!!!!!
Não paro de divulgá-los nas minhas redes sociais.
Uh uhhhhhhhhhhh.
Vou falar de um desses shows que divulguei, e participei, pois não divulgo só os que eu participo.
Lembram do texto do QI no show do Ira!?
É...
Nesse caso aqui não foi bem uma indicação, mas foi a lembrança do meu nome, o que é bem perto do QI.
Um dos técnicos da Academia da Berlinda não poderia fazer o show, e numa conversa entre o outro técnico (Adriano Duprat) e o produtor (Duda Lopes), meu nome foi lembrado.
Duda me ligou perguntando se eu poderia fazer o show no Festival DoSol, em Natal (RN).
Esse show aconteceu no dia 10 desse mês (abril).
Falei que poderia fazer, e ele passou meu nome para o escritório em São Paulo, que cuida da agenda da banda.
Como eu já tinha feito vários trabalhos com a Nação Zumbi, que também é desse escritório, foi mais fácil aceitarem meu nome.
Esse trabalho no dia 10 com a Academia, foi o primeiro que fiz com a banda.
Conhecia alguns músicos de trabalhos que eu fiz com outras bandas onde eles participaram, mas com a Academia da Berlinda, seria a primeira vez.
E mais uma vez, conversei antecipadamente com o técnico, que iria operar o som do PA nesse show em Natal, e que normalmente faz o monitor da banda.
Acho muito importante essa conversa antecipada, como fiz com o Ira!, agora com a Academia, e também estou falando com o de Elba Ramalho, meu Amigo Mário Jorge, onde faço dois shows no mês que vem, onde ele não vai poder fazer.
Essas conversas antecipadas ajudam, e muito, no resultado do trabalho.
Pelo menos, sempre achei isso.
Munido de todas as informações sobre a banda que Adriano me passou, como rider técnico, mapa de palco, input list, e uma cena de monitor da PM5D (Yamaha), que seria a mesa digital usada no show da Academia, decidi usar essa cena de um show anterior para iniciar o soundcheck.
Mais uma vez vou usar uma cena que não é minha, para iniciar um trabalho.
Não é sempre assim, ok?
Em Elba, por exemplo, vou montar uma cena aqui em casa da CL5, que vou usar para operar o som do PA, no show do dia 6 de maio.
Ainda aguardando para saber qual será o equipamento do dia 7, em Caruaru, para ver qual caminho seguir. Pode ser que seja mais interessante começar com uma cena que Mário Jorge usou em algum show anterior. Não sei... Ainda vou decidir mais na frente.
Se for a mesma formação da banda no segundo show, e a mesa sendo uma CL5, uso a minha cena do show anterior! Simples.
Tudo depende das informações que ainda vou receber.
Vamos para Natal...
Todos na banda usam monitores de chão, com exceção do baixista, que usa um in-ear mais o monitor de chão.
São sete músicos no palco.
Bateria, baixo, guitarra, teclados, percussão, e duas vozes principais.

Academia da Berlinda em ação. (Foto by Duda Lopes)
Ahhh...
Ajustei a cena que recebi de Adriano no editor offline, e passei essa cena para o cartão PCMCIA, que é a mídia que a mesa reconhece para ler as cenas.
A outra maneira de passar uma cena para a PM5D, é conectar o laptop via USB com a mesa, abrir a cena no editor offline da mesa no Studio Manager da Yamaha, e sincronizar o laptop com a mesa.
A grande desvantagem desse modo, é ter que ligar um laptop, e a demora para fazer a conexão, que muitas vezes não acontece por causa de versões desatualizadas, tanto do software, quanto do firmware da mesa de som.
Mas sempre levo a cena nos dois modos, tanto no cartão quanto no laptop.
Como sempre salvo minha cena no cartão em ALL DATA, isso implica em eu apagar todas as cenas que estão na mesa do festival quando eu for passar a minha.
Por causa disso, sempre salvo primeiro no meu cartão a mesa do festival, e depois passo minha cena.
Quando acabo o trabalho de soundcheck, salvo a cena no meu cartão, e passo de volta a cena do festival, onde estão as cenas das outras bandas.
E na hora do meu show, passo minha cena novamente para a mesa.
E se depois que eu passei o som, teve soundcheck de outras bandas e que vão tocar depois do meu show, repito todo o processo que falei acima antes de passar a minha cena na hora do show.
Tudo bem... É para o técnico de cada artista salvar sua cena, e é para o técnico da empresa de som salvar todas essas cenas no seu cartão pessoal, mas nem sempre isso acontece.
Tem técnico de artista que não tem o cartão, e deixa a cena apenas na mesa (Vixe!!), e tem empresa de som que não disponibiliza esse cartão PCMCIA.
Ou seja...
Todo cuidado é pouco!
Como ainda tinha um tempinho sobrando, liguei meu laptop para conferir se eu conectava normalmente com a mesa.
Consegui. Ok.
Sincronizei minha cena com a mesa, com o cuidado de desmarcar a opção ALL LIBS, que quer dizer "todas as bibliotecas".
Janela com as opções de sincronização entre laptop e mesa de som.

