terça-feira, 4 de março de 2008

Curiosidades das turnês passadas.


Como não tenho em mãos muita coisa registrada dos shows que fiz de dezembro de 2007 até hoje, vou dar uma rápida passada nas turnês de 2005, minha primeira turnê internacional e que durou 110 dias, e a de 2006. Vai ser um resumo “resumido”, pois é muita coisa pra mostrar e falar que pode se tornar cansativo se eu tentar mostrar e comentar tudo. Vou colocar, na maioria das vezes, fotos e comentários de coisas que acho “fora do roteiro”, para tentar sempre passar os bastidores.

Este equipamentozinho que está aqui na foto em cima da mesa de som com uma inscrição “Max 95db!” é um decibelímetro. Aparelho que serve para medir o nível da pressão sonora, ou o nível do ruído, ou para ser mais claro: para o dono da festa saber se o som está muito alto para as normas do local. Neste caso da foto, eu não poderia passar dos 95db. Este valor é facilmente ultrapassado na grande maioria dos shows no Brasil, independente do local. Então vocês já devem ter uma idéia de como é difícil manter estes 95db, pois estamos acostumados a passar desta marca. Mas deu pra fazer legal este show que foi na Bélgica. É tudo uma questão de costume.

Vamos começar nosso passeio por onde começa uma turnê: no aeroporto!

Na maioria das vezes esse sobe-desce-mala-van-sobe-desce-mala-hotel-van não é nada confortável e lúdico. Muita gente pensa que é só um passeio turístico que estamos fazendo numa turnê dessas, mas esse pensamento está bem longe da realidade. Não agüentei o fuso horário e a espera do nosso produtor que achou que estávamos em outro aeroporto e dormi sem nenhum constrangimento no saguão do aeroporto. E pode ter certeza que essa cara-de-pau (que eu não tinha) você aprende rapidinho numa turnê, pois não tem pra onde correr!

Na nossa van também não é diferente! Já teve um caso de sairmos de um festival e ir direto para outro, dormindo na van, pois uma atração deste outro festival não conseguiria chegar por problemas aéreos. Tinha alguém ligado ao outro festival que viu o show de Silvério e falou com o nosso produtor se dava pra ir para fazer o show no outro festival. Fizemos isso.
Nos nossos “day off”, ou seja, dias em que não temos nenhum show, uma das nossas principais distrações é nos reunirmos no quarto de alguém, levamos uma caixinha com 5 ou 10 litros de vinho que se transforma num filtro (com torneirinha) e jogamos conversa fora até não ter mais assunto. O tempo da conversa é controlado pelo nosso filtro de vinho. Enquanto houver vinho, temos o que conversar! E quando estamos na casa de Patrick e Terezinha (casal amigos de Silvério de longas datas e agora amigos de todos da banda até hoje) o limite da conversa passa a ser “nenhum”, pois é humanamente impossível acabar com o estoque de vinho que eles têm, pois são produtores em St Emilion, cidade que fica à uma hora de Bordeaux. Toda vez que secávamos nosso filtro, Terezinha ia ao reservatório que fica nos fundos da casa e enchia nosso filtro como se estivesse enchendo um tanque de carro com combustível!





Não preciso nem dizer que hoje sou um viciado em vinho (chileno, pois francês é caro), não é?

Terezinha tem tanta saudade do nosso Brasil, que todas as vezes que íamos embora da casa dela, não tinha jeito, ela danava-se a chorar. Isto aconteceu nos 3 anos que fui lá!
A nossa outra grande diversão é passear e conhecer os lugares onde estamos, quando dá tempo, logicamente.

Ao contrário de turnês que alguns amigos meus fazem com outras bandas e falam que só vão aos pontos turísticos, pois já existe um roteiro pré-definido e que não se pode mudar, nós não temos nada pré-definido.


Aconteceu uma coisa engraçada uma vez, nem lembro em que país foi, mas saímos para achar algum lugar onde estivesse passando um jogo de futebol do Brasil contra a Argentina. Rodamos muito de van, o tempo estava feio e chuvoso. Encontramos um pub que estava passando o tal jogo. Estávamos tão empolgados para encontrar um lugar para ver este jogo e tomar uns vinhos, que só fui notar que era um bar gay porque alguém da banda veio me perguntar no intervalo do jogo se eu não tinha notado que o bar só tinha homens!

Já teve um hotel na Espanha muito luxuoso que ficamos apenas umas duas horinhas para tomar banho e fomos embora. Fiz questão de usar tudo que eu tinha direito, inclusive o roupão.





Outra curiosidade foi descer no aeroporto de Veneza (Itália), ir de van até Trieste (Itália) para passar o som do show, pegar a van para ir tomar banho no nosso hotel que ficava na Eslovênia (pequeno país da Europa Central), voltar de van novamente para Trieste para fazer o show, voltar de van para o hotel na Eslovênia para dormir, e pegar a van para ir ao aeroporto de Veneza e partir! E todas as vezes que passávamos na fronteira entre Itália e Eslovênia, um cara carrancudo carimbava os nossos passaportes. Essa foi a única fronteira que estava com alguém verificando e carimbando os passaportes em todas as 3 turnês que fui. Todas as outras fronteiras estavam abertas e sem fiscalização.
Eu posso dizer que fui a estes lugares, mas na realidade não conheci nenhum dos três! Mas não deixa de ser divertido assim mesmo, principalmente porque estou fazendo o que gosto, ganhando por isso e conhecendo lugares que nunca na minha vida pensei em conhecer!
















É uma experiência ímpar (como diz Silvério Pessoa)

Até a próxima.

Um abraço a todos.



Um comentário:

Anônimo disse...

Rapaz!!!! a sequência dos fatos e das fotos estã perfeita. Realmente nem eu mesmo tenho uma recordação detalada dos roteiros. Uma Tour é sempre uma nova vida, é um recomeço profissional para todos, inclusive para artistas já reconhecidos. Encontrei com Caetano veloso na França em um estival e ele estava visivelmente esgotado viajando em um ônibus (muito confortável por sinal)mas, passando pelos fusos, horários de alimentação etc...então...isso engrandeçe, fortalece o profissional, e o melhor de tudo, guardamos histórias e a experiência vivenciada!
Valeu Titio