Se esta opção estiver marcada, quando você passar sua cena para a mesa, essa cena vai com todas as bibliotecas, inclusive a de cenas. Aí lascou!
Vai apagar as cenas que estão guardadas na mesa de som!!!
Fazia tempo que eu tinha feito essa conexão via USB com a PM5D.
E quando notei que não mudaram os nomes nos canais na mesa de som quando acabou a sincronização, não perdi tempo e fui passar a cena que estava no meu cartão.
Logicamente, fazendo todo aquele procedimento que falei acima sobre salvar tudo da mesa antes.
Quando eu passei minha cena do cartão para mesa, e vi que estava tudo certo, notei onde foi meu erro antes com o laptop.
Eu sincronizei errado. Tem duas opções na hora da sincronização. 
PC > Console, e Console > PC.
Eu não notei que estava marcado Console > PC.
Ou seja... Transferi tudo que estava na mesa para o laptop.
Por isso, a cena que estava na mesa não "saiu do canto", e me assustei ao notar que os nomes nos canais não mudaram. Mas não mudou nada na mesa!!!
Mas tudo bem... Já estava tudo ok com minha cena devidamente instalada na mesa.
Estava?
A mesa travou!!!!!!
Congelou. Nenhum comando funcionava.
Vixe...
Solução?
Desliga e liga de novo. (risos)
Reiniciou a mesa, tudo funcionando.
Para garantir, passei minha cena novamente para a mesa via cartão.
Tudo ok.
No vídeo abaixo, minha visão da mesa de monitor durante o show.


Só me restava torcer (não rezo) para não congelar novamente!
Posso adiantar, acabando com o suspense, que não congelou mais. Nem durante o show.
Esse comentário (breve) abaixo vai só para meus amigos e colegas da profissão. Os leigos, podem pular o comentário.
---
Foi a primeira vez que fiz o monitor usando o método PÓS FADER.
Tenho muito receio em usar esse método, porque sempre encontro faders "doidos" na estrada.
E esses problemas com os faders subindo e descendo aleatoriamente, podem causar danos enormes numa monitoração pós fader, pois vai "esculhambar" o monitor de todos os músicos ao mesmo tempo!!!!
E se estão usando fones, piorou, pois é direto no ouvido do músico/artista!!!!
Quase não usei o fader para aumentar e/ou baixar o sinal na via de todos ao mesmo tempo.
Para ser mais exato, usei uma única vez, num solo de guitarra.
Só por esse trabalho, ainda não vi motivos para mudar o velho método de monitoração PRÉ FADER, que é o que eu uso sempre.
Num caso de começar do zero num soundcheck, e ainda com todos os músicos usando fone, o método pós fader deve facilitar as coisas, agilizando no envio dos canais para os monitores, porque ao levantar o fader, o sinal vai para todos os monitores ao mesmo tempo. Mas isso o técnico tem que deixar ajustado na sua cena antecipadamente, usando o editor offline da mesa.
Pra fazer isso na hora do soundcheck, eu acho melhor usar o método pré fader mesmo.
Vamos voltar para o show...
---
Com minha cena já na PM5D, fui ajustar os monitores e os side no palco.
Nada de anormal, só pedi para trocar uma caixa de um par, pois estava falando diferente, e o som ficava pendendo nos ouvidos.
Logicamente, eu zerei os equalizadores em todas as vias, quando ajustei a cena em casa usando o editor.
Como seriam outros monitores, com outros amplificadores, eu não iria abrir todos os canais de uma vez, usando o mesmo ganho que estava na cena do show anterior que Adriano fez.
Poderia "estourar" tudo no palco.
Tinha pensado em baixar todos os faders e ir subindo um por um até chegar no "ponto ideal" na monitoração de todos os músicos.
Mas Adriano me deu uma sugestão que achei melhor.
Deixar os faders onde estavam, diminuir o ganho de todos os canais, e ajustar esse ganho até o músico que estava tocando o instrumento achar que estava legal para ele no monitor.
Se estava bom para esse músico, era muito fácil que estaria bom também para os demais.
E foi assim que eu fiz.
E deu certo.
Se eu estivesse usando uma cena com tudo em pré fader, também teria ido por esse caminho.
O soundcheck foi muito tranquilo!!!
E o que mais me impressionou foi o volume do som no palco.
Baixo!!! Muito baixo!
Deu tempo de voltar para o hotel e ainda deu para dar um cochilo!
No vídeo abaixo, feito pelo produtor Duda Lopes, mais um pouco do show.

Achei o local do show um pouco estranho, uma área "meio" abandonada da cidade, no bairro da Ribeira.
Prédios maltratados, com cara de abandonados, ninguém nas ruas...
Fiquei até pensando: --- Será que vai dar gente?
Deu, e muita!!!
Eram dois palcos, e teríamos tempo de sobra para ajustar nossas coisas, enquanto outra banda se apresentava no outro palco.
Depois de tudo checado no nosso palco, aguardei pela hora do show.
Nem lembrava mais que a mesa tinha congelado no início do soundcheck.
O show foi mais tranquilo do que o soundcheck!
Para não falar que não teve um único contratempo, a corda da guitarra partiu.
Mas nada a ver com a monitoração.
(Foto by Duda Lopes)
E com o público na mão, cantando as músicas da banda, a Academia da Berlinda fez um grande show!
Mesmo com várias caixas de som no palco ajudando os músicos a se escutarem, parecia que todos estavam usando fones.
Lógico que não é igual quando todos usam fones, onde não se escuta a voz de quem está cantando, mas foi bem parecido.
O side estava ligado, mas com poucos instrumentos direcionados para lá, e ainda com o volume geral bem abaixo do "normal", levando em consideração os meus trabalhos com outras bandas.
Por isso falei que era o sonho de todo técnico de monitor, operar o palco da Academia.
Não é muito relax para quem está operando monitor, quando tem muitas caixas de som fazendo o trabalho, pois o risco de alimentação é proporcional ao número de caixas.
Quanto mais caixas, maior o risco de microfonia. E quanto mais volume nessas caixas, mais aumenta o risco.
Mas nesse show, o risco diminuiu muito por causa do baixo volume de som no palco.
Não quero também dizer com isso, que um volume alto de som no palco vai sempre causar realimentação (microfonia), pois um dos trabalhos do técnico de monitor é ajustar essas caixas para serem usadas sem realimentar, mesmo que o volume esteja alto no palco com os instrumentos e vozes.
Apenas quis mostrar o risco da realimentação no palco em relação ao volume do som no palco.
Durante todo o show, apenas uma coisa me chamou a atenção.
Notei algumas expressões na fisionomia do baterista (Irandê), que eu achava que ele não estava satisfeito com o monitor.
Mas em nenhum momento ele me falou alguma coisa ou pediu para o roadie falar alguma coisa comigo.
Relaxei.
Mais um pouquinho do show abaixo, filmado por Duda Lopes.

No camarim, fui perguntar a todos sobre a monitoração, se gostaram, ou se teve alguma coisa que não ficou legal. 
Tudo ok, falaram.
Aí eu insisti, e perguntei à Irandê se realmente ele tinha gostado, lembrando da sua expressão facial em algumas músicas, mas ele falou pra eu relaxar, que não tinha nada a ver com o monitor, e ele fazia isso de vez em quando durante o show, e que foi tudo certo.
E completou:   --- Pode passar no RH, pra efetivar a cargo de SUB Oficial. (risos)
Depois de um comentário desse, me animei mais ainda, e resolvi até beber uma cerveja!
Mas só consegui beber uma latinha mesmo. Não consigo mais gostar.

Final do show. (Foto by Duda Lopes)
Agora... Se tivesse no camarim uma garrafa de vinho tinto seco... Eu teria "esticado" a comemoração de um ótimo trabalho, e que foi brindado com um ótimo show.
Um abraço a todos.

Nenhum comentário: